Saber que o passado está vivo dentro de nós quando temos lembranças boas, tudo bem, mas existe um lado ruim nesta situação: quando as lembranças são de um passado triste e ruim!
Quando lembramos o passado que está dentro de nós, ele está conversando conosco, aqueles sentimentos voltam à nossa mente; os hábitos não passam, voltam à lembrança, é uma força dentro de nós. Embora o passado já tenha passado, ele está muito vivo em nosso coração.
O apóstolo Paulo, por exemplo, teve um passado muito difícil e quando se encontrou com Jesus, toda sua ideia e conceitos foram transformados.
O apóstolo Paulo compensou tudo isso, trabalhando, esforçando, mais que todos, porque tinha algo no seu passado, cheio de remorso, por isso tentou compensar emocionalmente o que fez no passado, sendo uma pessoa exagerada nas ações que fez. Quando à sua vida nova, foi muito exagerado também, por que tinha consciência do que fez.
Ao mesmo tempo teve uma estima muito baixa por ter feito o que fez. Disse ele:
“Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1 Coríntios 15,9-10).
O que fazemos, hoje reflete o que fizemos no passado. Mergulhamos no passado de tal forma que o tornamos um passado gigante.
Tudo o que fazemos hoje é o passado que está mandando fazer. Tudo o que somos hoje é porque o trauma do passado diz que somos.
Todo o nosso passado, toda a nossa família, tudo o que aconteceu outrora, determina todas as nossas ações, hoje.
Estamos presos numa gaiola.
Nos vitimizamos. Somos assim por causa de nosso passado. Quem é que não teve um trauma em sua vida? Contudo, não podemos colocar isto como referência para nossa vida.
O apóstolo Paulo usou a palavra “esterco” (ou “lixo”, segundo algumas versões) para se referir aos valores que antes considerava superiores, e aos quais renunciou depois de conhecer Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Ele disse:
“Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por amor de Cristo. Sim, de fato também considero todas as coisas como perda, comparadas com a superioridade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo qual perdi todas essas coisas. Eu as considero como esterco para que ganhar Cristo. Comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé” (Filipenses 3,7-9).
Os valores a que Paulo se referiu diziam respeito a sua posição social, religião, prestígio pessoal, convicções pessoais, e outros. Evidentemente cada um de nós tem a sua escala de valores. Uns consideram importante possuir bens materiais, outros elegeriam como valor superior pertencer a um determinado grupo. Outros prezam mais um diploma. Assim como no caso de Paulo, há valores que abraçamos que se tornam incompatíveis com a fé em Jesus e com a vida cristã. Por isso, frequentemente é necessário avaliar se aquilo que estamos valorizando não precisa ser considerado como “esterco”.
Também nós, consideramos perda todos estes valores pelo conhecimento de Cristo. Toda a experiência do passado depois que encontramos com Jesus, e tinha valores e significados que determinavam a nossa vida, é considerado, agora, perda e esterco. Agora não tem valor algum, nenhum apego. Quando podemos ter Cristo, todo o resto é esterco!
Aquela vida com seus conceitos e ideias passou, quando conhecemos Jesus. E ao conhece-lo, a fé que é tão grande em nossa vida, faz com que hoje vivamos pelo novo conjunto de valores, conhecimentos que hoje tem valor para nós.
Temos uma nova referência de vida, que não é o nosso passado. O nosso passado já não nos define mais, já não diz quem somos, o que fazemos, já não move nossas mãos.
Esses valores se foram e novas coisas aconteceram. Novos valores, uma nova referência de vida se tornou nosso alvo, de maneira que esse ciclo do passado se fechou e um novo ciclo se abriu; nosso passado se fechou e agora não tem mais forças e poder sobre nós. Um novo ciclo se abriu daqui para frente, as coisas velhas já se passaram e tudo se fez novo. Nosso passado não tem mais poder sobre a nossa vida.
É surpreendente que muitos cristãos estejam trilhando o caminho inverso ao de Paulo. Ensinados desde crianças a prezar os valores cristãos, estão abandonando a comunhão com Cristo e com os demais cristãos, esquecendo a fé antes professada e a vida devocional, para aderir aos valores do mundo. Assim como fez com Jesus, o Diabo está mostrando a esses irmãos todas as “riquezas” e “vantagens” do mundo e propondo a eles: “Eu te darei tudo isto, se, prostrado, me adorares.” (Mt.4.9).
Admitamos, sinceramente, que a tentação é poderosa. Entretanto, a estratégia do inimigo de nossas almas às vezes é muito sutil, se dá em pequenos passos, como, por exemplo, deixar de ir à igreja num domingo para ir a uma festa de aniversário. Ou tomar uma pequena dose de bebida alcoólica para agradar a um amigo ou familiar. Ou, ainda, deixar para a última hora o momento de ler a Bíblia e orar. A repetição e multiplicação dessas situações aparentemente irrelevantes vão afastando o cristão de Deus e da igreja. Gradativamente ele irá gastando seu tempo com outros valores e, quando perceber, sua fé se tornou fria e fraca.
Precisamos, como Paulo, esquecer as coisas que ficaram para trás e avançar para as que estão adiante, pois nosso alvo é Cristo:
“Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fl. 3, 13-14).
É necessário nascer de novo. Devemos nascer de novo. É um novo nascimento, por que aconteceu uma morte. Morremos com Cristo e fomos ressuscitados com Ele. Morremos para o antigo homem e renascemos para uma novidade de vida.
O antigo homem que morreu é o homem guiado pelo passado com suas Ideias e conceitos, que agora vai viver em novidade de vida por um novo tipo de referencial que é proposto por Deus. Essa é a proposta do novo nascimento e nos levará a ser uma nova criatura, com novos sentimentos com novos propósitos.
Convertemo-nos, mas este passado não desaparece, porque há uma força dentro de nós que milita contra essa força de fé, de maneira que o homem antigo morreu, mas ele está bem vivo dentro de nós. Aquilo que não queremos fazer acabamos fazendo, e o que queremos fazer não fazemos, por que há uma lei dentro do homem antigo que ainda está vivendo. E chamamos isso de “carne”, de “antigo homem”, de “homem velho”. Ele ainda está ali, e procura conversar conosco.
Precisamos dar vasão ao espírito, não ao antigo homem; temos que crescer no espírito, e não no velho homem. Se dermos ouvidos a esse velho homem, ele volta a conversar; por isso, devemos conversar com o Espírito de Deus.
Deus tem um projeto para os homens; uma nova imagem quer que sejamos, o que ainda não somos. Temos que continuar avançando, temos que seguir esse alvo, o conhecimento de Cristo. Caminhando avante, sem olhar para trás, esquecendo as coisas que ficaram para lá. Devemos focar na novidade de vida.
Esquecer é uma palavra forte; não somos máquinas, nem computador, para deletar a memória...É impossível esquecer nosso passado. Deus se relaciona mais juma vez com uma aliança eterna:
“Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” (Jr. 31, 33-34).
Esquecer, biblicamente, é perdoar a si mesmo, perdoar o passado, com a sua maldade, é estar em paz com este passado. Não é deixar de lembrar dele, mas é ele não doer mais. Não esquecer que existiu e não ser mais condenado por aquilo que aconteceu lá atrás.
Deus poderia nos condenar pelo nosso passado, mas Ele veio ao nosso encontro por meio de Seu Filho, Jesus, e perdoou todo ele. Deus não leva em conta mais o nosso passado, aquilo que nos influencia, aquilo que nos deixa para baixo, que está pesando em nós.
Devemos estar em paz com esse passado. Se Deus perdoou o nosso passado, devemos nos perdoar também, porque somos imagem de Deus.
Coisas novas estão para acontecer... Deus tem uma proposta nova, um alvo. Deus está interessado no hoje, não em nosso passado.
Não devemos nos condenar mais. Fiquemos em paz! Deus é o Deus do hoje, do agora, do nosso futuro. Não temos como voltar ao passado, mas podemos criar um futuro com novas experiências, novos sentimentos.
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação” (II Coríntios 5,17-19).
Nova criatura! Já fomos alguém no passado com muitos problemas, mas hoje não queremos mais ter esse conjunto de valores e queremos viver em novidade de vida.