quarta-feira, 13 de março de 2019

O perfume esquecido das azinheiras


No texto de Isaías 6, conhecido como “o chamado do profeta Isaías”. Deus diz a Isaías para pregar a sua Palavra, mas avisa que o povo não vai dar atenção. E Isaías, talvez consciente do que significava isso pergunta: “Até quando, Senhor?” e Deus responde o que está em Is. 6. 11-13. É nesse momento que Deus compara o povo com o carvalho e com a azinheira.

Assim Como o Carvalho 

Por que o carvalho, se ele não dá fruto comestível? Devido às características do próprio carvalho. Se você chegar em um bosque com muitas árvores e nele houver um carvalho, não há como não distingui-lo. Ele provavelmente será a árvore mais velha e mais alta do bosque. O carvalho tem uma vida média entre 500 a 1000 anos e alcança entre 30 a 40 metros de altura. Ou seja, vida longa. Isso lhe proporciona uma característica sofrida, caule enrugado e raízes profundas. Mas isso não tem nada a ver com sua idade. 

Assim, como quem vive muito passa por muita experiência, o carvalho tem uma característica muito interessante: quando passa por uma tempestade e recebe fortes pancadas de vento e chuva, seu tronco, que é uma das madeiras mais resistentes do mundo, não se quebra, mas se contorce, enverga e se molda ao vento. O carvalho tem forte resistência às situações da vida. Por incrível que pareça, quanto mais ele se sujeita às intempéries, mais fortalecido ele sai delas, pois suas raízes se arraigam ao solo a cada tempestade, seu tronco se revigora, e a possibilidade dele ser extraído do solo pelos temporais diminui drasticamente, até se tornar nula. O carvalho se embebe de todas as consequências dos temporais e, assim, adquire um aspecto desproporcional, exatamente como um ser que houvesse realizado um grande esforço ao longo de sua constituição. Chega mesmo a parecer entristecido. 

É o tipo de árvore que quanto mais forte, vento, tempestade, mais forte fica, seu tronco se firma e não se quebra. Suas raízes não são profundas por causa dos longos anos de vida, mas sim, quando a tempestade passa, procura aprofundar mais ainda as raízes. Seu objetivo é permanecer em pé, sem quebrar, firme, forte. 

Ao contrário de outras árvores, o carvalho resiste no inverno, continua frondoso, cheio de vida, mesmo no período mais difícil do ano. Ao que parece, Deus criou o carvalho para resistir. 

Quando Deus compara os seus filhos a um carvalho, Ele sugere que é assim que as coisas deveriam ser. Mesmo quando atacado por qualquer situação, seja natural como uma tempestade, fortes ventos, queimadas, ou seja, o machado de um lenhador, o carvalho se determina a não sair de sua posição e, mesmo derrubado, por causa de suas raízes profundas é muito difícil arrancar o “toco”, que fica. E isso leva o carvalho a brotar e começar a crescer novamente. 

Assim como a azinheira 

A azinheira é umas das árvores da mesma família do carvalho, mas possui alguns pontos diferentes. Costuma ultrapassar os 300 anos, podendo chegar excepcionalmente aos 1000. 

A azinheira, também conhecida por sardão, terebinto, é uma planta da família das fagáceas, que incluem grupos vegetais conhecidos como os outros carvalhos, as faias e os castanheiros. A azinheira é assim um carvalho, uma espécie do gênero Quercus, e dentro deste grupo tem como parente mais próxima a azinheira-de-folhas-de-louro. Estas atingem normalmente um porte arbóreo de até cerca de 15 metros de altura, em contraste com a azinheira-de-folha-de-louro que cresce mais frequentemente acima dos 20 metros; casca acinzentada, inicialmente lisa nos jovens e que vai ficando rugosa nas árvores adultas; folhas perenes, arredondadas, por vezes com margens espinhosas, verde-escuras e rígidas, típicas de plantas de ambientes quentes, densamente pilosas na página inferior e glabras, lisas, sem pilosidades na página superior. 

A floração dá-se no início da primavera, através de flores de aspecto discreto geralmente polinizadas pela ação do vento, originando depois um fruto bastante característico dos carvalhos, as bolotas, um tipo de fruto a que damos o nome de glande. As bolotas da azinheira são aliás uma das suas riquezas mais reconhecidas e um dos recursos mais aproveitados pelas comunidades humanas que aprenderam a conviver com esta árvore. Dentro da espécie Quercus ilex, a sub-espécie rotundifolia é a que possui as bolotas mais doces, tendo, por isso, sido utilizadas durante muito tempo como alimento humano. 

Eram misturadas com trigo e outros cereais para se fabricar pão em anos de escassez, sendo por vezes assadas do mesmo modo que as castanhas. Ao contrário das bolotas dos outros carvalhos, as da azinheira são menos amargas, podendo ser usadas para confeccionar vários alimentos como pão ou mesmo assadas como se fossem castanhas! 

Durante muitos séculos, a azinheira alimentou e aqueceu o homem. A sua bolota doce podia ser utilizada para fazer pão ou era assada como as castanhas. A lenha fornecia um combustível de eleição. Além de que os seus ramos mais baixos completavam a alimentação do gado em anos difíceis, como o atual, em que o pasto não abunda. 

Na maioria das vezes, as bolotas são colhidas para dar aos animais domésticos, como aos porcos que bem as apreciam. A sua principal utilização é a produção de fruto que serve de alimento para porcos denominados de montanheira. São estes porcos de cor preta que produzem um presunto de alto valor comercial, o de pata-negra. Também os animais selvagens se aproveitam dos nutrientes fornecidos pelas bolotas, desde grandes mamíferos como javalis e veados a várias espécies de aves que delas se alimentam. 

As frutificações aparecem muito cedo sendo extremamente abundantes em anos favoráveis. As folhas mais baixas ou deixadas no solo como resultado de podas ou desbastes, servem como complemento de alimentação para o gado nas épocas do ano em que o pasto escasseia. 

A medicina popular atribui aos frutos da azinheira propriedades curativas para diarreias e desinterias. 

A azinheira é uma árvore tipicamente mediterrânea, bem adaptada a climas quentes e secos, no sul da Europa, onde existe um verdadeiro azinhal. É chamada uma "árvore de sombra", é muito resistente ao ensombramento, pelo que cresce melhor debaixo de árvores adultas. Tolera climas com períodos estivais secos e pluviosidade baixa, bem como altitudes elevadas. Suporta bem todos os tipos de solos incluindo os esqueléticos e os calcários. A azinheira era chamado de ilex pelos romanos e Lineu manteve este nome no seu epíteto específico. 

A azinheira é muito resistente ao inverno. Suas folhas não caem com o frio e só na primavera é que muda a folhagem. Porém, uma azinheira não cresce tanto quanto o carvalho. 

A azinheira nasce nas florestas do Jordão, em Israel, tem madeira extremamente resistente, sendo a última a apodrecer. A madeira é muito dura e compacta, resistente ao polimento, não sendo muito utilizada. É, no entanto, um óptimo combustível para lume, sendo muito utilizada nas lareiras. É largamente usada para fazer objetos de extrema resistência, como a roda de carroças e também usada para manter o fogo por mais tempo aceso, como fonte de combustão doméstica. Esta árvore tem ainda nos seus frutos poder desinfetante, poder de cura, quase que antibiótico. Ela exala um perfume característico, mas para experimentar desse aroma agradável, é necessário que uma parte do seu tronco ou dos galhos seja ferida ou podada. Quanto mais essa árvore é atingida, mais forte é o aroma expelido ao ponto de se propagar por quilômetros de distância. O que mais chama a atenção na azinheira é exatamente isso: para se experimentar da sua melhor essência, é necessário que a sua casca seja arrancada, o seu tronco ferido, ou os seus galhos podados, se não assar por estes processos ele será confundido com uma árvore comum correndo o risco de ser usada como lenha, por não servir para nenhuma outra finalidade. Outra característica da azinheira é que mesmo com o tronco cortado ele volta a nascer. 

Assim devemos ser todos nós cristãos; mesmo que alguém nos corte e tente nos destruir, não podemos deixar de lutar, de tentar, de sonhar e de realizar algo só porque alguém se levantou contra nós. Deus está ensinando ao seu povo que ele deve aprender utilizar as circunstâncias em que ocorrem dores, mágoas, perdas e problemas como matéria prima para produzir perfumes. Há pessoas que quando são feridas, sua reação natural é se derramarem em sentimentos de raiva, ira e amargura, e contaminam e poluem a atmosfera espiritual do ambiente em que vivem. Mas elas, na verdade, precisam descobrir que Deus pode extrair desses momentos difíceis a mais pura essência à medida que se deixarem ser submetidas ao processo da cura divina. Devemos ser como o terebinto: quanto mais formos feridos, cortados, podados e machucados, mais reagiremos com atitudes de amor, respeito e compreensão. 

A azinheira possui duas características que o carvalho não possui: seu perfume pode ser sentido a mais de um quilômetro de distância, e, para que isso aconteça, ele deve perder parte da sua casca. Quanto maior e mais profunda sua ferida, maior será o perfume exalado. 

Ao perder sua casca, libera uma seiva, também medicinal. Serve como antisséptico, anti-inflamatório e ajuda em doenças como ascite, uma acumulação de fluidos na cavidade do peritônio, comum, devido à cirrose e doenças graves do fígado. 

Quanto mais a azinheira é ferida, mais exala perfume e ajuda a curar. 

Muitos dos cristãos das Igrejas hoje deveriam aprender com o carvalho e a azinheira. Pois, o que mais encontramos, são pessoas com raízes superficiais, sem resistência às situações da vida em que quanto mais Deus os prova, mais causam mal aos outros. Alguns podem dizer que os problemas da vida ou as provações são como castigos de Deus. 

Claro que essas coisas nos aproximam dEle e deve ser assim mesmo, mas as coisas ruins que acontecem servem para nos moldar, ajustar e nos incentivar a sermos diferentes, com atitudes que seguem na contramão da sociedade. Não é simples! Algumas tempestades duram anos… Porém, o desejo de Deus é que sejamos assim, como o carvalho, com raízes profundas e resistência e como a azinheira, que quanto mais sofre, mais perfuma e cura.

Bibliografia:

https://www.publico.pt/2005/03/28/jornal/azinheiras--as-arvores-esquecidas-13103

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