O homem se perdeu desde o jardim do Éden, e aquele que está perdido busca um caminho, busca ser achado. O Filho de Deus, Jesus, não veio para ser um grande mestre, um fundador de religião nem somente operar sinais, prodígios e maravilhas, mas para buscar o que se perdeu. Jesus é a resposta para as perguntas que gritam do coração de quem ainda não o conhece: “Quem sou, de onde vim, para onde vou?”
O Salvador veio na plenitude do tempo. Diz Agostinho de Hipona: ‘Muitos se perguntam por que Cristo não veio antes. É que a plenitude do tempo ainda não havia chegado, de acordo com a disposição d’Aquele por quem todas as coisas foram feitas no tempo. Assim que chegou a plenitude do tempo, veio Aquele que devia nos libertar do tempo. Uma vez libertos do tempo, chegaremos a essa eternidade em que o tempo terá desaparecido’.
"Plenitude dos tempos" significa a época em que a espera e a preparação da salvação dos homens fixada por Deus, está totalmente cumprida. Assim, depois de milhares de anos de promessas, de figuras e de profecias, a terra ouviu este feliz anuncio de João Batista: "Eis o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" (Jo 1, 29).
Deus enviou o Seu Filho Jesus quando chegou a hora certa, no exato momento que havia designado. Este é o sentido mais simples que podemos atribuir a essa expressão. Deus preparou, ao longo dos séculos, todo um cenário para que Seu Filho nascesse. Preparou todo um ambiente, um momento histórico, que favoreceu de modo singular a expansão da fé cristã por todo o mundo.
Plenitude dos tempos é como uma janela no tempo, onde Deus inseriu Seu Filho no mundo para resgatar a humanidade. Para isso, teve que preparar a humanidade para receber Seu Filho. Deus trabalhou nas civilizações, através da arquitetura, língua, política, filosofia, escrita, direito e assim por diante...
“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. Gálatas 4, 4.
A Palestina onde o cristianismo deu seus primeiros passos possuía uma posição geográfica privilegiada pois ocupava uma área onde era a encruzilhada das grandes rotas comerciais que uniam o Egito à Mesopotâmia, e a Arábia com a Ásia Menor.
Por isso vemos na história descrita no Velho Testamento esta área tão cobiçada, sendo invadida por vários impérios.
O judaísmo era diferente da maioria das religiões, pois se baseava no monoteísmo. Tinha uma forte esperança na vinda do messias. Um sistema moral que contrastava com as diversas religiões possuidoras de deuses adúlteros, fornicários, assassinos, cheios de vícios e carnalidades. A formação do Antigo Testamento já estava concluída e o judaísmo acreditava no desenvolvimento teocrático da história. Além das sinagogas serem escolas de ensino e divulgação da Palavra.
A língua predominante na época era o grego. Uma língua universal, apesar do império dominante ser o império Romano, que unia em um só governo boa parte do mundo conhecido. Era um governo pacífico (Pax Romana) e próspero e suas cidades estavam em progresso e viajar não era mais difícil pois muitas estradas foram construídas. Os povos vencidos desacreditaram em seus deuses e necessitavam de substitutos que viriam não do poder opressor romano.
Apesar de haver muitas religiões e filosofias (a política dos romanos era, em geral, tolerante em relação a religião e aos costumes dos povos conquistados), os gregos e os romanos estavam preocupados com a busca da verdade, as filosofias estóica e epicurista deu aos povos helenizados uma aspiração abstrata pelo Ser e o cristianismo veio preencher esse vazio espiritual com um Deus pessoal e salvador. Assim, o mundo estava pronto para a recepção de uma nova religião.
Jesus nasceu dentro deste contexto e que biblicamente se conhece como "plenitude dos tempos". A igreja, respondendo às ansiedades da época com a revelação de Deus em Jesus, conseguiu rapidamente conquistar o Império.
A "plenitude do tempo" não quer dizer que o mundo estivesse pronto a se tornar cristão, mas quer dizer que, nos desígnios de Deus, havia chegado o momento de enviar o seu filho ao mundo.
À doença universal, forneceu um remédio universal, o que faz Agostinho dizer: ‘Então chegou o grande médico, quando todo o universo era um grande enfermo’ (JACOPO DE VARAZZE. Legenda Áurea – Vidas de Santos. Cia. das Letras – São Paulo, 2003, p. 48).
Com essas indicações, fica mais fácil de entender a demora da vinda do Messias, sobretudo se considerarmos o que diz Gregório de Nissa (330-395), respeitado comentador das Sagradas Escrituras:
“Eis a razão por que o Divino Médico não aplicou o seu tratamento ao mundo imediatamente após o ciúme de Caim e o assassínio de Abel, seu irmão. […] Foi quando o vício atingiu o seu auge e não restava nenhuma perversidade que os homens não tivessem ousado, que Deus começou a tratar a doença. Não no seu início, mas no seu desenvolvimento pleno. Desse modo, o tratamento divino pôde abarcar todas as enfermidades humanas” (Grande Catequese, 29-30).
A conversão é condição para ingressar nos tempos novos. A conversão (“Tesubá” ou “Metanoia” – mudanças de mentalidade) é uma volta ao original, a primeira vontade de Deus.
Com a proclamação de um novo Reino disponível a todos, o tempo messiânico está presente e o seu passaporte de entrada é o arrependimento.
Chegou ao fim a longa espera da humanidade pelo Messias. Acabou no tempo do Senhor o fim da gloriosa espera.
“Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos céus”. (Mateus 3:1-3).
O divino Redentor demorou a sua vinda milhares de anos, não somente para que fosse mais apreciada pelos homens, senão também para que melhor se conhecesse a malícia do pecado e a necessidade do remédio.
Nessa época, o mundo estava mergulhado nas trevas. Era possível ver claramente como a vinda do Salvador era necessária para remediar isso. Na sombra das trevas, era preciso que viesse a Luz das Nações, Cristo. Nosso Senhor nasce no meio da noite, da escuridão, para dissipá-la. Por outro lado, vários elementos favoreciam essa vinda porque facilitavam a difusão da doutrina de Cristo de modo ordenado.
Nosso Senhor vem ao mundo na plenitude dos tempos. Não convinha, de fato, que o Verbo se encarnasse logo depois do pecado original. Se Ele tivesse feito assim, a humanidade daria pouquíssimo valor ao Redentor, sem perceber a gravidade do pecado e sem perceber a necessidade que tem do Salvador. Não convinha, por outro lado, que o Verbo se encarnasse próximo ao fim do mundo, pois os homens poderiam cair em desespero.
O Verbo encarnou-se, então, na plenitude dos tempos, no momento conveniente, para mais favorecer a nossa salvação. É Deus o Senhor da história, que dispõem todas as coisas de maneira suave e forte de acordo com a sua Sabedoria infinita, que dispõe mesmo o emaranhado dos episódios históricos.
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