A proposta de se preparar melhor para a celebração da maior festa do cristianismo, a PÁSCOA, é algo muito antigo, que antecede a qualquer divisão entre catolicismo e protestantismo. Isto já era comum entre as comunidades cristãs primitivas, que realizavam uma reunião no primeiro dia de cada semana (domingo – Dia do Senhor) para se celebrar a memória de Jesus Cristo (Santa Ceia). Devemos nos lembrar que o Culto Cristão nasceu em torno dessa “Páscoa Semanal”.
Por volta do século II, influenciados pelo judaísmo, os cristãos passaram a celebrar a Páscoa anualmente. No século III iniciou-se a tradição de se reviver a última semana de Jesus (Semana Santa), antes de se celebrar a Páscoa. Mas foi no século IV, que a igreja elaborou um período mais longo de preparação para esta festa (Páscoa). Inspirados no valor simbólico do número quarenta (40 anos no deserto, 40 dias de Moisés no Monte Sinai, 40 dias das andanças de Elias até a montanha de Deus, 40 dias que Jesus jejuou no deserto), a Igreja assumiu os quarenta dias que precedem a Semana Santa como um momento especial de preparação. Momento oportuno para reflexão, confissão e jejum.
Infelizmente, a partir do século XI, surgiram algumas festas nos dias que antecediam à quarta-feira de cinzas com o intuito de promover os prazeres da carne, já que passariam por um período longo de jejum e abstinências se preparando para páscoa. Daí, a palavra "carnaval", sendo que "carnis" do grego carne e "valles" prazeres.
É importante se destacar que não foi a quarta-feira de cinzas ou a quaresma que surgiram por causa do carnaval, mas sim o carnaval que surgiu como um desvio da proposta litúrgica do povo de Deus. Os quarenta dias de preparação (QUARESMA), ainda que sejam um tempo de introspecção, não devem ser transformados num período de contemplação alienante. Deve-se tomar cuidado também para, também, não transformar este momento numa experiência de arrependimento superficial, como fazem muitos que apenas não comem carne ou não cortam o cabelo. Este deve ser, sobretudo, um período radical de vivência com o Senhor.
À luz das palavras do profeta Miquéias, podemos melhor compreender o sentido do período Quaresmal. Miquéias fala ao povo em tom de restauração da aliança. Ele cobra atitudes práticas do povo e nega a possibilidade dessas atitudes serem apenas ritualísticas. O que Deus quer do Seu povo são atitudes de vida. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, se não que pratique a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus.” (Mq 6:8).
A Quaresma é o período, no calendário cristão, em que o Povo de Deus busca arrepender-se de suas faltas e pecados, porém não se esquecendo do que o Senhor nos ordena - que nossa espiritualidade ultrapasse a mera contemplação e desemboque em atitudes práticas para a promoção da vida. Vários outros profetas e escritores bíblicos, bem como, o próprio Senhor Jesus Cristo mostrou este caminho. “Porque vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino do Céus” (Mt 5:20).
Assim como nos preparamos para uma grande festa de aniversário ou casamento, somos convidados nestes 40 dias que antecedem a Semana Santa a nos prepararmos física, emocional e espiritualmente para celebrar a ressurreição de nosso Senhor. A Quaresma não é uma propriedade do catolicismo, mas sim de todos os cristãos que afinados à tradição dos primeiros séculos, superam todo o preconceito para orar, jejuar e se preparar para a PÁSCOA. Nossa Quaresma não é porque pecamos ao festejar o CARNAVAL (prazeres da carne), mas sim, porque reconhecemos nossas limitações e mazelas e queremos nos santificar em Cristo Jesus, aquele que ressurgiu dos mortos.
Fonte: http://paulodiasnogueira.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.