Todo historiador profissional deve ter lido a frase
que dá título a esse texto. Marc Bloch disse isso em “A apologia da
História ou o ofício do historiador.
O francês citado e seu livro que, deixou inacabado,
mas que foi publicado postumamente mudaram, no início do século passado, a
forma como entendemos a disciplina escolar chamada História.
Todo crente é uma espécie de historiador, já que a
Bíblia é um livro histórico e as liturgias cristãs rememoram eventos do
passado. Segundo Bloch, as outras religiões, diferentemente do Cristianismo,
datam a maioria dos seus eventos sagrados em temporalidades inexistentes. Ademais,
a vida cristã é pensada como uma peregrinação na História, no tempo, no século.
Um ateu entendeu o Cristianismo melhor do que muitos cristãos
contemporâneos.
Muito crente ainda não percebeu que a fé é coisa de
historiador. Isso acontece, primeiro, pelo desprezo pela História da Igreja.
Muitos limitam o povo de Deus ao endereço onde eles e seus irmãos mais próximos
se reúnem para prestar culto. Não lembram que os cristãos creem na Igreja espalhada
no tempo e no espaço (católica, universal, internacional, mundial, global, etc.),
creem na comunhão dos santos, tanto faz se é o irmão no banco ao lado ou se é
um africano do século V, para citar um mais famoso, Agostinho de Hipona.
Outra forma de não entender a importância da
História no Cristianismo é quando os crentes olham apenas para a Eternidade e
esquecem suas responsabilidades para com a Criação (tempo e espaço),
responsabilidade que decorre do fato de que somos seres criados para cuidar do
Jardim e somos, nós, cristãos, seres redimidos em Cristo, Ele que é primícias
da Nova Criação e modelo para nós.
Existe uma terceira forma de não perceber que o
Cristianismo é uma religião de historiador: não atentar para a metanarrativa, a
grande história, que perpassa as Escrituras. Muito crente, descendente de
Abraão por herdar a fé que vem do patriarca, por estar em Cristo (Rm 4.16;
Gl 3.29), ainda não entendeu que cremos no Deus que governa a História e
que trabalha nela para cumprir sua promessa pactual para com seus eleitos: “Eu
serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo” (Gn 17.7-8).
Segundo Palmer Robertson, a repetição da promessa
de que o SENHOR é o nosso Deus e de que somos o seu povo demonstra a unidade da
aliança de Deus conosco, o “princípio Emanuel” do Pacto da Redenção, cuja a
essência é “Deus está conosco”. Essa promessa da Santa Presença aparece nos
pactos abraâmico, mosaico, davídico e na Nova Aliança. Como afirma Clowney, “a
Bíblia não distribui cargas de doutrina em contêineres. Em vez disso, o novo
surge a partir do velho, como uma flor que se abre em botão”.
“Deus conosco” teve cumprimentos parciais no
Tabernáculo e no Templo. Teve seu cumprimento perfeito iniciado em Cristo,
pois
1) Ele, encarnado, era Deus tabernaculando
conosco (Jo 1.14);
2)porque Ele é a pedra angular da Igreja, santuário
dedicado ao Senhor, no qual Deus habita no Espírito (Ef 2.22); e
3) devido ao fato de que Jesus prometeu ser
sempre Emanuel, pois garantiu estar conosco todos os dias e todo tempo até que
a História acabe (Mt 28.20).
“Deus está conosco” será consumado na eternidade,
quando a metanarrativa, período entre a Queda e a Consumação, acabar. Eis a
promessa: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de
Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus
mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não
existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram. [...] O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me
será filho” (Ap 21.3,4 e 7).
Referências
bibliográficas:
Rev. Flávio Américo de Carvalho, Igreja
Presbiteriana de Natal. (Adaptado)
BLOCH, Marc. A apologia da História ou o
ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. p.
42.
ROBERTSON. O. Palmer. O Cristo dos Pactos.
São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
CLOWNEY,
Edmund. A Igreja. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 27.
LEWIS, C.
S. As Crônicas de Nárnia. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
p.737.
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