Atualmente tem se propagado com muita
intensidade a ideia de que tudo o que é bom é divino, e que tudo que é ruim é
diabólico. E que o cristão não pode admitir o mal em sua vida. Contudo, nem
sempre o mal na vida do cristão é algo demoníaco ou diabólico. A Bíblia é um imenso quebra-cabeças
que somente com o passar do tempo e com a familiaridade com Deus é que as peças
vão se encaixando em devidos lugares. O que ocorre muitas vezes, são peças que
se encaixam fora de seus lugares. Então algumas pessoas que não tem um
compromisso com Deus se utilizam dessas coincidências para seu próprio prazer
ou conveniência.
Existem muitas situações na Bíblia
onde fica claro que o que aconteceu não foi nada de divino ou diabólico. Entre
elas, o do homem que construiu a sua casa sobre a areia (Mateus 7:26-27). Jesus
disse que a tal casa ruiu diante da tempestade. E isto não foi resultado de
nenhuma intervenção divina ou diabólica. As três parábolas de Lucas 15 também
trazem uma situação semelhante: pessoas que não agiram com diligência,
prudência, zelo e sabedoria, e depois tiveram que arcar com as desastrosas,
humilhantes, agonizantes e muitas vezes desesperadoras conseqüências de seus
próprios atos.
A ovelha do pastor foi roubada? A
moeda foi escondida por alguém? O fome do jovem insensato foi uma maldição de
seu pai? Definitivamente, não! O que aconteceu não teve nada de divino, ou
diabólico, mas foram apenas conseqüências naturais de seus próprios atos.
Os motivos que os levaram a agir como
agiram fogem ao contexto da presente mensagem. O centro do que quero que você
entenda é que nem sempre as coisas más são de origem diabólica.
Uma pessoa que está sempre gritando,
xingando, expondo sua ira, insatisfação e frustração, extravasando através de
atos e palavras a infelicidade que a atormenta, que por isso mesmo não tem
amigos, e é apenas suportada pelas pessoas que com ela convivem, podem dizer
que é a maldição divina ou diabólica que as torna sozinhas?
Pessoas que não ensinaram e nem
exigiram que seus filhos fossem responsáveis, muito pelo contrário,
ensinaram-nas a serem egoístas, arrogantes e individualistas, podem dizer que é
maldição o fato de terem sido abandonadas pelos seus filhos na velhice?
Pessoas que gastam mais do que ganham
podem dizer que é maldição o fato de estarem sempre devendo, sempre com pessoas
batendo à sua porta para cobrar?
Pessoas que ficam a martelar a sua
própria casa durante anos fio, podem dizer que o fato da casa ruir foi uma
maldição ou perseguição?
Pessoas que não cuidam de seus
jardins, não adubam, não regam, não arrancam as ervas daninhas, podem dizer que
é maldição ter um matagal onde foi um dia um lindo jardim?
É fato que o presente é fruto do
passado e semente do porvir. O que acontece conosco é resultado do que fizemos
(ou fizeram conosco) e a nossa reação refletirá em nosso futuro. É algo
inexorável. Quem semeia ventos, colhe tempestades (Oséias 8:7).
Existem milhares de pessoas dentro de nossas
igrejas que não se preocupam com as conseqüências de seus atos. Acreditam que
não lhes sobrevirão tais conseqüências, ou que é dever de Deus livrá-los de
tais conseqüências, quando são eles os únicos responsáveis pelo que lhes
sucede.
No mais das vezes nem sequer acreditam
que o que fazem terá uma conseqüência e quando estas lhes sobrevem, preferem
jogar a própria responsabilidade sobre outras pessoas, fatos, lugares,
circunstâncias.
Leia o livro de Lamentações de
Jeremias. É o resultado da soberba, da arrogância, da falta de visão do povo.
Oh! É possível algum desavisado pense que isto é coisa do Antigo Testamento, e
que estamos hoje sob uma nova Aliança. Mas no Novo Testamento também
encontramos que colheremos o que semearmos (Gálatas 6:7-8)
O que você tem semeado? Amor, amizade,
consolo, edificação, piedade? Tem semeado discórdias, ira, frustração, raiva,
desapontamentos? Você tem ministrado a benção ou a
maldição em sua própria vida? Você tem ministrado a benção ou a maldição sobre
aqueles que convivem contigo? Acredita que semeando a maldição
colherá bênçãos? Espera que o sofrimento que porventura cause não terá nenhum
retorno, nenhuma conseqüência?
Quem semeia ventos, colhe tempestades.
A nossa felicidade depende da felicidade das pessoas que estão conosco.
Infelizmente nós temos vivido num
momento, numa cultura totalmente egocêntrica, individualista e egoísta. As
pessoas são treinadas, ensinadas, direcionadas a se preocuparem apenas e
tão-somente com a própria felicidade, com o próprio bem-estar, com a satisfação
dos próprios desejos, caprichos e futilidades. E neste objetivo arruinam,
matam, destroem, derrubam, desprezam vidas, sonhos e almas alheias. Estão a
semear ventos, e, conseqüência natural, colherão tempestades. Estas
conseqüências são naturais e não tem nada de diabólico ou divino. Não é nenhuma
provação, e nenhuma perseguição demoníaca. Por isso, se importe com o impacto que
tuas ações, tuas atitudes na vida, na alma, na existência de outras pessoas.
Não importam as motivações. Um
momento de raiva, uma boa intenção, algo que você ignore... Se os teu ato vier
a ferir, magoar, matar ou destruir, com certeza sobrevirão tempestades.
Tempestades que talvez, as outras pessoas não vejam, não percebam. Mas você
sentirá a dor, a angústia, o sofrimento como colheita de teus atos.
Importante
colocar que nem sempre a tempestade é colheita de nossos atos, podendo ser
conseqüência de atos de outras pessoas.
Num primeiro momento parece-nos
injusto que venhamos a arcar com conseqüências de atos de outras pessoas.
Milhares de pessoas morrem e padecem em guerras a que não deram inicio. Outras
tantas ficam mutiladas, doentes, marcadas para sempre por acidentes que não
contaram com sua participação. Simplesmente estavam no lugar errado, e no
momento errado.
É importante que você entenda uma
situação para o qual eu não tenho explicação: a erva má não precisa ser plantada,
e cresce em qualquer lugar. Muitas vezes não fazemos por merecer, mas colhemos
a erva má (dor, sofrimento, morte, destruição) que não plantamos.
O sofrimento como condição inerente à
condição humana já foi objeto de diversos outros estudos, e o presente é para
explanar o que acontece conosco quando fazemos ou deixamos de fazer algo que
devemos ou não fazer.
Talvez o fruto das boas sementes
(misericórdia, amor, carinho, consolo, direção, conforto, paz, etc) demorem a
aparecer. Talvez nem sequer os vejamos. Mas eles existirão. E ficaremos sabendo
de tudo quando estivermos na glória.
Quanto às más sementes que lançamos no
mundo (ira, frustração, ganância, arrogância, ciúmes, impiedades, contendas,
intrigas, discórdias) mesmo que não saibamos que estamos semeando-as, elas irão
germinar, crescer, frutificar, multiplicar, e colheremos seus frutos.
Não se trata de uma questão de
merecimento. Falando nisto, uma vez eu estava esperando minha mulher à porta da
faculdade, e ouvi uma conversa de duas mulheres que estavam passando. E dizia
uma delas: "a morte seria pouco para ele". O que pode esse homem ter
feito para que mereça sofrer tanto? Com certeza não agiu com fé, amor, carinho,
perdão, misericórdia e altruísmo.
A vida (muitas vezes retratada nos
filmes, romances e novelas), está cheia de situações em que as pessoas brincam
com fogo, e acabam se queimando. Na forma como a Bíblia diz: semeiam ventos, e
colhem tempestades.
É certo que muitas tempestades se abaterão
sobre nós, sobre cada um e todos nós ao longo de nossa existência. Esta é uma
realidade irresistível. A diferença entre umas e outras é quando nós as
semeamos ou não. As pessoas podem fugir de outras
pessoas, lugares, fatos, situações. Mas existem duas pessoas de quem nunca
conseguiremos fugir: de Deus e de nós mesmos.
Evite
as tempestades: não semeie ventos.
Takayoshi Katagiri
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