sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ficção Teológica: Viagem no Tempo!



O texto que se segue é um exercício daquilo que chamo de "Ficção Teológica". Não deve, portanto, ser tomado como doutrina. Apesar da coerência do que proponho aqui, não me atrevo a classificá-lo desta forma. 

“O que foi, isso é o que há de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há novo debaixo do sol”. Eclesiastes 1:9

A Bíblia é um livro cheio de histórias e personagens misteriosos. Entre eles, destacamos Melquisedeque e Elias. Ambos aparecem do nada, para depois desaparecerem súbita e misteriosamente.

De Melquisedeque se diz que era “rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este regressava da matança dos reis, e o abençoou”. Seu nome significa “rei de justiça” e “rei de paz”.

As Escrituras sempre relataram a genealogia de seus personagens, demonstrando com isso, que eram seres reais, que viveram em determinada época da História, e não seres míticos. Porém, Melquisedeque aparece do nada, “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias, nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus”. Como se não bastasse, lemos que ele “permanece sacerdote para sempre”. O escritor de Hebreus nos leva a considerar “quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo”. E aqui, “sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior”. E ele arremata, afirmando que Melquisedeque é “aquele de quem se testifica que vive” .

Ora, diante de todas essas evidências, que alternativa temos, senão admitir que Melquisedeque é ninguém menos que o próprio Cristo? Alguns teólogos afirmam que Melquisedeque seria uma espécie de Teofania, uma manifestação de Cristo pré-encarnado. Ora, se isso fosse verdade, Melquisedeque não surgiria como um ser humano, de carne e osso, e sim, como um espírito.

Creio que Melquisedeque era o próprio Jesus, em carne e osso, trazendo conSigo o DNA de Maria, Sua mãe terrena. Aquele corpo que segurava o pão e o vinho oferecidos a Abraão, era o mesmo que segurou o pão e o vinho na noite da Santa Ceia. Como isso seria possível se todavia Jesus não havia encarnado? Ora, Jesus não encarnou mais de uma vez. Foi na Plenitude dos tempos que Ele Se fez carne, e habitou entre nós. Apesar disso, afirmo que foi com Cristo que o patriarca Abraão se encontrou naquele dia. Isso é testificado pelo próprio Jesus, ao declarar: “Vosso pai Abraão exultou por ver o meu dia; viu-o e alegrou-se”.

Se Melquisedeque é Cristo, e este só Se fez carne uma vez, logo, como se explicaria a aparição de Melquisedeque/Cristo como uma pessoa de carne e osso muitos séculos antes da encarnação? Seria apenas uma ilusão de ótica? Ou, quem sabe, uma espécie de holograma?

Creio que não!

Não poderia o Filho de Deus ter viajado no tempo, voltando dois mil anos, até os dias de Abraão, para apresentar-Se ao patriarca? A menos que não creiamos que para Ele tudo seja possível, isso me parece factível.

Investiguemos o caso de Elias.

Esse profeta excêntrico surge repentinamente na História, em um momento de grande crise espiritual em Israel.

Ele é introduzido como “Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade”

Nada se sabe sobre o significado do termo “tisbita”. Alguns arriscam dizer que um tisbita era alguém natural de uma cidade que poderia se chamar Tisbe, ou coisa parecida. Mas o fato é que jamais encontraram tal cidade, nem mesmo qualquer referência a ela, nem na Bíblia, nem em qualquer outro documento antigo. Diz-se que Elias era dos moradores de Gileade. Embora exista um lugar com esse nome nas Escrituras, Gileade significa “região rochosa”. Ele era proveniente das montanhas. Tal dado só acrescenta mistério à figura do profeta. Ele era um homem das cavernas, das montanhas. Ele não tinha casa, família, trabalho, ou qualquer ligação com aquele mundo, com aquele tempo.

Suas atividades como profeta, duraram cerca de 7 anos, e terminaram abruptamente, quando foi tomado por um redemoinho, diante do olhar de várias testemunhas (ao todo, 51 pessoas, entre Eliseu e os filhos dos profetas).

Para onde foi Elias? Pro lugar e tempo de onde teria vindo! Mas antes de voltar para o “presente”, ele fez uma breve escala no “futuro”. O redemoinho que o levou, o aterrissou no monte, para uma breve conferência com Jesus e Moisés, no evento que ficou conhecido como "Transfiguração". Elias ziguezagueou no tempo, indo ao passado, depois ao futuro, e retornando ao presente para poder experimentar a morte como todo ser humano.

Opa! O que Moisés estava fazendo ali? Elias, tudo bem, afinal de contas, não havia experimentado a morte. Mas Moisés morreu, e acerca disso a Bíblia não deixa qualquer dúvida. Antes de prosseguir nossa investigação sobre Elias, vamos tentar entender a situação de Moisés.

Ora, mortos não aparecem. Isso apoiaria a doutrina espírita, que por sua vez, não encontra respaldo bíblico. Aliás, os espíritas se valem desta passagem para defender a doutrina do contato com os mortos.

Não há qualquer mal entendido. Moisés realmente morreu. Deus não poderia ter mentido, quando disse ao profeta: “Morrerás no monte a que vais subir, e serás recolhido ao teu povo”. E está registrado: “Assim Moisés, servo do Senhor morreu ali, na terra de Moabe, como disse o Senhor. Este o sepultou num vale, na terra de Moabe (...) mas ninguém sabe, até hoje, onde fica a sepultura”.

Se Moisés realmente morreu, a ponto do Arcanjo Miguel disputar seu corpo com Satanás, como se explica a sua aparição no Monte da Transfiguração, em conferência com Jesus e Elias?

Creio que uma resposta possível seja a viagem no tempo. Durante o tempo em que Moisés passou no monte Sinai, Deus poderia tê-lo transportado para o futuro, para participar daquele extraordinário evento.

Vamos relembrar a experiência de Moisés no Monte, quando pediu que Deus lhe mostrasse a Sua glória. Talvez haja ali alguma pista que confirme a nossa suposição.

O texto diz:

“Então disse Moisés: Rogo-te que me mostres a tua glória. Respondeu-lhe o Senhor: Eu farei passar toda a minha bondade diante de ti, e te proclamarei o nome do Senhor. Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem me compadecer”.

O que Deus quis dizer com fazer passar toda a Sua bondade perante Moisés? No texto original, a palavra traduzida por “bondade” é TOV, a mesma usada em Gênesis 1, toda vez que Deus avalia a Sua obra: “E viu Deus que isso era BOM”(TOV). Fazer passar todo o Seu BOM diante de Moisés, talvez signifique fazer um retrospecto da história, revelar-lhe toda a criação, pois é por meio dela que a glória de Deus é manifestada. Em um ínfimo lapso de tempo, Moisés testemunhou toda a criação, desde o primeiro TOV, até a última avaliação, quando Deus viu que tudo o que tinha feito era MUITO BOM (TOV MEOD). Moisés virtualmente viajou no tempo e no espaço, para assistir ao espetáculo da Criação, a fim de relatá-lo para nós.

E quanto à frase “te proclamarei o nome do Senhor”? Creio que ali lhe fora revelado o nome que é sobre todos os nomes, o nome de Jesus. E mais: creio que Moisés foi levado a um encontro pessoal com o portador desse nome no episódio da Transfiguração.

A frase seguinte é: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem me compadecer”. Geralmente, traduzimos isso como se Deus estivesse apenas declarando que teria misericórdia de quem Ele quisesse ter misericórdia. Mas o fato é que, no hebraico, esse é um dos textos mais misteriosos das Escrituras. Poderíamos traduzi-lo ao pé da letra dessa maneira: “Trarei graça o que houver trago graça e compadecerei o que houver compadecido”. Em outras palavras, farei o que já fora feito. Era como se Deus, propositadamente, misturasse os tempos verbais futuro e passado. Era, ainda, como se Moisés entrasse numa dimensão atemporal, onde não houvesse distinção entre o que se foi, e o que virá a ser.

O mais impressionante do texto vem agora. Deus disse a Moisés:

“Não poderás ver a minha face, pois homem nenhum pode ver a minha face, e viver. Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar junto a mim; aqui, sobre a penha, te porás. Quando a minha glória passar, eu te porei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado. Depois, quando eu tirar a mão, me verás pelas costas; mas a minha face não se verá”.

O único lugar seguro para que um mortal pudesse contemplar a glória de Deus era a tal penha, em cuja fenda Moisés deveria se esconder. A palavra traduzida por penha é TSUR, que também é traduzida por forma. Lembremo-nos que Jesus é a forma (imagem) do Deus invisível. Em outras palavras, a glória de Deus só poderia ser vista em Jesus. Somente amparado na fenda dessa Rocha, Moisés teria contacto com aquela Graça e Compaixão, reveladas em Jesus. Séculos depois, João diria que “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”.

Moisés pôde assistir in loco, à manifestação de uma graça que só se revelaria plenamente em um futuro distante. Ele literalmente viajou no tempo e no espaço.

Deus lhe advertiu quanto à impossibilidade de ver a Sua face. Ele só poderia ver as Suas costas. A palavra traduzida por “costas” é ACHORAI, e possui duplo sentido. ACHORAI também significa “depois”. Deus estava dizendo que o que Moisés viria era o Seu “depois”, referindo-se ao tempo em que estaria encarnado entre os homens.

Lucas descreve assim o episódio em que Moisés e Elias se encontraram com Jesus:

“Estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e suas vestes ficaram brancas e resplandecentes. Estava falando com ele dois homens, Moisés e Elias, os quais apareceram em glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém”.

Teria Moisés e Elias trazido alguma informação de que Jesus não dispunha? De primeira mão, a impressão que se tem é essa. Eles teriam vindo contar a Jesus algo que Ele desconhecia acerca de Sua morte. Mas há uma interpretação alternativa: o assunto da conferência era este, porém era Cristo quem encabeçava a conversa. Afinal, como podemos conferir nos versos anteriores, Jesus já estava muito bem informado acerca do preço que deveria ser pago pela salvação dos homens, e até sobre o tipo de morte que teria. Se não, Ele não teria dito: “É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas, e seja rejeitado (...) seja morto e ressuscite no terceiro dia (...). Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua crua e siga-me”.

E quanto a Elias? Já vimos que ele embarcou em um redemoinho, para desembarcar no monte da Transfiguração. De onde veio esse excêntrico profeta que enfrentou Acabe, Jezabel e os profetas de Baal em seus dias? Ele veio do futuro.

Por que não há registro do nascimento de Elias nas Escrituras? Por que não encontramos sua genealogia? Simplesmente porque Elias era ninguém menos que João Batista.

Não estou falando de reencarnação. Tal doutrina não tem amparo bíblico. Estou falando que Elias veio ao mundo como João, filho de Zacarias e Isabel. E que, num dado momento, durante o período em que vivia no deserto, foi levado ao passado, para profetizar a Israel.

Vamos às evidências:

1 – João Batista simplesmente aparece repentinamente no deserto da Judéia, conclamando as pessoas ao arrependimento. Onde ele esteve durante o tempo em que desapareceu das páginas sagradas? Compare o relato de Marcos acerca do surgimento do ministério de João Batista e do início do ministério de Jesus. De João, diz-se que ele simplesmente "apareceu" do nada, batizando no deserto (1:4), enquanto de Jesus diz-se que "naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia" (v.9). Isso tão lhe parece sugestivo?

2 – Tanto João Batista, quanto Elias vestiam-se da mesma maneira. João: “As vestes de João eram feitas de pêlos de camelo, e ele trazia um cinto de couro na cintura”. Elias: “Era um homem vestido de pêlos, com os lombos cingidos de um cinto de couro”. Nem João era um copiador de Elias, ou mesmo sua reencarnação. Elias e João eram a mesma pessoa. 

3 – O próprio Jesus declara que João era Elias: “Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

4 – Elias só apareceu no monte com Jesus e Moisés, após a morte de João Batista. Alguém poderia argumentar que, se fosse João, os discípulos o teriam reconhecido, e invés de dizer terem visto Elias, diriam terem visto João. Mas devemos considerar que Elias estava em meio à nuvem da glória, e que o brilho no rosto de Jesus ofuscava tudo à Sua volta. Eles só reconheceram que se tratava de Elias e Moisés, porque certamente Jesus lhes contou depois.

Afinal, eles não eram contemporâneos daqueles profetas, e jamais os haviam visto.

Portanto, não foi Elias que reencarnou em João, como afirmam os espíritas, mas foi João Batista que teria viajado no tempo, e vivido por sete anos entre o povo de Israel, durante a época de sua maior apostasia. Não me admiro que Jesus tenha afirmado que entre os nascidos de mulher, não houve maior que João.

Outra argumentação sustenta que se João fosse Elias, ele não teria negado. O texto diz que os sacerdotes e levitas lhe perguntaram: “Quem és tu? Ele confessou e não negou, confessou: Eu não sou o Cristo. Perguntaram-lhe: Então quem és? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu profeta? Respondeu: Não”. Ora, ele não apenas negou ser Elias, como também negou ser profeta. Entretanto, Jesus declara que ele era Elias e profeta. Não creio que Jesus haja mentido. Nem que João tenha mentido deliberadamente. Ele apenas disse o que achava de si mesmo. Ele não se considerava um profeta, embora definitivamente o fosse. Ele não se achava Elias, porque sua identidade original era de João. Seria como perguntar a Clark Kent se ele é o super-homem.


Creio que Elias nasceu neste mundo como João, foi levado para o deserto, de lá embarcou para o passado, viveu entre os contemporâneos de Acabe por sete anos, ao ser tomado pelo redemoinho, desembarcou no Monte da Transfiguração, de lá retornou um pouco ao passado, surgiu no deserto, vestido das mesmas roupas, viveu no tempo de Herodes, para lá morrer.


Seguindo esta linha de raciocínio, podemos dizer que ao ouvir a voz que dizia "Este é meu filho amado", enquanto batizava Jesus, João teve aquela sensação de déjà vu, pois a ouvira "antes" no monte da Transfiguração (embora o evento tenha se dado depois...). Aquela declaração era uma espécie de senha para que ele tivesse a certeza de que aquele a quem batizava era o mesmo com quem se encontrara no futuro envolto numa nuvem de glória. 

Há ainda o profeta Isaías, que de acordo com João, “viu a glória de Jesus, e falou a seu respeito”.

Pelo que tudo indica, a nuvem da glória de Deus é capaz de levar o homem a experimentar um nível de comunhão tão profundo com Deus, que o torna hábil a transcender o tempo e o espaço.

O livro de Isaías fala de um fenômeno de proporções astronômicas. A sombra do relógio de Acaz voltou dez graus. Ora, para que isso acontecesse, a Terra teria que girar ao contrário, o que, astronomicamente, traria resultados nefastos para todos os seus habitantes. De duas, uma. Ou a Terra retrocedeu em sua rotação, ou o tempo retrocedeu. O mesmo se deu quando Josué lutava contra os amorreus. Sem contar João na Ilha de Patmos, que afirmou ter sido “arrebatado em espírito no dia do Senhor”, recebendo diretamente de Jesus a ordem de escrever “as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer”.

Ainda que não me atreva a dogmatizar acerca disso, devo confessar que tal hipótese exerce poderosa atração sobre a minha mente, e, a meu ver, só acrescentaria glória Àquele que era, é e há de vir.

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