quarta-feira, 19 de maio de 2021

Martinho Lutero, Testemunha do Evangelho.

Martinho Lutero, Testemunha do Evangelho, nos interpela e nos recorda que não podemos fazer nada sem Deus.

Em 1517, Martinho Lutero expressou preocupações sobre o que ele via como abusos na Igreja de seu tempo, tornando públicas suas 95 teses.

Em 2017, aconteceu o 500º aniversário desse evento chave dos movimentos de Reforma que marcaram a vida da Igreja ocidental por vários séculos.

Separando o que é polêmico das coisas boas da Reforma, os católicos são capazes de ouvir agora os desafios de Lutero para a Igreja de hoje, reconhecendo-o como uma ‘Testemunha do Evangelho’. 


E assim, após séculos de mútuas condenações e depreciações, em 2017 católicos e luteranos comemoraram pela primeira vez juntos, o começo da Reforma. Uma das notas mais destacáveis desse centenário, aconteceu pela primeira vez em uma época ecumênica, após anos de diálogo e de vários acordos teológicos alcançados em temas importantes, tendo-se feito um importante esforço para deixar para trás a mútua desconfiança e as leituras parciais e tendenciosas da história.

A experiência espiritual de Martinho Lutero nos interpela lembrando que nada se pode fazer sem Deus. Como podemos ter um Deus misericordioso? Esta é a pergunta que constantemente atormentava Lutero. Na verdade, a questão da justa relação com Deus é a questão decisiva da vida. Como é sabido, Lutero descobriu este Deus misericordioso na Boa Nova de Jesus Cristo encarnado, morto e ressuscitado. Com o conceito, “só por graça divina”, recorda-nos que Deus tem sempre a iniciativa e que precede qualquer resposta humana inclusive no momento em que procura suscitar tal resposta. Assim, a doutrina da justificação exprime a essência da existência humana diante de Deus.

Em sua crítica de vários aspectos da tradição teológica e da vida eclesiástica de seu tempo, Lutero entendeu-se como testemunha do evangelho: “Sou evangelista digno de nosso Senhor Jesus Cristo". Invocou o testemunho apostólico da Escritura com cuja interpretação e pregação sentiu-se comprometido, na qualidade de "doutor da Escritura Sagrada".

Conscientemente, ele baseou-se na fé da Igreja antiga que confessava a Trindade e a pessoa e obra de Cristo e viu nesta confissão uma expressão autêntica da mensagem bíblica.

Em sua luta pela Reforma, que lhe trouxe hostilidades externas e tensões internas, encontrou certeza e consolo em ter sido chamado pela Igreja para o estudo e o ensino da Escritura Sagrada. Nesta convicção sentiu-se sustentado pelo próprio Senhor.

Na consciência de sua responsabilidade como mestre e guia espiritual e, concomitantemente, em circunstâncias de provações na fé, experimentadas pessoalmente, o estudo intensivo da Escritura Sagrada levou-o ao redescobrimento da misericórdia de Deus em meio às angústias e incertezas de seu tempo. Este "redescobrimento reformador" consistiu, de acordo com o testemunho do próprio Lutero, em reconhecer, à luz de Romanos 1.7, a justiça de Deus como justiça gratuitamente concedida, não como a justiça exigente que condena o pecador. “O justo viverá pela fé", e é., ele vive da misericórdia que Deus concede através de Cristo.

Esta redescoberta, que ele encontrou confirmada em Agostinho, revelou-lhe a mensagem bíblica como sendo boa nova, "evangelho". Conforme suas próprias palavras, abriram-se lhe “as portas do paraíso". Por seus escritos, sua pregação e atividade docente, Lutero tornou-se testemunha desta mensagem libertadora. A “doutrina da justificação do pecador pela fé somente" constitui-se centro orientador de seu pensamento e de sua exegese bíblica.

Pessoas cujas consciências sofreram sobre o domínio da lei e dos estatutos humanos e que se sentiram angustiados por suas falhas e preocupadas com a salvação eterna, puderam experimentar a promessa libertadora da graça divina, pela fé no evangelho. Pesquisas históricas demonstraram que se esboçava um acordo sobre este propósito central de Lutero, ainda nos diálogos religiosos do tempo da Reforma. Este acordo, no entanto, não encontrou aceitação real em ambas as partes e ficou novamente encoberto por polêmica, tornando-o sem efeito.

Em nossos dias, as pesquisas evangélicas e católicas sobre Lutero, assim como estudo científico-bíblicos em ambas as igrejas reabriram o caminho para um acordo sobre o tema central da Reforma Luterana.

Também a compreensão do condicionamento histórico de nossas formas de falar e pensar contribuiu para que o pensamento de Lutero seja amplamente reconhecido no âmbito católico, justamente na reforma da justificação, como legítima expressão da teologia cristã.

Testemunha do evangelho, Lutero anunciou a mensagem bíblica do julgamento e da graça de Deus, do escândalo e poder da cruz, da perdição do homem e da ação salvífica de Deus.

Sendo "Evangelista indigno de nosso Senhor Jesus Cristo", Lutero não prende seu testemunho à sua pessoa a fim de que nos confrontemos tanto mais inelutavelmente com a promessa e exigência do evangelho por ele testemunhado.

Referências bibliográficas;

Revista, Caminhando, v. 2, n. 2, p. 21-29, 2010 [2ª ed. on-line; 1ª ed. 1984].

Instituto Humanitas Unisinos, 06 de janeiro de 2017.

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