terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Uma escrava de fé

A fama do profeta Eliseu repercutiu, de tal maneira, que atingiu dimensões internacionais, e seu poder era tanto admirado quanto temido. As notícias de seus feitos percorriam tanto os casebres como os palácios. Até mesmo o rei de Israel, fascinado com os milagres de Eliseu vivia a cata de notícias recentes (2 Rs 8:4). Contudo, desprezava o melhor que Eliseu podia oferecer - a salvação de sua alma. O rei da Síria, por sua vez, encarava tais poderes como uma séria ameaça, visto que interferiam constantemente em seus planos militares (2 Rs 6:8¬14). Não obstante, Eliseu mostrou-se disposto a abençoar todo aquele que o procurasse, até mesmo os seus inimigos. Este deve ser também o nosso procedimento; devemos ser fonte de bênçãos por onde quer que passarmos.


 O TESTEMUNHO DA FÉ - (2 Rs 5:1-8)


Naamã era um herói de guerra, homem destacado no exército de Bem-Hadade, rei da Síria. Herói em seu país; vilão em Israel, pois, em sua última incursão militar (talvez a batalha descrita em (I Rs 22), além da mortandade que provocou, ainda seqüestrou muitas mulheres e crianças. Como um brinde de sua vitória, Naamã levou como presente para sua esposa uma das meninas seqüestradas para servir-lhe como escrava.

O general Naamã havia conquistado tudo que desejava, mas havia perdido aquilo que mais prezava - sua saúde. Tornara-se um leproso. A menina israelita, por sua vez, perdera tudo que mais amava, mas manteve saudável a sua fé. E apesar da indignação de ser raptada, de perder o contato com a amada família, de ser reduzida à vi I escravidão, de perder a sua infância, de ter de servir a um tirano, inimigo de seu povo, e pior ainda, um leproso, apesar de tudo isso manteve firme sua confiança em Deus. Mostrou-se disposta a testemunhar de sua fé naquele ambiente hostil, oferecendo uma bênção àquele que a ofendeu:

"Tomara o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra" (2 Rs 5:3).

         Nem sempre o ambiente onde vivemos, estudamos e trabalhamos vem a ser aquilo que gostaríamos, mas nunca deixará de ser um lugar de oportunidades, onde nossa fé, mesmo com lágrimas, poderá ser semeada e mudanças alegres poderão ser colhidas (Sl 126:6).

As boas novas logo se espalharam chegando até o trono de Ben-Hadade. Aquele reino próspero e poderoso nada podia fazer em benefício de seu herói, mas o "fraco" reino de Israel, por eles saqueado, possuía homens com grande poder espiritual. O opressor agora dependia do oprimido, o forte precisava do fraco e desta forma o nome de Deus foi exaltado entre as nações. Ben-Hadade enviou seu general favorito ao rei de Israel, com uma grande comitiva, um batalhão fortemente armado e uma considerável fortuna, a fim de encorajar a cooperação do rei Jorão ¬"encontrar o tal profeta milagroso". A abordagem de Naamã foi direta e honesta, mas o rei de Israel interpretou mal aquele pedido, confundindo com um pretexto para provocar uma nova guerra (v.7). Sua cegueira espiritual o impedia de enxergar a grande oportunidade que Deus havia proporcionado. Imaginem a repercussão internacional que seu reino poderia obter se o grande Naamã fosse socorrido pelos "poderes de Israel"? O rei Jorão sabia que Eliseu tinha esse poder, mas a desprezível idolatria que maculara sua alma o impedia de raciocinar com clareza.

Naamã levou à presença do rei Jorão, como retribuição à sua petição, a exorbitante quantia de 10 talentos de prata (340 kg), 6.000 siclos de ouro (68 kg) e dez vestes festivais (trajes de luxo adornados com pedras preciosas). Certamente uma parte daquele tesouro caberia ao profeta que o curasse. Não tardou a que as notícias chegassem aos ouvidos de Eliseu, o qual repreendeu a estupidez do rei Jorão e sua incredulidade: " ... Por que rasgastes as tuas vestes? Deixa-o vir a mim e saberá que há profeta em Israel" (v.8).


 O EXERCÍCIO DA FÉ - 2 Rs 5:9-19

         Chegou Naamã, com sua comitiva, seu exército, seu poder e sua carga preciosa à casa do profeta, mas Eliseu não se deixou impressionar com toda aquela ostentação, de modo que nem ao menos se deu ao trabalho de ir saudá-lo ou festejá-lo. Conhecia o objetivo de sua visita e, provando a sua fé, mandou o seu discípulo, Geazi, ao encontro de Naamã, no portão, com a seguinte instrução: "Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo" (v.10).

Perante Deus não há lugar para soberba; Naamã precisava aprender esta lição. Se alguém busca uma bênção de Deus, que busque isso com humildade e fé ou nada receberá. "Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado" (Lc 14:11).

O arrogante general começou desanimar e perder as esperanças de uma cura espetacular, em função do preconceito contra o método do profeta e pela maneira como foi tratado. Desejou voltar para casa imediatamente, mas seus assessores, munidos de um sincero desejo de vê¬10 curado, convenceram-no com muita inteligência, cautela e lógica:

"O senhor é homem valente e nunca se negou a uma tarefa por mais difícil que fosse. Temos certeza que o senhor faria qualquer coisa que o profeta pedisse sem hesitar ou demonstrar temor. Por que, então, não poderia fazer algo tão simples?" (v.13 parafraseado)

         A questão agora estava nas mãos de Naamã. Em seu desespero já havia crido até nos conselhos de uma escrava estrangeira, percorrera grande distância rumo ao desconhecido e fizera um considerável investimento em busca da solução para o seu drama. Faltava¬-lhe agora o passo final - "agir com fé". Finalmente, o grande estadista abriu mão do orgulho e mergulhou no "lamacento" Rio Jordão. Posso até imaginar a expectativa de seus companheiros: "Mergulhou uma, duas vezes, e nada! Mergulhou terceira, quarta e quinta vez, e nada aconteceu! Mergulhou pela sexta vez e não houve sequer um vestígio de mudança. A angústia foi aumentando; teria o profeta passado um trote no general? Se desistisse ali teria perdido a grande oportunidade de sua vida, mas não desistiu; exercitou sua débil fé até o fim e, por isso, o resultado foi melhor que o esperado. Não apenas obteve a cura, como também ganhou uma pele rejuvenescida, tal como a pele de uma criança.

Naamã voltou a presença de Eliseu com seu corpo purificado, sua alma lavada e suas mãos repletas de dádivas. A transformação foi completa Deus mudou-lhe o exterior e o interior, e fez dele um novo homem. O profeta, ao olhar tamanha alegria, alegrou-se também; não pela fortuna que lhe foi oferecida, mas pela preciosidade de uma vida transformada e agora consagrada ao verdadeiro Deus.


 O ABANDONO DA FÉ - (2 Rs 5:19-27)


A jovem escrava exercitou sua fé, apesar da tristeza que ardia em seu coração. Naamã exercitou sua fé, Mesmo com o preconceito arraigado em seu coração, mesmo com a decepção na corte do rei Jorão, mesmo não entendendo a lógica do profeta, e agora, depois de curado, exercitou mais uma vez a sua fé na convicção de que o "Deus de Israel" o acompanharia de volta a seu país (v.17). Mas Geazi, embora conhecesse bem de perto os prodígios do SENHOR, em lugar de exercitar, abandonou a sua fé, trocando o sustento de Deus por um modo "mais fácil" de prover o seu conforto. Geazi inventou um plano diabólico para tirar o máximo proveito daquela situação. Certamente o fascínio do lucro fácil causou um desequilíbrio na mente daquele cobiçoso discípulo, a ponto de usar o santo nome de Deus para justificar sua cobiça: "tão certo como vive o SENHOR, hei de correr atrás dele e receberei alguma coisa" (v.20).


Aproveitando-se da euforia e da boa fé do novo convertido Naamã, usou o nome do profeta, inventando a chegada de novos hóspedes como pretexto para ganhar um pouco do que Eliseu recusou. E ganhou mesmo, mais ainda do que pediu; angariou para si 68kg. de prata e duas veste festivais (vs. 21-23). Bem que a Palavra de Deus nos alerta:

"Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores." (1 Tm 6:10).

        E, como um pecado chama outro pecado, o jeito foi continuar mentindo para acobertar o seu deslize. Mas de Deus não se esconde nada. Deus fez com que Eliseu soubesse de tudo por meio de uma visão (v.26).

Veja como são as coisas: um pagão estrangeiro foi curado, pela nobreza de sua fé, enquanto um israelita, um estudante de teologia tomou o lugar do pagão, para a desonra de sua fé. Assim como Acã, Ananias e Safira, Judas Iscariotes ... também Geazi vendeu sua alma por prazeres passageiros. A cobiça deste jovem só lhe trouxe maldição, pois junto com a prata que surrupiou de Naamã, herdou também a lepra que antes era dele (v.27).

* Com a pequena escrava aprende¬mos que é possível ser uma bênção em qualquer situação se mantivermos viva a nossa fé.

* Naamã deixou-nos como herança o valor de se confiar nas promessas de Deus, mesmo quando não as compreendemos inteiramente.

* Eliseu nos faz lembrar que todo mundo merece uma chance, quando se mostram interessados em Deus; até mesmo aqueles que nos irritam.

* Os erros de Geazi ficaram como um alerta da tragédia que pode ocorrer quando negligenciamos a vida com Deus e preferimos prazeres do mundo (1 Co 10:12).

Que Deus continue lhes abençoando

Autor: Pr Jonas Neto

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