segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Banalização da vida e da morte.

A banalização do Evangelho, do sagrado, da graça, do pecado, do mal, da morte da cruz (a cruz de Cristo temida, proibida, banalizada, porém triunfante!).

Quando a morte se impõe... Ah, morte! Ela geralmente arranca uma parte de nosso ser. O próprio Deus humanizado não se contém diante do sofrimento alheio. Ao ver Marta e Maria chorando pela morte do irmão, Lázaro, Jesus também se comove. 

Com milhares de pessoas morrendo ao redor do mundo, a morte ficou banalizada. Trata-se da própria desumanização das relações e das ações sociais. A pandemia está banalizando a morte. A morte durante o coronavírus virou algo tão rotineiro que não se pensa mais nela como algo dolorido e triste, mas como números. Porém, somos mais que números. Números são vidas que se vão. São novos tempos muito ruins e estão morrendo tantas pessoas que não percebemos a dor dos outros. Temos que olhar para o próximo para entender que quem você ajuda hoje pode ajuda-lo amanhã. A morte causa dor e essa não pode ser banalizada. 

A vida e a morte são tratadas como coisas meramente descartáveis e funcionais. Um dos perigos com consequências mais letais para a vida cristã é a banalização. Banalizar é transformar valores em coisas triviais, é a vulgarização do que é importante e o esvaziamento das coisas significativas. 

A prova da banalização da morte é que não nos escandalizamos com ela. É a banalidade da morte, no país em que há 150 homicídios por dia, em média, segundo números oficiais. E a prova da banalização é que não nos escandalizamos com isso. Tem gente que cruza com um corpo logo pela manhã a caminho do trabalho e já acha isso normal; outros que nem se interessam mais pelas notícias policiais dos jornais que de tão recorrentes parecem até repetidas. Nós, brasileiros, é que deveríamos nos chocar com a notícia. Deveríamos nos chocar porque os crimes violentos estão se tornando cada vez mais banais no Brasil. 

O que torna as pessoas insensíveis, como ocorre no Brasil atual, onde a dor dos outros não importa? Mortes no trânsito, mortes com motos, homicídios, o quadro é bastante dramático. Violência física, violência psíquica, violência encoberta. Uma espécie de conformismo com a brutalidade das cenas, dos choques e das informações. O mal está enraizado. 

A banalização da morte é a decadência de qualquer civilização. É doloroso saber que muitos não se importam com o extermínio de centenas de jovens numa universidade no Quênia; ou que sejam assassinadas centenas de pessoas inocentes no Iraque e na Síria; ou que uma adolescente seja espancada e queimada viva em frente a uma multidão ávida por sangue na Guatemala; ou que milhares de pessoas morram no Nepal, na Índia, na China ou em qualquer lugar distante que nem nos interessa. Banalizamos a vida dos desconhecidos, contanto que o nosso círculo de conhecidos viva para sempre! 

Nesse final dos tempos, nosso olhar de tanto ver cenas chocantes de violência, degradação moral, assaltos, calamidades, escândalos, corrupção, tragédias, guerras e mortes repetidas à exaustão tem nos embrutecido a tal ponto de julgá-las como fatos corriqueiros que pouco desperta nosso sentimento de benignidade. Jesus disse que no fim dos tempos o amor de muitos se esfriaria e na sua segunda vinda encontraria fé na terra? 

“Ai dos que chamam ao mal de bem e ao bem de mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo.” Is. 5,20. 

Jesus, morreu na cruz derramando o Seu sangue precioso para nos resgatar do império das trevas e nos fazer andar definitivamente no caminho santo. Fomos salvos pela obra redentora de Jesus. É a morte da nossa morte espiritual na morte de Jesus. Jesus matou a morte!

A banalização da cruz minimiza o significado da morte de Jesus e da sua ressurreição que nos dá a vida eterna. Sem amor: destruição da civilização; sem fé: perdição eterna. 

A nossa sociedade banaliza tudo o que pode. Vulgariza a sexualidade, coisifica o corpo humano, faz comédia da tragédia, abranda as consequências dos atos malsãos e trata com leviandade tanto a vida como a morte. 

Afinal, o que é o pecado, para que tão grande sacrifício fosse exigido para salvar a sua vítima? Acaso foi preciso todo esse amor, todo esse sofrimento, toda essa humilhação para que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna? 

“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” (1Pe 1:18-19) 

O fato de ter Cristo dado a sua vida em lugar do pecador, não é assunto para ser tratado com leviandade. Não é fácil confiar em alguém a quem nunca se viu no que tange ao assunto mais importante de nossa vida, nosso destino eterno. Mas esta, e somente esta, é a condição, a maneira pela qual somos salvos. 

É nosso dever como povo de profetas não banalizar a violência, a iniquidade e a injustiça e jamais fazer escolhas fáceis, populistas ou passionais. É nosso dever não fazer pilhéria e gracejo de nossas tragédias de cada dia. É nossa vocação demonstrar que o Reino, ainda que provisório já chegou e pede passagem e com ele a Justiça e a Paz querem se instalar no meio de todos os homens. 

O Reino dos céus é dos que choram, dos pobres em espírito, dos humildes e dos perseguidos por causa da justiça. Podemos até mesmo afirmar que o Reino dos céus pertence aos fracos e desvalidos deste mundo.

O Reino dos Céus é o contrário das coisas supérfluas que o mundo oferece, é o contrário de uma vida banal: é um tesouro que renova a vida a cada dia e a expande em direção a horizontes mais amplos.

O escândalo da morte torna-se banal. Nós estamos banalizando a morte. Eu sou contra a pessoa atropelar o direito do próximo. A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos. (Pablo Picasso).

Fontes de Pesquisa:

GAJOP (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares), 1991. Grupos de Extermínio — A Banalização da Vida e da Morte em Pernambuco. Olinda: Gajop/Centro Luiz Freire. 

Século diário; 

A 12 – Redação

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