sábado, 19 de março de 2011

Autêntico Cristão: Homem em Cristo!

Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos. Romanos 5.19.
Há um grande equívoco no pensamento contemporâneo no que se refere ao real significado do cristianismo. É um grande erro conceber o cristianismo a partir de um conjunto doutrinário de princípios e valores morais ou como mais uma religião. Infelizmente esta tem sido a noção popular de cristianismo: aderência a algo semelhante a uma filosofia ou religião.Existe uma distância abismal entre o cristianismo e as religiões. O budismo e o islamismo, por exemplo, são baseados em doutrinas e ensinamentos prescritos por seus fundadores. Em contraste, o cristianismo não foi constituído a partir de doutrinas e ensinamentos de Cristo. O cristianismo foi edificado sobre Cristo Jesus. Não se trata de uma ideologia, uma filosofia ou ensino que devemos acrescentar às nossas vidas. Na realidade, o cristianismo é uma pessoa.
Nunca houve uma pessoa que tivesse uma revelação tão clara do verdadeiro cristianismo como o apóstolo Paulo. A base de sua experiência era a sua união com Cristo. Sua vida estava de tal forma identificada com a Pessoa de Cristo, que ele dizia: “Estou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Gálatas 2.20. Nas epístolas, o apóstolo faz referência a si mesmo, resumindo a essência da vida cristã na expressão “homem em Cristo” 2 Coríntios 12.2. A vida de Paulo e a sua teologia nos ajudam a compreender o que significa ser um autêntico cristão, ou seja, um homem em Cristo.
A expressão “em Cristo” era a frase favorita de Paulo; era a sua palavra de ordem. Na verdade, o sentido profundo e fundamental dessa expressão foi dado pelo próprio Senhor Jesus quando disse : “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós”. João 15.4. Paulo sabia que era uma tolice viver em si e para si. A partir de sua visão de Cristo no caminho de Damasco seus olhos foram tirados de si mesmo para estarem voltados unicamente para o Senhor Jesus. Paulo experimentou a diferença entre o judaísmo e o cristianismo.
Para Martin Lloyd Jones, o grande problema do mundo é que ele nunca experimentou o cristianismo. O mundo conhece apenas algumas versões adulteradas do verdadeiro cristianismo. Sua vida esteve pautada pelo resgate do verdadeiro significado do cristianismo e da Igreja Cristã “Não pode haver pergunta mais urgente do que simplesmente esta: Que é cristianismo? Digo isso porque este evangelho é a única esperança do mundo atual. Todas as outras coisas foram experimentadas e foram achadas em falta. Todas as outras coisas falharam. Vocês não encontrarão nas religiões do mundo, assim chamadas. A esperança está aqui, e somente aqui”. Como o apóstolo Paulo revelou aos colossenses : “Cristo em vós, a esperança da glória”. Colossenses 1.26 .
Um dos livros mais significativos do Dr. Russel Shedd tem como título “A solidariedade da Raça: O Homem em Adão e em Cristo”. Trata-se da sua tese de doutorado, escrita em 1958. Nesta obra Russel Shedd demonstra que a chave do entendimento do pensamento de Paulo sobre o homem, a salvação e a igreja está no conceito de “personalidade corporativa” que aparece nas Escrituras do Antigo Testamento e nos escritos rabínicos. O autor diz: “toda a antropologia e a soteriologia de Paulo estão construídas sobre os conceitos hebraicos da solidariedade da raça”. O apóstolo Paulo se apropriou do conceito “personalidade coletiva” do pensamento hebraico (o homem em comunidade) para demonstrar o que significa estar em Cristo e não mais em Adão.
Na época do Velho Testamento o povo judeu se entendia como uma unidade corporativa chamada Israel. Não havia como desvincular o indivíduo do grupo e o grupo do indivíduo. A idéia de uma personalidade coletiva era muito forte. O apóstolo Paulo não tinha dificuldade de pensar em termos de “personalidade corporativa” como nós, porque já estava acostumado a pensar desta forma. A partir deste conceito Paulo demonstrou que Adão e Cristo são as únicas “personalidades coletivas” diante de Deus. A Bíblia deixa bem claro que a humanidade está dividida em duas raças. A raça de Adão e a raça de Cristo. Ambos são cabeças universais da humanidade. Toda a humanidade está incluída nesses dois homens.
No capítulo 5 do livro de Romanos aparece um claro contraste entre Adão e Cristo e as implicações de seus atos para nós. Adão, o primeiro homem, foi o cabeça divinamente nomeado da humanidade inteira, e o pecado dele fez com que todos aqueles a quem representava experimentassem a morte espiritual. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” Romanos 5.12. Quando o nosso ancestral pecou, ele estava comprometendo toda a sua descendência. A linhagem do primeiro homem passou a gerar uma raça de pecadores. A vida que recebemos de Adão é uma vida de pecado.
Porém, Deus já havia levantado antes da fundação do mundo, algo superior: o Segundo homem, Cristo, para ser o novo cabeça da humanidade a fim de cumprir o seu propósito eterno. “No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.” Romanos 5.14. Adão era a prefiguração daquele que haveria de vir, o Messias. Ele tipificava o do Novo Homem, Cristo.A Bíblia mostra-nos constantemente que o pecado não foi cometido por nós. Na verdade fomos constituídos pecadores pela desobediência de um só homem, Adão. Da mesma forma, somos constituídos justos em Cristo, mediante a sua obediência. Assim como o pecado, a justificação também veio “por meio de um só” Romanos 5.16-18. “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Romanos 5.19. Portanto, Cristo tornou-se o Novo Cabeça ; raiz espiritual da nova humanidade.
Em 1 Coríntios 15.45-47, Paulo traça um paralelo entre Adão e Cristo. “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como último Adão, Cristo é a soma total da humanidade, como o segundo homem, Ele é a Cabeça de uma nova raça. De modo que temos aqui duas uniões, referindo-se uma à Sua morte e outra, à Sua ressurreição.
Segundo Watchman Nee a encarnação de Cristo foi o momento de sua união com a raça adâmica. Em primeiro lugar, Sua união com a raça humana como “o último Adão” começou, historicamente, em Belém e terminou na cruz e no sepulcro. Ali Ele reuniu em Si mesmo tudo o que era de Adão, levando-o ao julgamento e à morte, evidenciando a importância de sua encarnação. Em segundo lugar, nossa união com Ele como “o segundo homem” começa com Sua ressurreição e termina na eternidade, ou seja, nunca termina. Pois tendo acabado, por meio de Sua morte, com o primeiro homem – no qual se frustrara o propósito de Deus - o Senhor Jesus ressuscitou como o Cabeça de uma nova raça de homens, na qual finalmente será plenamente realizado aquele propósito”.
Assim, Romanos 5:20.21 diz: “mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. É por causa de Jesus Cristo que a graça e o dom de Deus podem ser concedidos a todos os homens. Também é devido a Ele que podemos reinar em vida, pois Nele temos todo o suprimento necessário.
Jesus Cristo, o admirável Filho de Deus fez - através de sua obra redentora - uma ruptura definitiva com o Velho homem por meio da cruz. Pos fim a uma velha ordem, estabelecendo uma nova a partir de sua ressurreição. A cruz representa o fim da era de Adão. A ressurreição representa o início da era de Cristo, em quem os recursos da infinita graça concretizaram o plano eterno de Deus. “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. 1Coríntios 1.30. Deus tratou conosco em Cristo Jesus, logo, não precisamos entrar em Cristo, pois, pela fé já estamos Nele. Deus fez por nós o que não podemos fazer por nós mesmos. Ele nos colocou em Cristo.
A Bíblia deixa bem claro que fomos enxertados em Cristo. A partir desta base é possível compreender o significado da Igreja. Assim, a Bíblia chama esse grande homem corporativo que está em Cristo, de Igreja. O Senhor Jesus disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” João 15.5. Jesus afirmou que os ramos que permanecem Nele frutificam, e que não há como fazer nada sem Ele. Evidencia-se também nesta passagem, que os cristãos não são indivíduos isolados, mas que fazem parte de uma árvore, a Videira Verdadeira. A árvore supre todas as necessidades dos ramos e os ramos extraem vida da árvore. Cristãos e Cristo estão unidos numa só entidade. Uma única personalidade coorporativa.
A incorporação da humanidade em Jesus Cristo é a origem da Igreja. Em Romanos 11 há uma metáfora esclarecedora. Todos os atributos de “personalidade coletiva” são aplicados à Igreja com o mesmo rigor com que fora a Israel. A igreja é o verdadeiro Israel de Deus.O próprio Jesus Cristo é o representante do novo Israel. O “Servo do Senhor” que aparece no Velho Testamento não se tratava de Israel, como os judeus ainda hoje interpretam, mas sim, de Cristo. Sendo assim, Jesus Cristo se expressa através da Igreja, a qual é a comunhão orgânica com o Senhor Jesus Cristo.
A palavra “Igreja”, na língua original do Novo Testamento, significa um grupo de pessoas chamadas por Deus para fora de Adão e para dentro de Cristo. Aqui está o segredo do cristianismo. Não há um cristão fora de Cristo. Isto significa que compartilhamos da vida de Cristo, tanto de forma coletiva quanto individual. Como Igreja, a nossa posição é em Cristo e, como indivíduos, também em Cristo. Para que isso se torne experiência prática não há outro caminho a não ser o caminho da cruz. “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste”. 2 Coríntios 4.10. Pela Graça de Deus somos levados a descobrir que a vida cristã nada mais é do que “Cristo em um homem” e “um homem em Cristo”. Esta foi a razão que fez Martinho Lutero, um dia, apontar para o seu próprio coração e dizer: “Lutero não mora mais aqui, ele já se mudou; agora Cristo vive aqui”.

Pr. Julio Cesar Lucarevski

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