É muito comum, em alguns lugares, ouvir um Pastor dizer:
"Deus me deu o cajado! Ele me colocou aqui para exortar os rebeldes e
disciplinar os pecadores!"; e falam isso açoitando a igreja se dizendo
estarem cheios de autoridade espiritual. Tais revelações, que quase sempre o
colocam em posição de juiz e carrasco, são de origens bastante questionáveis,
pois parece que ele nunca está errado; porém, a questão aqui não é a
autenticidade de seu direito de liderar - até mesmo porque, biblicamente, o
pastor é um homem de Deus e foi chamado para apascentar o rebanho, mas sim a
sua capacidade de entender o que significa ter o cajado em suas mãos.
Observe bem um detalhe muito interessante: se o cajado fosse
para bater, o salmista Davi, no Salmo 23:4, não teria falado: "... a tua
vara e o teu cajado me consolam.". Ele era um pastor de ovelhas e sabia
muito bem para que servem esses dois instrumentos. O cajado tem uma extremidade
arqueada, a qual serve para puxar a ovelha de volta, caso ela se afaste do
rebanho; e a vara, por sua vez, é usada para orientá-las durante a caminhada e
também, caso seja necessário, para o próprio pastor se defender de ataques de
animais selvagens. Esses dois materiais de trabalho jamais podem ser usados com
o objetivo de agredir o rebanho, muito pelo contrário: eles servem para
orientá-lo e protegê-lo. Resumindo, são apenas ferramentas que ele tem que usar
para apascentá-lo.
Apascentar significa cuidar; e esse cuidado consiste em
alimentar, guiar, proteger, curar feridas, matar a sede e, até mesmo, amar;
pois quem não ama o que faz, acaba fazendo o seu trabalho relaxadamente (Jr
48:10). Analisando mais detalhadamente a situação, percebemos que é o pastor
que serve a ovelha e, além do mais, ele está a serviço de seu dono, o qual vai
requerer de suas mãos cada uma das que colocou sob sua responsabilidade, e vai
querê-las intactas, gordas, peludas e saudáveis. O pastor não podia
apascentar-se a si mesmo; ele apenas se alimentava da porção permitida pelo seu
senhor, mas, de maneira alguma, poderia matar algumas ovelhas para comer de sua
carne ou, pelo menos, tosquiá-las para se aquecer com sua lã.
Hoje, em muitas igrejas, a expressão "o Senhor é o meu
pastor." pode ser entendida, de uma forma praticamente literal, como
"o pastor é o meu senhor".
Obviamente, o pastor é sim uma autoridade e os membros devem
obedecê-lo (Hb 13:17), mas, o que muitos deles não sabem ou fingem não saber -,
é que a Igreja pertence ao Senhor e que ninguém tem o direito de agir como se
tivesse domínio sobre ela (Cl 2:18). Desde o Antigo Testamento, Jeová vem
alertando contra aqueles que exploram o seu povo em seu próprio benefício (Ez
34:1-31) e, no Novo Testamento, continuou alertando contra o perigo que
representavam os falsos mestres (2ª Cor 11:13-15; Fp 3:2); será que no presente
século a situação está diferente (Mt 24:11,12)?
É claro que muitos dos pastores que agem com autoritarismo
excessivo são sinceros e acreditam estar fazendo a vontade de Deus; porém o seu
erro está em se posicionarem contra a busca do conhecimento (Jo 5:39; Mt
22:29), não estudando e tirando o incentivo aqueles que querem estudar a
Palavra de Deus. Se estes respeitáveis senhores, - os quais se vangloriam de
suas grandiosas experiências espirituais -, tivessem mais humildade do que
aparência de simplicidade, e se pusessem a buscar o conhecimento, saberiam que
exortar significa aconselhar, animar e encorajar, e não reprovar, humilhar e
rebaixar, como eles pensam; e saberiam também que disciplinar não significa
simplesmente castigar, mas sim ensinar; e, para completar, saberiam ainda que
autoridade não é sinônimo de braveza, cara feia, voz alta e dedo na cara - pois
quem pratica isso é arrogante -; ter autoridade de verdade - principalmente
espiritual - é, acima de tudo, ter respeito; e respeito não se impõe, se
conquista.
Usar o cajado exige habilidade e sabedoria, porque um erro do
pastor pode machucar seriamente uma ovelha e até levá-la à morte, pois ela é
sensível e precisa de cuidados especiais (Rm 15:1; 1ª Cor 3:1,2). É bom também
lembrar que pastor não é apenas aquele que dirige uma igreja, mas sim todo
aquele que tem alguma responsabilidade em suas mãos: você é um pastor no cargo
que exerce e também dentro de sua casa. Agora reflita: em que situação estão as
ovelhas que você cuida? Uma ovelha conhece a voz do seu pastor, sente o seu
cheiro, espera que ele lhe dê água e comida, se sente protegida com a sua
presença e o segue porque acredita que ele a está levando para um lugar seguro,
ou seja: ela confia nele. Confundir cajado com chicote é um verdadeiro crime
espiritual. (http://ebvirtual.blogspot.com).
Concordo plenamente. Texto maravilhoso.
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