"Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, a morte e o mal;
porquanto te ordeno, hoje, que ames o Senhor, teu Deus, que andes nos seus
caminhos e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus
juízos, para que vivas e te multipliques, e o Senhor, teu Deus, te abençoe na
terra, a qual passas a possuir. Porém, se o teu coração se desviar, e não
quiseres dar ouvidos, e fores seduzido para te inclinares a outros deuses, e os
servires, então, eu te denuncio, hoje, que, certamente, perecerás; não
prolongarás os dias na terra a que vais, passando o Jordão, para que, entrando
nela, a possuas. Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que
te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a
vida, para que vivas, tu e a tua semente, amando ao Senhor, teu Deus, dando
ouvidos à sua voz e te achegando a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos
teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a
Isaque e a Jacó, que lhes havia de dar" (Dt. 30,15-20).
Para tomarmos consciência de quem somos diante de Deus, é preciso descobrir a opção fundamental que orienta toda a vida e se manifesta no conjunto de todas as decisões que habitualmente determinam o nosso comportamento. As nossas decisões habituais são orientadas pela opção fundamental, que não se reconhece de forma clara e explícita, mas que abrange toda a existência. É uma opção feita no mais profundo do ser e que se desenvolve acompanhando o ritmo da própria liberdade e que orienta a vida em direção a Deus, de quem se espera a salvação; ou em direção a si mesmo, como fim absoluto.
Embora a opção fundamental seja plena e abranja toda a vida, ela não atinge a pessoa de modo irreversível, pois o homem é um ser histórico, e por isso mesmo, capaz de mudar a sua opção fundamental.
O pecado se constitui na decisão fundamental de alguém que se faz o centro de si mesmo e usa os outros como instrumentos, para a realização de seus objetivos egoístas. É a opção fundamental que qualifica as nossas ações. O pecado pode ser uma incoerência, uma inconsequência com a opção fundamental que se orienta para Deus.
Pecador é aquele que havia feito uma opção fundamental clara e firme para Cristo e que em seguida, dele se afastou radicalmente. No entanto não só a apostasia, mas também uma vida que contradiz constantemente a fé professada, constituem uma opção fundamental contra Cristo.
Quem, pela opção fundamental de sua vida, rejeita a Lei da Aliança, participa, a seu modo, da oposição absoluta do Anticristo contra o Reino de Deus. Deus quer que descubramos a ligação entre o mandamento (Lei) e o amor.
Deus vem ao mundo pelo sim da criatura, e é desta maneira que em cada um de nós que Ele se manisfesta pelo sim que dizemos.
A fidelidade é defender, através das dificuldades que surjam na vida, uma decisão que foi tomada de forma irrevogável.
A nossa vida é frequentemente um amálgama heterogêneo de sim e de não. Por isso não nos tornamos aquela obra-prima que Deus concebeu a respeito de cada um. Somos todos, numa medida maior ou menor, obras-primas fracassadas. Não somos um projeto que não deu certo nem um barco sem destino, pois temos a graça, a força e o impulso de Deus, que nos vem através de Cristo.
Maria tornou-se obra-prima que conhecemos, porque executou a música conforme a partitura, sem saltar nenhuma página, dizendo sim a Deus. Quanto a nós, com os nossos não, se não anulamos, com frequência mutilamos um pouco do projeto de Deus com relação a nós. Cristo Jesus não foi sim e não, mas unicamente sim. Todas as promessas de Deus encontraram nele o seu sim.
O homem é livre e, por isso, pode escolher o caminho errado, pode errar o alvo com sua opção fundamental. Nós pecamos porque usamos mal a nossa liberdade e preferimos seguir os impulsos do nosso egoísmo ao invés de cultivar e desenvolver o impulso da graça e do amor. Mas a fé nos afirma que o homem é uma criatura viável, é um milagre permanente do amor e da misericórdia de Deus.
Deus está continuamente lhe dando novas chances através da sua graça. A graça de Deus infunde no homem a força interior e a coragem de assumir a sua responsabilidade. Somos como a criança que não tem força nem impulso suficiente para atravessar o riacho e que não tem mesmo coragem de fazê-lo, porque sabe que não resistirá à correnteza. Mas seu pai lhe infunde coragem, toma-lhe o braço e dá-lhe um impulso extra. Com a força do pai, o menino atravessa a correnteza. Mas, na força do pai, estava também o impulso, a confiança do menino que arriscou porque tinha consigo a força do pai. A graça de Deus é isso.
A graça de Deus provoca em nós atitudes positivas, chamadas virtudes, que se expressam em ações construtivas em favor dos outros. A graça de Deus é um impulso, força interior, coragem para assumir a vocação cristã. As atitudes do homem são dele e são de Deus. Como seres livres, tomamos nossas decisões e Cristo nos acompanha com a graça, desde que nos conformemos com a sua vontade.
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