Muito antes que se levantasse Martinho Lutero em 1517, durante séculos outros homens o precederam no mesmo clamor e sentimento. Homens como Tanquelmo em 1115, ou ainda Pedro de Bruys em 1117 e Arnaldo de Bréscia em 1119.
Cristãos piedosos como Pierre Valdo em 1179, João Wycliff em 1377 e tremendamente corajosos como João Huss em 1400, Jerônimo de Praga em 1410 e Savonarola em 1495. Todos eles historicamente já "protestavam" por um apelo imediato a um retorno às doutrinas centrais da fé cristã expressadas no Novo Testamento. Clamavam por uma reforma, algo que os levou a serem cruelmente assassinados por simples e audaciosamente confrontarem os abusos da hierarquia de Roma e seu declínio moral.
Estes nobres homens perceberam que as tentativas iniciadas em Cluny (século X) e culminadas por Hildebrando (Gregório VII no século XI) só fizeram por piorar a situação, pois ao fortalecer a hierarquia frente às autoridades seculares só tornaram o clero mais corrupto e imoral mesmo com as investidas do Sacro Império Romano Germânico que rivalizava com a hierarquia acerca da soberania em toda a Europa. Inocêncio III, Bonifácio VIII e Alexandre VI entre os séculos XII e início do XVI, aumentaram ainda mais as tensões na cristandade, inda mais após o Grande Cisma com as Igrejas do Oriente e as diversas disputas com os monarcas do Ocidente.
A igreja se distanciava cada vez mais de seu chamado, de seu propósito de ser sal e luz, e estava longe de dar gosto e ser exemplo em um mundo decaído. Toda sorte de religiosos paganistas, imorais, satanistas e oportunistas se travestiam de cristãos e assim eram aceitos no seio da igreja com apenas sendo lhes exigido uma devota submissão a autoridade do clero, sem contudo uma genuína conversão. Isso fez com que a corrupção atingisse todos os escalões da hierarquia eclesiástica na cristandade - prostituição, suborno, corrupção, sodomia, avareza, assassinatos, cobranças de indulgências, etc. A conjuntura dos fatos mostravam o quanto a igreja ocidental sob a jurisdição romana estava em trevas.
E então, há 503 anos, um clamor foi iniciado e alcançou os quatro cantos da Europa e se espalhou por toda parte. Um protesto em favor do retorno as origens. Uma reivindicação de que o verdadeiro cristianismo não deveria mais se submeter a vontade dos homens, sejam eles quais forem, e sim as Escrituras Sagradas. Uma lembrança de que o homem alcança sua salvação apenas e unicamente pela Graça Divina, por meio de Cristo todo suficiente, e que isso por si só nos justifica pela fé para a glória de Deus Pai.
E neste dia 31 de Outubro, escolhido simbolicamente como marco deste clamor, comemoramos a Reforma Protestante. Este REFORMAR nada mais é do que voltar ao evangelho, deixar práticas erradas e aderir os propósitos de Deus, reconstituindo a antiga forma, aquela primitiva e essencial forma já estabelecida. E nisto se resume a proposta da Reforma Protestante:
SOLA SCRIPTURA (SOMENTE A ESCRITURA): Reafirmar a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. Reconhecer que a Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e que é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. É negar que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, e repudiar a ideia de que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.
SOLO CHRISTUS (SOMENTE CRISTO): Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.
SOLA GRATIA (SOMENTE A GRAÇA): Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.
SOLA FIDE (SOMENTE A FÉ): Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus. Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.
SOLI DEO GLORIA (SOMENTE A GLÓRIA DE DEUS): Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente. Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a autoestima e a auto realização se tornem opções alternativas ao evangelho. (Resistência Apologética).
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