terça-feira, 5 de outubro de 2010

Levados para o Deserto

“Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto e lhe falarei ao coração” (Os 2.14)
É de se admirar de ver como Deus, depois de tirar o seu povo do Egito, os empurra literalmente para um “grande e terrível deserto”. Qual o propósito divino? Não seria melhor fazer um trajeto em linha reta do Egito para a Terra Prometida, sem escalas? Porque razão ficar vagando naquele deserto inóspito por toda uma geração?
No deserto não há segurança, a água é rara, a vegetação é escassa, é habitado por serpentes, chacais e bestas-feras. E mesmo assim Deus insiste para que o seu povo passe por tal desolação. Deus não ama o seu povo? Por que um Pai amoroso faria uma coisa dessas? Todavia, quer queiramos ou não, ainda hoje, Deus nos envia para esse lugar, pois há propósitos divinos que só o deserto poderá realizar.
A primeira razão do deserto em nossa vida é que Deus pretende deixar claro e patente aos nossos olhos o que vai dentro de nós. Só no deserto se revela o que habita no coração do homem: “Ele te guiou no deserto para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração” (Dt 8.2).
Outro grande desafio que enfrentamos ali é o da murmuração. Os hebreus passaram boa parte do tempo no deserto murmurando: pela falta de conforto, pela água escassa, ou pelas batatas, carnes e cebolas. Se há algo que Deus não suporta ver é o seu povo murmurando.
Será que não tem sido também o nosso caso? Do que você tem murmurado ultimamente? Por levantar cedo? Por trabalhar demais? Por não ter casado? Por ter casado? A murmuração diária e constante é um “buraco negro” que suga nossa energia, rouba a alegria, e faz de nós pessoas adoentadas. Murmuração é a resposta manhosa e infantil que damos diante do que nos desagrada.
O deserto também desafia nossa fé. Os hebreus falaram contra Deus, dizendo: “Pode, acaso, Deus preparar-nos mesa no deserto?” (Sl 78.19). Intimamente, assim como eles, nós também duvidamos disso.
Infelizmente, em nossa estreiteza mental, nós condicionamos o poder divino às probabilidades.
O deserto nos é pavoroso porque nos leva a uma vida de dependência total de Deus. Depender de Deus até para as coisas mais simples é demais para nós. No fundo, buscamos independência e auto-suficiência e não a sensação frágil de dependermos de Alguém – além do mais Invisível. Independência de Deus é a tentação mais sutil que o diabo nos oferece.
Um outro desafio encontrado no deserto é o da solidão. Como tememos ficar só. Como tememos o silêncio. Buscamos obsessivamente pessoas, festas, companhias, ajuntamento…
Deus quer nos ensinar algo importante que só pode nascer na solidão: a solitude. Solitude é um estado da mente e do coração. Enquanto solidão é medo e vazio, solitude é integridade interior. Na solidão somos controlados pelos outros, na solitude encontramos calma e equilíbrio, não tememos ficar sozinhos, aprendemos a ouvir melhor as pessoas e ganhamos liberdade.
O profeta Oséias afirma que Deus nos atrai para o deserto, pois é ali, onde estamos sozinhos, desamparados, que Ele falará ao nosso coração. Só posso amar o meu próximo a partir do momento que me conheço. E o verdadeiro conhecimento do meu eu nasce do relacionamento com Deus no deserto.

Pr. Daniel Rocha

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