segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Celebração dos 499 anos da Reforma Protestante - 31 de Outubro


Muito antes que se levantasse Martinho Lutero em 1517, durante séculos outros homens o precederam no mesmo clamor e sentimento. Homens como Tanquelmo em 1115, ou ainda Pedro de Bruys em 1117 e Arnaldo de Bréscia em 1119. Cristãos piedosos como Pierre Valdo em 1179, João Wycliff em 1377 e tremendamente corajosos como João Huss em 1400, Jerônimo de Praga em 1410 e Savonarola em 1495. Todos eles historicamente já "protestavam" por um apelo imediato a um retorno as doutrinas centrais da fé cristã expressadas no Novo Testamento. Clamavam por uma reforma, algo que os levou a serem cruelmente assassinados por simples e audaciosamente confrontarem os abusos da hierarquia de Roma e seu declínio moral.

Estes nobres homens perceberam que as tentativas iniciadas em Cluny (século X) e culminadas por Hildebrando (Gregório VII no século XI) só fizeram por piorar a situação, pois ao fortalecer o papado frente as autoridades seculares só tornaram o clero mais corrupto e imoral mesmo com as investidas do Sacro Império Romano Germânico que rivalizava com o Papado acerca da soberania em toda a Europa. Papas como Inocêncio III, Bonifácio VIII e Alexandre VI entre os séculos 12 e início do 16, aumentaram ainda mais as tensões na cristandade, inda mais após o Grande Cisma com as Igrejas do Oriente e as diversas disputas com os monarcas do Ocidente.

A igreja se distanciava cada vez mais de seu chamado, de seu propósito de ser sal e luz, e estava longe de dar gosto e ser exemplo em um mundo decaído. Toda sorte de paganistas, imorais, satanistas e oportunistas se travestiam de cristãos e assim eram aceitos no seio da igreja com apenas sendo lhes exigido uma devota submissão a autoridade do clero, sem contudo uma genuína conversão. Isso fez com que a corrupção atingisse todos os escalões da hierarquia eclesiástica na cristandade - prostituição, suborno, corrupção, sodomia, avareza, assassinatos, cobranças de indulgências, etc. A conjuntura dos fatos mostravam o quanto a igreja ocidental sob a jurisdição romana estava em trevas.

E então, há 499 anos, um clamor foi iniciado e alcançou os quatro cantos da Europa e se espalhou por toda parte. Um protesto em favor do retorno as origens. Uma reivindicação de que o verdadeiro cristianismo não deveria mais se submeter a vontade dos homens, sejam eles quais forem, e sim a ESCRITURA. Uma lembrança de que o homem alcança sua salvação apenas e unicamente pela GRAÇA DIVINA, por meio de CRISTO todo suficiente, e que isso por si só nos JUSTIFICA PELA FÉ para a GLÓRIA DE DEUS PAI.

E neste dia 31 de Outubro, escolhido simbolicamente como marco deste clamor, comemoramos a REFORMA PROTESTANTE. Este REFORMAR nada mais é do que voltar ao evangelho, deixar práticas erradas e aderir os propósitos de Deus, reconstituindo a antiga forma, aquela primitiva e essencial forma já estabelecida. E nisto se resume a proposta da Reforma Protestante:

SOLA SCRIPTURA (SOMENTE A ESCRITURA): Reafirmar a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. Reconhecer que a Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e que é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. É negar que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, e repudiar a ideia de que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação. 

SOLO CHRISTUS (SOMENTE CRISTO): Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

SOLA GRATIA (SOMENTE A GRAÇA): Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

SOLA FIDE (SOMENTE A FÉ): Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus. Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.

SOLI DEO GLORIA (SOMENTE Á GLÓRIA DE DEUS): Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente. Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.

Por Elisson Freire - Resistência Apologética

domingo, 30 de outubro de 2016

A Maternidade de Maria


                           
A maternidade é um privilégio doloroso. A jovem Maria de Nazaré teve a honra inigualável de ser mãe do Filho de Deus. Contudo, as dores e os prazeres de sua maternidade podem ser entendidos por todas as mães, de todos os lugares.

Jesus veio ao mundo como um de nós para salvar os perdidos.

Jesus nasceu na plenitude dos tempos quando a Terra de Israel estava debaixo do jugo do Império Romano. César Augusto era o imperador e todos os imperadores eram vistos como deus.

O decreto de César Augusto de que todos teriam que se alistar a princípio parece algo ruim para José e Maria, mas o episódio é uma prova de que Deus controla a história. O censo consistia no alistamento obrigatório dos cidadãos no recenseamento, o que servia de base de cálculo para os impostos. A determinação imperial contribuiu para que todas as profecias bíblicas se cumprissem e o Filho de Deus nascesse em Belém (Miqueias 5.2).

Diferente dos soberanos, o Rei dos reis nasceu um um lugar simples, dentro de um estábulo, e ao invés de ser colocado em berço de ouro foi posto em uma manjedoura - peça rústica feita de de madeira onde se coloca comida aos animais.

As duas narrativas sobre os dois anúncios natalícios (Lucas 1.57-80; 2.1-20). As narrações sobre chegada de Jesus e de João Batista têm o objetivo de deixar clara a diferenciação de origem e a importância do Filho de Deus para a humanidade. Enquanto João Batista tinha pai e mãe, era fruto do relacionamento de Isabel e Zacarias, o relato esclarece que Maria, a mãe de Jesus concebeu por obra e graça do Espírito Santo, em condição de virgindade.

Deus revela-se aos necessitados e carentes (Lucas 1.41-43).Aparentemente, o Espírito Santo disse a Isabel que Jesus era o Messias, porque Isabel chamou a sua jovem parente de "mãe do meu Senhor" ao saudá-la. Quando Maria correu para visitar sua prima, talvez cogitasse se os últimos acontecimentos seriam reais. A saudação de Isabel a Maria deve ter-lhe fortalecido a fé. 

A gravidez de Maria podia parecer impossível, mas a sábia Isabel creu na fidelidade do Senhor e alegrou-se pela condição abençoada de Maria.

Maria sabia acerca de Jesus? (Lucas 1.46-55). O anjo Gabriel anunciou a Maria o nascimento do Filho de Deus e a deixou extremamente alegre e a impulsionou a louvar. O cântico de Maria é frequentemente chamado de Magnificat, palavras em que Deus é retratado como Salvador dos pobres, oprimidos e desprezados. Notamos que em seu louvor Maria compreendeu que Jesus era uma dádiva prometida por Deus, o Messias, conforme lemos nos versículos 51 a 55, mas o episódio relatado em 2.41-52 nos faz perceber que ela não entendeu que Jesus era Deus em carne humana.

Maria foi a única pessoa a presenciar tanto o nascimento como a morte do Senhor. Ela o viu chegar como o seu filhinho e a morrer como seu Salvador. Jamais devemos adorar Maria, apenas considerar que Deus a escolheu para abrigar Jesus em seu útero porque ela era uma serva valorosa, uma jovem saudável, digna e de bom caráter. Os cristãos devem tão-somente seguir seus exemplos de humildade, ternura e pureza.

Deus revela a realeza do Messias para toda a humanidade (Lucas 2.11-14). A obra de Jesus é maior do que alguém possa imaginar. Alguns judeus esperavam um Salvador que os libertasse do domínio romano; outros esperavam que os libertasse das enfermidades físicas. Mas enquanto Jesus curada as enfermidades do povo, estabelecia um Reino espiritual e livrava as pessoas do jugo do pecado. Cristo pagou o preço pelo pecado e pagou o preço para que possamos ter paz com Deus. Ele nos oferece mais do que mudanças políticas ou cura física, porque estas representa apenas mudanças temporárias; Cristo nos oferece um novo coração, para viver na eternidade.

Deus revela-se aos piedosos e às minorias (Lucas 2.25-26). Para o termo vertido ao idioma português como "consolação", encontramos a palavra grega "paraklesis". Neste versículo ela também pode ser entendida como equivalente à conforto e ânimo.

Deus revela-se aos humildes e piedosos (Lucas 36-38). Embora Simeão e Ana fossem muito piedosos jamais perderam a esperança de que veriam o Messias. Guiados pelo Espírito Santo, eles estão entre os primeiros a dar testemunho sobre Jesus.

Ao contrário da nossa sociedade que valoriza mais a energia da juventude do que a sabedoria dos idosos, na cultura judaica, os anciãos eram respeitados, então, a idade avançada de Simeão e Ana serviram para que as suas profecias fossem recebidas como uma confirmação-extra do plano de redenção efetuado por Deus através de Jesus Cristo.

Conclusão

A vinda de Jesus Cristo ao mundo é a uma prova do amor de Deus.

É digno de nota que os pastores foram os primeiros a saber do nascimento de Jesus, e não os sacerdotes e escribas no templo. Os pastores faziam parte de uma classe social simples. As Boas-Novas de salvação não foi comunicada primeiro aos ricos e nobres, mas a pessoas mais comuns do povo pobre, para ficar esclarecido que Cristo veio ao mundo para todos. 

Fontes:

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, páginas 1342, 1343, 1345, 1349, edição 2004, Rio de Janeiro (CPAD)
Bíblia de Estudo Palavras Chaves, página 2339, edição 2011, Rio de Janeiro (CPAD). 
Bíblia de Estudo Vida, páginas 1582, 1988, São Paulo (Editora Vida).
Ensinador Cristão, ano 16, nº 62, página 37, abril-junho de 2015 (CPAD)
Lições Bíblicas - Professor, José Gonçalves,  2º trimestre 2015, páginas 11-18, Rio de Janeiro (CPAD).

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Cristãos e Halloween

Halloween. É aquela época do ano em que o ar fica mais geladinho, os dias mais curtos, e para muitos jovens americanos aumenta empolgação e expectativa para o feriado mais sombrio e aterrorizante do ano.

O comércio também se anima com a perspectiva de aquecer suas caixas registradoras com uma média de US$ 79,82 por domicílio, gastos em decorações, fantasias, doces e cartões. O Halloween irá gerar aproximadamente 8 bilhões de dólares esse ano.

Podemos apostar que os comerciantes não terão grandes expectativas de faturar os US$ 79,82 dos domicílios cristãos.

Muitos deles se recusam a participar do Halloween. Alguns desconfiam de suas origens pagãs; outros de suas figuras obscuras e macabras; e ainda existem aqueles preocupados com a segurança de suas crianças. Entretanto, outros cristãos escolhem participar das comemorações, seja em atividades escolares, no “doçura ou travessura” de sua vizinhança ou algum tipo de atividade alternativa em suas igrejas.

A questão é: como os cristãos devem reagir ao Halloween? É irresponsabilidade dos pais deixar seus filhos saírem pedindo “doçura ou travessura”? E quanto aos cristãos que refutam qualquer tipo de comemoração durante esse período? Estariam eles exagerando?

A origem pagã do Halloween

O nome Halloween vem da celebração do dia de todos os santos dos primórdios da igreja, um dia separado para solenemente lembrar os mártires. All Hallows Eve, na véspera do Dia de todos os Santos, se iniciava o tempo de lembrança. All Hallows Eve foi eventualmente resumido para Hallow-e’em, que então se tornou “Halloween”.

Na medida em que os cristãos se espalharam pela Europa houve um choque com culturas nativas pagãs, confrontando costumes já estabelecidos. Feriados e festivais pagãos estavam tão impregnados em sua realidade que novos convertidos os consideraram pedras de tropeço para sua fé. Para lidar com esse problema, a igreja comumente alterava a data de um feriado cristão para outro ponto do calendário que confrontaria diretamente o feriado pagão. O objetivo era combater a influência pagã e prover uma alternativa cristã, mas o que aconteceu com maior frequência foi a igreja “cristianizar” um ritual pagão – o ritual permanecia pagão, mas misturado com simbolismos cristãos. Foi isso que aconteceu com o Dia de todos os Santos – ele originalmente era a alternativa cristã!

Os povos celtas da Europa e Grã Bretanha eram druidas pagãos e suas maiores celebrações eram marcadas pelas estações do ano. Ao final do ano no Norte Europeu, as pessoas faziam seus preparativos para sobreviver ao inverno, colhendo suas plantações e abatendo os animais mais fracos de seus rebanhos. A vida diminuía de ritmo à medida que o inverno trazia a escuridão (dias mais curtos e noites mais longas), solo infértil e morte. As imagens de morte, simbolizada por esqueletos, crânios e a cor preta, são predominantes nas atuais celebrações do Halloween.

O festival pagão Samhain (pronunciado em inglês “sow” “en”) celebrava o final da colheita, morte e o começo do inverno durante três dias – de 31 de Outubro até 02 de Novembro. Os celtas acreditavam que a cortina que separava os vivos dos mortos se abria durante o Samhain permitindo que os espíritos dos mortos caminhassem entre os vivos – fantasmas assombrando a terra.

Alguns adotavam a temporada de assombrações aderindo a práticas de ocultismo como adivinhação e comunicação com os mortos. Eles consultavam espíritos “divinos” (demônios) e espíritos de seus ancestrais pedindo previsões para as estações do próximo ano, o sucesso de suas plantações e até sobre o sucesso de suas vidas amorosas.

Tentar pegar com a boca, maças boiando dentro de uma tina de água, era uma pratica pagã para predizer as “bênçãos” do mundo espiritual sobre a relação romântica de um casal.

Para outros o foco na morte, ocultismo, adivinhações e a ideia de espíritos retornando para assombrar os vivos, eram combustíveis para superstições e medos. Eles acreditavam que os espíritos estavam presos à terra até que fossem despachados com os devidos deleites – posses, dinheiro, comida e bebida. Espíritos que não haviam sido devidamente saciados iriam enganar (“trick”[1]) aqueles que os haviam negligenciado. O medo de assombrações só aumentava se aquele espírito tivesse sido ofendido durante sua vida “encarnada”.

Acreditava-se que os espíritos “trick-bent” assumissem formas grotescas. Iniciou-se a tradição de acreditar que usar uma fantasia para se parecer com um espírito enganaria a “alma penada”. Outros acreditavam que os espíritos poderiam ser espantados se você esculpisse uma face grotesca em uma abóbora ou outro tipo de raiz (os escoceses usavam nabos, por exemplo) e colocasse uma vela dentro – criando a abóbora de Halloween (em inglês jack-o-lantern).

Nesse mundo sombrio, supersticioso e pagão, Deus fez por sua misericórdia brilhar a luz do evangelho. Novos convertidos ao cristianismo se armaram com a verdade e deixaram de temer assombrações de espíritos que retornariam à terra. Na verdade, eles condenaram suas antigas práticas de espiritismo pagão de acordo com Deuteronômio 18:

Não permitam que se ache alguém entre vocês que… pratique adivinhação, ou dedique-se à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium ou espírita ou que consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas.” (vv. 10-12).

Não obstante, esses novos convertidos tiveram dificuldade para resistir a influência cultural e familiar; eles eram tentados a retomar os festivais pagãos, especialmente o “Samhain”. O Papa Gregório IV reagiu ao desafio do paganismo e alterou a data do Dia de todos os Santos no século nono – A data foi movida para 1º de novembro, bem no meio do Samhain.

Ao passar dos séculos, o Samhain e o Dias de todos os Santos se misturaram. Por um lado, as superstições pagãs deram espaço para superstições “cristianizadas” que promoveram ainda mais medo. As pessoas passaram a acreditar que os espíritos ancestrais dos povos pagãos eram demônios e que os adivinhos eram praticantes de bruxaria e necromancia. Por outro lado, os festivais promoviam uma grande oportunidade para folia. O “doçura ou travessura” se tornou uma oportunidade para grupos de jovens arruaceiros perambularem de casa em casa arrecadando comida e bebida para suas festas. Proprietários avarentos corriam o risco de jovens embriagados praticarem “travessuras” ou “trotes” em suas casas.

O Halloween não se tornou uma celebração americana até a imigração das classes operarias britânicas no final do século XIX. Enquanto os primeiros imigrantes podem ter acreditado em tradições supersticiosas, foi aspecto malicioso desse feriado que atraiu os jovens americanos. Gerações mais novas emprestaram ou adaptaram muitos costumes sem a referência de suas origens pagãs.

Os filmes de Hollywood também incrementaram a “diversão” com muitos personagens fictícios – demônios, monstros, vampiros, lobisomens, múmias e psicopatas. Com certeza isso não tem contribuído com a mentalidade americana, mas com certeza alguém está fazendo muito dinheiro.

A resposta Cristã ao Halloween

Atualmente o Halloween é quase que exclusivamente um feriado americano secular, mas muitos que o celebram não têm ideia de suas origens religiosas ou herança no paganismo.

Isso sem dizer que o Halloween tem se tornado mais salutar. As crianças se vestem com fantasias engraçadas, vagam pela vizinhança em busca de doces e contos de histórias de terror. Por outro lado, os adultos frequentemente se envolvem em atos vergonhosos de bebedeira e devassidão.

Então como devem agir os cristãos?

Primeiramente, os cristãos não devem reagir ao Halloweeen como os pagãos supersticiosos. Pagãos são supersticiosos, cristãos são iluminados pela verdade da Palavra de Deus. Os espíritos e potestades não estão mais ativos no Halloween do que estariam em qualquer outro dia do ano; na verdade, qualquer dia é um bom dia para Satanás perambular à procura de quem devorar (1Pedro 5.8), mas aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo (1João 4.4). Deus tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz(Colossenses 2:15).

Em segundo lugar, os cristãos devem reagir ao Halloween com cautela e sabedoria. Algumas pessoas temem as atividades de satanistas ou bruxos, mas os atos criminosos relacionados a essas práticas são muito poucas. A real ameaça está mais relacionada aos problemas sociais de comportamentos pecaminosos – dirigir alcoolizado, praticar vandalismo e deixar crianças sem supervisão.

Assim como qualquer outro dia do ano, nós cristãos devemos agir como bons mordomos daquilo que temos e protetores de nossas famílias. Os jovens cristãos devem ficar longe de festas de Halloween seculares, já que elas são como terreno fértil para problemas. Pais cristãos podem proteger suas crianças mantendo-as bem supervisionadas e restringir o consumo de guloseimas para aquelas em que se possa averiguar a procedência.

Em terceiro lugar, devemos reagir com a compaixão do evangelho. O mundo incrédulo, que rejeita a Cristo, vive em constante medo da morte. Não é somente a experiência da morte, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus (Hebreus 10.27). Bruxas, fantasmas, e espíritos malignos não são assustadores; A ira de Deus sobre o pecador que não conhece seu perdão; isso sim é realmente assustador.

Os cristãos devem usar o Halloween e tudo que ele traz à imaginação – imagens de morte, superstições, folia exagerada – como uma oportunidade para confrontar o mundo com o evangelho de Jesus Cristo. Deus deu a todos uma consciência que responde as suas verdades (Romanos 2.14-16), e essa consciência é nossa aliada na evangelização. Os cristãos devem investir tempo alimentando a consciência de amigos e familiares com as verdades bíblicas sobre Deus, a palavra, o pecado, Cristo, o julgamento futuro e a esperança na vida eterna em Jesus através do arrependimento dos pecados.

Existem muitas maneiras de se evangelizar durante o Halloween. Alguns irão adotar uma postura de “não participar”. Eles não querem seus filhos participando de situações espiritualmente comprometedoras – ouvindo histórias de fantasmas e colorindo desenhos de bruxas. Eles não querem que seus filhos vistam fantasias e saiam pedindo “doçura ou travessura”, nem mesmo que participem de eventos relacionados ao Halloween.

Essa reação normalmente provoca curiosidade e é uma boa oportunidade para apresentar o evangelho aos curiosos de plantão. Também é fundamental que esses pais expliquem sua postura a seus filhos e os preparem para enfrentar as provocações e piadas de seus colegas que desaprovam essa escolha ou mesmo o desprezo de seus professores.

Outros cristãos vão optar por eventos alternativos como “Festival da Colheita” ou “Comemorações da Reforma Protestante” – com as crianças se vestindo de fazendeiros, personagens bíblicos ou até heróis da reforma protestante. É irônico quando pensamos no Halloween como uma alternativa, mas ele pode ser uma maneira eficiente de alcançar vizinhos e familiares com o evangelho. Algumas igrejas deixam seus templos e realizam ações de impacto em suas comunidades, “adoçando” a vida de pessoas necessitadas com comida, presentes e a mensagem do evangelho.

Essas são boas alternativas; existem outras que não são tão boas. Algumas igrejas estão usando apresentações chamadas “Hell House”, uma estratégia de evangelismo de impacto direcionada a assustar os mais jovens e convencê-los a aceitarem a Cristo. Os jovens passam por diversas salas decoradas que demonstram situações pecaminosas – Mulheres passando por abortos, pessoas sacrificadas em rituais satânicos, consequências negativas do sexo antes do casamento, o perigo de festas “rave”, possessões demoníacas e outras tragédias.

Eis aqui o problema com esse tal de evangelismo “Hell House”: Para chocar uma cultura tão imunda como a atual é necessário ser realmente muito impactante. Demonstrações gráficas ou cênicas do pecado e de suas consequências são desnecessárias – as mentes dos que não creem em Jesus muitas vezes já são dominadas por tais imagens. O que eles precisam ver é a transformação verdadeira de vidas através do poder de Deus, e o que eles precisam ouvir são as verdades de Deus através de uma apresentação fiel do evangelho. Artifícios simplistas não são adequados para o povo de Deus.

Existe ainda mais uma opção aos Cristãos: participação limitada e não comprometedora no Halloween. Não existe nada inerentemente ruim nos doces, fantasias, ou em pedir “doçuras ou travessuras” em suas vizinhança. Na verdade, tudo isso pode promover uma oportunidade única para o evangelismo com seus vizinhos. Até mesmo entregar doces para as crianças que passarem por sua casa – desde que você não seja mesquinho – pode melhorar sua reputação com as crianças. Desde que as fantasias sejam inocentes e as atitudes não desonrem Jesus, o “doçura ou travessura” pode ser usado para a evangelização.

Finalmente, a participação de cristãos no Halloween é uma questão da sua consciência perante Deus. Não importa qual seu nível de participação, você deve honrar a Deus se mantendo separado do mundo e demonstrando misericórdia aos que estão padecendo. O Halloween nos dá a oportunidade de fazer essas duas coisas através do evangelho de Jesus e de sua mensagem que é santa e distinta desse mundo.

Existe outra data do ano em que a mensagem de VIDA contida no evangelho faça tanto sentido?

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Notas:

[1] De “trick or treat,” como é falado em inglês o que é dito “doçuras ou travessuras” em português.

Nota do Tradutor: Talvez o Halloween não faça parte de sua realidade, mas com certeza o Carnaval, as festas Juninas e outros feriados e datas legitimamente brasileiros fazem. Que tal aplicar essas mesmas ideias e conceitos, aproveitando cada oportunidade para transmitir o amor de Cristo e fazer a diferença no mundo?
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Autor: Travis Allen
Fonte: Grace to You 
Tradução: Guilherme Andor

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Evento inicia comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante


No dia 23 de outubro acontecerá em Curitiba o evento que marca o início das comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante no Brasil. A iniciativa é da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) que está organizando a “Celebração dos 499 anos da reforma protestante” na Ópera de Arame, no bairro Abrantes, e a expectativa é de atrair 1,6 mil pessoas.
Em 31 de outubro de 2017 a Reforma Protestante completará 500 anos, data que relembra o dia em que Martinho Lutero fixou as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. O evento em Curitiba comemora os 499 anos e inicia, então, as comemorações para o ano que vem.
Essa celebração contará com a participação de líderes de diversas denominações protestantes, entre eles o pastor Juarez Marcondes Filho, secretário executivo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).
Os preletores confirmados são: o pastor Adelar Munieweg, conselheiro nacional da Liga de Leigos Luteranos do Brasil, o pastor Flávio Sauer, Presidente do Núcleo de Comunhão Pastoral de Curitiba e o Bispo Cirino Ferro, Presidente do Conselho de Ministros Evangélicos do Paraná.A “Celebração dos 499 anos da reforma protestante” conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba e Igreja Presbiteriana do Brasil.
Segundo informações da Rádio Vaticana, divulgadas ontem (25), o Papa Francisco tem a intenção de participar da cerimônia conjunta entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial. O evento recordará os 500 anos da Reforma Protestante e acontecerá em Lund, na Suécia, no dia 31 de outubro deste ano.
 
O 500º aniversário da Reforma de Lutero acontece em 2017. A celebração, que contará com a presença do líder católico e dos representantes da Federação Luterana, o bispo Munib A. Younan e o reverendo Martin Junge, será ocasião, de acordo com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que “ressaltará os sólidos progressos ecumênicos entre católicos e luteranos e os dons recíprocos surgidos do diálogo”. 
 
O evento fará parte de uma celebração comum, baseada no guia litúrgico católico-luterano “Common Prayer” (Oração Comum), recentemente publicado.
 
“A Federação Luterana Mundial está se preparando para comemorar o aniversário da Reforma com um espírito de responsabilidade ecumênica”, disse o secretário geral da entidade, reverendo Martin Junge. Para ele, o trabalho pela reconciliação entre luteranos e católicos é uma ação pela justiça, pela paz e pela reconciliação em um mundo desgarrado por conflitos e pela violência.
 
 “Com foco na centralidade da questão de Deus e uma perspectiva cristã, luteranos e católicos podem celebrar uma comemoração ecumênica da reforma, e não meramente pragmática, mas com um profundo sentimento de fé em Cristo crucificado e ressuscitado”, acrescentou o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch.
 
Em 2017 também será lembrando o aniversário de 50 anos do diálogo internacional luterano-católico. Para a Santa Sé, tal movimento tem dado “importantes resultados ecumênicos”. O mais significativo para a Igreja é a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação (DCDJ), firmada pela Federação Luterana Mundial e pela Igreja Católica, em 1999. O ato foi acolhido pelo Conselho Metodista Mundial, em 2006. A Declaração anulou as disputas centenárias entre católicos e luteranos sobre as verdades fundamentais da Doutrina da Justificação, que estava o centro da Reforma no século XVI.
http://www.pointrhema.com.br/

domingo, 16 de outubro de 2016

Horário de Verão e o Reino dos Céus


O Horário de Verão foi instituído pela primeira vez no Brasil no verão de 1931/1932. Desde 1985 esse horário especial ocorre todos os anos. O principal objetivo da implantação do Horário de Verão é o melhor aproveitamento da luz natural ao entardecer, o que proporciona substancial redução na geração da energia elétrica que se destina à iluminação artificial. 

Durante quase o ano inteiro a diferença de horário entre os Estados Unidos e o Brasil é de apenas uma hora. Mas quando chega o horário de verão... a diferença passa a ser de três horas. E isso porque, enquanto os relógios no Brasil avançam uma hora, os daqui recuam uma hora. Por conta disso, temos que acordar muito mais cedo para participar do culto de Santa Ceia. Lá são 8h. da manhã, e aqui são 5h. Lá está claro, e aqui ainda escuro.

Não haveria também uma espécie de fuso horário distinto entre o Reino de Deus e o resto do mundo?

Ora, sabemos pelas Escrituras, que quando abraçamos a fé em Jesus, fomos “arrebatados do império das trevas, e transportados para o Reino” (Cl.1:13). Portanto, fomos introduzidos em uma nova realidade, em um novo território (ainda que espiritual!). Nada mais coerente do que supor que essa nova realidade tenha seu próprio fuso horário.

Dada a rotação da Terra, o Sol aparece primeiro no Oriente. Por isso, a Austrália comemora a chegada do Ano Novo algumas horas antes de nós.

Como Igreja de Cristo, somos a Nação Santa, a Nova Jerusalém, lugar onde se vê primeiro o raiar do Novo Dia. É para nós, que tememos o nome do Senhor, que nasce “o sol da justiça, trazendo salvação debaixo das suas asas” (Ml.4:2).

Ainda que o Mundo esteja mergulhado nas densas trevas de uma noite que pareça eterna, para nós o dia já raiou:

“Levanta-te, resplandece, pois já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti. As trevas cobrem a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor vem surgindo, e a sua glória se vê sobre ti. As nações caminharão à tua luz, e os reis ao resplendor que te nasceu” (Is.60:1-3).

E mais: somos informados que este Sol que acaba de nascer, jamais se porá. Portanto, o novo dia que raiou vai durar para sempre.

“Nunca mais se porá o teu sol (...) O Senhor será a tua luz perpétua” (Is.60:20).

Porém a Terra não pára de girar. O novo dia que surgiu para nós, há de raiar para todas as nações do Globo.

Para nós, que vivemos no fuso horário do Reino de Deus, Paulo escreve:
“A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz” (Rm.13:12).

É hora de aposentarmos nossos pijamas, e despertarmos para vivermos o novo dia, o hoje eterno.

E esse novo dia começou quando Cristo rendeu Seu espírito na Cruz, dizendo: Está consumado. O velho aión (era) teve seu fatídico fim.

As trevas encontraram o seu apogeu. No relógio profético, a Cruz se deu à meia-noite. Por isso Jesus afirmou ao ser preso: “Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc.22:53).

A partir da Cruz, começa o novo dia, o Dia do Senhor.
Portanto, a tendência é que as coisas clareiem, em vez de escurecerem. Em outras palavras, o mundo caminha para a restauração, e não para a destruição, como insistem alguns.

Quando começa um novo dia? Não é no primeiro segundo após a meia -noite? Entretanto, a noite continua tão escura quanto antes. Porém, a partir daí, gradativamente, as trevas vão cedendo à luz. Ainda que os olhos não percebam, dado o caráter paulatino com que o dia vai clareando. As horas que se seguem testemunham o embate entre as trevas e a luz. Invariavelmente, as trevas são vencidas.

“A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela” (Jo.1:5).

Horas depois, surge no horizonte a estrela da manhã, anunciando que a qualquer momento, os primeiros raios solares serão vistos.

Não é debalde que Jesus Se apresenta nas páginas de Apocalipse como a Estrela da Manhã (Ap.22:16).

Sempre que o Evangelho chega a novos rincões, Jesus Se apresenta ali como a estrela matutina.

A Igreja dos dias de João presenciou a alvorada do novo dia. Por isso João, o mesmo autor de Apocalipse, escreveu em sua epístola:

“...as trevas vão passando, e já brilha a verdadeira luz” (1 Jo.2:8b).

Em breve, a luz do Evangelho terá alcançado todos os povos, e o novo dia alcançará o seu apogeu. Todas as nações se renderão à Cristo, Luz do Novo Dia. “Todos os confins da terra se lembrarão, e se converterão ao Senhor; todas as famílias das nações adorarão perante ele” (Sl.22:27).

Ser reinista é crer piamente que a História terá um desfecho glorioso, e que a Igreja de Cristo cumprirá a sua missão de discipular as nações.

Cumprir-se-á o que diz o sábio Salomão:
"A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Pv.4:18).

Em outras palavras, o bem triunfará. As trevas serão totalmente dissipadas. A verdade e o amor prevalecerão. E aí... será dia perfeito!

Apesar de já vivermos a alvorada deste novo dia, há muitos que ainda dormem, sob o efeito de um Jet lag espiritual.

Para estes, vale a advertência apostólica, que diz: "Todos vós sois filhos da luz, e filhos do dia. Nós não somos da noite, nem das trevas. Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios. Pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios..." (1 Ts.5:5-8a).

Lembre-se: Fomos arrebatados das trevas para luz. Pertencemos a uma outra ordem. Não podemos cede a este Jet lag, vivendo como se ainda estivéssemos no mundo. Estamos assentados nas regiões celestiais em Cristo Jesus, e portanto, reinando com Ele. E para aqueles que insistem em dormir, Paulo vocifera:

"Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Ef.5:14). 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A Primeira Pedra

     
   No Evangelho escrito pelo Apóstolo João, em seu capítulo 8º, há a narração de um fato ocorrido envolvendo a pessoa de Jesus Cristo, que é do conhecimento da maioria absoluta das pessoas que frequentam a Igreja. Uma mulher foi flagrada no ato do adultério. E levaram esta mulher até Jesus, ansiosos para ter o consentimento do Mestre para poderem apedrejá-la até a morte.
        Era de manhã cedo, e uma pequena multidão estava na praia ouvindo os ensinamentos de Jesus Cristo. De repente chegou uma outra multidão, trazendo uma mulher assustada. Aterrorizada seria o termo mais correto. Acredito que a multidão, sedenta de sangue, já havia torturado, espancado, seviciado, rasgado as suas vestes daquela mulher. Ela foi jogada aos pés de Jesus. As pessoas que já estavam com Jesus se uniram aos que trouxeram a mulher, ansiosos para também descarregar a sua ira, a sua frustração, a sua animalidade, a sua irracionalidade, a sua impiedade, a sua bestialidade sobre aquela mulher.
         Os seres humanos são maus, são péssimos, são horríveis. Amar é assumir o risco de sofrer uma decepção, porque somos, todos nós, perversos, e temos prazer na aflição alheia.
         Há dois elementos que podem ser observados nesta situação: de um lado a multidão que queria se divertir às custas da vida daquela mulher; e de outro, os escribas e fariseus, que queriam colocar Jesus num beco sem saída. Se Jesus tivesse concordado com a execução da mulher, então, o seu ministério de amor seria uma farsa. Por outro lado, se Jesus determinasse o perdão da mulher, estaria indo contra a Lei de Moisés. O que não poderia ocorrer, uma vez que Ele próprio já afirmara que não viera a revogar a Lei de Moisés, mas sim a cumpri-la.
         Uma turba exaltada se formou, contando, inclusive, com as pessoas que estavam a ouvir os ensinamentos de Jesus antes da chegada dos escribas e dos fariseus. Todos já estavam excitados com a possibilidade de poderem atirar "uma pedrinha" na mulher.
Nós seres humanos somos naturalmente propensos a extravasar a nossa frustração, e nossa infelicidade sobre pessoas que nada tem a ver com o nosso sofrimento. Freqüentemente a nossa decepção se torna frustração, e posteriormente em raiva. Então passamos a ansiar por matar, esquartejar, queimar em praça pública mesmo aqueles que são inocentes de nosso sofrimento (os filhos que o digam...).
         Jesus esperou mais alguns minutos, até que a multidão armada com as pedras, exigiu de Jesus uma posição, um pronunciamento, uma decisão, uma sentença. Imagino que quando Jesus se colocou em pé, a multidão, apreensiva, fez um silêncio de morte (morte da mulher). Jesus se levantou e disse uma coisa que ninguém esperava. Ele não disse "sim", não disse "não". Mas a sua resposta não poderia ter sido mais dura, mais eficaz, mais cortante e penetrante: "aquele que não tem pecados, seja o primeiro a atirar a pedra". Em outras palavras, somente quem fosse santo, quem não tivesse pecados, quem fosse puro de mãos e limpo de coração, que não entregasse a sua alma à vaidade e nem jurasse enganosamente (Salmos 24), poderia ser o primeiro a atirar a pedra.
         E a Bíblia diz que aos poucos a multidão se dispersou. Todos foram para as suas casas, acusados pela própria consciência, deixando a mulher e Jesus sozinhos. Quando a mulher ficou a sós com Jesus, ela poderia ter fugido. Mas não o fez. Por que aquela mulher não fugiu?
         Nós seres humanos, temos uma reação instintiva de fugir sempre. Nós fugimos daquilo que pode nos causar dor e sofrimento. É uma reação natural. Você já pensou em fugir de alguém alguma vez em sua vida? Ir para bem longe onde ninguém te ache, ninguém te conheça, ninguém te acuse, ninguém saiba do teu passado?
         Por que fugir? Para ter um alívio momentâneo e imediato. Mas não é possível fugir sempre. Aliás, existem duas pessoas de quem você não poderá fugir para sempre, e nem há local do mundo onde possa se esconder delas: Deus e você mesmo. É por isso que aquela mulher não fugiu. Mais cedo ou mais tarde você vai ter que enfrentar o seu Deus. Não vai poder fugir dele para sempre. E quanto mais tempo demorar, mais dor e sofrimento vai colher...
         Eu gostaria de chamar a tua atenção para dois fatos nesta passagem. A primeira é que Jesus não disse: "quem não é adúltero atire a primeira pedra", dando a entender que os que não eram adúlteros poderiam condenar aquela mulher. A exigência, o requisito, a habilitação exigida por Jesus para que alguém pudesse condenar aquela mulher era uma condição intransponível: não ter pecados, não ter nenhum pecado. E diante desta condição, somos forçados a concluir que o único que poderia atirar as tais pedras era o próprio Jesus Cristo...
         Não obstante, nós, da igreja moderna, pensamos que podemos atirar pedras sobre aqueles que cometem os pecados que nós não cometemos. Isto é, pensamos que podemos condenar os adúlteros porque não cometemos adultério; os ladrões porque não roubamos; os estupradores porque não cometemos estupro; os assassinos porque não matamos ninguém; os seqüestradores porque não seqüestramos ninguém; e assim sucessivamente. Em outras palavras, acreditamos que podemos condenar as pessoas que cometem os pecados que nós não cometemos. Olhamos para os pecados dos outros e nos julgamos melhores do que os outros. Em alguns casos chegamos a nos julgar santos e imaculados.
         Quando nós nos arrogamos ao direito de condenar uma pessoa, quem quer que seja, e qualquer que seja o motivo, estamos simplesmente nos declarando santos, puros e imaculados. E merecedores de uma posição de destaque no Reino de Deus: juízes. São os juízes que tem o poder e a capacidade de julgar e condenar. Quando nós condenamos alguém, nós nos declaramos melhores do que as pessoas que condenamos. Talvez até com uma certa dose de razão, mas sem nenhum fundamento bíblico...
         A justiça de Deus não é a mesma justiça que os seres humanos utilizam.
         Essa colocação que fez Jesus Cristo nos coloca (a todos nós), num mesmo pé de igualdade. Mas nós, arrogantes, prepotentes, orgulhosos, ufanistas, hipócritas, acreditamos que nos é possível estarmos em situações diferentes porque não cometemos os mesmos pecados que cometem aqueles a quem condenamos.
         O segundo fato para o qual gostaria de chamar a tua atenção é que a própria mulher adúltera não tinha o direito de se condenar. De atirar pedras sobre a própria cabeça. Não poderia ser a sua própria acusadora, juíza e carrasca.
        Nós, membros de alguma das igrejas de Jesus Cristo, não temos o direito de nos condenarmos ao inferno, ao fogo eterno. Não importa o tamanho ou a gravidade de nosso pecado. Se deliberadamente nos afastamos da Igreja, estamos a nos condenar à separação eterna de nosso Deus. Muito embora todos os dias milhares de pessoas cometam este tipo de "suicídio espiritual", dizendo-se indignos da graça, do perdão e da misericórdia de nosso Deus.
         Se nosso Deus nos tratasse do modo como merecemos ser tratados, onde estaríamos nós? Algum de nós, com toda sinceridade, pode olhar para os céus, e reivindicar, requerer, exigir alguma coisa de Deus fundado em sua própria santidade e pureza? De se lembrar que pecado não é somente matar, roubar e estuprar, como muitos pensam. Mas pecado é tudo aquilo que fere, ofende, magoa e entristece o coração de Deus e o Espírito de Deus. O fato de sermos pecadores nos retira, e nos atira para longe da presença de Deus. Então nos vemos em uma situação de desespero: o pecado nos retira da presença de Deus, de modo que não podemos exigir nada de Deus. Por outro lado não podemos (nós mesmos) atirarmo-nos ao inferno por termos pecado (não importa qual tenha sido o pecado).
         Olhe para a tua vida, para a tua conduta, para os teus sentimentos, para os teus desejos mais secretos, para os sonhos sórdidos e imorais, para a raiva e o rancor que possivelmente você tenha guardado. Você pode dizer que não tem pecados para poder condenar quem tem pecados? Lembre-se de que o fato de não ter cometido o mesmo pecado de quem você quer condenar, não te autoriza a fazê-lo... Ainda mais ainda se o pecador for... você mesmo!
         Ninguém de nós merece alguma coisa de Deus, senão a sua ira e sua condenação. A salvação não é por merecimento. Não importa o que façamos ou deixamos de fazer. O que importa é se nós cremos ou não na misericórdia, no perdão, na regeneração e no amor de nosso Deus.
         Crês isto? Então vai-te, e te seja feito assim como creste Jo.11:26, Mat.8:13  Takayoshi Katagiri

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Igreja: Jardim de Deus

A Igreja de Deus é um jardim, assim chamada no livro de Cantares de Salomão; portanto, sei que não estamos errados em usar esta ilustração.

Mas o que representa um jardim?

Em primeiro lugar, ele implica separação.
Um jardim não é uma terra não cultivada, um matagal, uma terra pública, nem tão pouco um deserto. Ele é cercado ao redor; está encerrado ali. Ah, cristãos! quando vocês se unem a Igreja, lembrem-se, também, que se tornam, por profissão, guardados nela, para o Rei Jesus. Eu desejo, sinceramente, ver a parede de separação entre a Igreja e o mundo tornar-se mais ampla e forte. Creiam-me, nada me entristece mais do que quando ouço membros da Igreja dizendo: "Bem, não há nenhum mal nisto; não há mal naquilo", e vão se aproximando do mundo tanto quanto possível. Não importa o que você pense disto, mas estou certo que você está decaindo da graça até mesmo quando você levanta a questão de quão longe você pode ir na conformidade mundana. Devemos evitar a aparência do mal, e especialmente nesta época festiva do ano, este natal, quando tantos de vocês estão tendo suas festas, suas brincadeiras de crianças e todo aquele tipo de coisa.

Eu queria vocês duplamente zelosos e recordados, membros de igreja, de que vocês são cristãos sempre, se de fato o são. Não podemos conceder dispensações ao pecado, como a Igreja Católica fez nos dias de Lutero. Vocês devem estar sempre vestidos com suas fardas, como soldados de Cristo, e nunca, em tempo algum, dizer: "Bem, eu vou fazer isto só agora; é somente uma vez no ano; farei como o mundo faz; não posso ficar fora de moda" .

Você deve estar fora de moda, ou fora da Igreja verdadeira, lembre-se disto, porque o lugar da Igreja de Cristo é inteiramente fora dos costumes do mundo. Vocês são chamados para ir avante sem o regimento, suportando sua reprovação. Se você quer ficar no acampamento, você não pode ser um discípulo de Cristo, pois o amor do mundo é inimizade com Cristo. Você deve ser separado ou ser perdido. Se você quer ser comum, você não pode ser jardim; e se você está desejoso e ansioso para ser jardim, ora, então, não procure ser o comum. Mantenha as cercas levantadas; mantenha os portões bem trancados; os jardins do rei não devem ser deixados abertos para ladrões e salteadores.

Não se conforme com o mundo, mas seja transformado pela renovação da sua mente.

O jardim do Rei é um lugar separado - guarde isto.

O jardim do rei é um lugar de ordem.
Quando você vai para o seu jardim, você não encontra as flores todas espalhadas de qualquer modo, mas o jardineiro sábio as dispõe de acordo com suas matizes e colorações, de modo que no meio do verão o jardim pareça com um arco-íris que tenha sido quebrado em pedaços e deixado sobre a terra, prazeroso de se contemplar. Todos os cercados são regulares, os canteiros proporcionais, e as plantas bem arrumadas, como deveriam ser. Tal deveria ser a Igreja cristã - pastores, diáconos, presbíteros, membros, todos em seus devidos lugares. Nós não somos um monte de tijolos, mas uma casa. A Igreja não é um mero montão, mas é para ser um palácio construído para Deus, um templo onde Ele se manifesta. Vamos todos tentar manter ordem na casa de Cristo, e acima de tudo, detestar discórdia e confusão. Sejamos homens que sabem como manter a dignidade, mantendo uma ordem apropriada e regularidade em todas as coisas. Nós buscamos não uma ordem que consista em todas as pessoas dormindo em seus lugares, como corpos em catacumbas, mas desejamos a ordem que encontre todos trabalhando em seus lugares para a causa comum do Senhor Jesus.

Que nós nunca sejamos uma Igreja desordenada, desunida, irregular. 

Que possa haver ordem no jardim, preservada pelo poder do amor e graça.

O jardim é um lugar de beleza. 

Tal deveria a Igreja de Cristo ser. Você colhe as mais belas flores de todas as terras, e coloca-as no seu jardim, e se não há beleza nas ruas, você espera que haja nos canteiros do floricultor. Então, se não existe santidade, amor, zelo, nem devoção fora, no mundo, que possamos ver estas coisas na Igreja. Não devemos tomar o mundo como nosso guia, mas devemos excedê-lo. Devemos fazer mais do que outros. O Senhor Jesus Cristo disse a seus discípulos que a justiça deles deveria exceder, em muito, a dos escribas e fariseus, ou eles não poderiam entrar no reino; e o genuíno cristão deve buscar ser mais excelente em sua vida do que o melhor dos moralistas, porque o jardim de Cristo deve ter as mais belas flores de todo mundo. Mesmo o melhor é pouco comparado com os méritos de Cristo; não O coloquemos com plantas murchas e secas.

Os lírios e rosas mais raros, valioso e finos devem florir no lugar que Jesus chama de seu.

O jardim do rei é um lugar de crescimento, também. 

Não acho que o floricultor pudesse pensar que o solo no qual suas plantas não crescem, é próprio para ser um jardim. Seria um desperdício total para ele, se as mudas continuassem mudas e os botões nunca se tornassem flores. Assim na Igreja de Deus. Não somos introduzidos na comunhão para sermos sempre os mesmos, sempre crianças e bebês na graça. Devemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Reuniões de oração deveriam ser escolas de educação prática para nossos amados jovens membros; um lugar onde os pequenos pássaros tentem alçar vôo. Se eles tentarem orar, talvez no princípio possam quase falhar, mas se não derem espaço para uma timidez tola, eles logo a superarão e se acharão úteis, não só nas orações públicas, mas em milhares de deveres úteis, também.

O crescimento deve ser rápido onde Jesus é o lavrador e o Espírito Santo o orvalho do alto. 

Mais uma vez, um jardim é um lugar de retiro. 
Quando um homem está em seu jardim, ele não espera ver todos seus clientes andando entre os canteiros para fazer negócios com ele. "Não", ele diz, "estou andando no meu jardim e espero estar só". Assim o Senhor Jesus Cristo nos reservou a Igreja para ser um lugar onde Ele pode manifestar-se a nós, do modo como Ele não o faz ao mundo. Ó, eu desejo que os cristãos sejam mais quedados, e mantivessem seus corações mais calados para ouvir a Cristo! Receio que freqüentemente nos preocupamos e agitamos, como Marta, com muito serviço, de tal modo que não temos um tempo para Cristo como o que Maria teve, e não nos sentamos aos Seus pés como deveríamos fazer.


O Senhor nos conceda graça para manter nossos corações como jardins isolados para que Cristo ande neles.

Esta, então, é uma pobre descrição do que a Igreja é; e a partir de agora, muito resumidamente, trataremos de quem ela é.

A Igreja é um jardim, mas é o jardim do Rei.
A Igreja não é minha, nem de vocês, mas do Rei. É o jardim do Rei, porque Ele a escolheu para Si.

"Somos um jardim, ao redor protegido,

propriedade particular, escolhido;
Um pequeno lugar pela graça cercado,
Fora do mundo, este deserto descerrado."

Somos do Rei, porque Ele nos comprou.

Nabote disse que não entregaria sua vinha porque a tinha herdado. Assim também, Cristo nos recebeu por herança através de um título irrevogável. Somos Sua herança, e Ele tão ternamente nos comprou com Seu próprio sangue, que nunca nos entregaria, abençoado seja Seu nome! Somos dEle, porque nos conquistou. Ele nos ganhou numa justa batalha e agora nós reconhecemos a validade da Sua escritura, e confessamos, cada um de nós, como membros da Igreja, que somos dEle e que Ele é nosso.

Que nobreza isto confere à Igreja de Cristo!

Algumas vezes escuto pessoas falando afrontosamente das reuniões de igreja; podem estar presentes poucas pessoas, algumas delas podem ser jovens membros, outras muito idosas, ainda assim, eu me ofendo quando ouço pessoas menosprezarem tal encontro, pois Cristo não o desprezaria. Sempre que a Igreja se reúne, tanto como um todo, ou representativamente, há uma dignidade solene sobre aquela assembléia que não é encontrada num parlamento de reis e príncipes. Se Napoleão pudesse formar um senado com todos os potentados deste mundo, em Paris, e tivesse um congresso lá, todos eles juntos não se comparariam com uma meia dúzia de mulheres idosas piedosas que estivessem juntas, como Igreja, no nome de Cristo, em obediência ao mandamento do Senhor; pois Deus não estaria com os potentados, mas estaria com o mais humilde e desprezado do seu povo que reúne-se como Igreja no nome de Jesus. "Eu estou com vocês até o fim do mundo" é mais glorioso do que arminho, ou púrpura, ou coroa.

Fazer parte da Igreja no nome de Cristo, e reunir-se como tal, suplanta qualquer assembléia sobre a face da terra, e até mesmo a assembléia celeste dos nascidos primeiros, é somente uma parte do grande todo no qual as assembléias da Igreja na Terra, são parte essencial.

A Igreja é o jardim do Rei. 

Agora pergunto: 
"Mas se a Igreja é um jardim, de que ela precisa?"

Uma coisa que certamente requer, é trabalho. 

Você não pode manter um jardim em ordem sem trabalho. Precisamos de mais trabalhadores nesta Igreja, especialmente de uma espécie. Precisamos de alguns para ser agricultores.

Eu recebi uma carta semana passada, de uma moça; eu não a conheço, mas ela disse que tem vindo aqui por dois anos; que anseia por sua alma, e freqüentemente tem desejado que alguém falasse com ela, mas ninguém o faz. Se eu soubesse onde ela senta, eu diria para os amigos que sentam lá, que me envergonho deles! Não sei como vocês deixam uma pessoa vir a este Tabernáculo por dois anos sem nunca falar com ela! Alguém tem sido negligente, muito negligente. Não digo que vocês devam falar sobre as melhores coisas na primeira vez que os virem, apesar de tentarem fazer isto a qualquer custo; mas como estar em silêncio por dois anos? Vocês vêm duas vezes no domingo, e aquela jovem também; bem, houve duzentas oportunidades que você perdeu; duzentas vezes que vocês deixaram aquela pobre alma ir embora, queimando, sem falar com ela!

Eu quero trabalhadores, reais e esforçados ganhadores de alma. 
Eu quero agricultores que coloquem a muda onde ela crescerá. 
Eu quero ajudantes que apanhem o cordeirinho, assim que nasçam, e o carreguem em seu peito por algum tempo;

enfermeiros espirituais que dêem conforto aos de coração quebrantado e que coloquem o óleo da consolação nas feridas dos pobres pecadores vacilantes.Em cada igreja deve haver quem olhe por aqueles que foram plantados. Quando recebemos membros, devemos olhar por eles, e como uma só pessoa não pode fazê-lo totalmente, e mesmo os presbíteros e diáconos dificilmente serão em número suficiente para tão grande trabalho, deveria ser o propósito e dever de todo cristão experiente na igreja cuidar, atenciosamente, dos inexperientes.

Creio que muitos de vocês fazem isto, e sou muito agradecido aos amigos zelosos que não tem ofício na igreja, mas que fazem um grande trabalho na visitação dos enfermos e no cuidado com os neófitos. Só o que eu quero é que todos vocês façam o mesmo. Ó! se todos nós estivéssemos devidamente preocupados em manter este jardim em ordem, quão bem tratado toda a bordadura seria, e quão poucas ervas-daninhas encontraríamos brotando nos canteiros! Posso perguntar-lhes, membros de igreja, se vocês estão fazendo seus deveres pelo jardim de Deus? Vocês são seus escolhidos e Ele trabalhou por vocês de forma que não precisam fazer nada para obter a salvação; mesmo assim, você não deve ser inativo, pois o seu Senhor disse para você: "Vá, trabalhe hoje na minha vinha". Você está fazendo isto? Agradeço-lhe se estiver. Se não, acusem-se.

Deveria existir uma pequena laçada em cada igreja, para recolher os espalhados. Nossas videiras crescerão desordenadamente se lhes for permitido, mas devemos lidar sabiamente com elas, e fixá-las em seus lugares. Devemos estar alertas onde vemos apostasia começar. Quanto pode ser feito por cristãos maduros, na tentativa de deter a apostasia entre os mais novos! Creio que metade dos casos de declínio, podiam ter sido detidos através de uma pequena providência judiciosa, se os crentes a tivessem tomado em tempo.Eu digo outra vez, o que nós, que somos os oficiais desta igreja, podemos fazer com tantos? Ora, nós somos mais do que três mil e quinhentos membros; mas, se vocês zelarem uns pelos outros, e procurarem, sempre que verem um pequeno declínio, uma pequena frieza, trazer de volta o seu irmão, o jardim do Rei será bem cuidado.

O jardim do Rei necessita de trabalhadores; que todos vocês trabalhem e esta necessidade será satisfeita. Algumas vezes, irmãos, precisamos queimar o entulho e varrer as folhas. Na melhor da igrejas sempre haverá folhas caindo. Nenhum de nós é perfeito. Sempre há algumas folhas em redor e não pouco cisco para ser colocado num canto e queimado. Posso pedir a um irmão, sempre que ele vir algum erro, para varrê-lo e não comentar nada com ninguém. Sempre que vocês acharem que aquele tal irmão está se portando inconvenientemente, falem com ele sobre isto com quietude; não espalhe por toda a igreja e produza desconfiança e suspeita. Pegue a folha e a destrua. Quando um irmão o ofender, de forma que o aborreça, perdoe-o; porque, eu ouso dizer, você necessitará de perdão um pouco mais tarde. Nenhum de nós, talvez, tenha o mais doce dos temperamentos, mas, se o temos, a forma de prová-lo é perdoando aqueles que não o tem. Se todos nós buscarmos fazer a paz, nunca haverá discórdia no jardim do Rei que O possa incomodar; mas quando Ele andasse no seu jardim, o acharia bonito e em ordem, e todas as flores brotando encantadoramente, e Ele encontraria prazeres com os filhos dos homens.

Eu disse que a igreja necessita de trabalhadores, mas, queridos amigos, ela necessita de algo mais. Necessita de novas plantas. Desejo achar algumas hoje a noite. Nosso Rei encontra plantas para seu jardim fora do muro. Ele toma os galhos da oliveira selvagem e os enxerta na boa oliveira, e então, a seiva faz a mudança. Que coisa estranha! Não é assim em nossos jardins, mas maravilhas são feitas no jardim do Rei. Ele transporta ervas-daninhas do monturo e as faz crescer como lírios no meio do seu belo jardim. Vocês serão tal planta? Que o amor do Mestre possa constrangê-los a desejar ser uma delas, e, se quiserem, vocês conseguirão. Confie no Senhor Jesus Cristo e você será dEle. Descanse somente nEle, e você será uma planta que foi plantada por Sua mão direita e nunca será arrancada. Deus conceda que vocês floresçam nos céus.

Mas, queridos amigos, todos os trabalhadores e todas as plantas novas, não serão o que a igreja requer, se ela não tiver alguma coisa mais, pois todo jardim necessita de chuva e sol. Esta igreja nunca prosperaria sem o orvalho do Espírito Santo e o sol do favor divino. Temos tido esta bênção grandemente. Devemos orar para que tenhamos mais. Gostaria de saber de vocês: quanto tempo faz que não vem a uma reunião de oração? Bem, vocês não tem vindo ultimamente porque é época de natal. Muito bem, não esperava vê-los; e, se esperasse, teria sido desapontado. Mas não era época de natal até outubro, e vocês não estavam aqui também. Alguns de vocês muito raramente vem. Se vocês são legitimamente impedidos em casa, eu nunca pediria que viessem, ou os repreenderia por dedicarem-se aos seus deveres domésticos, pois vocês não tem o direito de deixar negócios legítimos, que devem ser feitos, para estar aqui. Mas, estou certo que alguns de vocês são desocupados, e poderiam vir se quisessem. Eu oro ao Senhor para mandar-lhes um chicote na forma de peso em suas consciências, até que venham, pois quando nosso número declina, nos enfraquecemos em nossas orações; e sempre que desprezamos os cultos da noite, no meio da semana, estejam certos de que o poder da piedade se vai, pois os cultos do meio da semana distinguem, bem, um homem. Qualquer hipócrita virá no domingo, mas um homem precisa ter algum interesse no culto religioso para ser encontrado no meio do povo de Deus em oração.

Devo crer que alguns de vocês não se interessam se almas são ou não salvas? 
Devo crer que alguns de vocês não se interessam se seu pastor é ou não abençoado? 
Devo crer que vocês continuam membros de uma igreja na qual não tem interesse? 
Devo crer que não significa nada para vocês se Cristo é desprezado ou exaltado? 

Eu não acreditarei nisto, e contudo suas ausências das reuniões de oração tendam a me fazer temer que seja assim. Eu imploro a vocês: corrijam-se nesta questão, e assim como o jardim do Rei precisa de chuva e sol, e não podemos esperar ter isto sem oração, não nos esqueçamos de nos congregarmos, como é costume de alguns.

Ó, mais orações e mais pessoas que orem! e por aqueles que oram, orar com mais fervor e mais constância na súplica! Um favor eu pediria. Se vocês não vem às reuniões de oração, e muitos, eu sei, não podem, e eu não estou falando com vocês, nem os culpando, orem em família, orem em secreto por nós. Não nos deixe ser escasso em oração. É muito ruim vir a ser pobre financeiramente, porque nós necessitamos disto para mil causas e não podemos continuar sem ele. Mas podemos fazer melhor sem dinheiro do que sem oração. Devemos ter suas orações. Eu quase digo que se não nos derem suas orações diárias, desistam de sua comunhão, pois não é proveitosa para vocês e não pode ser útil para nós.

O mínimo que um membro de igreja pode fazer é suplicar a Deus que derrame suas bênçãos.

É o jardim do Rei, e vocês não orarão por ele? 
É o jardim onde Ele sente prazer em estar, e o qual Ele adquiriu com Seu sangue; suas orações 
não subirão em favor do florescimento desta igreja e para que Seu reino venha?

Por último, o que este jardim produz?
Algumas vezes em nosso jardim temos uma árvore que está tão carregada de frutos que temos que colocar escoras em seus galhos; existem um ou dois deste tipo nesta igreja, que carregam muito fruto para Deus e são tão fracos, fisicamente, que sua própria frutificação no zelo e dedicação parece que os quebrarão.

Eu oro a Deus que com Sua promessa graciosa possa sustentá-los. Temo, porém, que este não seja o retrato da maioria de nós.

As vezes você diz ao jardineiro: "Aquela árvore dará frutos nesta estação? Já era hora deles aparecerem". Ele olha, olha e olha de novo, e por fim o bom homem diz: "Acho que estou vendo um pequenino lá no topo, senhor, mas não sei se dará muito". Esta, receio, é a fotografia de muitos professos. Há fruto, ou então eles não seriam salvos, mas é "um pequenino".


Que sua oração seja, não somente por fruto, mas por muito fruto e que Deus possa enviá-los. Lembre-se, se existir algum fruto, ele pertencerá ao Rei. Se uma alma é salva, Ele deve ter a glória por isso.

Se algum avanço é feito na grande causa da verdade e da justiça, a coroa deve ser posta na cabeça dEle. Os guardiões da vinha podem receber suas centenas, mas o Rei mesmo deve receber seus milhares vezes dezenas de milhares, pois Ele merece tudo.

- por Charles Haddon Spurgeon (1834-1892)

Fonte: Jardim Clonal