Para alguns, as queixas
sempre circundam em relação a falta de afetividade entre irmãos da comunidade
que participam, outros notam que seus pastores tem adotado uma mensagem
estranha ao evangelho focada mais na prosperidade material, outros ainda tem
tido uma tremenda sensação de incapacidade em relação a pressão imposta para
atingir a perfeição moral, alguns enfrentam o peso de ter que sempre agradar um
ou outro para ser aceito, tem de esconder o cansaço em relação a líderes
exigentes, apresentam uma preocupação com a inadequação comunitária, sentem-se
isolados dos grupos de expressividade dentro da igreja, e o mais comum é que
muitos possuem uma insatisfação com o mal comportamento de alguns irmãos, ou seja, gente que é machucada por
causa de outros.
Alguns até dizem que pensam
em se desligar de suas comunidades, mas temem não encontrar um novo círculo de
amigos, temem se sentir abandonados, outros não admitem, mas não querem perder
seus prestígios titulares e seus cargos, outros não aturam mais tanto engano,
mas simplesmente se veem com as mãos atadas diante desse sentimento. Tomar uma
decisão envolve muita coisa, muita gente, e nem sempre sabemos por onde andar. Sair
ou ficar?
Antes de tomar qualquer
decisão, precisamos lembrar que uma igreja não pode ser julgada apenas por
causa do comportamento de alguns ou de determinado pastor e líder. É comum
querermos botar a culpa do nosso desapontamento pessoal no erro do outro.
Lembremo-nos de que Jesus jamais disse que deveríamos procurar relações para
sermos amados, mas nos mandou amar e perdoar ativamente, inclusive os que nos
chateiam. Amar quem nos ama é fácil, mas amar na dificuldade é um milagre de
Deus
Se procuramos uma comunidade
somente para nos sentir bem o tempo todo, estamos na verdade atrás de “produto
religioso” e acabamos nos relacionando com a igreja de forma comercial, ou
seja, a única coisa que nos liga a nossa igreja é um interesse pessoal. A igreja não é um ambiente neutro. Amar não implica
em buscar a satisfação pessoal, mas sim em participar da promoção do bem comum.
Desistir de ir na igreja
simplesmente porque “não concordamos com atitudes de alguns” é abandonar os
demais irmãos nas mãos dos lobos da religião. Se identificamos que estamos
sendo enganados por uma liderança inescrupulosa, precisamos sim nos posicionar
em relação a isso. Sair da igreja sem se posicionar é ter a mesma indiferença
em relação aos demais.
Outro ponto importante é
saber que o espírito de indiferença, de egoísmo, de falta de sensibilidade é
algo que é proveniente da natureza do ser humano, não é uma exclusividade dos
ambientes religiosos, mas todos os lugares que pisamos, vamos encontrar algo do
tipo. Examinar ou abandonar?
Agora, isso não quer dizer
que devemos aturar certas deturpações do evangelho. Quanto ao conteúdo da
mensagem, o que creio que não dá para tolerar é uma igreja que está mais
preocupada com a doutrina do que com as pessoas, onde o líder é absoluto e
autoritário. Uma igreja onde fala-se mais de demônios que de Deus, que fala
mais de dinheiro e prosperidade que de novo nascimento e da nova vida com
Cristo. Uma igreja que está mais preocupada com a punição e disciplina dos
“rebeldes” do que com o ensino maduro da palavra. Comunidades onde não se ouve
do púlpito as mensagens que falam sobre graça, amor, cruz, Jesus, vida nova,
perdão, que fica exigindo coisas de Deus por meio da troca do tipo orar mais
para obter mais, jejuar mais para arrancar bênção, fazer sacrifícios para
trocar coisas com Deus.
Uma liderança que não dá a
liberdade e fica ameaçando de perder a salvação se não for ao culto, não der o
dizimo, não fazer isso ou aquilo. Uma igreja que o pastor tem dificuldade em
reconhecer seus erros e falhas e tem medo de expor suas fraquezas perante a
comunidade, mas que se empenha em ter títulos como apóstolo, bispo, reverendo e
não aceita ser chamado pelo nome.
Desistir da igreja é
desistir do outro. Não podemos confundir o caráter falho dos seres humanos com
o caráter perfeito de Deus. Nosso convívio em comunidade depende de entendermos
que também fazemos parte do corpo. Quanto aos problemas relacionados a nós, a
única forma de resolver é ser parte da solução também, sentar, conversar e, em
amor, examinar. Que o Senhor nos dê a graça de identificar a sua vontade, que
seu amor nos alivie o peso, e que a consciência de Cristo nos ajude a discernir
e decidir.
Murilo leal
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