quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Balaão e a Teologia sob Demanda

Aquele que se dizia "O profeta dos olhos abertos" era, na verdade, o teólogo do olho grande e gordo.
Balaão era um profeta sagaz e um tanto matreiro. Se fosse apenas profeta, a desgraça não seria tanta. Acontece, porém, que o filho de Beor era ainda um teólogo competente. Torcendo um artigo de fé aqui, minimizando uma proposição doutrinária mais além, ia ele enchendo as algibeiras com o ouro dos incautos. E os seus arremedos, justiça seja feita, eram capazes de convencer até os mais avisados.

Embora domiciliado em Petor, às margens do Eufrates, fazia, vez por outra, uns volteios pelo Oriente Médio, a fim de oferecer serviços e préstimos. Ontem, tanto quanto hoje, havia sempre alguém querendo amaldiçoar alguém. E, para isso, estava disposto a pagar-lhe muito bem.

Enfim, o profeta Balaão teologizava sob demanda. Assemelhava-se ao escritor que, certa vez, recebeu a incumbência de escrever um artigo sobre uma polêmica autoridade. Ao receber o dinheiro, perguntou: “A matéria é a favor ou contra?”

Suas mandingas eram bem articuladas e certeiras. Amaldiçoou Balaão alguém? Amaldiçoado está! Foi por isso que Balaque trouxe-o de tão longe e inflacionou lhe generosamente o cachê. Afinal, o rei moabita estava caído de angústias com a aproximação dos filhos de Israel que, desde o longínquo Sinai, marchavam resolutamente às suas portas. E, pelo ritmo de seu avanço, nenhum exército seria capaz de frear-lhe a andadura. Segundo imaginava, aquela gente, de tão numerosa, lamberia todos os recursos de sua terra. E isso ele jamais haveria de admitir.

Balaque bem sabia que Balaão era venal e sem caráter. Todavia, era competente no que fazia e tinha um preço até razoável. Além de venal, pagável. Não seria difícil contratá-lo.

Já advertido pelo Senhor, o profeta, de início, mostrou alguma refração às propostas do moabita. Como bom teólogo, sabia que é impossível florescer maldições onde as bênçãos já frutificam. Por isso, todas as vezes que armava o cenário para amaldiçoar Israel, acabava por abençoá-lo. E isso começou a impacientar Balaque. Afinal, contratara-o para destruir os hebreus. Mas o feiticeiro, inexplicavelmente, estava virando-se contra o dono do feitiço.

O interessante é que Balaão possuía também um lado poeta e lírico que, elegantemente, deixa transparecer nas profecias que, por três vezes, profere sobre o futuro messiânico de Jacó. Ele sabia trabalhar tão bem as palavras, que Moisés foi inspirado ser autobiográfico: “Então, proferiu a sua palavra e disse: Palavra de Balaão, filho de Beor, palavra do homem de olhos abertos, palavra daquele que ouve os ditos de Deus e sabe a ciência do Altíssimo; daquele que tem a visão do Todo-Poderoso e prostra-se, porém de olhos abertos: Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete” (Nm 24.15-17).

A ganância, contudo, veio a ter mais rimas que a poesia. Na verdade, Balaão não estava disposto a perder o ouro de Balaque; oportunidade como aquela não costuma repetir-se. Não é sempre que se tem um Êxodo pela frente, nem um povo grande e abençoado a atravessar-lhe o caminho. Além do mais, ali estava um rei aflito, e prestes a dar-lhe até metade de seus tesouros.

Balaão, segundo suas próprias palavras, era o profeta dos olhos abertos. Mas, para mim, ele era o teólogo do olho grande e gordo: estava sempre disposto a corromper e a ser corrompido. Eis porque resolveu, apesar das relutâncias iniciais, atender à demanda final de Balaque.

Já que não podia levar a maldição a Israel, poderia ao menos trazer até Israel a maldição. A equação era bem simples. Sabendo ele que Deus tem um caráter justo e santo, ensinaria Balaque a tirar proveito dessa proposição. E, para tanto, o rei moabita não precisaria escrever monografia alguma; era só explorar a pornografia que estava ao seu alcance. Mesmo porque, aquele monarca medroso e bufão nenhuma capacidade acadêmica demonstrava ter.
Sim, tudo era muito simples. Mas a receita só Balaão possuía. Para amaldiçoar Israel, Balaque só precisaria espalhar umas prostitutas cultuais pelo arraial hebreu, e o problema estaria resolvido para os moabitas. Mas, para os israelitas, estaria só começando.

Foi o que aconteceu. As desavergonhadas, introduzidas sorrateiramente no acampamento do Senhor, puseram-se a induzir os varões hebreus a se prostituírem e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos. De repente, aquele povo separado e santo em nada diferia das nações de Canaã. O episódio, que passaria à história como o Caso de Baal-Peor, custaria muito caro aos filhos de Israel. Num só dia, o Senhor matou vinte e quatro mil homens. O fato jamais seria esquecido. Séculos depois, ainda era mencionado pelos santos profetas como advertência à comunidade hebreia.

Balaão não foi o único a fazer teologia, nem a profetizar sob demanda. Seus discípulos e seguidores, igualmente irracionais em seu amor pelo ouro de Balaque, fazem-se moucos até mesmo à voz da jumenta. Não obstante, sempre acabam por encontrar generosos púlpitos e cátedras.

Nos domínios de Acabe, eram liberalmente pagos, a fim de profetizar o que o monarca queria ouvir. Nenhum deles tinha coragem, ou disposição, de dizer que o rei estava nu. Já em Judá, no tempo de Jeremias, achavam-se arrolados na folha de pagamento do funcionalismo público. E, na Igreja Primitiva, além dos imitadores de Balaão, havia também os nicolaitas, que, de paróquia em paróquia, iam teologizando por encomenda. Com mão certeira, semeavam o pecado, a rebeldia e a dissolução entre os santos.

Jesus odiava as obras dessa gente.
Hoje, esses tais obreiros podem ser contados aos milhares. Tanto aqui, como lá fora, comportam-se como os sofistas que, na Grécia antiga, eram tidos como inteligentes e sábios. Eles andejavam por toda a parte, discorrendo sobre os mais variados e ignorados assuntos. Um deles, que não entendia nada de guerra, propôs-se certa vez a ensinar estratégia a um experimentado general. Não é o que ocorre em nossos arraiais? Às vezes, surge, não se sabe de onde, um neófito com ares doutorais e que nunca pastoreou um rebanho, dizendo como se deve tanger o redil e tocar o aprisco. Mas, na verdade, o que mais querem é a lã das pobres e desamparadas ovelhas.

Eles não são nada baratos. Exorbitam nos cachês e carregam nas exigências. Por isso, sempre pregam o que os seus contratantes querem ouvir. Sabem que, se forem verdadeiros no púlpito, poderão sair de muitos templos como mentirosos. E esse risco não querem correr. Assim, deixam de ser homens de Deus para se fazerem homens do povo. Como abismo atrai abismo, também não veem dificuldades em sustentar a iniquidade, desde que esta encha-lhes os bolsos.

E, assim, passam a vida a produzir uma teologia ímpia, mentirosa e sofismática. Aqui, esvaziam a divindade de Cristo. Ali, tiram a autoridade da Bíblia. Mais além, negam o arrebatamento da Igreja. Ainda, não satisfeitos, espalham entre o os santos costumes exóticos e detestáveis. Terminado o culto, vão embora cheios, deixando atrás de si um rebanho vazio.

Não fomos chamados a fazer teologia sob demanda. Convocou-nos o Senhor a proclamar a sua Palavra. E, para isso, temos de ser íntegros, corajosos e jamais perder o dom do amor. Quem ama, fala a verdade, pois uma mentira, bem trabalhada teologicamente, é bastante para levar todo um rebanho ao inferno.

Graças a Deus, porque temos ainda pregadores que, embora convidados a pregar por todo o Brasil, jamais negociam com a sã doutrina. Eles não temem a Balaque, nem se curvam ao peso de seu ouro. A estes, o meu reconhecimento. São autênticos pregoeiros que, fugindo ao politicamente correto, expõem a Palavra de Deus a tempo e fora de tempo. Sua teologia não é produzida sob demanda, mas nasce de um amor sincero e sacrifical pelo Senhor Jesus e sua Igreja. Antes de oradores, orantes.


Quanto aos que imitam Balaão, demonstram possuir menos inteligência que a jumenta do profeta. Embora não tivesse qualquer formação acadêmica, o animal teve olhos para ver o anjo do Senhor e a espada pronta a desferir o golpe fatal no profeta louco e ganancioso. Pr Claudionor de Andrade

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

OS DEZ MANDAMENTOS DO BOM TEÓLOGO




Todo bom teólogo seguirá e entenderá esses mandamentos à risca.



1. Não tente explicar o inexplicável (Há questões que são para somente crer, não para explicar);
2. Evite concentrar-se em especulações ou discussões em questões secundárias que não levam ninguém ao céu ou impedem de ir ao inferno (Isso é perda de tempo precioso que poderia estar sendo investido em outras questões edificantes para a Igreja, e mais, muitos por causa dessas discussões teológicas infindáveis perderam amigos e fizeram inimigos);
3. Aprenda a dizer: "Não Sei". (Se você não sabe, não enrole);
4. Domine o vocabulário teológico, leia muitos livros teológicos, continue fazendo cursos, se aperfeiçoando, estude, estude, estude;
5. Não esqueça de seu momento com Deus, ore muito, leia e medite na Bíblia;
6. Duvide de suas dúvidas (seja um pesquisador constante, vá atrás, não se contente com as dúvidas);
7. Lembre-se que os motivos que unem os cristãos são maiores do que os que os afastam (Enfatize as harmonias, as semelhanças e não os conflitos. Com exceção da apologética cristã que é útil e bíblica e milita contra heresias e seitas pseudo cristãs, não fique a criticar essa ou aquela denominação cristã por que seguem uma linha teológica diferente da sua. Seja sábio, teologia não é para isso);
8. Lembre que o teu conhecimento teológico deve servir para levar a salvação aos perdidos e a edificação aos salvos e não para constranger ou humilhar seus irmãos (Você estudou para ser um melhor servo, não para ser senhor da razão. Às vezes, mesmo estando certo, o melhor é ficar calado para em uma oportunidade mais edificante, argumentar e até mesmo, abençoar os opositores);
9. Pregue e ensine com fervor e autoridade suas certezas e convicções e jamais as suas dúvidas (quando prega ou ensina uma questão ou tema que não possui convicção ou opinião formada, apenas causa confusão em quem o ouve);
10. Não use a teologia como vaidade ou engrandecimento pessoal, use-a para edificação do Corpo de Cristo (lembre-se que deve servir e não ser servido).

Simples assim.
O bom teólogo entende bem isso. O mau teólogo considera isso um ultraje.
Fonte: Universidade da Bíblia-Pr.Magdiel Anselmo 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O Veneno da Serpente


Destilando a morte em pequenas doses.

Precisamos ser cautelosos, pois o Diabo está vivo e ativo neste mundo. Com o objetivo de dominar as almas humanas, ele está sempre tentando influenciar as pessoas, destruindo valores morais e espirituais, levando corrupção e caos. Suas mensagens chegam através de duas vias: mundana e religiosa. A primeira é mais notória. A segunda é muito sutil e, portanto, mais perigosa.


Primeira via - mundana

O mal pode chegar através de uma simples conversa (I Cor.15.33; Mt.16. 22-23; Sal.140.3), mas existem modos bem mais sofisticados. Os meios de comunicação, além de todo conteúdo positivo que nos trazem, também transmitem o veneno do Diabo em muitas de suas atrações, até mesmo em alguns desenhos animados. Existe um modo de vida sendo ensinado durante 24 horas por dia através de toda espécie de mídia, atingindo a todos, mas principalmente as crianças e adolescentes, cujo caráter está em formação.

Em meio a enredos artísticos bem elaborados, estão inseridas mensagens que estimulam a prostituição, o adultério, a desonestidade, o ateísmo, etc. Trata-se da apologia ao pecado. Não podemos nos alienar nem “sair do mundo” (João 17.15; I Cor.5.9-10), mas precisamos estar conscientes a respeito desse mal para que possamos identificá-lo e vencê-lo. Não significa também que vamos receber tudo o que vier, na tentativa de aproveitar uma parte. Aproveitar um fruto “meio podre”, se é que existe, é uma decisão arriscada. Algumas coisas são totalmente imprestáveis e nossa mente não é lata de lixo. Outras vezes, porém, agiremos como quem come um peixe: separando os espinhos. Não podemos criar regras fixas quanto a isso, mas precisamos buscar do Senhor a sabedoria e o discernimento para cada situação. Por exemplo, não me convém ler livros de bruxaria, mas o que dizer de um romance? Poderei optar por ler ou não, mas, se escolher a leitura, ainda precisarei ficar atento, pois até nos livros mais inocentes poderemos encontrar ensinamentos anticristãos.

Segunda via - religiosa

Quando Satanás tentou Eva, ele usou as palavras de Deus com uma alteração mínima, mas suficiente para inverter o sentido original. “Foi assim que Deus disse? Não comereis de toda árvore do jardim?” (Gn.3.1). Uma pequena quantidade de veneno foi o bastante para aniquilar a vítima: o ser humano.

Na tentação de Cristo, o inimigo usou novamente as palavras de Deus, alterando-lhes o contexto e propósito (Mt.4.1-11). Ainda hoje, ele continua operando da mesma forma. Quantas são as distorções de textos bíblicos que acabam se transformando em doutrinas estranhas ou dando origem a falsas religiões! Jesusdisse: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus...” (Mt.16.6-12). Ele se referia à doutrina daqueles religiosos que distorciam a lei de Moisés, criando tradições que anulavam o propósito original da lei. Por exemplo, o mandamento “honra teu pai e tua mãe” foi anulado pela tradição (Mt.15.1-9). Muitos fariseus se recusavam a cuidar de seus pais sob o pretexto de já terem levado uma oferta ao templo. Assim, transferiam ao corpo sacerdotal a responsabilidade pelo cuidado dos pais. Tal costume religioso, chamado “corbã”, tinha um fundamento lógico e podia até funcionar. Porém, a ordem de Deus não foi aquela. A desobediência tinha sido, portanto, institucionalizada pela religião.

O fermento é semelhante ao veneno, no que diz respeito à sua eficácia. Uma pequena quantidade é suficiente para levedar toda a massa (I Cor. 5.6-8; Gál. 5.9). O problema é que nós o consideramos inofensivo e, quando percebemos, já fomos contaminados. O “fermento” doutrinário ou pecaminoso tem sempre algo de humano e carnal, mas, em última análise, seu “fornecedor” é o Diabo.

O antídoto – a Palavra de Deus

A serpente perguntou: “Foi assim que Deus disse?”.
Precisamos conhecer a palavra de Deus, a bíblia, para que possamos responder com autoridade às irônicas perguntas ou sugestões do maligno. Jesus nos deu o exemplo, trazendo em seus lábios a expressão exata daquilo que “está escrito”. A palavra de Deus nos limpa, renova a nossa mente, eliminando os efeitos de toda mensagem maligna. Porém, se não sabemos o que Deus disse, como poderemos refutar as filosofias mundanas, heresias e tentações que grassam à nossa volta? A ignorância a respeito das Escrituras não serve como argumento para inocentar alguém diante de Deus. Houve grande dificuldadepara que a bíblia fosse escrita e chegasse até nós. Agora, será que a preguiça e o desinteresse serão dificuldades suficientes para justificar o fato de muitos não lerem a bíblia? Conhecendo a palavra de Deus, estaremos prontos pararesponder àqueles que nos questionarem sobre a razão da nossa fé (I Pd. 3.15). Estaremos aptos também a identificar o veneno da serpente quando ela nos atacar (II Cor. 11.3). Entretanto, o conhecimento é apenas a primeira parte da questão. Eva sabia muito bem o que Deus havia dito. O que lhe faltou foi obediência. Temos o antídoto, mas ele será inútil se não for aplicado. O inimigo procura nos matar espiritualmente, mas, fortalecidos pela palavra do Senhor, teremos “vida, e vida em abundância”.
  

Prof. Anísio Renato de Andrade

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Conte as Estrelas

Se você examinar de perto a vida de Abraão, verá que o Senhor, o Deus Altíssimo, falou com ele pelo menos oito vezes. Me identifico muito com Abrão, pois tivemos que deixar nossa terra, nosso povo, nossa parentela, para sermos salvos e abençoados em terra estranha. Sempre que tenho a oportunidade de olhar para um céu estrelado, em noites de lua nova longe das cidades, lembro-me da ocasião em que "El Shadai" mandou Abrão olhar para o céu e contar as estrelas. Abrão não era muito crente no princípio. Sua fé foi sendo acrescida aos poucos. Gênesis 15: 1 ao 6.

A primeira vez que Deus falou com Abrão, em Gênesis 12:1, Ele estava em Ur da Caldéia. O verbo está no imperativo: "sai-te", portanto foi uma ordem para sair da sua terra, do meio da parentela e da casa de Terá. Seu Destino seria uma terra, que apenas conheceria no futuro, se saísse. As vantagens seriam: poder, fama e motivo de prosperidade para todas as famílias da terra. Abrão deve ter saído com interesse em alguma dessas coisas e, junto com ele, foram o pai e o sobrinho. No meio do caminho, em Harã, o pai morreu. Mas, o sobrinho continuou. Ficavam ricos, à medida que seguiam em frente.

A segunda vez que o Senhor lhe apareceu , foi para dizer que a Terra de Canaã, onde chegara, era sua Terra Prometida. Abrão tinha um segredo, uma profunda frustração, que Deus conhecia bem, mas Abrão não tocava no assunto. Disse Deus: "A tua semente vou dar esta Terra", provocando seus sentimentos. A terra prometida trouxe uma surpresa: a fome!

E veio uma grave fome sobre a Terra de Canaã. Por isso Abrão desceu à terra do Egito e Ló, o sobrinho, continuava junto. Como "bons" negociantes do Oriente, uma mentirinha aqui, outra ali, não faria mal... e, foi assim, por causa de uma mentira que o Faraó os expulsou do Egito. Saíram ricos, muito ricos em gado, ouro, prata, criados, escravos, de volta à Canaã - às custas de experteza.

Mas, era gado de mais e terra de menos em Canaã. Isso foi o estopim de contendas que entre os pastores do tio e os do sobrinho. Assim, finalmente,Abrão chegou ao último ponto da exigência de Deus: sair de perto da parentela. Deixou o sobrinho escolher em primeiro lugar os pastos. E o sobrinho não titubeou , com muita esperteza, escolheu os melhores pastos, na Campina do Jordão. O Tio ficou com o resto, a região das montanhas - os pastos piores.

Por isso, pela terceira vez, o Senhor apareceu para um Abrão solitário, que amargava uma ingratidão. Abrão tinha tudo: ouro, gado, 300 homens de guerra; cerca de 1.000 pessoas serviam-no.

Ou quase tudo. Sua família, de verdade, agora era constituída de dois velhos:Sara e ele próprio. Ao olhar as famílias dos servos, dos escravos, ele podia observar que eles tinham filhos. Todo seu ouro, prata, gado, escravos não eram o bastante para fazer nascer um herdeiro legítimo de um casal de velhos.

Conhecendo Deus sua frustração - e Ele conhece as de todo mundo, inclusive as suas e as minhas - apareceu e disse: Abrão! levanta, agora, seus olhos e olha toda esta terra, para o Norte, para o Sul, para o Oriente e para o Ocidente - toda esta terra que vês, te hei de dar a ti e à tua semente, para sempre. Esta promessa, a mais valiosa para Abrão, somente foi pronunciada depois que ele cumpriu a toda a vontade de Deus: sair da sua terra, da casa do pai, e do meio da parentela.

Deus não ficou somente nestas palavras, continuava a lhe provocar: "A tua semente, Abrão, será como o pó da terra. Levanta-te e percorre com seus olhos essa terra, no seu comprimento e na sua largura, porque a ti darei".

A partir desse ponto, o coração de Abrão não estava mais nas suas posses. Deus queria despertar nele um novo sonho. Mas Abrão nem de longe pensava nisso, continuava remoendo ocultamente sua frustração. não sabendo que "Aquilo que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano é o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" I Coríntios 2:9.


Creia nesta palavra.

Deus apareceu a Abraão pela quarta vez, e isso aconteceu depois do seu retorno da guerra em que se envolveu para resgatar o sobrinho e família, o Ló das campinas do Jordão. Armado com 318 homens conseguiu trazer de volta a família do sobrinho e recuperar tudo. Na volta deu o dízimo daquilo que foi recuperado. Agora ele tinha certeza de que por trás da sua prosperidade estava a boa mão de "El Shadai". Mas a guerra fez Abrão tremer. E, Deus apareceu para lhe dizer: " Não temas Abrão, eu sou o teu escudo (segurança na guerra) e o teu grandíssimo galardão". E o significado dessa palavra: galardão, para Abrão ainda eradesconhecido. Mas, foi nesta vez que Abrão abriu seu coração para revelar a sua mais profunda frustração: "Senhor, me falta uma coisa para que esta casa seja feliz de verdade. Eu não tenho filhos, e o meu herdeiro vai ser o mordomo, o estrangeiro Eliezer.

E foi aí que veio a palavra do Senhor ao espírito de Abrão para lhe dizer uma grande surpresa: "Este mordomo, não vai ser o teu herdeiro, mas aquele que gerar de ti será, este sim, será o teu herdeiro".

E levou-o para fora e repetiu a ordem: OLHA, agora, para os céus e conta as ESTRELAS, se as puderes contar. E concluiu: "Assim, será a tua semente". Contar estrelas aqui significa reacender sonhos. Assoprar novamente ascinzas. Pode ser que ainda tenha ali uma pequena brasa acesa. Aprendi sobre isso, depois de 11 anos de desemprego. Minha melhor oportunidade somente veioquando já estava "velho" com 48 anos. Quanta frustração naqueles 11 anos, mas Deus não me deixou ficar para sempre frustrado e envergonhado.

Minha vizinha, Andrea, recebeu a mesma bênção de Abrão. Ela, seu esposo e seus amigos oraram 17 anos por um filho. Ela contava que certo dia, ela fora humilhada por outra vizinha que disse mais ou menos isso: "Cadê o seu Deus? Eu tenho dois filhos e você nenhum!" Sabe o que aconteceu? Passaram-se 17 anos. Quando chegou o 18º ano de casamento, Deus disse: Basta! e lhe deu o primeiro filho que nasceu de sete meses.. Um ano depois, uma filha com nove meses de gravidez. Um casal, herança de nosso Deus. Foi uma noite de choro que demorou quase dezoito anos, mas a manhã veio porque o Senhor é fiel.

Abrão, àquela altura, já possuia mais intimidade com o Senhor. Entretanto, ele também era uma pessoa apressada que não gostava de perder tempo. E quase pôs tudo a perder quando ouviu a sugestão da esposa, para que tivesse um filho com a escrava. E Agar - a escrava - concebeu e deu o primeiro filho a Abrão, Ismael, o pai do povo árabe.

Quando Deus fala, se formos fiéis, nosso espírito sentirá uma paz incomum. Quando a voz não é Dele, nosso coração fica com dúvidas. E, se decidirmos com dúvidas o maligno pode roubar nossas bênçãos verdadeiras. Abrão perdeu 14 anos de seu tempo por uma decisão errada. Ele seguiu a voz da razão porque achava loucura receber sua maior vitória no tempo da velhice.

Em Gênesis 17, Deus apareceu pela quinta vez a Abrão já com 99 anos idade.Sara, sua esposa, com 89 anos. Um casal de velhos gagás, como se diria hoje. Nesta oportunidade Deus lhe cobrou santidade: "Eu sou o Deus Todo Poderoso; anda, Abrão, em minha presença e sê perfeito". Em seguida,trocou o nome dos dois. Agora, eram Abraão e Sara!

A confirmação da promessa de um filho, naquela idade, fora motivo de risos por parte dos dois. Risos de singela incredulidade. Eles ainda não acreditavam completamente. Foi por isso que Deus deu nome ao sonho de Abraão: ISAQUE!

Caro leitor, vamos fazer uma nova pausa. Antes de conhecermos completamente o poder de Deus, costumamos carregar lá no fundo do "baú" as mais diversas frustrações, as montanhas de impossibilidades. Gênesis 18:14 diz: "Há alguma coisa difícil para Deus realizar? E, Lucas 1:37 responde: "Porque para Deus nada é impossível!"

Na sexta vez o Senhor lhe apreceu pessoalmente, com dois anjos na forma de visitantes - Gênesis 18. Sara ainda estava com dúvidas. Deus veio para confirmar que dali a nove meses, a partir daquela visita, o ISAQUE IA CHEGAR. Também avisou a Abraão sobre a destruição de Sodoma e Gomorra. No capítulo 21,Isaque nasceu. Isaque significa riso. Riso, porque se alguém soubesse da história, com certeza riria. E cresceu o menino e Abraão fez um grande banquete no dia em que Isaque foi desmamado. Os risos da alegria verdadeira invadiram aquela casa. Ela deixou de ser uma tenda de velhos tristes e rabujentos para ser um lar radiante e barulhento. A "loucura" do que Deus pode fazer.

Isaquinho era o príncipe daquele lar. Abraão não tinha mais frustração. Não tinha mais sonhos. Isaque era tudo. Sua fé ainda não tinha sido posta à prova. Era um crente em Deus crescido no verão, em tempos de chuvas, em tempos de bênçãos. Ouro, prata, gado, criados, escravos e por fim, o Isaque. As lutas tinham sido até pequenas até ali.

E veio então a sétima vez que o Senhor lhe apareceu. E lhe pôs à prova.
-Abraão! disse Deus, toma, agora, o teu único filho, Isaque, a quem amas e vai a terra de Moriá, e o sacrifica, e o oferece em holocausto a mim. Então, Abrão se levantou e foi cumprir a ordem de Deus. Só não a cumpriu, literalmente, porque o próprio Deus enviou um anjo para impedir.

Naqueles três dias, que caminharam até próximo do Monte Moriá, Abraão teve para meditar profundamente na gravidade do seu compromisso. Ele decidiu certo. Ia obedecer a ordem de Deus. Uma ordem cruel e duríssima. No seu coração ele tinha uma coisa: paz com Deus. Ele cria em Deus. O mesmo Deus que dava filhos a velhos gagás, proveria uma solução para o caso. Assim, chegouAbraão a conclusão de que Deus era tudo para ele. Lhe daria o primeiro lugarIsaque já estava no segundo plano. Tal atitude comoveu o coração de JEOVÁ. A fé de Abraão atingira a maturidade completa: chegara à perfeição, pois, agora, trocaria tudo para agradar e fazer a vontade de Deus. Abraão amava o Senhor de todo o coração.

Por causa da fé de Abraão, são abençoadas todas as famílias da terra. O Isaquesimbolizava Jesus Cristo, o único filho do Deus Vivo, do Deus Altíssimo, do Deus Eterno, do Deus Todo Poderoso. Jesus descendia de Abraão. O seu sangue no sacrifício da cruz do calvário é o suficientemente necessário para que todos que nele crêem possam chegar diante do Pai e alcançar a paz da reconciliação.

E, uma vez reconciliados por Cristo, podemos confiar em seu amor. Se você apresentar a Ele, em oração, suas frustrações, suas feridas, suas limitações, suas quedas, saiba que Cristo pode trocar todas elas por sonhos e novas visões. Olhe, para o céu da noite e conte as estrelas. Seja fiel; Romanos 12:2; e o Senhor cumprirá o desejo do seu coração; Salmo 37:4. João Cruzué

sábado, 14 de novembro de 2015

A Luta pela Santidade

Quando Paulo diz para mortificar os feitos do corpo “pelo Espírito” (Romanos 8.13), quis dizer que devemos usar a única arma da armadura do Espírito usada para matar. A saber, a espada, que é a Palavra de Deus (Efésios 6.17).
Portanto, quando o corpo está prestes a ser conduzido a uma ação pecaminosa por algum medo ou desejo, nós devemos pegar a espada do Espírito e matar esse medo e esse desejo. Na minha experiência, isso significa principalmente cortar a raiz da promessa do pecado pelo poder de uma promessa superior.
Assim, por exemplo, quando começo a desejar algum prazer sexual ilícito, o golpe de espada que tem frequentemente cortado a raiz desse prazer prometido é: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5.8). Eu recordo os prazeres que senti de ver a Deus mais claramente com uma consciência pura; e recordo a brevidade, superficialidade e o gosto opressor que fica depois dos prazeres do pecado, e, com isso, Deus mata o poder conquistador do pecado.
É lindo ser o instrumento do poder da Palavra de Deus para matar o pecado.
Ter promessas à mão que se adéquam à tentação do momento é uma chave para uma guerra bem sucedida contra o pecado. Mas há momentos nos quais não temos uma palavra vinda de Deus perfeitamente adequada em nossas mentes. E não há tempo para procurar na Bíblia por uma promessa feita sob medida.
Por esse motivo, todos nós precisamos ter um pequeno arsenal de promessas pronto para ser usado sempre que o medo ou o desejo ameaçar nos desviar.
Aqui estão algumas das minhas mais comprovadas armas:
1. “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” (Isaías 41.10).
Creio que tenho matado mais dragões em minha alma com essa espada do que com qualquer outra. É uma arma preciosa para mim.
2. “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Romanos 8.32).
Quantas vezes não tenho sido persuadido na hora da provação por esse verso de que a recompensa pela desobediência nunca poderia ser melhor do que “todas as coisas”!
3. “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra… E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mateus 28.18,20)
Quantas vezes eu tenho fortalecido meu enfraquecido espírito com a garantia de que o Senhor do céu e da terra está comigo hoje tanto quanto estava com seus discípulos na Terra!
4. “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” (Salmo 50.15).
O que faz dessa arma tão convincente é que, quando o Senhor me ajuda, cria-se uma ocasião para que eu O glorifique. Combinação incrível. Eu recebo a ajuda, Ele recebe a glória!
5. “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades.” (Filipenses 4.19).
O contexto é financeiro e material. Mas o princípio é absoluto. Aquilo que realmente necessitamos (não o que queremos) será garantido. E do que realmente necessitamos? Necessitamos daquilo que devemos ter para fazer a vontade de Deus. Aquilo que precisamos ter para magnificar nosso Salvador. É isso que nos será dado conforme confiarmos nEle.
Esteja constantemente aumentando seu arsenal de promessas. Mas nunca perca de vista aquelas que Deus já usou para abençoar sua vida. Faça as duas coisas. Esteja sempre pronto com as antigas. E toda manhã procure por uma nova para levar consigo durante o dia.

Por: John Piper. © 2012 Desiring God. Original: Algumas armas comprovadas na luta pela santidade

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Saudades do que vivi!


Hoje eu acordei com uma tal nostalgia de ser feliz.
Nostalgia de tantos momentos bons e com pessoas maravilhosas. E a certeza que fica é de que eu jamais me esquecerei delas e do quão foram e são especiais para mim.

Se há saudade, é porque houve alegria. Se há nostalgia, é porque existiu felicidade! O que nos resta é sempre a nostalgia, mesmo que seja apenas a de tê-la como era antes. É bom parar e lembrar da alegria, é bom sonhar e viver em nostalgia!
Nostalgia é a palavra utilizada para representar o sentimento de saudade e de tristeza gerados pela falta de algo ou alguém, e de momentos vividos no passado com pessoas que se encontram distantes e possibilidades que já não existem mais.
A nostalgia é caracterizada pela melancolia, pela angústia causada pela distância de tempo e pessoas. Aquela época que não volta mais, os tempos vividos, a presença da família, de amigos e colegas. Saudades de um lugar onde viveu ou conheceu. São vários os tipos de saudade que podem se encaixar num momento de nostalgia.
A nostalgia pode causar uma mudança de comportamento nas pessoas. É um sentimento que tende a crescer conforme o tempo passa e gera angústia, pois a pessoa passa a desejar fortemente voltar, mas isto é impossível. Isso a entristece e pode até mesmo prejudicar a sua saúde física pela mudança de comportamento.
Os momentos de nostalgia também estão associados a lembrança de momentos alegres vividos. Como da infância, por exemplo. Dos brinquedos e brincadeiras, das pessoas e do tratamento recebido pelas pessoas a sua volta.
A nostalgia também é uma característica dos Romances. Desde o princípio dos movimentos culturais que ela é utilizada na literatura, nas artes plásticas e na arquitetura. Trazendo a tona vivências do passado e histórias de dor e tristeza, muito parecidos com a melancolia.
A nostalgia pode começar com a vontade de reviver momentos. As fotografias são uma ferramenta para viver momentos de nostalgia, pois transporta a lembrança das pessoas para o passado.Saudade, nostalgia, ausência, lembrança, tudo é bom e faz muita falta, mas talvez se essa saudade não existisse, não veríamos tudo.Tempos que vão e já não voltam são momentos que de nostalgia, as coisas são como são como se vivêssemos na fantasia. Ás vezes a nostalgia vem assim do nada, e toma conta de mim, por inteiro.Nostalgia é quando a saudade enlouquece, entra em crise existencial.
Essa mania de nostalgia, obsessão por abraços frios. Amores imaginários, paixões de diário, completos de vazio. Em tudo isto, Deus se fez presente!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Darwin e sua Presença na Teologia

Charles Darwin continua polêmico duzentos anos após seu nascimento e cento e cinqüenta anos depois da publicação de A Origem das Espécies. O medo que teólogos no correr desses cento e cinqüenta anos tiveram de Darwin nos leva a esta pequena reflexão sobre o assunto. Serei breve, não pretendo, nem acho possível esgotar o assunto, desejo apenas apresentá-lo. Creio que o medo referido é mantido por tradição baseada mais em desconhecimento do que em fatos.
É importante entender que Darwin sempre conviveu com o cristianismo inglês, o anglicanismo. Nosso cientista nasceu durante as guerras napoleônicas, quando os conservadores governaram em estreita associação com a igreja. Embora o alto clero tenha adotado uma postura que se aproximava em muito do fundamentalismo, a família de Darwin procurou não se afastar de sua tradição iluminista, quando os não-conformistas levantavam a bandeira da “unidade sem uniformidade”. Assim Darwin, seguindo uma tradição escandalosa para o anglicanismo oficial da época, se posicionou no campo do unitarianismo, que prega a unidade absoluta de Deus, a liberdade de cada pessoa para buscar a verdade e a espiritualidade sem a necessidade de dogmas ou instituições, como fizera um de seus avós, Erasmus, que era livre-pensador. Aliás, Charles foi batizado numa capela unitarista. Quando sua mãe faleceu, ele tinha oito anos e foi estudar em Shrewsbury School, uma escola pública sob administração da igreja anglicana.
O pai de Charles, Robert Darwin, era médico e livre pensador como Erasmus. Quando a família constatou que Charles não pretendia fazer medicina, como o pai, sugeriu que seguisse a carreira eclesiástica. Mais tarde, Darwin escreveu: "Gostei da ideia de ser pastor no interior. Passei a ler com atenção o Credo de Pearson e livros sobre Deus. E como não tinha a menor dúvida sobre a verdade absoluta e literal de cada palavra da Bíblia, logo me convenci de que os nossos princípios deveriam ser aceitos integralmente”. E, assim, foi matriculado no Christ's College Cambridge para o bacharelado em Artes exigido.
Mas, por obra do destino (ops!), ele frequentava as aulas de história natural ministradas pelo pastor John Stevens Henslow, que também era professor de teologia. E passou a ler os textos de outro pastor, William Paley, que trabalhava Filosofia Moral e Política e dava umas aulas muito criativas sobre As Evidências do Cristianismo. Darwin escreveu que apreciava tanto os textos de Paley que poderia expor todos seus argumentos, embora não com a mesma precisão. Disse que gostou tanto do livro A Teologia natural, obra maior de Paley, que era quase capaz de recitá-lo de memória.
Depois de ter sido aprovado nos exames de teologia, Charles não abandonou a Teologia Natural de Paley, que apresentava provas da existência de Deus recorrendo à complexidade dos seres vivos, que foram colocados num mundo organizado e feliz, conforme escolha e finalidade definidas pelo Criador. E foi assim que Charles começou a se interessar pela ciência. E tal escolha aconteceu num momento em que Cambridge recebia a visita de dois missionários que nadavam contra a corrente, Richard Carlile e Robert Taylor. Aliás, Taylor, “o capelão do Diabo”, já tinha, inclusive, sido preso por blasfêmia. A presença dos dois e suas posturas não-conformistas geraram tumultos e ambos foram expulsos de Cambridge. Essas surumbambas fizeram Charles repensar sua escolha.
A teologia deu lugar à ciência. E a viagem na expedição do Beagle foi um acontecimento benfazejo. Quando retornou à Inglaterra e desenvolveu a teoria da seleção natural, então sim, começou a entrar em conflito com o argumento teleológico que marcara seus estudos teológicos.
A morte esteve presente na vida de Darwin: pensou sobre ela e sua leitura cristã e acabou por considerar a construção da fé produto e desenvolvimento da própria sociedade. Mas, foi com a morte da filha Annie que se afastou da crença em um Deus bom, deixando o cristianismo de lado, embora não tenha rompido formalmente com sua igreja local: continuou a ajudar financeiramente suas ações sociais e missionárias. Aos domingos, no entanto, preferia sair para caminhar, enquanto a família ia aos cultos. É interessante notar que quando escreveu A Origem das Espécies ainda era teísta: acreditava na existência de Deus como causa primeira.
Foi no final da vida que Darwin passou a questionar a religião como avalista da ciência. Disse que a ciência não pertence a Cristo e que o hábito da investigação científica faz um homem sábio quando busca e admite o óbvio. Disse não crer que houvesse sempre revelação, embora sobre a futura vida, caberia a cada um julgar por si próprio entre probabilidades vagas e contraditórias. Nunca afirmou ser ateu, preferia ser visto como agnóstico.
Caso convidássemos Darwin para uma conversa tranquila, e se isso fosse viável hoje, muito possivelmente nos contasse que não tinha ouvido para música a ponto de questionar como poderia tirar algum prazer dessa arte. Ou dizer como, em um período em que colecionava besouros, tendo encontrado dois deles segurou um em cada mão. Mas eis que um terceiro aparece! Então, sem pensar, coloca um deles na boca para liberar uma das mãos. O inseto libera um líquido que queima sua língua e como resultado dois besouros se perdem.
História simples, quase sem importância, uma bobagem, mas serve para situar o homem. Alguém que não teve vergonha de incluir estes detalhes em suas memórias.
Às vezes, um de meus estudantes, querendo se fazer apologista, diz em sala de aula: “Não concordo que viemos dos macacos!” Bem, quem quiser atacar a teoria de Darwin, que ataque, não ficarei no caminho. Mas descartar ou abominar o que não se conhece é base segura para o fundamentalismo, para o preconceito, para a violência. Ainda hoje, mesmo na Europa e nos Estados Unidos, a teoria da evolução só é bem aceita em meios científicos. Mas muito possivelmente as reservas por parte da população possam ser explicadas pelos equívocos e folclores atribuídos a Darwin, como a afirmação prematura de meu aluno em sala de aula. De todas as maneiras, sabemos como é difícil para a fé simples aceitar que o ser humano visto enquanto elemento de um ecossistema não é autônomo e independente em relação às outras espécies.
Mas voltemos aos equívocos e folclores. Um exemplo de equívoco é o chamado “darwinismo social", que afirma existir raças superiores e raças inferiores. O que foi amplamente utilizado pelo nazismo. Darwin não defendeu tais idéias. Ao contrário, quando deixou o Brasil disse que não voltaria mais a um país escravagista. Já folclore é a ideia linear da evolução, presente naqueles desenhos de um macaco de quatro, outro semi-ereto na frente e, por último, o homo sapiens. De acordo com Darwin, o homo sapiens não veio do macaco, mas de um ancestral comum tanto ao homo sapiens como aos macacos. E, mais ainda, não há uma espécie menos evoluída e outra mais evoluída: todas emergem como ramificações da vida que se espraia.
Assim, Darwin nos apresenta a probabilidade de termos um antepassado comum com os macacos, que não era homem e não era macaco, ao menos não como os conhecemos hoje. Este antepassado, por sua vez, provavelmente tinha antepassados comuns com vários mamíferos de seu tempo e assim por diante.
Mas alguém que vê sua fé ameaçada pela teoria da evolução poderia dizer: “Mas dá na mesma, a alternativa é ainda mais primitiva!”. É verdade. Por isso, eu diria ao estudante de religião: tão primitiva quanto os vários estágios do processo da produção de um vaso. Neste caso partimos de terra, moldamos até obter a forma desejada, deixamos secar, levamos ao forno, e por aí vai. É algo que não sei fazer, mas admiro os que sabem. É uma arte. Se eu disser que acredito que exista a etapa da modelagem da argila ninguém me acusaria de não acreditar que o oleiro fez o vaso. Se eu for em frente com a metáfora do vaso posso dizer que ambos são fruto de um processo de criação. É certo que Darwin não disse isso, nem pensava assim. Estou apenas construindo pontes.
No livro dos princípios, o de Gênesis, os períodos de tempo nomeados normalmente são traduzidos como dias, mas podem ser qualquer unidade de tempo,yom ou eras como aparece no hebraico. Quanto tempo é uma era? Pode ser muito tempo. Talvez tempo bastante para o surgimento dos primeiros pedacinhos unicelulares de vida através de variações genéticas e seleção natural, equivalentes ao processo de modelagem dos animais, do vaso-humano, da vida neste planeta. Esta opinião pode ser questionada, como tudo sob o sol. É perfeitamente possível questionar Darwin. Ele mesmo questionava suas descobertas o tempo todo. Mas, podemos crer no oleiro, na existência do vaso e em sua modelagem.
O evolucionismo cristão
A origem das espécies de Darwin levou a teologia a repensar o surgimento do universo e do ser humano. E quem fez essa caminhada inusitada e criativa foi o jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, precursor do evolucionismo cristão: cientista e teólogo proibido pela igreja. Só depois da morte, em 1955, aos poucos suas pesquisas e produção saíram do ostracismo. Hoje é leitura obrigatória quando em teologia se discute cristianismo e evolução.
Assim, as discussões sobre a origem da vida continuam a gerar polêmicas, principalmente porque leitores tomam o relato de Gênesis, em seus três primeiros capítulos, como literalidade absoluta. Por isso, as idéias de Darwin causam tanto desconforto hoje como quanto em 1858, quando apresentou a teoria da evolução à comunidade científica.
Quase setenta anos depois daquele desconforto, em 1926, Teilhard de Chardin, com 45 anos de idade, vivendo e trabalhando como paleontólogo em Tientsin, na China, escreveu à sua prima Margueritte Chambom. Disse que estava decidido a relatar o mais simplesmente possível a experiência ascética e mística que vivia e ensinava. Mas não pretendo abandonar o rigor do cristianismo. Queria, antes que nada, ir adiante.
Na época de Darwin, outra leitura sobre a origem da vida, defendida pelo pastor William Paley, ganhara força: dizia que a adaptação dos organismos vivos era fruto de um projeto inicial, de um desenho inteligente. Mas, como vimos, Darwin rompeu com as idéias de Paley e partiu uma hipótese radical: os seres vivos se desenvolveram a partir de mudanças aleatórias e as particularidades do humano se deram por razões adaptativas.
Para Chardin, ir adiante era uma postura de paleontólogo. Mas ele não era só um paleontólogo, era teólogo e místico. Assim, ir à frente significava que arriscaria tornar-se o Darwin da teologia. E em Tientsin, onde a Companhia de Jesus acabara de abrir um instituto de estudos superiores e para onde foi mandado numa espécie de exílio, pois lá suas idéias não repercutiriam, mergulhou em pesquisas de campo e produção teórica.
É interessante ver que as oposições que Darwin e Chardin enfrentaram foram semelhantes.
A Companhia de Jesus sem desejar colocou Chardin no lugar certo, pois em Tientsin estavam sendo realizadas escavações e expedições paleontológicas. De 1923 a 1946, ele permaneceu lá. E não se afastou de suas pesquisas. Aprofundou-se na ciência, a procura de um novo pensar teológico. E foi assim que surgiu sua principal obra: O fenômeno humano (1955), onde apresentou os conceitos que passaram a balizar o evolucionismo cristão. Mas escreveu também outros trabalhos importantes: O coração da matéria (1950), O surgimento do homem (1956), O lugar do homem na natureza (1956), O meio divino (1957), O futuro do homem (1959), A energia humana (1962), Ciência e Cristo (1965).
Chardin formatou novas leituras da evolução, da estrutura orgânica do universo e da tendência do ser a alcançar um estado cada vez mais orgânico, de unificação. O fim da existência passou a ser visto como a convergência das consciências individuais na consciência do centro ômega, momento de completude do processo evolutivo.
"Uma só liberdade, tomada isoladamente, é fraca, incerta e pode facilmente errar nos seus tateios. Uma totalidade de liberdades, agindo livremente, acaba sempre por encontrar o seu caminho. E eis por que, incidentemente, sem minimizar o jogo ambíguo da nossa escolha em face do Mundo, eu pude sustentar implicitamente, no decurso desta conferência, que nós avançávamos, livre e inelutavelmente, para a Concentração através da Planetização. Na evolução cósmica, poder-se-ia dizer, o determinismo aparece nas duas pontas, mas, aqui e lá, sob duas formas antitéticas: em baixo, uma queda no mais provável por defeito, - em cima, uma subida para o improvável por triunfo de liberdade".
O universo, para Chardin, está impregnado de pensamento, o que se torna patente com a evolução, através da crescente complexidade estrutural que a matéria alcança. Chardin intuiu laivos de consciência nos graus ínfimos da existência, no plano físico do universo. A evolução levou esta consciência a revelar-se mais avançada no ser humano. Ora, a organicidade do todo implica uma lógica, seria absurdo determo-nos neste ponto do caminho sem continuá-lo.
Assim, para Chardin, o fenômeno humano não completou a sua trajetória e não alcançou a necessária conclusão, mas tal movimento está implícito na lógica do desenvolvimento do próprio fenômeno. Então o Cristo, para este cientista e teólogo, pode ser proposto à ciência como biótipo do fenômeno humano, como modelo que o humano poderá atingir com a evolução, e o Evangelho como a lei social da unidade coletiva representada pela humanidade do futuro. Esse é o processo da evolução, numa correlação das compreensões da ciência e da espiritualidade cristã. E o humano faz parte deste processo.
Chardin constrói, assim, uma teologia da evolução, onde a santificação se dá por meio da presença universal do pensamento imanente da divindade. É a sagração da evolução. Chardin caminhou no terreno do cristianismo, mas fez uma nova leitura da origem da existência, onde a estrutura mais íntima do ser é de natureza psíquica, para concluir que a vida é pensamento coberto de morfologia e a espiritualidade é o ápice da evolução.
Ou como disse numa oração:
"Rico da seiva do Mundo, subo para o Espírito que me sorri para além de toda conquista, revestido do esplendor concreto do Universo. E, perdido no mistério da Carne divina, eu já não saberia dizer qual é a mais radiosa destas duas bem-aventuranças: ter encontrado o Verbo para dominar a Matéria, ou possuir a Matéria para atingir e receber a luz de Deus".
A partir de Darwin e de sua presença na teologia, através de Chardin, podemos dizer que pensar a existência humana é tarefa aberta e permanente para a ciência e a teologia. Mais do que perder-se em formulações dogmáticas, quer na ciência ou na teologia, o desafio humano é a busca para compreender como (ciência) e por que (teologia) estamos conectados à existência e ao Universo.

Referências
Charles Darwin
Autobiography of Charles Darwin, editor Francis Darwin, 1887.
Life and Letters of Charles Darwin, (ed. Francis Darwin). vols. I e II, 1887:
More Letters of Charles Darwin, editores Francis Darwin e A.C. Seward, vols. I e II, 1903.
Sobre o autor
Teilhard de Chardin
Oeuvres, 13 volumes, Paris, Seuil, 1955-1976.
O fenômeno humano, São Paulo, Herder, 1965.
L’ambiente divino, Milão, Il Saggiatore, 1968.
Le Coeur de la Matiére, Paris, Seuil, 1976.

Sobre o autor
Borne, É., De Pascal à Teilhard de Chardin, Clermont-Ferrand, Ed. G. de Bussac, 1963.
Gibellini, R., Teilhard de Chardin: l’ópera e le interpretazioni, Brescia, Queriniana, 1981.
Schellenbaum, P., Le Christ dans l’energétique teilhardienne, Paris, Cerf, 1971.
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A Mensagem dos Cristais de Neve

A mensagem dos cristais de neve
Wilson Bentley foi um fazendeiro e meteorologista estadunidense de Vermont, pioneiro da microfotografia dos cristais de neve. Em 1931 ele publicou um livro intitulado Snow Crystals (Cristais de Neve). Sua obra, com inúmeras micro fotos em preto e branco, ilustrando as diferentes formas desses cristais, é referência ainda hoje.

 Depois de fotografar milhares de cristais de neve, Bentley observou que:

• Não há dois cristais iguais
• Todos são de um padrão formoso
• Todos são hexagonais

Os cristais de neve, como tudo o mais, são controlados por Deus. O justo Jó exaltou a Deus, dizendo:
“Com sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes coisas que não compreendemos. Porque ele diz à neve: Cai sobre a terra…” (Jó 37.5-6).
E o salmista:
“Ele envia as suas ordens à terra… dá a neve como lã e espalha a geada como cinza” (Sl 14715-16. Ver 148.7-8).
Tente imaginar quantos bilhões, trilhões ou quatrilhões de cristais de neve caem sobre uma pequena extensão de terra durante uma curta tempestade, sendo que cada cristal tem um formato específico e sua própria beleza, sem duplicata… Impressionado, A.J. Pace, famoso desenhista cristão evangélico, contemporâneo de Bentley, perguntou-lhe como ele explicava essa infinita variedade e beleza dos cristais de neve. Bentley, encolhendo os ombros, respondeu: “Somente o Artista que os desenhou pode explicar!”
O citado A.J. Pace observou que os cristais de neve, de algum modo, envolvem o número 3. Formam-se nas nuvens quando a temperatura destas cai abaixo de zero graus; são água gelada. E a água, como sabemos, é composta de três moléculas, 2 de hidrogênio e 1 de oxigênio (H2O). O mais curioso é que a palavra hebraica para neve, 

(sheleg), tem três letras e, na numerologia hebraica, equivale ao numero 333. Não precisa ser poeta para pensar nos belíssimos cristais de neve como rubricas das três Pessoas da Santíssima Trindade em sua Criação!

Pasmamos diante desta criação, os minúsculos cristais de neve… e todas as outras maravilhas que observamos na natureza. Todavia, nada se compara ao homem criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27). Com reconhecimento e gratidão, o salmista orou:
“Tu me moldaste por dentro e por fora; tu me formaste no útero da minha mãe. Obrigado, grande Deus – é de ficar sem fôlego! Corpo e alma, sou maravilhosamente formado! Eu te louvo e te adoro – que criação!” (Sl 139.13-15, Bíblia A Mensagem, E. Peterson).
Não há muitas referências à neve na Bíblia, certamente porque a Palestina é uma terra muito quente. Todavia, a brancura da neve é usada em algumas passagens como ilustração de purificação do pecado e de pureza moral (Sl 51.7; Is. 1.18). Na visão apocalíptica de Daniel, o “Ancião de dias”, Deus no seu trono de julgamento, aparece usando uma “veste branca como a neve” (Dn 7.9). Quando Jesus transfigurou-se diante dos seus discípulos mais chegados, “suas vestes tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum lavandeiro da terra as poderia alvejar” (Mc 9.3). A King James Version (KJV, famosa versão inglesa) traduz “exceeding white as snow”(sobremodo brancas, como a neve). O anjo do Senhor que desceu do céu e removeu a pedra que fechava o sepulcro de Jesus, também usava uma veste “alva como a neve” (Mt 28.3; Mc 16.5).
Como pode alguém duvidar da existência e da obra criadora e redentora de Deus? Se ele aplicou e aplica poder, sabedoria e tamanha criatividade a essas gotículas de água gelada, os cristais de neve, e se ele nos criou “de modo assombrosamente maravilhoso”, ele é capaz de tudo, inclusive e principalmente de redimir, purificar e santificar nosso caráter, tornando-nos, moral e espiritualmente falando, “brancos como a neve”. Entretanto, como os cristais de neve, somos todos diferentes uns dos outros e… lindos. O apóstolo Paulo garantiu aos cristãos de Filipos:
“Aquele que começou a boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
Naquele dia, pela graça de Deus, estaremos, com milhões de outros, diante do trono de Deus e do Cordeiro, Jesus, vestidos de vestiduras brancas, lavadas e alvejadas no sangue do Cordeiro (Ap 7.9-14; I Jo 1.7-9). Amém!
Eber Lenz Cesar
Recife, 1979. Reescrito em 08/11/2012, no Rio de Janeiro.

Anos atrás, quando ministrei esta palavra na Igreja Presbiteriana das Graças, em Recife, uma querida irmã e ovelha, Juraci Fialho Viana, escritora, hoje com 103 anos, escreveu para o boletim dominical da igreja o poema a seguir:

Mistérios da Criação

A uma ordem do Senhor, os cristais de neve, microscópicos, caem sobre a terra.
Aos milhões, aos bilhões, aos trilhões… numa avalanche macia, branca…
Cada cristal de neve tem sua própria forma, estranhas figuras geométricas,
Traçadas sob o compasso, a régua, o esquadro, os cálculos da matemática divina.
Às vezes, eles são círculos, ângulos, traços retos, sinuosos, paralelos,
Outras, são estrelados, florados, ponteagudos ou bordados com fios de ouro e prata, de enredada filigrana,
Desenhados todos na base do hexágono.
Pintados com tinta celeste, eles têm manchas jamais vistas, de todas as cores do universo.
Invisíveis a olho nu os microscópicos cristais de neve são um segredo, um mistério de Deus no seio da branca neve.
Ó criatividade divina!
No entanto, Senhor, o que me extasia mais do que o teu poder criador é pensar que tu és Deus,
Imenso, poderoso, tremendo e majestoso, o artífice dos cristais de neve.
És o Deus a quem chamo “Pai”, com quem converso, que me escuta,
Que para mim inclina os ouvidos no meio do seu trabalho universal.
Então, Senhor, pasmada, eu concluo: a despeito de minhas fraquezas e notória imperfeição
- Ó graça inaudita! – Sou para ti mais… muito mais
Do que os incrivelmente microscópicos, formidáveis cristais de neve!