Como você se posiciona
frente aos vários acontecimentos do mundo? Qual a sua opinião a respeito
do aborto e da sexualidade? Como você vê o casamento? Qual deve ser o
destino da educação e da política?
Se alguém lhe dirigisse as perguntas acima, geralmente, a primeira atitude que tomaria
antes mesmo de respondê-las seria “consultar” o seu arquivo pessoal de
Princípios & Convicções existente dentro da sua cabeça. Analisaria
tudo aquilo na qual acredita, e, daí sim, daria o seu pronunciamento.
Sem saber, você estaria com isso colocando em prática a sua cosmovisão.
Cosmo o quê? Explica-se:
O termo cosmovisão é uma tradução da palavra alemã weltanschauung,
que significa ‘modo de olhar o mundo’ (welt – mundo, schauen – olhar). É
a maneira como a pessoa encara, age e reage em relação aos
acontecimentos. Em definição, cosmovisão é um conjunto de suposições e
crenças que alguém utiliza para interpretar e formar opiniões acerca da
sua humanidade, propósito de vida, deveres no mundo, responsabilidades
para com a família, interpretação da verdade, questões sociais, etc.
Como exemplo, Nancy Pearcey diz que a cosmovisão é como um mapa mental
que nos diz como navegar de modo eficaz no mundo. É a impressão da
verdade objetiva de Deus em nossa vida interior. Norman Geisler nos dá
outra representação, segundo ele cosmovisão é semelhante a uma lente intelectual
através da qual enxerga-se o mundo. Se alguém olha através de uma lente
vermelha, o mundo lhe parece vermelho. Se outro indivíduo olha através
de uma lente azul, o mundo lhe parece azul”. Já Albert Wolters a chama
de “estrutura abrangente das crenças básicas de alguém sobre coisas”.
Apesar de possuir uma
conotação filosófica, a cosmovisão de uma pessoa possui natureza
essencialmente prática, afinal, idéias têm conseqüências reais. É
exatamente a cosmovisão do indivíduo que vai norteá-lo ante as decisões
mais importantes da sua vida. Quando
o casamento vai mal, qual a decisão a ser tomada? A infidelidade é
normal? Como deve ser encarada a questão do aborto e do homossexualismo?
Qual a forma de proceder no trabalho? Como educar os filhos? Como
encarar a violência?
Frente a tais situações
práticas da vida, a pessoa tomará suas decisões baseado naquilo que
compreende como sendo verdadeiro ou falso, certo ou errado. A finalidade
da cosmovisão, portanto, é nortear as decisões e atitudes do homem. Ela
funciona como um guia, dando senso de direção acerca da forma como o
homem deve proceder.
Pode-se dizer, então, que
não é preciso ser filósofo ou pensador profissional para possuir uma
cosmovisão. Contrariamente, todo ser humano é portador de uma
cosmovisão, até mesmo aqueles mais simples e iletrados possuem um
conjunto de crenças que dirige suas vidas. Como disse Albert Wolters,
“os seres humanos são incapazes de manter opiniões puramente arbitrárias
ou tomar decisões sem quaisquer princípios”.
O resultado prático das cosmovisões
Como já foi dito, as cosmovisões têm conseqüências práticas. A ‘forma de ver o mundo’ de uma pessoa não fica isolada apenas
na cabeça dela. Pelo contrário, é a força que o leva a agir em todas as
esferas da sua vida. Com efeito, quando alguém acredita em uma
cosmovisão completamente equivocada os resultados disso
podem ser drásticos, não somente para a pessoa, mas também para toda a
sociedade. Como exemplo claro e histórico tem-se o caso de Adolf Hitler.
Suas nefastas idéias sobre a superioridade da raça ariana e as suas
teses racistas e anti-semitas foram responsáveis pelo genocídio de
milhares de pessoas, desencadeando, inclusive, a 2ª Guerra Mundial.
Da mesma forma, para todos
quantos acreditam que Deus não existe, que o homem é fruto do acaso, e
que não existe um Criador a quem terão que prestar contas mais cedo ou
mais tarde, questões como adultério, homossexualismo, aborto e eutanásia
são analisadas simplesmente pela ótica terrena e passageira. Caso em
que, segundo a visão secular, tais atos são plenamente aceitáveis no
pensamento do homem moderno.
No âmbito da moral,
atualmente, os resultados da cosmovisão secular (aquela que “baniu” Deus
da sociedade) são notórios. Conforme alerta Mathew Slick “O resultado
da cosmovisão secular pode ser vista ao nosso redor. Ao observarmos a
sociedade fica evidente que nem tudo vai bem. A televisão tem se
degenerado tornando-se um “bordel” de violência, pornografia “leve”,
seriados que destroem a família, comerciais que apelam para a
gratificação imediata dos prazeres, e desenhos animados que são cheios
de violência, ocultismo, e desobediência aos pais.”
Por outro lado, uma
cosmovisão que acredita na existência do Criador, e que Ele haverá de
julgar todos os moradores da terra, nesse caso, as ações de todos
quantos nela acreditam serão voltadas não simplesmente para o ambiente
terreno, mas celestial. Com isso, o adultério, o homossexualismo, o
aborto e a eutanásia são considerados logicamente como afronta ao
próprio Deus, que estabeleceu uma moral objetiva a ser seguida pelo
homem, baseada na sua própria Palavra.
Elementos e escolha de uma cosmovisão
Em resumo síntese, uma
cosmovisão possuí como elementos principais informações nas quais possam
responder as maiores indagações do ser humano: Quem somos? De onde
viemos? Para onde vamos? Qual o propósito da vida? Por que o mal existe?
O foco de uma cosmovisão são: criação ou
origem, identidade, propósito e destino do ser humano. Como exemplo, no
que tange ao elemento [origem], para a cosmovisão ateísta Deus não
existe. O universo é tudo o que existe ou existirá. O homem é resultado
da evolução. A vida do homem é destituída de [propósito] e o seu
[destino] está vinculado somente à ordem física desta vida, afinal,
segundo entendem, não existe vida eterna. Na cosmovisão panteísta Deus é
o próprio universo. O [destino] do homem é determinado pelos ciclos da
sua vida, o carma (erros a serem redimidos em inumeráveis reencarnações). E o sofrimento é uma ilusão causada pelos erros da mente.
Diante de tantas
cosmovisões existentes no mundo (ateísmo, teísmo, panteísmo, deísmo,
politeísmo, etc.) a pergunta que fica é a seguinte: Qual cosmovisão escolher? Seria
simplesmente aquela que faz a pessoa sentir-se bem, ou aquela que
funciona? Obviamente que nenhuma das duas alternativas, afinal essa
seria um visão fundamentada simplesmente no bem estar terreno,
muito comum hoje em dia, quando as pessoas escolhem suas religiões
simplesmente por se sentirem mais confortáveis em determinado grupo de
religiosos, ou então, aquela que lhe dê “resultados” mais rápidos.Ora, a
verdadeira cosmovisão deve ser escolhida sobre o enfoque da realidade,
de forma a verificar se as respostas e
modelos
apresentados por cada uma delas são aceitáveis e se possuem lógica. Da
mesma forma que uma pessoa não utilizaria óculos com lentes desfocadas
para ver o mundo, assim também, no âmbito das cosmovisões, ninguém tem a
intenção (pelo menos em sã consciência) de viver sob a influência de
uma cosmovisão completamente desvirtuada, que apesar da aparência de
perfeição, levará a pessoa para um trágico final.
Segundo Gordon Clark “Se um
sistema pode fornecer soluções plausíveis para muitos problemas
enquanto outro deixa questões sem respostas, se um sistema tende ao
ceticismo e dá mais significado à vida, se uma cosmovisão é consistente
enquanto que outras são autocontraditórias, quem pode nos negar, visto
que devemos escolher, o direito de escolher o primeiro princípio mais
promissor?”.
A Bíblia e a cosmovisão cristã
Baseado nessa necessidade e direito de escolha de cada pessoa é que os cristãos apresentam a sua cosmovisão a qual em seu teor oferece
à humanidade as respostas mais contundentes para as suas maiores
indagações. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Qual o
propósito da vida? Por que o mal existe?
Nesse tom, Charles Colson e
Nancy Pearcey argumentam que o cristianismo vai além de João 3.16, além
da fé privada e da salvação pessoal. Ele é nada menos que a estrutura
para a compreensão total da realidade. É a forma de ver a própria vida.
Ele vai além da mera realização de “eventos espirituais” e agendas
festivas, sobretudo, é responsável por redimir toda uma cultura em
decadência e implantar o padrão bíblico de vivência. Seus princípios
abordam todos os campos de atuação do homem. Seus fundamentos adentram
nos vários extratos sociais e intelectuais da sociedade, numa síntese
daquilo que disse Cristo: “Vós sois do sal da terra e a luz do mundo”.
Acontece que muitos olham para o
cristianismo, em especial para os protestantes, e pensam que suas
atividades estão relacionadas simplesmente ao âmbito espiritual, cujos
assuntos principais são oração, santidade, fé, etc. e que o seu objetivo
é simplesmente a realização de cultos avivados, onde as coisas da
“sociedade” nada interferem ou tem a ver com a vida religiosa. Mas
esse é um pensamento equivocado. O cristianismo tem muito a dizer sobre
a vida, trabalho, sexualidade, educação, política, e sobre muitas
outras coisas presentes na sociedade, já
que o pensamento cristão é mais que uma crença particular. Nas palavras
de Colson: “O cristianismo oferece uma cosmovisão compreensível que
cobre todas as áreas da vida, todos os aspectos da criação. Somente o
cristianismo oferece uma maneira de ver o mundo de acordo com o mundo
real” Uma das diferenças entre as demais cosmovisões e a cristã, está no fato de que na cosmovisão cristã toda hipótese
e convicção são formados e testados pelas Escrituras Sagradas reveladas
por Deus. É exatamente ela que apresenta o núcleo da forma de pensar do
cristão (ou pelo menos deveria ser). Os fundamentos da cosmovisão
cristã estão presentes nela. Suas idéias possuem um encadeamento lógico e
racional, podendo sem facilmente compreendido por qualquer pessoa.
Criação – De onde viemos, e quem somos?
Enquanto várias teorias acerca da criação
do universo e da origem do homem são inventadas e estudadas pela
ciência, Deus revela em sua Palavra que todo o universo foi Criado por
Ele (No principio criou Deus o céu e a terra Gn 1.1). O cosmos não é
resultado do acaso. Não somos frutos de poeiras estelares. O planeta
terra não é resultado de explosão sem causa. O homem não é descendente
de amebas do pântano e de macacos. Pelo contrário, tanto o universo,
quanto todas as demais coisas, foram criadas pelo próprio Deus. Não é
nenhum acidente que a distância entre o Planeta Terra e Sol faz deste
planeta o único lugar onde pode existir vida.
Não é nenhum acidente que o eixo de rotação da Terra tem uma inclinação
de 23,5º produzindo as quatro estações do ano, ou que a Terra gira uma
vez a cada 24 horas produzindo o dia e a noite. A complexidade e a
beleza do universo e de todas as criaturas demonstram a impossibilidade
de que sejamos resultados de meros efeitos físicos. Davi disse: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos” (Salmo 19:1). Portanto, somos filhos de Deus, criados para o seu louvor e glória!
Queda – O que aconteceu de errado com o mundo?
Não é preciso ser estudioso
para entender que existe alguma coisa de errado com o mundo (leia-se:
com a humanidade). O aumento da violência e da promiscuidade são somente
alguns dos exemplos. Tal decadência teve inicio há muito tempo, com o
primeiro homem, Adão. Apesar de ter sido criado perfeitamente por Deus,
ele escolheu desobedecer ao próprio Criador. O pecado trouxe a morte ao
mundo, a morte física e, pior ainda, a morte espiritual. Ainda, o solo
se tornou menos fértil e a comida mais escassa. O homem começou a
trabalhar mais para obter menos. A humanidade também perceberia logo o
efeito que o pecado tem nas relações humanas: crueldade, assassinato,
lascívia e desarmonia. Paulo disse da seguinte forma: “Porque o salário do pecado
é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus
nosso Senhor”, Rm 6.23. Portanto, o que aconteceu de errado, e o motivo
do sofrimento no mundo é exatamente o pecado original cometido pelo
homem.
Redenção – O que podemos fazer para consertar isso?
Em meio à turbulência social e moral percebida no meio da sociedade, devido
ao pecado original, muitas propostas têm sido defendidas para a solução
do problema do mundo. Uma delas é a auto-ajuda, segundo a qual o
próprio homem é pode resolver todos os seus males. No entanto, o homem
sozinho é incapaz de resolver um erro que ele mesmo cometeu. Assim, Deus
na sua inefável sabedoria, realiza o ato que é o centro da fé cristã:
Ele entrega o seu Filho, Jesus Cristo, para que, sendo morto no lugar do
homem, pudesse apagar os seus pecados. E é o acontece. O Cristo deixa
seu trono, desce às regiões terrenas, encarna-se, e morre no nosso
lugar. Ele nos amou tanto que morreu em uma cruz para pagar o preço dos
nossos pecados. E ele oferece a cada um de nós o perdão. Jesus Cristo é o
único Caminho através do qual o homem pode ser perdoado e viver
eternamente com Deus. E se nós queremos ser perdoados por Deus, nós
devemos aceitar o presente que ele nos oferece livremente.
O interessante da
cosmovisão cristã reside no fato dela ser simples, como disse C. S
Lewis, como tema de seu livro, “Cristianismo puro e simples”. No
entanto, simplicidade não é sinônimo de inverdade ou erro. Pelo
contrário, as maiores verdades são simples. Tanto que o pensamento
cristão vem ao longo de toda a sua história superando todos os desafios
que lhe foram propostos, desde a Igreja primitiva, onde os cristão foram
perseguidos, passando pelo período do iluminismo racionalista, o tempo
do comunismo, e, atualmente, o pós-modernismo relativista. Em todos
estes contextos, a cosmovisão cristã, guardada por próprio Deus, não
sucumbiu. Afinal, como disse Jesus: “As portas do inferno não prevalecerão!” Mt. 16.18
Deve-se anotar, porém, que o principal fundamento do pensamento cristão não está
simplesmente em respostas intelectuais para a mente humana. Posto que a
lógica e a inteligência são somente meios de se compreender toda a
realidade, especialmente do cristianismo. Por outra via, a base para o
relacionamento com Deus chama-se FÉ, e como disse o
escritor aos Hebreus, “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam, e a prova das coisas que se não vêm” Hb.11.1. A vida cristã,
então, tem como primazia o relacionamento e a comunhão do homem com
Deus, por meio de Cristo Jesus. A salvação, a transformação a nova vida e
a paz (aquela que excede todo entendimento) provindas deste
relacionamento é que dá ao cristão a razão de viver.
Valmir Nascimento Milomem Santos
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