“Oh! Se fendesses os céus e descesses"!
(Is 64.1).
Com
a vitória dos persas sobre os babilônicos em 539 a.C., mudam as condições de
vida tanto dos israelitas exilados como dos remanescentes. Aos exilados é
permitido regressar à sua pátria. Começa a reconstrução do templo e da cidade
de Jerusalém.
O
salmista implora por uma epifania, pelo advento do Deus Eterno. Com a vinda do
Senhor, as dores reinantes serão superadas e a dor e o lamento deixarão de
existir. O “rasgar os céus” é uma imagem única no Antigo Testamento. Ela
representa o ato de Deus atravessar as nuvens para descer. É provável que
esteja inspirada na tradição do Sinai coberto de nuvens (Êx 19.9; 18.20;
24.15b-18a).
Uma
nova súplica pela intervenção de Deus. Essa intervenção é imaginada como uma
teofania, ou seja, uma manifestação de Deus ligada a fenômenos extraordinários
e temíveis da natureza. Rasgar os céus, fazer estremecer os montes, fogo,
“coisas terríveis”. Se Deus tivesse se mostrado na história recente como
naquelas terríveis teofanias, fazendo coisas maravilhosas, nem sequer esperadas
nem sabidas de antemão, teria sido diferente a situação nesse momento.
Por
causa de suas iniquidades, o ser humano é levado a “murchar como uma folha”. A
folha murcha, mais tarde transformada em poeira, é varrida embora pelo vento.
Se o Deus Eterno não está presente, não resta mais nada senão agarrar-se às
próprias iniquidades, e isso é o mesmo que andar cambaleando, como na
escuridão. Que o Deus Eterno ajude seu povo, que tinha caído sob severa condenação
por causa do pecado. Faz seu apelo final, relembrando a relação de Deus como
Pai com seu povo. O Deus Eterno é o Pai de Israel. Israel é o barro especial
que a mão divina estava moldando para tornar-se um vaso especial. Mas parecia
que o Senhor havia rejeitado o vaso por causa de suas falhas. E o profeta
convidou o oleiro a terminar o trabalho que tinha planejado, não permitindo que
seu esforço passado se reduzisse a nada.
O
apelo final em que o profeta Isaías inclui, mais uma vez, a ideia de que Israel
é o povo de Deus. É como se o profeta dissesse ao Deus Eterno: “Ainda é
possível que intervenhas em nossa angústia presente”. Diante do desespero, é
possível a esperança.
O
povo de Deus sabe que, no passado, o Deus Eterno revelou-se como um Deus que
age em favor dos seus.
O
que o povo no Antigo Testamento, voltando do exílio, experimentava era uma
situação no mínimo calamitosa: cidade invadida e destruída por seus inimigos,
templo, lugar e espaço sagrado também destruídos. Além disso, a ocupação e a
opressão de estrangeiros geravam dificuldades econômicas, habitacionais. Sem
falar no sentimento de abandono. O povo sentia-se esquecido e abandonado por
seu Deus, vivia como se fossem órfãos espirituais. A tudo isso se somava a
constatação da própria culpa, o reconhecimento de que estavam afastados do
caminho de Deus.
Poderíamos
assim dizer que o nosso sofrimento se divide em duas dimensões: material e
espiritual. No que se refere ao material, também experimentamos situações
semelhantes às que viveu o povo que voltava do exílio. Quantas catástrofes nos
últimos tempos! Quantas situações de perda material! Algumas situações
acompanhadas de mais longe, outras vividas na própria pele.
Em
nossa volta manifestam-se os traços evidentes da calamidade física e material
em termos de habitação, educação, desemprego, baixo poder aquisitivo, hospitais
sucateados, precariedade no atendimento médico e hospitalar, crescimento da
violência, ameaça da volta da inflação, impostos altíssimos que não nos deixam
respirar.
Já
na esfera espiritual, ainda há uma identificação maior. Na comunidade em que vivemos,
certamente não é difícil encontrar situações idênticas, até nos mínimos
detalhes, com a situação vivida pelo povo que voltava arrasado e precisava
recomeçar.
Cada
um saberá melhor do que ninguém quais os problemas, as angústias e as
manifestações de abandono em que se encontra sua comunidade.
O
povo sabe da ação de Deus no passado e por isso atreve-se a suplicar pela
intervenção de Deus e até a manifestar sua confiança na ação poderosa do Deus
Eterno. Em que baseamos nós, nossa súplica e confiança? Certamente é em Jesus
Cristo.
No
tempo presente, o povo encontra-se numa situação calamitosa e sente-se
abandonado por Deus. Apesar disso e baseado no que sabe do passado, suplica a
intervenção de Deus e deposita toda a sua esperança na intervenção do Deus
Salvador.
No
tempo do profeta Isaías, o povo reunia-se para suplicar pela intervenção de
Deus. Será que tal súplica seria possível hoje numa comunidade cristã, em vista
da calamidade material e espiritual vivida por nós?
Interceder
e pedir a intervenção de Deus para transformar a situação catastrófica de nosso
mundo, é preparar a vinda de Cristo entre os seres humanos.
Ser
o barro nas mãos do oleiro, deixar-se transformar, deixar-se moldar num
recipiente do amor de Deus. Quem sabe essa é a maneira mais adequada de
celebrar, demonstrando num gesto frágil e imperfeito o barro que somos como
sinal da vinda última e definitiva do Deus Salvador. Uma imagem muito
simpática, e talvez até já meio batida, é a do oleiro, do vaso de barro, dos
cacos desse vaso que se recompõe, formando um novo recipiente.
Além
dessa imagem do oleiro e do vaso, existem ações concretas que “ilustram” a vida
das pessoas. Organizar
a arrecadação de alimentos, roupas e brinquedos torna-se muito significativo.
Deus está conosco. Não somos mais solitários, mas solidários. Emudece a
argumentação da razão, fala a narração do coração.
Narra-se
a história de um Deus que se fez criança, que não pergunta, mas faz. Que não responde,
mas vive uma resposta. O menino que nasceu em Belém nos revela: Tudo possui um
sentido concreto. É tão profundo que Deus mesmo quis assumi-lo. A
estreiteza de nosso mundo, no qual Deus entrou, tem uma saída abençoada e um
desfecho feliz.
Hoje, há um exército de cristãos frios, apáticos, sem
entusiasmo, sem calor. Empolgam-se com futebol, com política, com cinema, com
negócios, com dinheiro, mas não com Jesus. São cristãos, mas mentem. São cristãos,
mas são impuros. São cristãos, mas são desonestos. São cristãos, mas são amigos
do mundo. São cristãos, mas não batizados com fogo. Avivamento não é
emocionalismo. Não é fuga. Não é novidade. Não é desvio. Avivamento é volta
para Deus. É arrependimento. É santidade. É oração fervorosa. É amor à Palavra.
É evangelização regada por lágrimas. É fogo do céu. Quando o fogo de Deus cai
sobre o altar, os pecadores caem de joelhos. Quando a igreja perde o fogo de
Deus, os pecadores perecem no fogo do inferno.
O profeta Isaías, num profundo clamor pela intervenção
sobrenatural de Deus na vida do seu povo, clamou: “Oh! Se fendesses os céus
e descesses...” Isaías está sedento pela presença manifesta de Deus. Estava
plenamente consciente de que nenhum poder da terra e nenhum recurso dos homens
poderia trazer alento para o seu povo a não ser a presença de Deus. Essa é
também a necessidade da igreja hoje. Somente a presença de Deus pode encher-nos
de entusiasmo espiritual. Precisamos desesperadamente de uma visitação
extraordinária de Deus em nossa vida, em nossa família, em nossa igreja. O
avivamento acontece quando a igreja anseia por Deus como um sedento clama por
água e como a terra seca anseia pelas chuvas torrenciais. O avivamento é uma
vindicação pela glória de Deus. Quando Deus fende os céus e desce para inflamar
a igreja, a glória de Deus se manifesta entre as nações e os inimigos de Deus
temem o seu glorioso nome. Quando a igreja perde seu vigor espiritual, quando
seus cultos se tornam apáticos e cheios de formalidade; quando as brasas vivas
se cobrem de cinzas e os crentes se tornam indiferentes, abandonando o seu
primeiro amor, o mundo se insurge contra Deus para zombar de seu santo nome. Ah!
É tempo de clamar pela visitação extraordinária de Deus, para que ele fenda os
céus e desça a fim de que os inimigos de Deus temam o seu santo nome. O
avivamento acontece na igreja, mas transborda para o mundo. Quando Deus inflama
o seu povo, o mundo reconhece que o nosso Deus é o único Senhor e teme o seu
nome.
Isaías orou para que Deus viesse para destruir a criação! Ele
queria que o Senhor viesse e se manifestasse para as nações. Observe com
atenção: ele queria que Deus viesse como Ele veio no passado:"Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos,
descias, e os montes tremiam à tua presença"
Notoriamente, Deus nunca saiu do céu literalmente,
visivelmente, e de forma corpórea! Ele nunca tinha descido e destruído a criação
antes! No entanto, o profeta disse que ele tinha feito! Esta é, inegavelmente,
linguagem metafórica e hiperbólica para descrever a intervenção de Deus na
história. Assim, o A.T. define e descreve a Segunda Vinda como um dia como os dias
do Senhor no passado.
Desde a ressurreição e ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo,
o céu está permanentemente aberto.
O que Jesus consumou através de Sua morte e ressurreição é
algo único e singular, que não existia antes em lugar algum e que deveríamos
aproveitar muito mais pela fé.
Antes que Jesus viesse ao mundo e antes de Sua ascensão, o
céu se abria apenas em certas ocasiões (revelações) e depois se fechava
novamente.
A culpa do céu cerrado foi a queda em pecado, e desde então,
com poucas exceções, se manteve assim até Jesus realizar a obra de salvação por
todos nós. O pecado se interpunha entre os homens e Deus e impedia seu acesso a
Ele. Apenas aqui e ali Deus abria o céu para transmitir alguma mensagem
específica.
Vejamos um exemplo bíblico do que estou dizendo: “Aconteceu
no trigésimo ano, no quinto dia do quarto mês, que, estando eu no meio dos
exilados, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus”
(Ez 1.1).
Obviamente os céus se abriram porque estavam fechados. Nessa
abertura, o profeta teve visões de Deus. Uma se destaca de forma especial.
Ezequiel viu o Messias, que é Deus (veja Fp 2.6ss.):
“Por cima do firmamento
que estava sobre a sua cabeça, havia algo semelhante a um trono, como uma
safira; sobre esta espécie de trono, estava sentada uma figura semelhante a um
homem. Vi-a como metal brilhante, como fogo ao redor dela, desde os seus lombos
e daí para cima; e desde os seus lombos e daí para baixo, vi-a como fogo e um
resplendor ao redor dela. Como o aspecto do arco que aparece na nuvem em dia de
chuva, assim era o resplendor em redor. Esta era a aparência da glória do
Senhor; vendo isso, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de quem falava”
(Ez 1.26-28).
Quando comparamos todo esse relato com as descrições
encontradas no Apocalipse, vemos uma forte harmonia e uma semelhança
impressionante (Ap 1.12-17; Ap 4.2,8).
Deus apareceu a Ezequiel em forma humana, o que certamente
aponta para o Messias ainda antes de Sua vinda ao mundo. Mas como naquela
ocasião Ele ainda não tinha chegado a esta terra, o céu necessariamente voltou
a se fechar quando a visão cessou, vindo a se abrir de forma definitiva apenas
quando o Messias entrou em cena.
Com a vinda do Messias apareceu no mundo, Aquele que Ezequiel
vira séculos antes no céu que se abrira.
Quando o Senhor Jesus começou Seu ministério e foi batizado
no rio Jordão, aconteceu o seguinte: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e
eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba,
vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo” (Mt 3.16-17). Após a queda em pecado, o céu nunca
tinha se escancarado dessa forma para qualquer ser humano. Com Ezequiel a
abertura do céu aconteceu para que ele recebesse revelações. Mas com o Filho de
Deus isso ocorreu para confirmá-lo em Seu ministério.
Da próxima vez que você for orar ou exercer algum ministério
para o Senhor, por favor, lembre-se de que o céu não precisa ser aberto antes,
mas que ele está sempre aberto sobre você.
Na Sua primeira vinda, Jesus já anunciava o tempo em que o
céu estaria aberto para sempre: “Em verdade, em verdade vos digo que vereis
o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”
(Jo 1.51). Jesus é a escada para o céu; por Ele chegamos ao céu e por Ele o céu
vem até nós.
É curioso observar uma coisa que certamente tem seu
significado: tanto a passagem de Ezequiel como a de João falam primeiro em
descer e depois em subir. Por Jesus ter subido dos mortos primeiro, agora as
bênçãos celestiais descem até nós.
Na Sua ascensão, Jesus adentrou os céus e mantém a porta
aberta para sempre (ver Hb 4.14). O acesso ao Pai está livre. Aquilo que fora
destruído pelo primeiro Adão foi restaurado por Jesus. A partir da subida de
Jesus até o Pai não vemos mais a Bíblia dizendo que “os céus se abriram”, como
foi dito a Ezequiel ou por ocasião do batismo de Jesus no Jordão.
A partir desse momento vemos o céu aberto sempre, constante e
continuamente, já que não voltou a se fechar depois que Jesus entrou por ele.
Uma grandiosa indicação de que agora o céu está
permanentemente aberto e que temos acesso direto ao Pai é o dom do Espírito
Santo, enviado a nós a partir do céu. Ele é o vínculo perene entre nós e o céu
aberto. “...pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho,
coisas essas que os anjos anelam perscrutar” (1 Pe 1.12).
Por essa razão Estêvão, cheio do Espírito Santo, podia dizer:
“Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus”
(At 7.56). Agora não lemos mais que “o céu se abriu” e sim “vejo os céus
abertos”, porque não voltou a ser fechado depois que Jesus o abriu. Essa mesma
realidade pode ser vista em outras situações semelhantes relatadas no Novo
Testamento, como no caso de Pedro, de quem está escrito:
“Então, vi o céu
aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado
à terra pelas quatro pontas” (At 10.11). João testemunha no Apocalipse: “Depois
destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a
primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para
aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas” (Ap 4.1; Ap
19.11).
Da próxima vez que você for orar ou exercer algum ministério
para o Senhor, por favor, lembre-se de que o céu não precisa ser aberto antes,
mas que ele está sempre aberto sobre você. Assim como a pedra do sepulcro foi
removida e o túmulo não conseguiu reter Jesus, da mesma forma a porta do céu
está aberta para cada um de nós: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente,
junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para
socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16).
Compilado por Maurício de
Souza Lino
Principal fonte de
pesquisa: Douglas, J.D., O novo dicionário da bíblia, 2ª ed. 1995, Ed. Vida
Nova.
Fonte de pesquisa para algumas imagens: wikipedia.org e crystalinks.com
Fonte de pesquisa para algumas imagens: wikipedia.org e crystalinks.com
Este texto se encontra no
3º volume do livro:
O livro do profeta
Isaías vol.
1; vol.
2; vol.
3 / The book of prophet
Isaiah vol. 1; vol. 2; vol. 3
Norbert Lieth — Chamada.com.br.
Pão Diário
Louvado seja Deus! Os céus estão abertos!
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