“Portanto, também nós, visto que temos a
rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e
do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira
que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé,
Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz,
não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos
pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa
alma.” (Hb 12.1-3)
Há
um texto no Antigo Testamento que me chama muito a atenção: Em 2Cr 20 quando o
rei Josafá é avisado de que os inimigos vinham contra ele. Com medo, ele pôs-se
em oração e buscou a Deus. No v.12 ele então diz: “Ah! Nosso Deus, acaso, não
executarás tu o teu julgamento contra eles? Porque em nós não há força para
resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que
fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti”.
Ele
estava com medo, não sabia o que fazer, mas sabia para quem olhar: Deus! Aqui
no texto de Hb 12.1-3 encontramos o mesmo princípio bíblico: nossos olhos devem
estar no Autor e Consumador da nossa fé, Jesus! Por isso quero meditar com os
amados sobre o alvo da nossa vida.
O
escritor sagrado, depois de falar sobre os grandes servos de Deus que no
passado testemunharam com suas vidas do amor de Deus e que o exemplo desses
servos deve ser seguido por nós. Eram homens pecadores como nós, sujeitos à
tristeza, medo, fraquezas assim como nós. Contudo, eles viveram pela fé. Esse
viver pela fé não se trata apenas de uma crença em Deus, mas, sim, viver na
esperança de ver o Autor e Consumador dessa fé, Jesus. Dessa forma, Cristo é o
centro da História. Os servos de Deus que viveram antes de Cristo vir ao mundo
viveram na esperança de Sua vinda. Hoje, nós vivemos na esperança dAquele que
veio e que um dia voltará.
No
v.1 o escritor sagrado usa a figura de um estádio onde na arquibancada estão
todos esses servos de Deus olhando para nós que estamos nas raias correndo. É
claro que esse texto não está dizendo que os mortos podem ver os que estão
nesse mundo, mas, sim, que nós enquanto enfrentamos lutas neste mundo devemos
nos inspirar no exemplo desses servos de Deus que se mantiveram firmes em Sua
presença, e isso porque não tiraram seus olhos da pessoa de Jesus. Assim como
no passado Jesus cumpriu Sua promessa de vir a esse mundo salvar Seu povo, da
mesma forma Ele voltará para buscar esse povo por quem Ele morreu. Mas,
enquanto isso não acontece nós devemos:
1
– Correr com perseverança a carreira que nos está proposta (v.1).
À
nossa frente temos uma carreira proposta por Deus: a carreira da Fé Cristã.
Novamente usando a figura do atleta que para ter bom desempenho na corrida
precisa se desembaraçar de tudo quanto possa lhe ser um estorvo.
Aqui
duas palavras descrevem isso: peso e pecado. Existem coisas em nossa vida que
são pesos desnecessários que carregamos que com toda probabilidade se tornam
pecados que insistentemente nos assediam. Por exemplo: quando alguém nos
ofende, até aí não cometemos pecado nenhum. Mas, se não perdoarmos tal ofensa o
quanto antes, de um peso que nos atrapalha, ela se transformará numa mágoa,
rancor e ódio, coisas essas que são pecado, e nos assediarão o tempo todo.
Outro
exemplo é quando ficamos preocupados com alguma coisa. Termos preocupações como
resultado de nossas responsabilidades não é pecado, mas, é um peso, que
fatalmente se transformará nos pecados da ansiedade e da falta de confiança em
Deus. De quais pesos você precisa se livrar hoje? Quais pecados estão abrigados
em seu coração e estão roubando-lhe o fôlego nessa carreira que Deus lhe
propôs?
Para
você não carregar peso e pecado em sua vida, você precisa olhar para o alvo:
Jesus. E essa é justamente a nossa segunda ação nessa carreira da Fé Cristã que
nos foi proposta por Deus até a volta de Cristo ou até o nosso encontro com
ele.
2
– Olhar firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé (v.2).
O
atleta quando corre não fica olhando para a arquibancada, nem para seus
oponentes; ele olha para frente, para a linha de chegada onde está o troféu. Se
ele ficar olhando para os lados, fatalmente cairá ou se desviará do seu rumo. A
exortação bíblica é para que olhemos firmemente. O verbo grego aqui é αφορωντες
e quer dizer: desviar-se de uma coisa e concentrar-se em outra.
Aplicando
essa verdade em nossas vidas isso quer dizer que devemos deixar de ficar
olhando para as lutas de tribulações que passamos e fixarmos nossos olhos em
Cristo da mesma forma que Ele olhou fixamente para a “alegria que lhe estava
proposta”, a saber, glorificar a Deus o Pai como Salvador e Deus Gracioso e
também ser o Noivo, o Senhor, a Cabeça da Sua Igreja em vez de ficar olhando
para os sofrimentos, para a cruz, a humilhação a ignomínia, suportando tudo
isso, e, por isso mesmo, estar “à destra do trono de Deus”.
Temos
o grave pecado de ficarmos olhando para os problemas em vez de nos
concentrarmos em Cristo. Para muitos o sofrimento deve ser rejeitado, exorcizado,
amarrado, pois é obra do diabo. Lamentavelmente, tais pessoas não percebem que
o diabo dessa forma trabalha em seus corações, colocando neles uma revolta
contra Deus.
Deus
usa os sofrimentos e lutas para moldar nosso caráter conforme o caráter de Jesus
(Rm 8.28,29). Olhe firmemente para Cristo. Não perca seu tempo e nem o rumo
olhando para as circunstâncias.
3
– Considerar como Cristo lidou com a oposição (v.3)
Novamente
a Palavra de Deus nos exorta a olharmos para Cristo. No v.2 a Palavra de Deus nos
mostra que em vez de olharmos para as circunstâncias devemos olhar para Cristo.
Aqui no v.3 ela nos mostra que em vez de olharmos para os nossos opositores
devemos olhar para Cristo.
Lidar
com a oposição não é fácil. O tempo todo encontramos pessoas que se nos opõem.
Mas o texto aqui não se refere a qualquer tipo de oposição. A oposição a que se
refere esse texto é especificamente quela em que as pessoas opoem resistência e
criticam a nossa fé.
Cristo
quando se apresentou como o Messias sofreu resistência, e resistência tal que O
levou à cruz. Quando nos apresentamos como crentes em Cristo Jesus somos
taxados de fracos de mente, como pessoas que não atingiram a maturidade e por
isso precisam ficar presas a sistemas religiosos.
Seja
qual for a oposição que se nos fizerem, nós, como crentes em Cristo Jesus,
pessoas que têm seus olhos fixos em Cristo não devemos buscar a justiça com as
nossas próprias mãos. Antes, devemos entregar tais pessoas a Deus e confiar
Nele para executar a justiça. Não se trata apenas de dar a Deus a oportunidade
de exercer uma justiça melhor que a nossa; trata-se de deixar Deus ser Deus e
não usurparmos dEle a prerrogativa que Ele tem como Deus de exercer a justiça.
Jesus
fez assim e assim devemos nós também fazer, para que não nos fatiguemos
desmaiando em nossas almas. Como nos desgasta a sede de justiça não é mesmo?
Como nos consome o desejo de retribuirmos a alguém o mal que nos foi feito. A
razão pela qual o desânimo tem tomado o coração de muitos crentes é porque
estes têm em si um desejo muito forte de vingança.
Não
permita que tal coisa tome conta de seu coração. Em vez disso, considere tudo o
que Cristo suportou por parte de Seus opositores. O único que foi realmente
injustiçado neste mundo foi Aquele que é o Deus da justiça: Jesus. E tudo isso
por amor ao Pai e a nós. A melhor maneira de lidar com a oposição sem cair no
risco de se fatigar e desanimar é continuar olhando para Cristo.
Conclusão
Encerro
esse artigo ressaltando a seguinte verdade: a Fé Cristã não é uma filosofia de
vida como muitos dizem. Uma filosofia de vida é baseada em dizeres e
ensinamentos. A Fé Cristã é baseada numa pessoa: a Pessoa de Cristo Jesus.
Ele
não é um mestre. Em momento algum Ele se intitulou mestre. O tempo todo Ele se
apresentou como o Deus que é. Isso porque o resgate de pecadores como nós não
pode ser feito por um mestre, um guru; nosso resgate precisava de um
resgatador, e esse Resgatador é Jesus, “o Autor e Consumador da nossa fé”. Como
autor foi Ele quem deu as normas dessa fé, e como consumador Ele executou tudo
quanto essa fé determinava.
Você
e eu não precisamos de um mestre, mas, sim de um Salvador. Essa é a grande
diferença da Fé Cristã para as religiões ou filosofias de vida. Aconteça o que
acontecer, jamais tire seus olhos da Pessoa de Cristo. Pode o medo bater à sua
porta e você não saber o que fazer como aconteceu com Josafá, mas saiba para
quem você direciona o seu olhar. Só assim você vencerá.
Olivar
Alves Pereira
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