segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

A História da Escola Bíblica Dominical

A minúscula semente de mostarda que se transformou numa grande árvore
ed01Sentado a sua mesa de trabalho num domingo em outubro de 1780 o dedicado jornalista Robert Raikes procurava concentrar-se sobre o editorial que escrevia para o jornal de Gloucester, de propriedade de seu pai. Foi difícil para ele fixar a sua atenção sobre o que estava escrevendo, pois os gritos e palavrões das crianças que brincavam na rua, debaixo da sua janela, interrompiam constantemente os seus pensamentos. Quando as brigas tornaram-se acaloradas e as ameaças agressivas, Raikes julgou ser necessário ir à janela e protestar o comportamento das crianças. Todos se acalmaram por poucos minutos, mas logo voltaram às suas brigas e gritos.
Robert Raikes contemplou o quadro em sua frente; enquanto escrevia mais um editorial pedindo reforma no sistema carcerário. Ele conclamava as autoridades sobre a necessidade de recuperar os encarcerados, reabilitando-os através de estudo, cursos, aulas e algo útil enquanto cumpriam suas penas, para que ao saírem da prisão pudessem achar empregos honestos e tornarem-se cidadãos de valor na comunidade. Levantando seus olhos por um momento, começou a pensar sobre o destino das crianças de rua; pequeninos sendo criados sem qualquer estudo que pudesse lhes dar um futuro diferente daquele dos seus pais. Se continuassem dessa maneira, muitos certamente entrariam no caminho do vício, da violência e do crime.
ed02A cidade de Gloucester, no Centro-Oeste da Inglaterra, era um polo industrial com grandes fábricas de têxteis. Raikes sabia que as crianças trabalhavam nas fábricas ao lado dos seus pais, de sol a sol, seis dias por semana. Enquanto os pais descansavam no domingo, do trabalho árduo da semana, as crianças ficavam abandonadas nas ruas buscando seus próprios interesses. Tomavam conta das ruas e praças, brincando, brigando, perturbando o silêncio do sagrado domingo com seu barulho. Naquele tempo não havia escolas públicas na Inglaterra, apenas escolas particulares, privilégio das classes mais abastadas que podiam pagar os custos altos. Assim, as crianças pobres ficaram sem estudar; trabalhando todos os dias nas fábricas, menos aos domingos.
Raikes sentiu-se atribulado no seu espírito ao ver tantas crianças desafortunadas crescendo desta maneira; sem dúvida, ao atingir a maioridade, muitas delas cairiam no mundo do crime. O que ele poderia fazer?

Por um futuro melhor
Sentado a sua mesa, e meditando sobre esta situação, um plano nasceu na sua mente. Ele resolveu fazer algo para as crianças pobres, que pudesse mudar seu viver, e garantir-lhes um futuro melhor! Pondo ao lado seu editorial sobre reformas nas prisões, ele começou a escrever sobre as crianças pobres que trabalhavam nas fábricas, sem oportunidade para estudar e se preparar para uma vida melhor. Quanto mais ele escrevia, mais sentia-se empolgado com seu plano de ajudar as crianças. Ele resolveu neste primeiro editorial somente chamar atenção à condição deplorável dos pequeninos, e no próximo ele apresentaria uma solução que estava tomando forma na sua mente.
Quando leram seu editorial, houve alguns que sentiram pena das crianças, outros que acharam que o jornal deveria se preocupar com assuntos mais importantes do que crianças, sobretudo, filhos dos operários pobres! Mas Robert Raikes tinha um sonho e este estava enchendo seu coração e seus pensamentos cada vez mais! No editorial seguinte, expôs seu plano de começar aulas de alfabetização, linguagem, gramática, matemática, e religião para as crianças, durante algumas horas de domingo. Fez um apelo, através do jornal, para mulheres com preparo intelectual e dispostas a ajudar-lhes neste projeto, dando aulas nos seus lares. Dias depois um sacerdote anglicano indicou professoras da sua paróquia para o trabalho.
O entusiasmo das crianças era comovente e contagiante. Algumas não aceitaram trocar a sua liberdade de domingo, por ficar sentadas na sala de aula, mas eventualmente todos estavam aprendendo a ler, escrever e fazer as somas de aritmética. As histórias e lições bíblicas eram os momentos mais esperados e gostosos de todo o currículo. Em pouco tempo, as crianças aprenderam não somente da Bíblia, mas lições de moral, ética, e educação religiosa. Era uma verdadeira educação cristã.
Robert Raikes, este grande homem de visão humanitária, não somente fazia campanhas através de seu jornal para angariar doações de material escolar, mas também agasalhos, roupas, sapatos para as crianças pobres, bem como mantimentos para preparar-lhes um bom almoço aos domingos. Ele foi visto frequentemente acompanhado de seu fiel servo, andando sob a neve, com sua lanterna nas noites frias de inverno. Raikes fazia isto nos redutos mais pobres da cidade para levar agasalho e alimento para crianças de rua que morreriam de frio se ninguém cuidasse delas; conduzindo-as para sua casa, até encontrar um lar para elas.
As crianças se reuniam nas praças, ruas e em casas particulares. Robert Raikes pagava um pequeno salário às professoras que necessitavam, outras pagavam suas despesas do seu próprio bolso. Havia, também, algumas pessoas altruístas da cidade, que contribuíam para este nobre esforço.

Movimento mundial
ed04No começo Raikes encontrou resistência ao seu trabalho, entre aqueles que ele menos esperava - os líderes das igrejas. Achavam que ele estava profanando o domingo sagrado e profanando as suas igrejas com as crianças ainda não comportadas. Havia nestas alturas algumas igrejas que estavam abrindo as suas portas para classes bíblicas dominicais, vendo o efeito salutar que estas tinham sobre as crianças e jovens da cidade. Grandes homens da igreja, tais como João Wesley, o fundador do metodismo, logo ingressaram entusiasticamente na obra de Raikes, julgando-a ser um dos trabalhos mais eficientes para o ensino da Bíblia.
As classes bíblicas começaram a se propagar rapidamente por cidades vizinhas e, finalmente, para todo o país. Quatro anos após a fundação, a Escola Dominical já tinha mais de 250 mil alunos, e quando Robert Raikes faleceu em 1811, já havia na Escola Dominical 400 mil alunos matriculados.
A primeira Associação da Escola Dominical foi fundada na Inglaterra em 1785, e no mesmo ano, a União das Escolas Dominicais foi fundada nos Estados Unidos. Embora o trabalho tivesse começado em 1780, a organização da Escola Dominical em caráter permanente, data de 1782. No dia 3 de novembro de 1783 é celebrada a data de fundação da Escola Dominical. Entre as igrejas protestantes, a Metodista se destaca como a pioneira da obra de educação religiosa. Em grande parte, esta visão se deve ao seu dinâmico fundador João Wesley, que viu o potencial espiritual da Escola Dominical e logo a incorporou ao grande movimento sob sua liderança.
A Escola Bíblica Dominical surgiu no Brasil em 1855, em Petrópolis (RJ). O jovem casal de missionários escoceses, Robert e Sarah Kalley, chegou ao Brasil naquele ano e logo instalou uma escola para ensinar a Bíblia para as crianças e jovens daquela região. A primeira aula foi realizada no domingo, 19 de agosto de 1855. Somente cinco participaram, mas Sarah, contente com “pequenos começos”, contou a história de Jonas, mais com gestos,do que palavras, porque estava só começando a aprender o português. Ela viu tantas crianças pelas ruas que seu coração almejava ganhá-las para Jesus. A semente do Evangelho foi plantada em solo fértil.
Com o passar do tempo, aumentou tanto o número de pessoas estudando a Bíblia, que o missionário Kalley iniciou aulas para jovens e adultos. Vendo o crescimento, os Kalleys resolveram mudar para o Rio de Janeiro, para dar uma continuidade melhor ao trabalho e aumentar o alcance do mesmo. Este humilde começo de aulas bíblicas dominicais deu início à Igreja Evangélica Congregacional no Brasil.
No mundo há muitas coisas que pessoas sinceras e humanitárias fazem sem pensar ou imaginar a extensão de influência que seus atos podem ter. Certamente, Robert Raikes nunca imaginou que as simples aulas que ele começou entre crianças pobres e analfabetas da sua cidade, no interior da Inglaterra, iriam crescer para ser um grande movimento mundial. Hoje, a Escola Dominical conta com mais de 60 milhões de alunos matriculados, em mais de 500 mil igrejas protestantes no mundo. É a minúscula semente de mostarda plantada e regada, que cresceu para ser uma grande árvore cujos galhos estendem-se ao redor do globo.
Ruth Dorris Lemos é missionária norte-americana em atividade no Brasil, jornalista, professora de Teologia e uma das fundadoras do Instituto Bíblico da Assembleia de Deus (IBAD), em Pindamonhangaba (SP)

A CPAD e a Escola Dominical
ed05A CPAD tem uma trajetória marcante na Escola Dominical das igrejas brasileiras. As primeiras revistas começaram a ser publicadas em forma de suplemento do primeiro periódico das Assembleias de Deus – jornal Boa Semente, que circulou em Belém, Pará, no início da década de 20. O suplemento era denominado Estudos Dominicais, escritos pelo missionário Samuel Nystrom, pastor sueco de vasta cultura bíblica e secular, e com lições da Escola Dominical em forma de esboços, para três meses. Em 1930, na primeira convenção geral das Assembleias de Deus realizada em Natal (RN) deu-se a fusão do jornal Boa Semente com um outro similar que era publicado pela igreja do Rio de Janeiro, O Som Alegre, originando o MENSAGEIRO DA PAZ. Nessa ocasião (1930) foi lançada no Rio de Janeiro a revista Lições Bíblicas para as Escolas Dominicais. Seu primeiro comentador e editor foi o missionário Samuel Nystrom e depois o missionário Nils Kastberg.
Nos seus primeiros tempos a revista Lições Bíblicas era trimestral e depois passou a ser semestral. As razões disso não eram apenas os parcos recursos financeiros, mas principalmente a morosidade e a escassez de transporte de cargas, que naquele tempo era todo marítimo e somente costeiro; ao longo do litoral. A revista levava muito tempo para alcançar os pontos distantes do país. Com a melhora dos transportes a revista passou a ser trimestral.
Na década de 50 o avanço da CPAD foi considerável. A revista Lições Bíblicas passou a ter como comentadores homens de Deus como Eurico Bergstén, N. Lawrence Olson, João de Oliveira, José Menezes e Orlando Boyer. Seus ensinos seguros e conservadores, extraídos da Bíblia, forjaram toda uma geração de novos crentes. Disso resultou também uma grande colheita de obreiros para a seara do Mestre.
ed06As primeiras revistas para as crianças só vieram a surgir na década de 40, na gestão do jornalista e escritor Emílio Conde, como editor e redator da CPAD. A revista, escrita pelas professoras Nair Soares e Cacilda de Brito, era o primeiro esforço da CPAD para melhor alcançar a população infantil das nossas igrejas. Tempos depois, o grande entusiasta e promotor
Usava-se o texto bíblico e o comentário das Lições Bíblicas (jovens e adultos) para todas as idades. Muitos pastores, professores e alunos da Escola Dominical reclamavam das dificuldades insuperáveis de ensinar assuntos sumamente difíceis, impróprios e até inconvenientes para os pequeninos.da Escola Dominical entre nós, pastor José Pimentel de Carvalho, criou e lançou pela CPAD uma nova revista infantil, a Minha Revistinha , que por falta de apoio, de recursos, de pessoal, e de máquinas apropriadas, teve vida efêmera.
ed07Na década de 70 acentuava-se mais e mais a necessidade de novas revistas para a Escola Dominical, graduadas conforme as diversas faixas de idade de seus alunos. Isto acontecia, principalmente, à medida que o CAPED (Curso de Aperfeiçoamento de Professores da Escola Dominical), lançado pela CPAD em 1974, percorria o Brasil.
Foi assim que, também em 1974, com a criação do Departamento de Escola Dominical (atual Setor de Educação Cristã), começa-se a planejar e elaborar os diversos currículos bíblicos para todas as faixas etárias, bem como suas respectivas revistas para aluno e professor, e também os recursos visuais para as idades mais baixas.
ed08O plano delineado em 1974 e lançado na gestão do pastor Antônio Gilberto, no Departamento de Escola Dominical, foi reformulado e relançado em 1994 na gestão do irmão Ronaldo Rodrigues, Diretor Executivo da CPAD, de fato, só foi consumado em 1994, depois que todo o currículo sofreu redirecionamento tendo sido criadas novas revistas como as da faixa dos 15 a 17 anos e as do Discipulado para novos convertidos, desenhados novos visuais, aumentado a quantidade de páginas das revistas de alunos e mestres e criado novo padrão gráfico-visual de capas e embalagem dos visuais.
Após duas edições das revistas e currículos (1994 a 1996 e 1997 a 1999), a CPAD apresentou em 2000, uma nova edição com grandes novidades nas áreas pedagógicas, gráficas e visuais.
ed09Depois desse período, em 2007, a Editora lançou um novo currículo fundamentado nas concepções e pressupostos da Didática, Pedagogia e Psicologia Educacional. Após sete anos, a CPAD, sempre em fase de crescimento, inovou mais uma vez. Em comemoração pelos 75 anos de existência, a Casa lançou mais uma nova edição para a Escola Dominical que começou a ser utilizado no primeiro trimestre de 2015. A novidade surpreendeu até mesmo quem não conhecia o projeto. Antes, o currículo era dividido em dois segmentos: infanto-juvenil e adultos, depois dessa data ele ganhou mais um material exclusivo para o público jovem (a partir dos 18 anos): a revista Lições Bíblicas Jovens. 
Por Ruth Doris Lemos

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Síndrome do Armagedom


Desde que começou nossa era comum, cada virada de século viu sua cota de profetas apocalípticos anunciando o fim do mundo ou “Armagedon.” 

Eles reivindicam ter conhecimento especial revelado somente a eles. O termo apocalipse é do grego e significa “revelação” ou “desvendamento.” 

“Armagedon” só é mencionado uma vez na Bíblia – em Ap. 16:16 – esta palavra grega traduzida significa “monte de Megido.” As ruínas de Megido (Tel el-Mutsellim), uma cidade da Canaã antiga, ocupa aproximadamente doze acres de um pequeno planalto na Planície de Jezreel. Esta planície foi o palco de muitas vitórias militares decisivas ao longo da história. Como não há nenhuma “montanha literal de Megido”, o termo “Armagedon” é provavelmente simbólico da grande batalha de Deus no tempo do fim. Foram construídas teologias inteiras ao redor deste único verso. 

Várias igrejas abusivas criaram um pavor do Armageddon, reforçado com culpa, objetivando dominar e controlar a comunidade. Cultos usam como uma ferramenta de controle emocional. 

Por implantar medo e criar a culpa, grupos abusivos manipulam seus membros para prestar serviços gratuitos. 

Medo é o motivador principal. Ele atua de dois modos: 

(1) cria um inimigo externo que ameaça ou persegue o membro. Isto resulta na visão mundial “nós contra eles”, e 

(2) medo de fracassar na organização ou medo de descoberta e castigo pelos líderes se você for negligente ao fazer seu trabalho. Que trabalho? Porquê, servindo a organização, naturalmente! “Você realmente está fazendo tudo que pode para servir a Deus?” (Uma introdução típica para a culpa.) 

Culpa é um bom motivador, mas não funcionará a menos que você possa fazer as pessoas se sentirem culpadas sobre algo. Note este exemplo sutil: “Agora que você tem uma compreensão do propósito de Deus, não gostaria de compartilhar isto com outros? Nós sabemos que Deus destruirá todas as pessoas iníquas brevemente. Considerando que nós temos conhecimento disto, temos a responsabilidade de advertir outros. 

Se nós não fizermos isso, Deus nos achará culpados de sangue no Armagedon. Você não iria querer ser achado culpado de sangue, iria?” 

Cultos precisam de um “catalisador”. O “catalisador” da Sociedade é o Armagedon. O medo da aniquilação eterna, e o medo de ser achado culpado de sangue por Deus no Armagedon, assegura o serviço continuo do “crente.” Tal medo influencia adversamente planos para o matrimônio, faculdade, carreira, e a busca da felicidade. Rouba a paz mental e destrói a qualidade de vida da pessoa. 

O medo é usado efetivamente também, para atrair os novos membros. Uma pequena profecia de Bíblia, algumas estatísticas e eventos atuais, algumas datas e a armadilha está preparada. Uma vez que o novo convertido compre este peixe, o “catalisador” aparece para motivar e manipular. 

Cultos não oferecem uma escolha. A única escolha é a deles. (Nadar ou afundar é realmente uma escolha?) Grupos que as vezes usam a Síndrome do Armagedon, se tornam fisicamente perigosos. Eles podem não esperar pelo apocalipse, mas tentar apressá-lo, enquanto criando seu próprio Armagedon. 

O “povo” de Jim Jones começou como uma igreja Cristã normal, contudo se degenerou depois em um culto abusivo, que terminou em 1978 com mais de 900 suicídios no Sul das selvas americanas. 

A “Filial” de David Koresh, os “Davidianos” conheceu um apocalipse no dia 20 de abril de 1993 com 79 assassinatos/suicídios em Waco, Texas. 

A “Ordem” de Luc Jouret, “O Templo Solar” experimentou 53 assassinatos / suicídios na Suíça e Canadá em outubro de 1994. 

O “Aum Shinri Kyo” de Shoko Asahara, está sob investigação no Japão pelo recente ataque de gás na estação do metrô de Tóquio, que deixou 11 mortos e 5.500 doentes. 

De todos os grupos, porém, a Sociedade Torre de Vigia é talvez, a mais conhecida por sua Síndrome do Armagedon. 

Charles Taze Russell, primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia, previu o Armageddon para 1914: 

“… A batalha do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso, na qual terminará em 1914 DC, com a subversão completa dos governos humanos, já começou.” (The Time Is At Hand, 1911 ed., p. 101). 

Russell alterou seu ponto de vista depois disso e disse que o fim poderia não vir até 1916 – seguramente antes de 1918: “Também, no ano 1918, quando Deus destruir as igrejas que se vendem, e seus membros aos milhões” (O Mistério Consumado, 1917 ed., pág. 485). O fim veio, mas só para o pastor Russell, ele morreu em 1916. 

Joseph “Juiz” Rutherford sucedeu Russell como presidente e também predisse o fim. Ele disse pós-Armagedon que a reconstrução começaria em 1925 – marcada pela ressurreição dos patriarcas: “Podemos esperar confiantemente que 1925 marcará o retorno de Abraão, Isaque, Jacó e os profetas fiéis da antiguidade…” (Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão”, 1920, pág. 89, 90). 

Rutherford desistiu quando as profecias falharam? Não, no verdadeiro estilo de falsos profetas ele forjou à frente com uma nova luz. Em 1931 escreveu ele: Seu dia de vingança está aqui, e o Armagedon está à mão, é certo a queda da Cristandade, em breve.” (Vindicação I, pág. 146, 147). Nove anos depois ele sentiu impelido a escrever: “O Reino está aqui, o Rei está empossado. O Armagedon está à frente.” (O Mensageiro, 1/9/40, pág. 6). 

Foi escrito na Sentinela de 15 de setembro de 1941: “Recebendo o presente, as crianças marchando, abraçaram, não como um brinquedo ou diversão para prazer inativo, mas o Senhor proveu o instrumento para o trabalho mais efetivo nos meses restantes antes do Armagedon.” (pág. 288) 

Durante os próximos vinte cinco anos a Sociedade Torre de Vigia continuou advertindo da proximidade do fim. Em 1966 eles publicaram o livro “Vida Eterna na Liberdade dos Filhos de Deus” onde o ano de 1975 foi cavilado para marcar o começo do Milênio. Publicações da Sociedade continuaram marcando 1975 até a hora final: “… O reino divino de Deus regerá a terra durante mil anos depois do fim deste sistema de coisas.” (Despertai! 8/10/68, p.14). 

Também, “Há apenas noventa meses restantes antes que se completem os 6000 anos da existência do Homem na Terra. 

A maioria das pessoas que vivem hoje provavelmente estarão vivas quando o Armagedon começar, e não há nenhuma esperança de ressurreição para esses que serão destruídos.” (Ministério do Reino, 3/68, pág. 4) 

“Em virtude do curto tempo restante, a decisão para procurar uma carreira neste sistema de coisas não é só ininteligente, mas extremamente perigosa.” (Ministério do Reino, 6/69, pág. 3). 

Ouvimos falar de “relatórios de irmãos vendendo suas casas e propriedades, e planejando terminar o resto de seus dias neste velho sistema, no serviço de pioneiro. 

Certamente este é um modo excelente para gastar o curto tempo restante antes do “fim deste mundo ruim. (Ministério do Reino 5/74, pág. 3). 

A Sociedade Torre de Vigia sempre deu grande significação à sua “data âncora” 1914, prometendo que a geração de 1914 ainda estaria viva no Armagedon. Aquela geração passou. Agora eles têm que redefinir o significado de 1914. Seja lá como fizerem, você pode estar seguro que a ameaça do Armagedon continuará na vanguarda da teologia deles. 

Por outro lado, a Bíblia diz: 

“Ora, quanto ao tempo e às épocas, irmãos, não necessitais de que se vos escreva. Pois vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor vem exatamente como ladrão, de noite (1 Tess. 5:1,2) 

Qualquer pessoa ou organização que reivindica ter conhecimento especial ou exclusivo, são charlatães – falsos profetas. 

A Síndrome do Armagedon é uma característica identificadora de muitos cultos. A aflição, miséria e morte que eles dão em doses para seus membros/ vítimas são imensuráveis. 

Fuja deles! Nós temos a Palavra Viva de Deus.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

MSI - Movimento dos Sem-Igreja.


Cristão sem igreja não faz o menor sentido. Segundo a Bíblia, o cristão sem igreja é um “herege”. O fenômeno “desigrejados” ou “cristianismo sem igreja” tem sido o maior problema que aflige a atual comunidade cristã. 

Um desigrejado é um crente confesso que desistiu da igreja e geralmente questiona sua legitimidade em função de experiências difíceis e traumáticas. Mas essa onda que surgiu na atualidade pode resultar num cristianismo individualista e despersonalizado. 

A ideia de um "cristão sem igreja" ou "desigrejado" é absurda e não tem fundamento nas Escrituras. Atos 2:47 diz que "Todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar". Se o próprio Senhor acrescentava à Igreja todos os dias os que "haviam de se salvar" ou, como diz em outra tradução, "os que iam sendo salvos", como pode existir um salvo "sem igreja"? A igreja é o corpo de Cristo, ao qual cada salvo é adicionado como membro, e desse corpo ele jamais será subtraído, e nem conseguirá se desligar por si próprio, pois esse corpo é controlado pela cabeça, que é Cristo. 

Muitos fogem da igreja, pois querem evitar desconfortos e problemas, com referência às pessoas que buscam uma felicidade imediata. Existem muitos acreditando que “quem tem Jesus não sofre mais”. 

Além disso, grande parte da espiritualidade de hoje é voltada para experiências individuais e emocionais. É quase um narcisismo místico. Em vez de priorizar atitudes virtuosas como perdoar ou ser um bom cidadão, as pessoas dão mais importância a certos sentimentos. Sentir arrepios na coluna, ter muita paz no coração, gritar no louvor e desmaiar de tanto poder, tornaram-se sinais de grande espiritualidade. 

Sem contar que boa parte dos desigrejados, rejeita a autoridade. Há muita gente que não quer fazer parte da igreja, por não aceitar submeter-se a nenhuma autoridade. É o grito da independência indevida. Muitas são as pessoas que não querem prestar contas da vida a ninguém. Com isso vivem trocando de igreja e não ficam em lugar nenhum. 

Muitos hoje enxergam a igreja, e o próprio Evangelho, como uma mercadoria a ser consumida. Não têm compromisso e procuram igrejas como um cliente. Numa comunidade eles ‘consomem’ a boa mensagem do culto. Em outra ‘compram’ o louvor mais animado, e ainda numa terceira ‘desfrutam’ da escola bíblica para adquirir mais informações. Esses consumidores da fé são pessoas que não se veem como servos que devem doar-se para o Reino. Querem apenas ser agradadas e até mesmo mimadas. Não enxergam o conceito bíblico de corpo, de coletividade; não conseguem ver que a obra de Deus é sustentada pelo esforço de todos. 

A única esperança para o mundo é a igreja, segundo o ensino bíblico. O corpo de Cristo é o único meio pelo qual Cristo age no mundo 

Jesus enfatizou a importância do grupo e da comunidade quando afirmou que está presente entre dois ou três reunidos em seu nome. Como é possível perdoar o outro se me isolo? Como posso desenvolver o meu dom espiritual se vivo sozinho? Como realizar a missão sem a comunidade da fé? Como crescer espiritualmente sem fazer parte de uma igreja? Cristão sem igreja não faz o mínimo sentido. 

É impossível a qualquer ser humano se tornar membro da igreja por decisão sua, e é impossível também que ele se desligue ou seja desligado da igreja que é o corpo de Cristo. E quando cristãos estão congregados sobre o fundamento bíblico do "um só corpo" não estão considerando "seu grupo" a igreja, mas apenas o testemunho ou expressão local desta. 

A grande confusão é que a maioria dos cristãos considera "igreja" como uma organização ou o conjunto de organizações religiosas existentes no mundo. E aí alguns saem proclamando os cristãos a se tornarem "sem igreja" ou "desigrejados".

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Êxodo: Sua História e Geografia



O livro bíblico do Êxodo relata que os filhos de Israel permaneceram no Egito durante séculos como escravos. Após a saída do Egito, passaram os primeiros quarenta e nove dias de liberdade no deserto, seguindo em direção ao Monte Sinai, local onde permaneceram aproximadamente por um ano e receberam os 10 mandamentos divinos, através de Moisés. O passo seguinte seria uma jornada de alguns dias em direção à Terra Prometida (naquele momento ainda conhecida como Terra de Canaã), que deveria ser conquistada e dividida entre as tribos formadoras do povo. Mas um fato inesperado mudou o curso dos acontecimentos: os espiões, enviados com o objetivo de reconhecer a região a ser conquistada, trouxeram um relato desfavorável à conquista, provocando a revolta de todo o povo. A punição por esta revolta, e pela recusa dos israelitas em confiar na promessa divina da conquista da terra de Canaã, foi a permanência de quarenta anos no deserto, até o florescimento de uma nova geração. 

Durante estes quarenta anos de jornadas pelo deserto, os Filhos de Israel acamparam em quarenta e dois lugares diferentes, seguindo uma rota diferente daquela que seria a mais direta ou a mais próxima do destino final. 

A rota do Êxodo possui duas dimensões: uma dimensão temporal e uma dimensão espacial, que a tornam plena de significado. A dimensão temporal indica que foram quarenta anos de jornadas pelo deserto, decorrentes dos quarenta dias em que os espiões percorreram a terra de Canaã, até o florescimento de uma nova geração. O número quarenta possui uma simbologia especial na Bíblia Hebraica, e um dos seus significados é o período de uma geração. A dimensão espacial, por sua vez, é a descrição geográfica da rota, e se inicia com a escolha da rota, narrada no livro do Êxodo: 

E aconteceu que, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto; porque Deus disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e volte ao Egito. Mas Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto do Mar Vermelho; e armados, os filhos de Israel subiram da terra do Egito (Ex 13: 17-8). 

A rota mais curta e lógica para se chegar do nordeste do Egito até Canaã seria aquela ao norte do Sinai, seguindo a costa do Mediterrâneo e atravessando o território dos filisteus, chamada na Bíblia de “O Caminho da Terra dos Filisteus”, “O Caminho do Mar”, ou, em suas versões latinas, de “Via Maris”. Esta rota é a mais comum, utilizada pelos faraós para incursões na Ásia. Tornou-se uma das vias internacionais de comunicação mais importantes através da história, servindo como artéria para o comércio internacional. O livro do Êxodo deixa bem claro que esta rota não foi utilizada pelos filhos de Israel após a saída do Egito: 

“E foi ao enviar o Faraó ao povo, não o guiou o Eterno pelo caminho da terra dos filisteus que era próximo”. 

Este caminho, da fronteira do Egito até Gaza, possui cerca de 240 quilômetros. Esta distância levaria apenas algumas semanas, talvez um mês, para ser percorrida, mesmo por um grande grupo de pessoas, incluindo seus rebanhos. O exército de Thutmosis III (1504 a 1450 a. C.) cobriu esta distância em dez dias. 

Um texto de Mari sugere que uma caravana poderia percorrer 35 quilômetros por dia em um deserto, resultando em 7 dias de viagem. Sendo assim, alguns dias seriam suficientes para percorrer este trajeto, mas outro caminho foi escolhido, e este levou 40 anos para ser percorrido. A rota escolhida foi descrita em Ex 13: 18 como “O Caminho do Deserto do Mar Vermelho”. 

Os filhos de Israel se dirigiram ao sul para o interior do deserto, para áreas fora do controle egípcio. Assim, os israelitas evitariam confrontos contra os filisteus; evitariam as mais de vinte fortificações egípcias ao longo da Via Maris; estariam longe do Egito, evitando que parte dos israelitas se arrependessem da saída do Egito e desejassem voltar, como aconteceu em Pi Hachirot, Refidim, Mará, Taberá/Kibroth Hataavá, e Cadesh Barnea; poderiam, se livrar do que restou da influência egípcia durante a estada no deserto, para serem educados de uma nova maneira, através dos ensinamentos da Torá; teriam a oportunidade de preparar um exército para a conquista de Canaã, transformando escravos em guerreiros. Enfim, o período de jornadas dos israelitas pelo deserto foi decisivo para a transformação de um amontoado de escravos em um povo com um propósito. E o cenário escolhido para esta transformação foi o deserto. 

Alguns estudiosos das jornadas dos filhos de Israel após o Êxodo descrevem os desertos por onde passaram como muito árido e quase sem água; o planalto central da Península do Sinai, por onde acredita que os israelitas tenham passado, como um lugar sombrio, de impossível travessia com rebanhos. 

As temperaturas médias, mínima e máxima, são -5o C e 40,5o C. Chuvas são raras e irregulares, a média anual está abaixo de 0,6 milímetros. Uma pequena parte da neve que cobre alguns picos aumenta os estoques de água, e há também reservatórios subterrâneos suficientemente próximos à superfície para serem interceptados. Piscinas naturais também se formam esporadicamente com água das chuvas, ao longo dos wadis5, e estas águas podem durar meses. Algumas vezes, as águas de reservatórios subterrâneos correm para os wadis, fazendo com que alguns oásis se mantenham, como o oásis de Feiran no oeste e Ein-Kid no leste da península do Sinai. Há vegetação rasteira, típica do deserto, explorada pelos beduínos locais como pasto e combustível. A população de beduínos é de aproximadamente dez mil, que vivem tanto em vilarejos temporários como permanentes. Eles moram em tendas, cabanas de madeira e, em locais permanentes, em estruturas de pedra. Há poucos recursos econômicos e pouca água, e, consequentemente, não há população regular ou sedentária. O Sinai central é chamado, em árabe, Badyat el-Tih, “o Deserto dos Viajantes”, uma área plana de calcário e areia, imprópria para qualquer tipo de plantação. Até a vegetação selvagem luta para sobreviver devido à escassez de água. A economia é baseada em rebanho de cabras, principalmente cabras negras de uma raça anã, adaptada às condições áridas. Estas cabras podem permanecer por quatorze dias sem água, mesmo perdendo até 40% do seu peso. Não há evidências de presença egípcia na região centro-sul do Sinai em época alguma. O deserto é lembrado como lugar ruim, onde não há árvores frutíferas, nem é possível de se semear, mas há animais malvados e peçonhentos, cobras e escorpiões. 

Uma terra desolada, onde não passam nem moram pessoas, e aquele que se arriscar está sujeito à fome e à sede. Os habitantes do deserto estão sujeitos a privações, e se empobrecem fora dos assentamentos. As Escrituras também descrevem o deserto como local de escuridão e sombra da morte: 

“E não disseram onde está o Senhor, que nos fez subir da terra do Egypto? Que nos guiou pelo deserto, por uma terra de charnecas, e de covas, por uma terra de sequidão e sombra de morte, por uma terra pela qual ninguém passava, e homem nenhum morava nella”? (Jr 2: 6). 

Do deserto temível se ouvem os uivos e de lá vem o vento da destruição. O deserto também pode estar em oposição ao Éden: 

“...Ele fará seu deserto como o Éden e suas terras isoladas como o jardim divino..., Is 51: 3; ou “Antes disso a terra era como o Jardim do Éden, depois disso um deserto isolado”, Jl 2: 3), ou ao abismo, ermo. 

Sendo o deserto claramente ruim, é como se fosse um modelo de coisas ruins. 

“Melhor morar em um deserto do que com uma mulher de discórdia e raiva”, Pr 21: 19. 

Apesar do aspecto negativo do deserto estar incorporado à consciência das Escrituras, também há uma relação positiva com o deserto nas lembranças do passado do povo de Israel, em especial neste período de quarenta anos em que os filhos de Israel perambularam pelo deserto. O grande evento das peregrinações dos israelitas no deserto nesta época é o encontro com Deus no Sinai, encontro este de grande importância para a história da humanidade.  

O período de caminhadas configurou a relação entre o povo de Israel e o deserto. Segundo a visão de alguns profetas, as peregrinações no deserto tornaram possível a aproximação entre Deus e Israel. Apesar de, conforme já mencionado, o deserto ser uma terra árida, desolada e da sombra da morte, de todos os lugares por onde Israel passou, é no deserto que o profeta, alegoricamente, chama Israel de noiva, aquela que passa por provações e segue a Deus, que é como um noivo, numa terra não semeada: 

[…] Lembro-me de ti, da beneficência da tua mocidade, e do amor dos teus desposorios, quando andavas após mim no deserto, n’uma terra que não se semeava” (Jr 2: 2). 

Percebe-se que os anos após a saída da terra do Egito são comparados aos anos de juventude, e Deus trata Israel com bondade e amor. As mesmas ideias dos nostálgicos anos de juventude e de bondade se encontram em Os 2: 15: 

“E lhe darei as suas vinhas d’ali, e o vale de Achor, para porta de esperança; e ali cantará, como nos dias da sua mocidade, e como no dia em que subiu da terra do Egypto”. 

Enquanto estava no deserto, Israel era fiel a Deus: 

“Achei a Israel como uvas no deserto, vi a vossos paes como a fructa temporã da figueira no seu princípio” (Os 9: 10). 

O deserto é considerado por Ezequiel como um lugar de julgamento: 

“Como já entrei em juízo com vossos paes, no deserto da terra do Egypto, assim entrarei em juízo convosco [...]. E vos farei passar debaixo da vara, e vos farei entrar no vínculo do concerto” (Ez 20: 36-37). 

O deserto parece ser uma alusão ao exílio, um local de arrependimento. A volta para Judá parece, para Isaías, uma nova saída do Egito, uma nova encarnação das viagens pelo deserto, onde ocorrem maravilhas Divinas: 

“[...] porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra secca se tornará em tanques, e a terra sedenta em mananciaes d’água; e nas habitações em que jaziam os dragões haverá herva com cannas e juncos” (Is 35: 6-7). 

Tanto a topografia quanto a cronologia da história têm significação religiosa. Os israelitas saem do Egito, uma terra de sofrimento, mas de fartura, e rumam para o deserto, uma terra de fome e morte potenciais, atravessando a água para a terra seca. Isto é possível por causa da intervenção Divina. Pela intervenção Divina ulterior, o faraó e o exército egípcio são destruídos. Mas os israelitas são miraculosamente providos de alimento (maná) e água. No fim do período de quarenta anos de vagueação no deserto, mais uma vez os israelitas atravessam a água (desta vez o Jordão) para a terra seca (Js 3: 4). 

Um deserto prototípico, um suposto “outro mundo”, fornecido pelo meio geográfico das vagueações do Livro do Êxodo: 

Se se está no Egito, o deserto é onde se chega ao cruzar o Mar Vermelho; se se está na terra de Israel, o deserto é onde se chega ao cruzar o Jordão. O deserto é o Outro Mundo. Entrar ou sair do deserto simboliza um movimento metafísico do aqui-e-agora para a ausência de tempo do Outro ou vice-versa. Nesse outro mundo tudo acontece às avessas. O pão celestial cai do céu como chuva; a água celestial não cai como chuva, mas emerge de uma rocha. O deserto é marcado como o Outro absoluto. Ele é um mundo onde o alimento comum não está disponível, mas onde o povo eleito de Deus é alimentado com pão Divino e com água Divina. É um mundo em que os profetas escolhidos, Moisés e Josué, e em grau menor Aarão e Miriam, conversam diretamente com Deus. 

É um mundo em que o rito da circuncisão não é exigido (com a enigmática exceção de Gérson). É um mundo com limites de água nitidamente definidos: o Mar Vermelho, de um lado, o Rio Jordão, de outro. Para entrar neste outro mundo sagrado, pessoas comuns (outros que não profetas escolhidos como Moisés e Aarão) precisam de intervenção Divina pela qual os limites de água sejam tornados transponíveis. É um mundo que inclui a montanha de Deus, Monte Sinai (Horebe), que é em si limitado, um mundo à parte dentro de um mundo à parte. 

Assim especificado, o deserto, o Outro Mundo das coisas sagradas, é em tudo o avesso exato do mundo profano familiar às pessoas comuns, entregues às suas atividades comuns seculares. 

O deserto da Península do Sinai tem outro significado: uma ponte entre continentes, como também uma ponte metafísica entre Deus e o homem. Para cada um dos quarenta e dois acampamentos, ou estações, por onde passaram os filhos de Israel durante este período de quarenta anos no deserto, é possível fazer uma análise histórica, geográfica e arqueológica. Cada nome possui um significado específico. Há três diferentes grupos de nomes de acampamentos: nomes de locais que já existiam antes da passagem dos filhos de Israel; nomes decorrentes de alguma característica do local; nomes decorrentes de eventos que ocorreram durante a estadia dos filhos de Israel. 

A localização de qualquer um dos acampamentos associados à jornada dos filhos de Israel após a saída do Egito é muito difícil. Quase nenhum dos lugares pode ser identificado com certeza. Assim, as localizações sugeridas, em geral, são baseadas em tentativas. Portanto, não temos certeza sobre nomes e localizações geográficas de diversos lugares; não podemos identificar com exatidão diversos locais por onde passaram os filhos de Israel, mencionados no Pentateuco; também não conseguimos relacionar a história do Êxodo com a história universal; além disso, ainda não há provas ou indícios arqueológicos destas jornadas. 

A hipótese do salvamento dos israelitas da perseguição egípcia no mar deve ser permanentemente descartada. A narrativa do Êxodo não é uma tradição confiável. Alguns estudiosos consideram a narrativa das jornadas pelo deserto um épico ou um rito de passagem ou iniciação. Esse relato possui ritos simbólicos de passagem: o povo libertado da escravidão, que ganha uma nova identidade como “o povo de Deus” na montanha sagrada, e entra na “Terra Prometida” com sua nova identidade. Andanças ou jornadas podem ser vistas como paradigmas de rituais de iniciação, como a busca de conhecimento ou busca do centro espiritual ou psicológico. 

É claro que surgem, habitualmente, obstáculos a serem vencidos, e isso faz com que a jornada proporcione a possibilidade de aprender a lidar com dificuldades. O período de quarenta anos no deserto deve ter ensinado aos israelitas como sobreviver em situações extremas. A narrativa Bíblica tem um significado diferente, não de um épico heroico de migração, mas da lembrança vergonhosa de uma escravidão que só o poder divino pode libertar. Não pode realmente haver dúvidas de que os ancestrais de Israel tinham sido escravos no Egito e escaparam de uma maneira maravilhosa. Quase ninguém hoje duvidaria disso. Os detalhes das jornadas e da vida no Sinai como a Torá os apresenta estão de acordo com aquilo que sabemos sobre o Sinai. (…) Parece-me mais fácil acreditar que a Bíblia cuidadosamente preserva um autêntico retrato das jornadas e da vida no deserto do Sinai do que a suposição de que autores que viveram entre seiscentos e setecentos anos depois dos eventos, desconhecendo o passado e usando imaginação criativa, possam ter alcançado um nível de acerto tão elevado quanto esta investigação demonstrou. 

As narrativas mostram um conhecimento prático das condições do Sinai que não poderia ter sido adquirido por escritores românticos mais recentes da época do exílio babilônico ou da Judéia empobrecida dos períodos persa e helenístico, a centenas de milhas de distância dos locais e fenômenos em questão. 

Os grandes objetivos dos israelitas foram a aceitação, como nação, do Deus de Israel e o recebimento da Torá na montanha escolhida. Foi neste período que Israel recebeu a sua religião característica, que se tornou um povo. A origem, a própria fundação da religião de Israel, ocorreu no deserto. 

Todos devem passar por jornadas, progredindo em etapas, para vencer as próprias limitações. Quando uma pessoa passa de um nível para outro, ela deve aprender a lidar com novos desafios. O sucesso da missão é alcançar a Terra Prometida, “que mana leite e mel”. 

O período de jornadas dos israelitas pelo deserto, saindo da escravidão do Egito e alcançando a Terra Prometida, é a narrativa da quebra das correntes, da vitória dos escravos sobre os escravizadores, da busca da liberdade e da autodeterminação de um povo, enfim, uma narrativa épica e simbólica que representa a esperança. Manu Marcus Hubner (Revista Estação Literária)


REFERÊNCIAS: 
AHARONI, Yohanan. The Land of the Bible. A Historical Geography. Philadelphia: The Westminster Press, 1979. 
ALTER, Robert e KERMODE, Frank. Guia Literário da Bíblia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997.  
BATTO, Bernard F. The Reed Sea: Requiescat in Pace. In: Journal of Biblical Literature, vol. 102, n. 1 (1983), pp. 27-35, disponível em: <http://www.jstor.org/stable/3260744>, acesso em: 14/08/2009. 
BEIT-ARIEH, Itzhaq. The Route Through Sinai: Why the Israelites Fleeing Egypt Went South. In: Biblical Archaeology Review, vol. 14, n. 03 (1988), pp. 28-37, disponível em: <http://cojs.org/articles/BAR%201988%20May-Jun/The%20Route%20Through% 20Sinai.pdf>, acesso em: 23/06/2009. 
BEREZIN, Jaffa Rivka. Dicionário Hebraico-Português. São Paulo: Editora Universitária de São Paulo, 2003. 
BOGOMILSKY, Moshe. Vedibarta Bam: And You Shall Speak of Them. Vol. IV - Bamidbar. New York: Hebrew Books, 2006. 


segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Escatologia: Acontecimentos Futuros


Desde o momento em que Deus criou o mundo e tudo que nele existe com o poder de sua palavra (Gênesis 1.1-25), formando o ser humano com suas próprias mãos, soprando nele o fôlego da vida (Gênesis 2.7), ocorreram muitos dias importantes na história da humanidade, porém, desde o pecado (Gênesis 3.1-5) há grande expectativa no coração humano sobre o futuro que o aguarda. As Escrituras registram a volta do Senhor Jesus a este mundo, este será  o mais significativo eventos de todos os tempos.

A Bíblia Sagrada diz que o céu é a habitação de Deus (2 Crônicas 6.18, 21; Salmos 123.1). E esclarece que o caminho da vida é para cima, a fim de que se desvie do inferno, que está para baixo (Provérbios 15.24).


A Bíblia fala em três céus:

1º. Auronos. Este é o nome dado ao que conhecemos de "primeiro céu". É o "céu atmosférico" que Jesus descreveu como "extremidades dos céus" (Lucas 17.24).

2º Mesoranjos. Este é o nome dado ao céu intermediário, chamado de "céu estelar"; "céu planetário" e também "céu astronômico". A Bíblia descreve como "alturas".

3º. Eporaneos. Este é o nome dado ao céu superior, que a Bíblia chama de "terceiro céu" (2 Coríntios 12.2); "céu dos céus" (Números 9.6).

A esperança que sustenta o povo de Deus hoje

Todas as profecias registradas no Antigo Testamento sobre a primeira vinda do Senhor Jesus, descritas em seus mínimos detalhes, cumpriram-se literalmente (Salmos 16.10; Atos 2.22-32). A doutrina da volta de Senhor Jesus, de igual modo, tem fundamentos profundos na palavra profética, oferecendo certeza e segurança aos que creem no retorno do Senhor a este mundo. Acredite na promessa de Jesus, registrada em João 14.1-3. Jesus afirmou que iria ao céu - à habitação de Deus - preparar o lar que será o destino final dos cristãos e voltaria para nos levar para lá. Ele foi ao céu e, através de anjos, reafirmou sua promessa que voltará (Atos 1.12).

O céu não saiu da prancheta de projetistas humanos, a estadia foi pensada de maneira perfeita para ser o lugar de todos que aceitaram a Cristo como Senhor e Salvador. Não é uma tenda ou um tabernáculo. Não é uma casa alugada construída por mãos de seres mortais. É uma permanência perpétua edificada através do poder do Supremo Criador, erigido com o objetivo de propiciar felicidade eterna. Considere que receberemos a posse no tempo devido. No céu há muitas mansões, há espaço distinto para cada um que ali chegar, há muitos filhos para serem levados à glória. Lá, todos os verdadeiros cristãos são bem-vindos, para morar permanentemente.


Ao retornar, Jesus levará o seu povo para estar com Ele para sempre no céu. O céu seria um lugar incompleto para um cristão se Cristo não estivesse lá. Enquanto não volta, Jesus age como nosso advogado ou defensor, protege nossos direitos e provê por nós.

As promessas infalíveis sobre a vinda do Senhor são citadas 1.527 vezes no Antigo Testamento e 320 vezes no Novo Testamento. Reis, sacerdotes, profetas, pessoas comuns, evangelistas e até anjos mencionaram a vinda de Jesus a este mundo (Daniel 7.13-14; Malaquias 3.1-5); 1 Coríntios 15.23; 1 Tessalonicenses 4.16-17; 3.13). Da mesma maneira, cerimônias, parábolas e ilustrações sinalizam com muita contundência que Jesus virá outra vez (Gênesis 3.15; Judas 14). 


A vinda majestosa de Jesus Cristo se dará em duas fases distintas, divididas em um período de sete anos. Isto é mostrado claramente nas páginas sagradas, portanto, precisamos deixar bem claro o que diz as Escrituras a esse respeito, evitando interpretações equivocas (1 Tessalonicenses 4.13-17; 1 Coríntios 15.51-52).

As Escrituras mencionam sinais que apontam ao advento da volta:

• Em cima, no céu (Joel 2.30, 31; Lucas 21.11; Atos 2.19;
• Em baixo, na terra (Mateus 24.7; Lucas 21.12; Atos 2.19);
• Na vida social (Mateus 24.12; Lucas 17.26-28; 21.12; 2 Timóteo 3.1-4);
• Na vida moral (Lucas 17.28-30);
• Entre o povo judeu (Ezequiel 37.1-4; Lucas 21.24, 29; Romanos 11.25, 26);
• Na vida política (Daniel 2.19, 31-33; 7.23-27; Ezequiel 38.6;  Lucas 21.29; Apocalipse 17.7, 12)
• Na vida religiosa (Mateus 24.5; Lucas 21.12; Apocalipse 13.12);
• No meio do povo de Deus (Mateus 24.12; 25.5; Lucas 17.26; 18.8; 2 Timóteo 4.3, 4; 2 Pedro 3.4);
• Na vida científica (Isaías 60.8; Jeremias 51.53; Daniel 12.4; Naum 2.4). 


Primeira fase: o Arrebatamento da Igreja

A palavra "arrebatado" é traduzida do verbo grego "harpazo", que significa "tirar", "arrancar com força"; o vocábulo latim "raptare", que em português é "raptar", também significa "arrebatar". 

Este assunto é um mistério que só será compreendido plenamente quando ocorrer.

Nesta primeira fase, Jesus virá secretamente para a Igreja que o está velando e esperando (Mateus 25.1-13; 24.39-44; 2 Pedro 3.10). Ele virá até as nuvens, seus pés não tocarão o solo, nos encontrará nos ares. O Arrebatamento ocorrerá antes da Grande Tribulação (Mateus 3.7; 1 Tessalonicenses 1.10; Apocalipse 3.10).

A abordagem sobre o Arrebatamento do povo de Deus, feita com mais detalhes pelo apóstolo Paulo é encontrada em 1 Tessalonicenses 5.2, 4. Na primeira etapa da vinda de Jesus, acontecerá o Arrebatamento: o retorno será invisível aos olhos de quem vive segundo o estilo do mundo, pois este não serve a Deus. O Arrebatamento acontecerá em data e hora desconhecidas e as pessoas do mundo só saberão o que houve depois, quando notar a ausência de milhões de cristãos (Mateus 24.36). O Senhor Jesus voltará secretamente para levar consigo todos quantos morreram salvos e todos os que estiverem vivos e preparados, isto é, àqueles que estiverem, em vida, servindo-o fielmente (1 Tessalonicenses 4.15-18; Hebreus 9.28). Os mortos ressuscitados e os vivos serão transformados, numa ação muito rápida, tal qual o movimento de pálpebras, num abrir e fechar de olhos (1 Coríntios 15.52). Repentinamente, os dois grupos, juntos, irão ao encontro do Senhor e serão transladados por Ele às mansões celestiais. A maioria dos salvos será composta de gentios e não de judeus, estes subirão com Cristo nos ares (1 Tessalonicenses 4.17, 18).

Segunda fase: a vinda em forma visível 


Este evento apocaliptico acontecerá sete anos após o Arrebatamento da Igreja, já no final da Grande Tribulação. Cristo voltará em corpo glorioso, revestido de poder (João 14.3, ocasião em que sinais espantosos acontecerão no céu, na terra e entre os seus habitantes, em especial o povo judeu. O som de trombetas será ouvido no céu, na terra, no inferno e em todos os lugares (Mateus 24.31).  Neste evento, Jesus estará acompanhado da Igreja glorificada composta dos crentes que subiram no Arrebatamento, os santos que passaram pelas bodas do Cordeiro e pelo Tribunal de Cristo (Apocalipse 19.7; 2 Corintios 5.10). Esta vinda será contemplada por todos os habitantes da terra (Apocalipse 1.7) - isto será possível devido á tecnologia da comunicação, extremamente desenvolvida (Daniel 12.4).

A volta de Jesus, em sua segunda etapa, será como a sua ascensão: real, corporal, literal e visível: os homens o verão novamente com os olhos carnais (Daniel 7.13-14; Zacarias 14.1-5; Mateus 24.29-31; 25.31-46; 2 Tessalonicenses 1.7-10; Apocalipse 1.7; 19.11-21). Jesus ascendeu ao céu quando estava rodeado de discípulos no monte das oliveiras, e neste mesmo ponto geográfico acontecerá a revelação do seu retorno (Atos 1.12; Zacarias 14.4).

A ascensão de Jesus ocorreu no monte das Oliveiras, o solo deste monte foi o último lugar da terra em que os pés de Cristo pisaram e seu retorno acontecerá ali também, à vista de Jerusalém, cujos cidadãos ingratos o desprezaram e o crucificaram, não quiseram que reinasse sobre eles. Sobre esta segundo momento do retorno, o profeta Zacarias, no capítulo 14 e versículo 4 de seu livro, profetizou que os pés de Cristo estarão sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém, e o monte das Oliveiras será fendido ao meio. Como o primogênito de Maria, Ele veio e experimentou a  vergonha quando julgado injustamente, mas virá outra vez em glória para julgar como o Justo Juiz (Atos 1.11).

No instante da segunda vinda, Jerusalém estará em guerra, sendo destruída pelos seus inimigos, e nesta situação Deus inspecionará os judeus como o refinador coloca seu ouro na fornalha e fica ao lado para ver se não vai sofrer nenhum dano. Segundo a profecia escatológica de Zacarias, Jerusalém é o ouro do Senhor a ser refinado.

O padrão dos crentes de Tessalônica para os últimos dias

Paulo se mostrou um missionário atento ao seu tempo. Quando esteve com os gregos no Areópago, como registra Lucas em Atos, usou de toda a sua retórica, advinda de sua formação educacional num contexto romano. Ao escrever aos crentes tessalonicenses, sabe que a temática relativa às últimas coisas é uma questão a ser abordada de forma complexa em virtude da presença do forte politeísmo existente em Tessalônica. Naquela cidade, havia o culto a Dionísio, Asclépio e Deméter. Existia uma forte influência da religiosidade egípcia e greco-romana, o sincretismo chegou a tal ponto que se construiu o Grande Sarapeum, templo destinado à adoração simultânea de deuses romanos e egípcios.

Diante do conhecimento desse aspecto histórico, podemos refletir no enorme desafio que se impôs a Paulo na evangelização daquela cidade, havia a possibilidade de haver uma rejeição completa de tudo o que estava sendo anunciado. Se o anúncio do Evangelho não houvesse sido feito sob a orientação da graça divina, Jesus seria apenas mais um dos deuses a entrar na lista da religiosidade sincrética no coração dos tessalonicenses. Porém, felizmente, o apóstolo apresentou Jesus que, literalmente, se entregou pela humanidade. Diante da extraordinária narrativa de Paulo sobre Jesus, aquela população foi impactada pelo poder da Palavra, e consequentemente fez com que a fé para a salvação brotasse no coração daqueles irmãos, houve uma significativa adesão ao convite do Senhor e os tessalonicenses se converteram dos ídolos a Deus (1 Tessalonicenses 1.9).

Sabemos, a religiosidade transcende os aspectos litúrgicos ou ritualísticos da própria religião, associa-se, na maioria dos casos e de maneira íntima, a componentes sociais e culturais de um povo. Ao ser humano, não basta o rótulo de cristão e a acomodação às reuniões em um templo evangélico, é necessário receber a Jesus como Senhor e Salvador de sua alma, arrepender-se dos pecados cometidos e firmar o propósito de não viver em pecado sistemático ou continuado. Jesus muda o modo de viver das pessoas que o seguem com inteireza de coração (João 3.3; Apocalipse 22.14, 15).

Assim como a verdade do Evangelho prevaleceu sobre a ficcionalidade dos mitos greco-romanos na vida dos crentes tessalonicenses, e em consequência deste fato nasceu a Igreja composta por irmãos tessalonicenses, toda pessoa que ouve a voz de Jesus a bater na porta de seu coração, e permite que Ele entre em sua vida e passa a ter comunhão com Cristo, todos os embaraços existentes em sua vida são vencidos, sua vida é transformada de idólatra à espiritualidade viva e dinâmica. E assim passa a ser alguém apto a entrar no céu (Salmos 15.1-7; Apocalipse 3.20).

Conclusão

Segundo as palavras bíblicas, ninguém no céu, na terra, no inferno ou em qualquer outro lugar, sabe o dia ou a hora quando arrebatará a Igreja (Mateus 24.42-44; Marcos 13.32). Estipular um dia é transgredir contra o sigilo de Deus. Alguns ousaram afirmar que estamos às 23 horas e 59 minutos do advento. Todos os especuladores que tentaram determinar data e horário foram envergonhados ao ficar patente a sua ignorância.

Jesus prometeu voltar para nos buscar e isto acontecerá de súbito. Ele virá surpreendendo a humanidade, por este motivo todos precisam estar prontos para sua chegada. (Eliseu Antonio Gomes)

Referências Bibliográficas:


1ª Escola Bíblica para Obreiros (EBO): Escatologia, Valdir Nunes Bícego, página 24, data do evento não declarado, Lapa, São Paulo/SP (Assembleia de Deus setor Lapa
Bíblia de Estudo Mattew Henry, páginas 1675 e 1706, 1ª edição 2014, Taquara, Rio de Janeiro/RJ (Editora Central Gospel)
Escatologia Bíblica. Um tratado sobre o fim do mundo, Erivaldo de Jesus, páginas 46 a 48, e 55; 8ª edição, 2017, São Paulo (ADIB Editora).
Lições da Palavra de Deus - Grandes Temas do Apocalipse - Uma Perspectiva Profética Impressionante dos últimos Tempos. Lição 1: A Volta do Senhor Jesus. Joá Caetano, ano 14, número 53, 1º trimestre de 2018, páginas 6 a 10, Taquara, Rio de Janeiro/RJ (Editora Central Gospel).



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Deus ou deuses


Em que criam os primeiros seres humanos que povoaram o mundo: na existência de um único Deus ou em vários deuses? Para este tema têm-se voltado centenas de filósofos, etnólogos e historiadores. Ao longo dos séculos, muitos estudos têm sido feitos para se saber que ideia influenciou primeiro as populações primitivas: Se o monoteísmo (a crença na existência de um único Deus), ou se o politeísmo (a crença na existência de vários deuses).

O curioso é que, estando incluído entre os pensadores que têm debatido sobre este assunto, o filósofo francês Voltaire, apesar de sempre ter-se mostrado propenso a apegar-se a ideias anarquistas e antibíblicas, acreditava plenamente que a forma originária de crença do ser humano fora a da existência de um único Deus. "O politeísmo surgiu muito tempo depois, devido à fraqueza humana", concluiu o polêmico escritor.

A posição da maior parte dos etnólogos modernos (homens que se dedicam ao estudo das práticas religiosas e dos costumes dos povos primitivos) diante da questão, é a mesma adotada por Voltaire. Um exame da Bíblia neste sentido nos mostra também que o que houve na humanidade foi uma degradação: da crença na existência de um único Deus, os homens passaram pouco a pouco a cultuar e a crer na existência de vários deuses.

Por esse motivo, a luta antipoliteísta e anti-idolátrica marca de ponta a ponta as páginas das Sagradas Escrituras, e o posicionamento dos que nela deixaram os seus registros inspirados é semelhante ao conteúdo desta afirmação do profeta Jeremias:

"Mas o Senhor Deus é o verdadeiro Deus; ele mesmo é o Deus vivo, o Rei eterno. Do seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação. Assim lhes direis: esses deuses, que não fizeram os céus e a terra, desaparecerão da terra e de debaixo deste céu" (Jeremias 10:10,11).

DESVIOS DA HUMANIDADE
Em todos os locais onde a cultura humana floresceu, nos grandes ou pequenos redutos onde foram encontrados monumentos religiosos ou qualquer outro vestígio de práticas religiosas, tem-se verificado que houve uma decadência no primitivo sentimento de adoração a Deus. A princípio o homem considerava a Natureza, e tudo o que nela existe de mais belo, como sinais da existência de um Deus único, individual, invisível e superior ao mundo. Tudo anunciava a existência de Deus, mas não era visto como o próprio Deus, concebido como ser total e essencialmente único. Portanto, a crença na existência de vários deuses, surgida tempos depois, foi uma degeneração, uma consequência da observação supersticiosa da Natureza, e do temor diante dos diversos fenômenos e seres nela existentes. Mas foi sobretudo resultado da inegável atuação das hostes malignas de Satanás.

Portanto, várias circunstâncias contribuíram para desviar a humanidade, através de séculos e milênios, da crença na existência do verdadeiro Deus. À medida em que a crença em muitos deuses ia se alastrando entre os povos, os seres humanos passaram a adorar os ídolos da casa, da tribo, da cidade, da selva, do reino, da nação, do império. Passou-se a adorar e a servir a criatura em lugar do Criador, caindo-se na abominável confusão denunciada muito tempo depois pelo apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos: "Mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram a criatura em lugar do Criador, que é bendito eternamente" (Romanos 1.25).

DEUSES POR TODA PARTE
Assim, a Terra passou a ser adorada pelas religiões siro-fenícias, como mãe fecunda de todas as outras divindades; o sol passou a ser cultuado pelos egípcios, e, tempos depois, pelos japoneses; o céu tornou-se o deus dos chineses; os persas adoravam o fogo, vendo-o como uma gigantesca ave do céu com asas de ouro, a travar combates tremendos com os "espíritos da noite". Inventando deuses e mais deuses, a humanidade foi-se distanciando cada vez mais da crença original de um único Deus soberano. A água, o vento, a chuva fertilizadora, o sol, o orvalho, o trovão, o relâmpago, as nuvens, os animais — tudo, tudo passou a ser divinizado. Conforme comentou o pregador francês Bossuet, "tudo era Deus, menos o próprio Deus".

Mas que Deus é este que o espírito humano há tantos séculos sabe de sua existência, mas não consegue compreender? Por acaso ele é o mesmo que os deuses informes dos selvagens, o Phtah dos egípcios, o Bel dos assírios, o Odin dos escandinavos, o Wotan dos tedescos, o Teutates dos celtas, o Zyus dos brâmanes, o Zeus dos gregos, o Júpiter dos romanos, o Alá dos maometanos? Não! "Porque o Senhor é o grande Deus, e grande Rei acima de todos os deuses", declarou o salmista (Salmo 95.3). E o profeta Isaías acrescentou: "Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus" (Isaías 44.6). "Eu creio no Deus que criou os homens, e não nos deuses que os homens criaram". (Alexis Karr).

ISRAEL E A CRENÇA EM UM ÚNICO DEUS
Diante do aparecimento e da propagação de tantos deuses no mundo antigo, o puro monoteísmo de Israel, que se apresenta como um acontecimento absoluto e único na história, superando qualquer explicação psicológica, cultural ou étnica, é verdadeiramente um milagre. Os estudiosos têm concluído, admirados, que o fato de a religião de Israel ter reclamado para si, contra todas as religiões politeístas e mais antigas que ela, a adoração de um único Deus, está completamente fora das leis que regulam a evolução histórico-cultural da humanidade; é um fato surpreendente e cientificamente inexplicável.

Sabe-se, através de vários documentos, que a raça semita de onde se originou o povo de Israel teve originariamente a noção da existência de uma "Potência suprema". Por outro lado, os documentos que nos chegaram provenientes dos antigos povos cananeus revelam que, sob a influência de outros povos que transitavam na Mesopotâmia, os semitas, com a única exceção do povo hebreu, degradaram-se moralmente e caíram no politeísmo. "Quem não reconhece a Deus por Senhor, terá que submeter-se a muitos senhores", diz um antigo provérbio.

Porém, apesar de a mentalidade desses povos, tanto semitas como de outras raças, entre os quais Israel peregrinava, ter sido totalmente politeísta, não há nenhum vestígio na Bíblia que mostre ter a influência dessas nações apagado por completo no coração dos israelitas a fé monoteísta, desviando-os totalmente da crença em um só Deus. Mesmo quando a nação caía sob a tentação dos cultos idólatras, a crença no Deus único e verdadeiro persistia na alma do povo, e era isso o que sempre possibilitava o arrependimento e o retorno de Israel aos caminhos do Senhor.

O DEUS DOS PATRIARCAS E DOS PROFETAS
Essa grandiosa solidão e exclusividade de sentimento religioso experimentado pelo povo hebreu, verdadeira luz nas trevas, não se manifestou como uma afirmação ou experiência passageira, nem como resultado de profundas meditações filosóficas da parte dos líderes do povo. Ela aconteceu tão-somente devido à grandiosa intervenção do Senhor, que graciosamente elegeu Israel, instruiu-o e revelou-se a ele através de homens chamados e inspirados pelo seu Santo Espírito: os patriarcas e os profetas. Foi através desses homens que Deus se manifestou plenamente no meio da nação israelita, e irradiou fulgores que, sem limites de espaço e de tempo, anunciaram a verdade e a salvação a todos os seres humanos, através de todas as gerações.

Portanto, por intermédio dos patriarcas e dos profetas, o povo hebreu foi alcançado pela revelação de um Deus que é o mais elevado, o mais sublime entre todos os deuses, o único e verdadeiro Deus. A Bíblia é a história dessa revelação. A glória de Israel é, portanto, a de haver sido o primeiro, entre todos os povos, a receber a verdadeira ideia de Deus. Foi o único povo que primeiramente conheceu e professou o monoteísmo puro, apesar da posterior e forte atração que os seus filhos tiveram para o politeísmo semítico. Todavia, no panorama religioso de todos os tempos, jamais existiu um monoteísmo tão severo e tão zeloso. Sua história, narrada na Bíblia, não é outra coisa senão a luta pela supremacia absoluta do único e verdadeiro Deus, superior aos reis vitoriosos, aos povos poderosos e aos seus deuses.

REVELAÇÃO DE DEUS NO MONTE HOREBE
Moisés havia levado o rebanho de ovelhas do seu sogro Jetro para o lado ocidental do deserto, até chegar aos pés do monte de Deus, o Horebe. Subitamente, o resplendor de uma sarça em chamas no alto do monte despertou a atenção do patriarca, e ele resolveu subir para ver de perto aquela maravilha — o fogo queimava, mas a sarça não se consumia! Ao aproximar-se, uma voz misteriosa e sublime elevou-se de dentro das chamas:

"Moisés, Moisés, não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó" (Êxodo 3.1-6).

Após declarar que vira o sofrimento do seu povo sob a opressão dos egípcios, o Senhor fez saber a Moisés que o encarregara de libertar a nação escolhida.

Temeroso, o genro de Jetro quis saber qual era o nome próprio de Deus, nome que lhe serviria para justificar a autoridade daquela missão. E o Senhor lhe respondeu: "EU SOU O QUE SOU... Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros".

Diante desta revelação, religião alguma alcança semelhante sublimidade! É difícil explicar o que a conquista dessa tão alta ideia da natureza de Deus representa para o povo hebreu, 13 séculos antes do aparecimento do Cristianismo.

Porém, haveria no povo de Israel algum mérito especial que tivesse determinado sua eleição por parte do Senhor? Não. Para eleger, Deus não depende das súplicas humanas, nem das qualidades morais que um homem ou um povo por acaso possua. Essa eleição depende tão-somente do seu amor e da sua fidelidade:

"O Senhor não se afeiçoou de vós, e vos escolheu por serdes mais numerosos do que todos os outros povos, pois éreis menos em número do que todos os povos. Mas porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte, e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito" (Deuteronômio 7.7, 8).

Esse amor misterioso do Pai celestial é absolutamente livre: não está sujeito aos critérios humanos de julgamento.

Essa eleição é recíproca. Da mesma forma como Deus escolhe seus fiéis no meio da multidão de homens, assim também os eleitos devem escolher a Deus, excluindo totalmente os falsos deuses. Esta reciprocidade em que está encerrado todo o insondável mistério do amor divino e do regresso do pecador ao seio do Sumo Bem, é simbolizada e expressada como "pacto" ou "aliança": "Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, como aliança perpétua, para ser o teu Deus, e da tua descendência depois de ti" (Gênesis 17.7). Abraão reconheceu o Altíssimo, o Deus do Céu e da Criação, e só a ele dedicou o seu culto. E Deus honrou a fé e a integridade do seu servo.

NÃO NOS É LÍCITO REPRESENTAR A DEUS
Portanto, além de haver inundado a Natureza e a consciência coletiva e individual de todos os povos com as provas de sua existência, Deus elegeu um povo e revelou-se a ele de forma especial, para, através desse povo, abençoar todas as nações da Terra, estabelecendo assim um caminho de salvação que conduz a Cristo, o Salvador da humanidade, surgido em meio à confusão que os falsos deuses haviam causado.

"No evangelho de Jesus se consuma com perfeição a aspiração de tornar racional e de humanizar a ideia de Deus, que palpitava já desde os tempos mais remotos da tradição israelita, sobretudo nos profetas e nos salmos, e que enriquecera e engrandecera o sentimento do sagrado... Assim, chegou-se à forma insuperável da crença em Deus Pai, tal como existe no Cristianismo, com Jesus Cristo". (Rudolf Otto).

Além de combater o politeísmo (a ideia da existência de outros deuses), a Bíblia também combate a idolatria (culto prestado a ídolos, geralmente representados por imagens de escultura dos falsos deuses ou do verdadeiro Deus): "Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem a elas servirás; pois eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso..." (Êxodo 20.4, 5). Porém, não podendo vê-lo pessoalmente, e sentindo-se irresistivelmente atraído pela curiosidade de saber "como ele é", o ser humano sempre carregou dentro de si um imenso desejo de representar a Deus através de figuras e símbolos.

A Bíblia combate esse desejo idólatra, por ele ser a negação da unidade e da transcendente invisibilidade de Deus. Além disso, a idolatria é uma tentativa de rebaixar o Criador à condição de uma obra feita por homens. O Ser Eterno e Supremo, origem da Vida, ficaria reduzido a um pedaço de madeira ou pedra inanimados, simples produto fabricado pelas mãos de um artífice. E isto sempre foi um ultraje, uma abominação à sua santa, digna e perfeitíssima Pessoa.

O culto das imagens de Deus, entre o povo de Israel, sempre constituiu-se em gravíssima transgressão da "aliança": "Guardai-vos de vos esquecer da aliança que o Senhor vosso Deus fez convosco, fazendo alguma imagem de escultura, figura de alguma coisa que o Senhor vosso Deus vos proibiu" (Deuteronômio 4.23). Só em Jesus Cristo a humanidade encontra a única representação verdadeira e completa de Deus. Ele está revelado nas páginas da Bíblia, e se revela dentro de nós. Em Jesus, temos Deus humanamente revelado, pois ele "é o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa" (Hebreus 1.3). E foi o próprio Jesus quem disse que "Deus é espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (João 4.24).

UM SÓ DEUS, E NÃO VÁRIOS DEUSES
"Temos deuses demais para serem verdadeiros", disse certa vez um antigo politeísta, desconfiado e incrédulo diante da adoração de tantos deuses. Ora, as mitologias antigas, as histórias lendárias dos primeiros povos mostravam o mundo sacudido e visitado por milhares de deuses, em sua maioria inimigos dos homens e inimigos uns dos outros, que se destronavam, que se digladiavam, que se despedaçavam. Porém, à medida em que as pessoas foram reaprendendo a observar o mundo, notaram que a Natureza tem as suas leis, e essas leis são fixas. O Universo pareceu-lhes então uma obra-prima, criado e governado por um ser dotado de infinita sabedoria. A Bíblia foi a principal responsável por essa concepção da soberana posição de Deus diante de todas as coisas. A mensagem que ela trouxe aos homens (inicialmente aos judeus, e depois ao mundo todo) abalou as bases da crença politeísta.

Portanto, as fictícias narrações de guerras ocorridas entre os deuses mitológicos passaram a impressionar cada vez menos o ser humano. A atuação e a existência desses deuses seriam confirmadas se o sol interrompesse o seu deslizar cotidiano no céu, se os astros se chocassem uns com os outros, se os rios corressem para as nascentes, se os mares e oceanos avançassem e cobrissem toda a Terra. Mas nada disso era visto.

Ora, por acaso não haveria motivos para se pensar que existe um só Deus, que estabeleceu leis fixas e as mantém? Sim, pois se existissem muitos deuses, todos os dias os homens contemplariam o resultado de suas vontades em discórdia, a confusão estaria estabelecida no mundo, e os fenômenos da Natureza seriam irregulares e descontrolados:

"Porque assim diz o Senhor que criou os céus, o único Deus, que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a fez para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor e não há outro" (Isaías 45.18).

Portanto, além de ter-se revelado na consciência coletiva dos povos, na natureza e na consciência de cada indivíduo, Deus revelou-se na Bíblia, destronando os falsos deuses. Através das Sagradas Escrituras, a humanidade tem recebido o testemunho da existência do Deus único e verdadeiro, que é Rei, Pai e Criador dos céus e da Terra. Ele opera maravilhas entre os seres humanos, e detém em suas mãos o domínio do Universo. "Surgem e se vão novas formas, novas circunstâncias históricas e sociais, mas sempre e sempre, atrás e por debaixo delas todas, está a revelação de um Deus que não muda e que é eterno". (Allan Richardson).

Jefferson Magno Costa
http://jeffersonmagnocosta.blogspot.com