sexta-feira, 1 de julho de 2011

Como Peregrinos

Quando visitei Israel pela primeira vez, algo me chamou a atenção de imediato: nas areias do deserto da Judéia, um grupo caminhava montanha a baixo, com passos lentos e decididos, como se nada ao redor tivesse algum valor.
- Quem são eles?, perguntei.
- São beduínos. Peregrinos do deserto! – respondeu-me o guia.
Peregrinos no deserto. Na verdade, todos somos peregrinos. O que muda são os desertos, mas a vida sobre a terra é uma grande peregrinação. Se todas as pessoas refletissem um pouco mais sobre esta verdade, certamente muito sofrimento seria evitado, bem como, para tantos outros , a vida seria menos mesquinha, ou vazia de sentido.
Como peregrinos, percebemos que a vida não nos pertence. Somos propriedades de Deus, a serviço da Sua glória. Quantas pessoas vivem como se fossem donas de si mesmas! São egoístas, egocêntricas, mesquinhas, insensíveis, lutam somente por si; ajuntam para si e vivem a ilusão de serem imortais. Elas são dignas de compaixão. Nossa vida pertence a Deus. O Apóstolo Paulo escreveu: “Quer vivamos ou morramos, somos do Senhor”.
Como peregrinos, aprendemos uma outra lição: nossa caminhada sobre a terra é muito passageira. É como uma neblina que, de manhã aparece e, à tardinha, vai embora. Ninguém vive aqui para sempre! Por isso mesmo, esta peregrinação deve ser consciente de sua efemeridade, para que também seja plena de sentido.
Temos pouco tempo para amar intensamente, servir ao próximo, ser solidários com a dor dos outros, libertar-nos de todos os sentimentos mesquinhos; viver a serviço do bem, compartilhar o amor de Deus e abrir no coração um espaço para que Jesus Cristo venha viver e reinar em nós. A efemeridade da vida não diminui sua beleza nem seu conteúdo. Somos andarilhos de Deus. Sendo assim, vale a pena ser peregrino.
Como peregrinos, aprendemos, também, que é preciso encontrar um sentido para a nossa existência. Aliás, a busca de um sentido é exatamente a força que abastece nossa peregrinação. Corremos de um abraço para outro, de um emprego para outro, de um lugar para outro, de uma igreja para outra. Enfim, os movimentos da vida refletem as buscas de estímulos que ultrapassem as nossas inquietações.
Precisamos de algo para além da fama; de alguém mais importante do que as coisas; de um sentimento que preencha o vazio; de uma fé maior que a tradição; de uma esperança que não caiba no presente; de um presente que olhe para a eternidade; de uma eternidade que contemple o coração de Deus.
Como peregrinos, é urgente que aprendamos quatro coisas: conjugar o verbo amar; exercitar a experiência do crer; praticar a bênção de servir; e viver como instrumentos da graça de Deus. Como peregrinos! Eis nossa verdadeira condição humana.
Pr. Estevam Fernandes de Oliveira

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