sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O Cristão e seu papel profético-social


O assunto justiça social é tão atual quanto polêmico. 

É atual porque parece que a cada dia nosso país se distancia mais e mais de uma política social justa que visa atenuar os problemas dos mais desafortunados.

É polêmico porque muitos insistem em achar que a igreja não deve se preocupar com isso, seu papel é somente adoração. É claro que a função primordial da igreja é cultuar a Deus, mas como veremos, adorar a Deus implica em fazermos o que ele manda. A primeira delas é sermos exemplos de justiça.

Recentemente foi divulgado nos jornais um estudo sobre a distribuição de renda no Brasil. A metade mais pobre da população detém 11,6% dar riquezas enquanto os 20% mais ricos do Brasil, ficam com 63,4%. Não pense que este é o fim do mundo. Os profetas do Antigo Testamento lidavam com situações muito piores do quer esta. 

Vejamos como eles tratavam o problema e como isto pode nos servir de lição no nosso contexto, de nosso país.


I. A Voz dos profetas - Denúncias

O período dos profetas no Antigo Testamento pode ilustrar muito bem a indignação de Deus em relação a injustiça social.

Dentro do ideal divino, havia lugar para todos e o respeito a certas regras de organização e conduta, que manteria o povo, de certa forma tranqüilo.

O grande problema é que o profeta começou a perceber uma grande desigualdade. O problema não era a desigualdade em si mesma. O que levou os profetas a tocar na questão foi a imensa diferença de uma classe social e a outra. Se Deus estabeleceu leis aos pobres, viúvas, órfãos, escravos, estrangeiros, é porque Deus já sabia que haveria certas diferenças, mas há diferenças que são toleráveis e suportáveis, há certas diferenças que são naturais e até necessárias, o que não pode haver, e, era exatamente a denúncia profética, é a opressão, o roubo, a indiferença, o desejo de adquirir tirando o que pertence ao outro, subornando juízes, sacerdotes, falsos profetas, etc.. 

Agora veremos qual foi a palavra que o profeta trouxe da parte de Deus, neste tempo de opressão social:

A. Isaías

Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão destruidora, contra o próximo. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías dizia que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha condições comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder legislativo e executivo se deixava vender; como poderia Deus tolerar semelhante coisa? (1:15-17,23; 5:8,23; 58:6,7).

B. Jeremias

Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres, viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens, o profeta viu o rico comprando os tribunais, viu o perverso ser justificado e o justo condenado. O profeta clama, denuncia e diz que Deus o justo juiz irá castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5:26-29; 9:2-6; 22:13-17).

C. Amós

Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de conivência com as injustiças, denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o exército, o luxo e a suntuosidade da vida palaciana. Uma desigualdade tão grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a Palavra do Senhor, não podia calar-se, ao ver tanta riqueza conseguida como fruto da violência e da exploração (3:10). Falou diante das finas damas, não poupou se vocabulário, disse que elas eram “vacas de basã” (4:1). Devido a todos os abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu, Deus irá tomar vingança, Deus não poupará nenhum no dia do juízo (4:2,3; 8:7-10).

D. Miquéias

Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal, para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da opressão, quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus (6:10-13). A liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e revela a voz de Deus. Deus irá exercer vingança contra esta forma de vida corrupta. 

Apesar de serem citados apenas quatro profetas nesta sessão, o período de profecia sob a palavra deles é bastante longo. Desde 740 a.C. (Isaías) até 585 A.C. (Jeremias). Ou seja, 125 anos. Durante todo este tempo a mesma mensagem Deus enviava a seu povo por meio de diferentes profetas e o povo não se arrependeu.

II. A Voz do Povo – Reclamações

Parecia injusto aos olhos do povo uma palavra tão dura de Deus justamente em uma época de tanta religiosidade. “Que mais Deus quer de nós? Será que ele quer mais sacrifícios? O que pode saciar um Deus tão grande? Será que ele quer o meu filho mais velho como holocausto?” (Mq 1.6-7)

Puro cinismo. Achavam Deus exigente demais. Criam que sua religiosidade era mais que suficiente para agradar qualquer deus. Que direito tinha ele de querer mais? “O que é que pode saciá-lo?

Isaías foi contemporâneo de Miquéias. A mensagem de seus livros tem muita coisa em comum. Não é de se admirar então, que tenha enfrentado a mesma dificuldade com o povo. Veja Isaías 1.10-17. A coisa ia mal. Sofriam ataques dos inimigos, as colheitas eram sempre saqueadas. A reação do povo foi multiplicar sacrifícios a Deus, perseveram em orações, fazer mais festas religiosas. Faziam isso como se pudessem comprar o favor de Deus. Esforço vão. Para tudo isso Deus disse: “…a minha alma as aborrece, estou cansado de as sofrer.” (Is 1.14)

Dois profetas constataram a mesma tendência do povo de querer barganhar bênçãos com Deus e reclamar “só porque” esse Deus não se deixava comprar.

Uma questão muito importante precisa ser respondida através de nossas vidas: O que é ser crente? Será que freqüentar a igreja 2 ou 3 vezes por semana nos faz um? 

Os argumentos do povo podem ser modernizados: “vou a igreja sempre, dou meu dízimo e até ofertas... o que mais Deus quer de mim?” Da mesma forma que Judá e Israel, se usarmos estes tipos de argumentos vamos estar barganhando com Deus

III. A Voz de Deus – Exortação à prática

Eles entenderam tudo errado! Deus não queria mais sacrifícios ou festas. Chega de falsa religiosidade (1 Sm 15.22; Sl 51.16-17; Ec 5.1; Os 6.6; Rm 14.17). Não adianta nada fazerem sacrifícios sem fim e ao mesmo tempo praticarem o suborno; festas junto com opressão ao pobres.

A essência do recado de Deus foi que o problema social era a prova da falsa religiosidade deles. Ou em outras palavras, melhor que tudo aquilo era ser honesto e justo, saber amar e perdoar, e ser humilde diante de Deus. (Mq 6.8) “Aprendam a fazer o bem, a ser honestos e a ajudar os pobres, os órfãos e as viúvas” (Is 1.17)

O crente quando comete injustiças sociais vai contra tudo aquilo que crê. Por vezes é difícil resistir à tentação. Afinal, muitas pessoas inescrupulosas, enriquecem rapidamente, enquanto outros que temem a Deus ,vivem somente com o necessário. Será que vale a pena ser justo? Leia Malaquias 3.13-18 e responda você mesmo a esta pergunta.

Como a igreja pode lidar com a injustiça social?

Em primeiro lugar, não a praticando. Como vimos, se alguém diz adorar a Deus e mesmo assim comete um monte de injustiça, essa pessoa é hipócrita, diz uma coisa e faz outra. Se quisermos mudar o padrão do mundo, temos que apresentar um padrão diferente. Nada pode ser mais eficaz e causar tanto impacto quanto um exemplo diferente!

Em segundo lugar, a igreja e os crentes podem e deve tentar amenizar o problema que no Brasil é quase generalizado. Como isso pode ser feito?

Veja alguns exemplos de atuação da igreja na área de justiça social: pressão política, cobrar do governo atitudes, desenvolver projetos de auxílio a comunidade local mais carente. (sopão, distribuição de roupas, cestas básicas...)

Torne seu evangelho prático! http://revfernando.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário.