segunda-feira, 27 de junho de 2011

“Crente Bob Esponja”


Semana passada, quando entrei em casa, vi a Gabi se esbaldando de rir na sala. Curioso, entrei no cômodo e percebi que ela estava assistindo a um desenho do Bob Esponja. Sentei ao seu lado e comecei a assistir também. No episódio, Bob Esponja havia saído do mar para ir a terra seca e, por conta disto, estava desidratado, quase morrendo.

Bob Esponja é uma série televisiva, criada por Stephen Hillenburg, que é veiculada no Brasil pela Rede Globo. Bob é uma esponja do mar quadrada, amarela e que vive no fundo do Oceano Pacífico, numa cidade submarina. Ele é um sujeito bonachão e ingênuo, que mora num abacaxi e trabalha num restaurante.

 O pobre coitado se encontrava à beira da morte, pois estava na terra e precisava, desesperadamente, voltar para o oceano. A questão é que a superfície epitelial esponjosa do Bob é capaz de captar toda a água que ele necessita para estar bem e confortável. Na terra seca, entretanto, isso não é possível. Assim, por conta do calor do sol, ele começou a ficar fraco, dispnéico, quase perdendo os sentidos. Não tivesse voltado para o mar, certamente teria morrido.

Quando o episódio acabou, em meio às gargalhadas da Gabi, saí pensando sobre a semelhança que há entre o Bob Esponja e o “crente de igreja”. É que ambos são bonachões, ingênuos, e precisam de sua “zona de conforto” para sobreviver. Se você tentar tirar o “crente de igreja” de seu habitat natural, que é o banco da igreja, ele começará a passar mal e ficará sem fôlego. Sua “rotina eclesiástica” já está definida e, por isso, você não deve dar-lhe qualquer atribuição ou desafio, pois isso pode, simplesmente, “matá-lo”!

Não pense que será possível, a não ser que o “Crente Bob Esponja” se converta, tirá-lo do seu “oceano” de confortos e regalias, para botar a “mão na massa”. É que, via de regra, é mais fácil ele morrer totalmente desidratado, ou seja, esvaziado de significados para viver a existência, sobretudo pela aridez de sua relação com Deus, que foi apenas capaz de produzir uma religiosidade esturricada, do que se lançar em fé e amor numa comunhão íntima e prazerosa com o Pai, fruto de uma disciplina constante baseada em oração e adoração, que é o “culto racional”.

Creio que se isso não acontecer, ou seja, uma transformação de dentro para fora, o “Crente Bob Esponja” continuará a viver nesse grande “abacaxi” que se tornou a sua vida, assim como o personagem do desenho também vive num. A conseqüência disto é que ele será eternamente criança, ingênuo, praticando uma fé desprovida de propósitos, uma espiritualidade esvaziada de sentidos, um cristianismo apenas de retórica. Poderá ir aos cultos, ou até freqüentar outras reuniões de igreja, porém, quanto mais fizer isso, mas “seco” se tornará!

Não se esqueça, todavia, que Deus é poderoso e pode, num momento de crise, quando o “Crente Bob Esponja” estiver “agonizando” em “terra seca”, se usufruir da situação para levá-lo a ter um encontro que mude, de forma definitiva, toda a sua vida, ressignificando assim os seus dias. Por isso, nunca desista dos “Bob Esponjas” de sua comunidade, pois amanhã, quem sabe, um deles poderá se tornar até o pastor da igreja! Comigo foi justamente assim...


Certa vez, conversando com um pastor amigo, alguém já calejado no ministério, ouvi o seguinte: “rapaz, às vezes eu me sinto como se fosse um animador de auditório, ou um palhaço de circo, tentando motivar as pessoas para que elas prestem um culto com o mínimo de significados para Deus. Me esforço, faço “malabarismos”, “pirotecnias” e tudo o mais, contudo, confesso: é difícil...”. Achei a afirmação curiosa, sobretudo, porque essa é a impressão que tenho, por vezes, quando estou celebrando cultos. Sinto-me como se estivesse com uma enorme mangueira, jogando água sobre uma multidão de “Bob Esponjas”. Dá para entender?!

Sonho em ver uma igreja transformada pelo Espírito Santo, com pessoas que entenderam o significa que há em oferecer um culto a Deus. Sonho com homens e mulheres que desejem ir além do banal, do corriqueiro, que professem uma fé que não seja apenas verborragia, que pertençam a uma comunidade que não seja uma sacola de membros esquartejados, que possuam uma consciência apaziguada em fé, sem julgamentos, presunções ou disfarces. Sim, como Martin Luther King, eu também tenho um sonho...

Contudo, sei que para chegar até este ponto, muita “borracha” ainda tem que ser queimada. Digo isso porque creio que o concerto na Casa de Deus começa pelos pastores e líderes, por aqueles que influenciam pessoas, tomam decisões, exercem autoridade e ensinam a Palavra. Chegou à hora de chamarmos para nós mesmos a responsabilidade de produzir, nesta geração, arrependimento e quebrantamento, enquanto ainda há tempo. Façamos como fez o profeta Amós, quando afirmou: “prepara-te ó Israel para te encontrares com o teu Deus”!

Quanto a mim, a impressão que tenho é que quanto mais rezo, mas assombração me aparece! Por isso, não ficarei assustado se, qualquer dia desses, quando estiver entrando na igreja para celebrar o culto, encontrar entre os presentes o Mickey Mouse, o Pato Donald, o Zé Colméia e o Pernalonga. É que eu já vi tanta esquisitice em igreja que, uma a mais, uma a menos, não vai fazer qualquer diferença...

Agora, medo mesmo vou ter se alguém da comunidade, querendo ser hospitaleiro e cordial com essa turma, se arriscar a perguntar a um deles o que estão fazendo ali. Sim, é que eu tenho a nítida impressão que a resposta será algo do tipo: “viemos hoje aqui porque nos disseram que o “Pateta” iria pregar!”. É, amigo, não se iluda não, por vezes, pastor parece mesmo é com pateta! Durma com um barulho desses...


Carlos Moreira

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