quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A Escola do Cemitério

No dia 2 de novembro se celebra o dia de Finados. Qual a origem do dia de Finados?

Cemitério é simplesmente o lugar do repouso dos mortos. A palavra cemitério vem do latim caemeterium, que literalmente significa dormitório, como a palavra grega donde se origina. Dormitório! Lugar de descanso. Os corpos dos fiéis cristãos dormem, à espera da ressurreição.

Na linguagem cristã, o cemitério chama-se também campo santo. E há lugares onde o denominam também campo de Deus. Os povos pagãos tinham do cemitério uma ideia ou supersticiosa ou muito grosseira e materialista. Os romanos o denominavam putreolli – lugar onde se apodrece. Os pagãos modernos têm horror ao cemitério e pensam o mesmo em aboli-lo, substituindo-o pelos macabros fornos crematórios. Entretanto, é um lugar sagrado, uma lição perene para os vivos, é a recordação de nosso nada, de nossa miséria, mas também de nossa imortalidade e da ressurreição da carne. É um lugar sagrado. Tem este caráter sagrado, por mais que o laicismo tende reduzi-lo a um simples depósito de cadáveres destinados ao apodrecimento. Nosso corpo é sagrado, é o templo do Espírito Santo. Ainda depois de separado da alma, há de merecer todo respeito, porque um dia ressuscitará.
Segundo a Bíblia o que acontece com os seres humanos na hora da morte?

No livro de Hebreus 9.27 se lê que após a morte segue-se o juízo. E Jesus contou sobre a situação dos mortos em Lc 16.19-31. Nessa parte bíblica destaca-se quatro ensinos de Jesus:

a) que há consciência após a morte;
b) existe sofrimento e existe bem-estar;
c) não existe comunicação de mortos com os vivos;
d) a situação dos mortos não permite mudança. Cada qual ficará no lugar da sua escolha em vida. Os que morrem no Senhor gozarão de felicidade eterna (Ap 14.13) e os que escolheram viver fora do propósito de Deus, que escolheram o caminho largo (Mt 7.13-14) irão para o lugar de tormento consciente de onde jamais poderão sair.

O cemitério é uma escola, não há dúvida. Fala-nos da morte. Palavra profunda e tão singela! Sim, a morte é uma grande mestra. E onde ensina melhor? Onde está sua escola? No cemitério. Quantas lições não nos dá ela! Ó, se os vivos soubessem aproveitar as lições da Doutora Morte! Vamos ao cemitério com sentimentos cristãos e muito aprendemos lá. Prega a nobreza do corpo humano, cercando-o de respeito e veneração, mesmo quando ele se transforma num montão de ruínas, numa podridão, num punhado de cinzas. Respeita estas cinzas e as quer depositadas num lugar sagrado.

Uma voz parece se ouvir no cemitério como a do Senhor a Moisés: É sagrado o lugar onde estás, esta terra que pisas.

Lá dormem os cristãos. Como é triste verem-se, ainda hoje, túmulos donde baniram a cruz, substituída por uma coluna partida ou qualquer outro símbolo de dor e desespero. Como são belas as inscrições que nos deixam! Todas falam da imortalidade e do Céu. Às vezes uma só palavra dizia tudo: Viveu! Como é doloroso ver-se desrespeitado e profano o lugar dos mortos com tantas leviandades e até com o escândalo e o pecado. No cemitério conservamo-nos respeitosos como num templo. Meditemos ali. É lugar sagrado. O cemitério fala-nos que somos todos irmãos. Todos nivelados numa tumba! A diferença dos mausoléus e das sepulturas rasas não tira ao cemitério a ideia do nivelamento, do nada que somos, e da podridão de uma sepultura. Que lição para os orgulhosos! E como devemos nos amar em CRISTO, nós que seremos nivelados após a morte até a ressurreição da carne! Debaixo de uma sepultura, todos iguais! Ali não se acaba tudo. Ali começa tudo. É a porta da eternidade, o pórtico da outra vida. Então, pensamos na imortalidade de nossa alma. Olhar para um cemitério com a indiferença deste grosseiro materialismo que hoje aí impera, é muito triste e horrível porque desespera. Cada sepultura é uma porta do céu para o verdadeiro cristão. Uma sementeira onde descansa um corpo que depois de apodrecido como a semente na terra, surgirá ressuscitado para unir-se à alma na eternidade, quando vier a ressurreição da carne. Ressuscitarei um dia! Que doce esperança do cristão!

A alma voltará um dia para animar este corpo que foi seu companheiro na Terra e que ela o fez trabalhar no serviço de DEUS. Tomará de novo sua forma mortal, mas uma forma embelezada, enobrecida, elevada até o apogeu da glória. A alma santificada elevará este corpo a um grau de glória e o fará entrar no Céu e lhe comunicará os dons da imortalidade e da glória.

Tudo isto o cristão aprende e medita num cemitério quando o visita com fé. Quanto mais os cristãos tíbios e os pagãos modernos têm horror e fogem dos cemitérios, tanto mais nós, os que cremos na imortalidade de nossa alma e esperamos a ressurreição da carne, devemos visitar e amar o campo santo.

Visitemos os cemitérios. Serão nossos mestres. Podemos visitar os cemitérios. Não basta aquela visita, muitas vezes por vaidade e ostentação, no dia de Finados, umas coroas depositadas nos túmulos, umas lágrimas que logo se enxugam e as flores que logo se murcham. As flores provam amizade, não as reprovamos. São elas uma manifestação delicada de amor. As lágrimas não as condenamos. JESUS não chorou ante o sepulcro de Lázaro? O que foi fazer Maria Madalena no túmulo de Jesus? Ficaremos, todavia só em lágrimas de sentimentalismo? Enfim, visitemos os cemitérios como cristãos, como os que acreditam na ressurreição da carne. Aconselha-se a visita aos cemitérios para meditação. É um Campo Santo e um local que deve ser respeitado como tal. As almas não estão ali, mas seus restos mortais sim, de um corpo que serviu como templo de Deus e morada do Espírito Santo. Convém recolher-se um pouco ao passar diante de um campo santo, refletir um instante! Não sejamos indiferentes e frios como os que não têm fé e não esperam a ressurreição da carne.

Em hipótese alguma estou expressando sobre celebrar ou participar de culto aos mortos, antes pelo contrário, fomos e somos chamados a anunciar aos vivos a vida que somente podemos experimentar em Cristo Jesus.  Ele ensinou que todos os mortos ressuscitarão. Só que haverá dois tipos de ressurreição: a primeira, a ressurreição da vida, que se dará por ocasião da segunda vinda de Cristo, no arrebatamento, e a ressurreição do Juízo Final.

O mais importante a aprender, seja qual for a época do ano, é que salvação, ou condenação, é matéria de fé e só se decide em vida. Quem reconhece Jesus como Salvador está salvo e não precisa mais fazer penitências para ajudar em sua salvação, porque o preço já foi pago integralmente por Jesus na cruz, mas quem não crer que Jesus é Filho de Deus já está condenado e não há nada que se possa fazer depois que a pessoa morrer. Depois da morte segue-se o juízo e aí nada mais se pode fazer pelas pessoas. Isso é fato!

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Cristão Cabeça de Abóbora

Este texto, “Cristão Cabeça de Abóbora” foi compilado para educar os cristãos sobre o verdadeiro sentido do Halloween. Para sua leitura, são bem-vindos todos aqueles que mantêm a cabeça clara e o espírito aberto. Aqueles com ‘cabeça de abóbora’ definitivamente não estão convidados. Não pretendo ser contra o Halloween, tampouco quero compartilhar o culto à morte e a exaltação de coisas monstruosas ou feias que traz consigo, pois é próprio dos cristãos celebrar o triunfo da vida e promover a beleza e o bem. Se é o dia dedicado a todos os santos, vamos celebrar a santidade e não o dia das bruxas. Melhor santos, que abóboras ocas. 

Por isso, frente às fantasias dos mortos-vivos que enchem as ruas das cidades no dia 31 de outubro, devemos transmitir outra mensagem: a vida é bela e sua meta é o Céu; são muitos os que já chegaram e todos somos chamados a compartilhar sua felicidade, pois todos podemos ser santos.

Não creio que haja algo de ruim que as crianças vistam uma fantasia, vistam-se de vaqueiro ou de Cinderela e peçam doces de casa em casa. É uma diversão saudável. O perigo está nas fantasias que glorificam deliberadamente o mal e infundem medo, ou quando as pessoas pretendem “conseguir poderes especiais” através da magia e da bruxaria, inclusive por um simples entretenimento.

No livro do Deuteronômio, o capítulo 18, fala de não tentar consultar os espíritos dos mortos, nem os que pratiquem feitiços, bruxaria ou atividades como estas. Isto seria uma violação de um mandamento, seria colocar outras coisas antes da relação com Deus. E esse seria o perigo do Halloween. Que de alguma maneira Deus se perca em tudo isto, que a conotação religiosa se perca e, finalmente, as pessoas glorifiquem o mal.

É importante recordar que o diabo e os espíritos malignos não têm nenhuma autoridade adicional no Halloween, embora pareça que sim. O diabo atua no que as pessoas fazem, ele não faz algo por si mesmo. Talvez pela forma em que celebram esse dia, na verdade esteja convidando o mal para entrar em nossas vidas. Uma das melhores coisas que os pais podem fazer é aproveitar o Halloween como um momento de aprendizagem e para explicar às crianças “por que certas práticas não conduzem a nossa fé e identidade cristã.

O Ano-Novo dos celtas, dois mil anos atrás, era em 1º de novembro. Para esse povo que habitava o que hoje chamamos de Irlanda, Reino Unido (e também França), o dia marcava o fim do verão e o começo do inverno. Em uma época em que as estações do ano determinavam os ciclos da agricultura com muito menos espaço para intervenções humanas que hoje, e que o sucesso das colheitas definia o tamanho da despensa das pessoas, a data era crucial. Nada mais justo que fosse escolhida para encerrar um ano e começar outro. Era o fim do período solar, vivo e encalorado e o início da longa, fria e morta treva. O inverno chegara.

Na véspera desse dia de mudança, a divisão do plano dos vivos e dos mortos se misturava. À noite de 31 de outubro, desprovida de cancelas fronteiriças entre os que aqui estavam e os que já se foram, eles deram um nome, samhain. No samhain, fantasmas dominavam a terra, destruíam plantações e causavam arruaças. Em contrapartida, a presença deles facilitava o trabalho dos druidas, os sacerdotes celtas, de fazer previsões. Profecias eram um abraço quente e necessário no tenebroso inverno que começava – não muito diferente do apego contemporâneo ao horóscopo todo começo de mês. Se os druidas previram, não conseguiram evitar a invasão de um povo mais poderoso e violento que os celtas, os romanos. Em 43, o império iniciou o domínio das terras que eles batizariam de Britânia. Nos quatro séculos seguintes, os costumes romanos se misturaram aos celtas. Feralia, uma festa em que Roma celebrava a partida dos mortos, realizada em fins de outubro, naturalmente se aclimatou no Norte e deu novas cores ao samhain. Outra festividade incorporada pelos nortenhos celebrava Pomona, deusa dos pomares, cujo símbolo, uma maçã, talvez explique em parte a antiga brincadeira de pegar maçãs com a boca.

As terras dos celtas seguiram como um lugar distante do centro do poder até que o próprio Império Romano se dividiu e, no Oeste, foi pulverizado. Em 13 de maio de 609, a Igreja Católica dava as cartas, e o papa de então, Bonifácio IV, oficializou um costume que os antigos cristãos no Oriente já faziam: honrar os mártires. Para deixar claro o recado, o papa pegou um antigo templo romano, o Panteão, e o dedicou àqueles que morreram por Jesus. O templo de todos os deuses romanos passou a ser o templo de todos os mártires. Mais tarde, outro papa, Gregório III, expandiu a festividade a todos os santos e mudou a data para 1º de novembro. Em 1000, a Igreja criou mais uma data nessa sequência de festas, e aí o 2 de novembro virou o dia para honrar todos os mortos. A escolha foi estratégica. A ideia é que a nova festividade substituísse o samhain nas ilhas celtas, onde a palavra de Jesus começava a se firmar. Assim, as paradas, fogueiras e fantasias de santos e demônios do samhain acabariam incorporadas por uma celebração semelhante e, mais importante, sancionada por Roma. Agora, a Igreja tinha um dia para todos os santos e outro para todas as almas, que no Brasil chamamos Dia de Finados. Ambos pegaram, mas o 2 de novembro não eliminou o 31 de outubro, apenas o fez mudar de nome e se adaptar. O Dia de Todos os Santos era chamado, em inglês, de “All-hallows”. A noite da véspera era, portanto, “All-hallows Eve”. O termo mudou com o tempo e acabou virando “Halloween”.

Na segunda metade do século 19, os Estados Unidos, que haviam sido colonizados por cristãos daquelas antigas terras celtas, receberam uma nova leva de imigrantes, especialmente da Irlanda, que sofria, na época, um bocado com uma crise de fome. Os irlandeses levaram na bagagem o ancestral costume do Halloween.

Ao longo das décadas seguintes, a festa ganhou novos contornos. O gesto de pedir comida ou dinheiro no dia de todas as almas na Inglaterra, em troca de orações para os mortos da família, deu origem ao “gostosuras ou travessuras”. Ao mesmo tempo, o senso de comunidade tirou espaço do medo real de fantasmas. Na virada para o século 20, o Halloween já tinha perdido boa parte do caráter supersticioso. As máscaras e fantasias, que serviam para enganar os espíritos, viraram apenas uma brincadeira para enganar, no máximo, um vizinho desatento. Deixar comida na porta de casa, que servia para afastar os fantasmas do lar, tornou-se uma forma de interação com a comunidade. Isso nos Estados Unidos. Outros povos comemoram as festividades à sua maneira.

No México, o dia dos mortos, tradição anterior à colonização espanhola, ganhou elementos cristãos e segue ainda hoje firme como uma das festas mais famosas do mundo. Austríacos decoram túmulos de entes queridos com lanternas. Filipinos cantam de casa em casa pelas almas do purgatório. Chineses queimam pequenos botes de papel. Brasileiros levam flores ao cemitério, aproveitam o feriadão para pegar trânsito na estrada e, mais recentemente, incorporaram o Halloween americano – algo que não é exclusivo. Até a França, tão protetora da cultura local, começou a adotar a festa da abóbora decorada nos anos 90.

Já a origem do símbolo da abóbora está ligada à lenda de Jack O’Lantern. Existe uma antiga lenda irlandesa, em que se conta de um homem chamado Jack que tinha sido tão mau em vida que supostamente não podia nem entrar no inferno por ter enganado muitas vezes o demônio. Assim, teve que permanecer na terra vagando pelos caminhos com uma lanterna, feita de um vegetal vazio com um carvão aceso. 

As pessoas supersticiosas, para afugentar Jack, colocavam uma lanterna similar na janela ou à frente de sua casa. Mais adiante, quando isto se popularizou, o vegetal para fazer a lanterna passou a ser uma cabaça com buracos em forma do rosto de uma caveira ou bruxa. 

Jack, um alcoólatra grosseiro, em um dia 31 de outubro bebeu excessivamente e o diabo veio levar sua alma. Desesperado, Jack implora por mais um copo de bebida e o diabo concede. Jack estava sem dinheiro para o último trago e pede ao Diabo que se transformasse em uma moeda. O Diabo concorda. Mal vê a moeda sobre a mesa, Jack guarda-a na carteira, que tem um fecho em forma de cruz. Desesperado, o Diabo implora para sair e Jack propõe um trato: libertá-lo em troca de ficar na Terra por mais um ano inteiro. Sem opção, o Diabo concorda. Feliz com a oportunidade, Jack resolve mudar seu modo de agir e começa a tratar bem a esposa e os filhos, vai à igreja e faz até caridade. Mas a mudança não dura muito tempo, não. No próximo ano, na noite de 31 de outubro, Jack está indo para casa quando o Diabo aparece. Jack, esperto como sempre, convence o diabo a pegar uma maçã de uma árvore. O diabo aceita e quando sobe no primeiro galho, Jack pega um canivete em seu bolso e desenha uma cruz no tronco. O diabo promete partir por mais dez anos. Sem aceitar a proposta, Jack ordena que o diabo nunca mais o aborreça. O diabo aceita e Jack o liberta da árvore. Para seu azar, um ano mais tarde, Jack morre, e em seguida tenta entrar no céu, mas sua entrada é negada. Sem alternativa, vai para o inferno. Chegando lá, encontra o diabo, o qual ainda desconfiado e se sentindo humilhado, também não permite sua entrada, e como castigo, o diabo joga uma brasa para que Jack possa iluminar seu caminho pelo limbo. Jack põe a brasa dentro de um nabo para que dure mais tempo e sai perambulando. Devido a esse acontecimento, sua alma penada passa a ser conhecida como Jack da Lanterna.

Os nabos na Irlanda eram usados como "lanternas do Jack" originalmente, mas quando os imigrantes vieram para a América, eles descobriram que as abóboras eram muito mais abundantes que nabos. Então começaram a utilizar abóboras iluminadas com uma brasa por dentro ao invés de nabos. Por isso a tradição de se fazer caricaturas em abóboras e iluminá-las por dentro com uma vela na época de Halloween.

Halloween, Dia de Todos os Santos e Dia de Finados são a evolução de eventos realizados por diversos povos, que aproveitavam a mudança de estação para lembrar a brevidade da vida e honrar os mortos. Por mais que a origem tenha se desvanecido na história, nós não somos tão diferentes quanto os celtas que faziam festa quando o calor dava lugar ao frio. Até começo de horário de verão é uma boa desculpa do calendário para beber.

O saci-pererê retratado por Monteiro Lobato em 1917 era chifrudo e tinha dentes pontudos para sugar o sangue de cavalos. Lendas mais antigas do curupira falam que ele não tinha ânus. A mula-sem-cabeça original tinha cascos afiados. Os três assassinavam quem cruzasse seu caminho. A cuca era uma velha horripilante que capturava crianças, nada daquela bruxa-jacaré trapalhona do Sítio do Pica-pau Amarelo. O negrinho do pastoreio era um pobre escravo, amarrado ensanguentado em um formigueiro. Um folclore rico, sanguinário e mais carismático do que imaginamos. O Dia do Saci nasceu na década passada como uma resposta à crescente popularização do Halloween no Brasil. Mas o Halloween, diferentemente do que muito se propaga, não é uma festa unicamente americana e pagã. É uma mistureba com elementos dos antigos celtas, de romanos, de irlandeses e ingleses da Idade Média e dos primeiros séculos de tradição cristã.

Se o Halloween é o resultado de 2 mil anos de adaptações e evoluções, está mais que na hora de o saci maluco invadir a festa do vampiro importado. O Halloween marcava a mudança de estações. 

E nisso um Halloween brasileiro levaria vantagem. Não é o inverno gélido e decrépito que bate à porta. É o verão.

O Halloween é, sem dúvidas, uma cerimônia de menor relevância na cultura brasileira. No entanto, a pergunta de muitos permanece: um cristão deveria participar de uma festa de Halloween? Creio que alguns princípios podem nos orientar a fim de respondermos essa pergunta:

Em primeiro lugar, antes de participarmos de qualquer celebração cultural, é imperativo que investiguemos suas origens e desenvolvimento histórico. Conhecer a história do Halloween, Natal, Festas Juninas, entre outras, nos ajudará a formar uma opinião mais sólida e sem preconceitos sobre tais temas;

Em segundo lugar, não podemos negar que a antiga festa cristã que celebrava a vida dos mártires, “All Hallows Eve”, nada tem a ver com o atual Halloween, caricaturado por bruxas, caveiras e feiticeiros. Mesmo assim, seria ir longe demais considerar pecado colocar uma fantasia, acender abóboras ou pedir doces de casa em casa — com exceção das travessuras. Errado seria fazer isso sem conhecer o que há por trás destas coisas ou mesmo participar de algum tipo de cerimônia ocultista.

Em terceiro lugar, parece que a maioria das pessoas participa da festa porque, como acontece na festa junina, é mais um evento cultural do que religioso. No Halloween a maior parte das pessoas, especialmente as crianças, só querem doces por causa dos doces e as famílias decoram a casa mais por uma questão cultural que religiosa.

Em quarto lugar, como cristãos, o Halloween é uma boa oportunidade para as igrejas ensinarem o que realmente compreendemos sobre a vida após a morte, isto é, que as almas dos mortos não podem retornar para o nosso mundo e apenas Cristo nos dá o poder de vencer a morte. Nesta perspectiva, qualquer festa cultural pode ser usada como ponte para ser proclamada a verdade do Evangelho, ainda mais para aqueles que tiveram uma origem distintamente cristã.

Em quinto lugar, como cristãos protestantes, ao invés de investirmos nosso esforço para redimir uma festa que já se tornou um folclore bem confuso, poderíamos canalizar nossa energia em celebrar a Reforma protestante, no mesmo dia 31 de outubro, pois nesta data vemos como a leitura da Palavra trouxe vida para um mundo escuro e cheio de confusão.

Que todos sejam sal na terra (Mt 5, 13-14), e que este sal tenha a virtude de não deixar a identidade cristã desnaturar-se mesmo num ambiente duramente secularizado. Este é o caminho, ser luz pela ação do Espírito Santo no mundo, assim como também exorta Paulo: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito” (Rm 12,2). 

Trata-se de uma moda que, no entanto, tem sérias implicações não apenas no âmbito consumístico. A grande maioria dos jovens, que organizam festas a fantasia nessa ocasião, são vítimas inconscientes tanto da moda quanto daqueles que, a todo custo, devem vender produtos comerciais manipulando realidades espirituais. Vejo que o fenômeno é tão irracional que se torna a real cifra da sociedade contemporânea: quem não acredita na verdade termina por acreditar em alguma coisa, até mesmo nas abóboras! Estou ciente, no entanto, que em alguns casos estes tipos de manifestações tenham origens ocultistas e até mesmo satânicas e, portanto, alimentá-las e não as corrigir pode transformar-nos em inconscientes alimentadores daquela “fumaça de satanás”, que já intoxica muito o mundo. Todos devemos ter cuidado para não respirar fumaças tóxicas; as vezes isso acontece quase inadvertidamente. Lembremos que uma abóbora, ainda que abençoada, sempre será uma abóbora. Aquelas do dia das Bruxas nem sequer são abençoadas!

Que resplandeça a santidade e não as abóboras ocas próprias do Halloween. Na noite de 31 de outubro, recordemos o senhorio de Deus em seus santos, o triunfo da luz sobre a escuridão. Que nesta noite não haja espaço para a escuridão.

Fontes:

Revista Super Interessante  - Felipe Van Deursen;
https://pt.zenit.org/
http://ultimato.com.br/

Celebração dos 499 anos da Reforma Protestante - 31 de Outubro


Muito antes que se levantasse Martinho Lutero em 1517, durante séculos outros homens o precederam no mesmo clamor e sentimento. Homens como Tanquelmo em 1115, ou ainda Pedro de Bruys em 1117 e Arnaldo de Bréscia em 1119. Cristãos piedosos como Pierre Valdo em 1179, João Wycliff em 1377 e tremendamente corajosos como João Huss em 1400, Jerônimo de Praga em 1410 e Savonarola em 1495. Todos eles historicamente já "protestavam" por um apelo imediato a um retorno as doutrinas centrais da fé cristã expressadas no Novo Testamento. Clamavam por uma reforma, algo que os levou a serem cruelmente assassinados por simples e audaciosamente confrontarem os abusos da hierarquia de Roma e seu declínio moral.

Estes nobres homens perceberam que as tentativas iniciadas em Cluny (século X) e culminadas por Hildebrando (Gregório VII no século XI) só fizeram por piorar a situação, pois ao fortalecer o papado frente as autoridades seculares só tornaram o clero mais corrupto e imoral mesmo com as investidas do Sacro Império Romano Germânico que rivalizava com o Papado acerca da soberania em toda a Europa. Papas como Inocêncio III, Bonifácio VIII e Alexandre VI entre os séculos 12 e início do 16, aumentaram ainda mais as tensões na cristandade, inda mais após o Grande Cisma com as Igrejas do Oriente e as diversas disputas com os monarcas do Ocidente.

A igreja se distanciava cada vez mais de seu chamado, de seu propósito de ser sal e luz, e estava longe de dar gosto e ser exemplo em um mundo decaído. Toda sorte de paganistas, imorais, satanistas e oportunistas se travestiam de cristãos e assim eram aceitos no seio da igreja com apenas sendo lhes exigido uma devota submissão a autoridade do clero, sem contudo uma genuína conversão. Isso fez com que a corrupção atingisse todos os escalões da hierarquia eclesiástica na cristandade - prostituição, suborno, corrupção, sodomia, avareza, assassinatos, cobranças de indulgências, etc. A conjuntura dos fatos mostravam o quanto a igreja ocidental sob a jurisdição romana estava em trevas.

E então, há 499 anos, um clamor foi iniciado e alcançou os quatro cantos da Europa e se espalhou por toda parte. Um protesto em favor do retorno as origens. Uma reivindicação de que o verdadeiro cristianismo não deveria mais se submeter a vontade dos homens, sejam eles quais forem, e sim a ESCRITURA. Uma lembrança de que o homem alcança sua salvação apenas e unicamente pela GRAÇA DIVINA, por meio de CRISTO todo suficiente, e que isso por si só nos JUSTIFICA PELA FÉ para a GLÓRIA DE DEUS PAI.

E neste dia 31 de Outubro, escolhido simbolicamente como marco deste clamor, comemoramos a REFORMA PROTESTANTE. Este REFORMAR nada mais é do que voltar ao evangelho, deixar práticas erradas e aderir os propósitos de Deus, reconstituindo a antiga forma, aquela primitiva e essencial forma já estabelecida. E nisto se resume a proposta da Reforma Protestante:

SOLA SCRIPTURA (SOMENTE A ESCRITURA): Reafirmar a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. Reconhecer que a Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e que é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. É negar que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, e repudiar a ideia de que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação. 

SOLO CHRISTUS (SOMENTE CRISTO): Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

SOLA GRATIA (SOMENTE A GRAÇA): Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

SOLA FIDE (SOMENTE A FÉ): Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus. Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.

SOLI DEO GLORIA (SOMENTE Á GLÓRIA DE DEUS): Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente. Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.

Por Elisson Freire - Resistência Apologética

domingo, 30 de outubro de 2016

A Maternidade de Maria


                           
A maternidade é um privilégio doloroso. A jovem Maria de Nazaré teve a honra inigualável de ser mãe do Filho de Deus. Contudo, as dores e os prazeres de sua maternidade podem ser entendidos por todas as mães, de todos os lugares.

Jesus veio ao mundo como um de nós para salvar os perdidos.

Jesus nasceu na plenitude dos tempos quando a Terra de Israel estava debaixo do jugo do Império Romano. César Augusto era o imperador e todos os imperadores eram vistos como deus.

O decreto de César Augusto de que todos teriam que se alistar a princípio parece algo ruim para José e Maria, mas o episódio é uma prova de que Deus controla a história. O censo consistia no alistamento obrigatório dos cidadãos no recenseamento, o que servia de base de cálculo para os impostos. A determinação imperial contribuiu para que todas as profecias bíblicas se cumprissem e o Filho de Deus nascesse em Belém (Miqueias 5.2).

Diferente dos soberanos, o Rei dos reis nasceu um um lugar simples, dentro de um estábulo, e ao invés de ser colocado em berço de ouro foi posto em uma manjedoura - peça rústica feita de de madeira onde se coloca comida aos animais.

As duas narrativas sobre os dois anúncios natalícios (Lucas 1.57-80; 2.1-20). As narrações sobre chegada de Jesus e de João Batista têm o objetivo de deixar clara a diferenciação de origem e a importância do Filho de Deus para a humanidade. Enquanto João Batista tinha pai e mãe, era fruto do relacionamento de Isabel e Zacarias, o relato esclarece que Maria, a mãe de Jesus concebeu por obra e graça do Espírito Santo, em condição de virgindade.

Deus revela-se aos necessitados e carentes (Lucas 1.41-43).Aparentemente, o Espírito Santo disse a Isabel que Jesus era o Messias, porque Isabel chamou a sua jovem parente de "mãe do meu Senhor" ao saudá-la. Quando Maria correu para visitar sua prima, talvez cogitasse se os últimos acontecimentos seriam reais. A saudação de Isabel a Maria deve ter-lhe fortalecido a fé. 

A gravidez de Maria podia parecer impossível, mas a sábia Isabel creu na fidelidade do Senhor e alegrou-se pela condição abençoada de Maria.

Maria sabia acerca de Jesus? (Lucas 1.46-55). O anjo Gabriel anunciou a Maria o nascimento do Filho de Deus e a deixou extremamente alegre e a impulsionou a louvar. O cântico de Maria é frequentemente chamado de Magnificat, palavras em que Deus é retratado como Salvador dos pobres, oprimidos e desprezados. Notamos que em seu louvor Maria compreendeu que Jesus era uma dádiva prometida por Deus, o Messias, conforme lemos nos versículos 51 a 55, mas o episódio relatado em 2.41-52 nos faz perceber que ela não entendeu que Jesus era Deus em carne humana.

Maria foi a única pessoa a presenciar tanto o nascimento como a morte do Senhor. Ela o viu chegar como o seu filhinho e a morrer como seu Salvador. Jamais devemos adorar Maria, apenas considerar que Deus a escolheu para abrigar Jesus em seu útero porque ela era uma serva valorosa, uma jovem saudável, digna e de bom caráter. Os cristãos devem tão-somente seguir seus exemplos de humildade, ternura e pureza.

Deus revela a realeza do Messias para toda a humanidade (Lucas 2.11-14). A obra de Jesus é maior do que alguém possa imaginar. Alguns judeus esperavam um Salvador que os libertasse do domínio romano; outros esperavam que os libertasse das enfermidades físicas. Mas enquanto Jesus curada as enfermidades do povo, estabelecia um Reino espiritual e livrava as pessoas do jugo do pecado. Cristo pagou o preço pelo pecado e pagou o preço para que possamos ter paz com Deus. Ele nos oferece mais do que mudanças políticas ou cura física, porque estas representa apenas mudanças temporárias; Cristo nos oferece um novo coração, para viver na eternidade.

Deus revela-se aos piedosos e às minorias (Lucas 2.25-26). Para o termo vertido ao idioma português como "consolação", encontramos a palavra grega "paraklesis". Neste versículo ela também pode ser entendida como equivalente à conforto e ânimo.

Deus revela-se aos humildes e piedosos (Lucas 36-38). Embora Simeão e Ana fossem muito piedosos jamais perderam a esperança de que veriam o Messias. Guiados pelo Espírito Santo, eles estão entre os primeiros a dar testemunho sobre Jesus.

Ao contrário da nossa sociedade que valoriza mais a energia da juventude do que a sabedoria dos idosos, na cultura judaica, os anciãos eram respeitados, então, a idade avançada de Simeão e Ana serviram para que as suas profecias fossem recebidas como uma confirmação-extra do plano de redenção efetuado por Deus através de Jesus Cristo.

Conclusão

A vinda de Jesus Cristo ao mundo é a uma prova do amor de Deus.

É digno de nota que os pastores foram os primeiros a saber do nascimento de Jesus, e não os sacerdotes e escribas no templo. Os pastores faziam parte de uma classe social simples. As Boas-Novas de salvação não foi comunicada primeiro aos ricos e nobres, mas a pessoas mais comuns do povo pobre, para ficar esclarecido que Cristo veio ao mundo para todos. 

Fontes:

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, páginas 1342, 1343, 1345, 1349, edição 2004, Rio de Janeiro (CPAD)
Bíblia de Estudo Palavras Chaves, página 2339, edição 2011, Rio de Janeiro (CPAD). 
Bíblia de Estudo Vida, páginas 1582, 1988, São Paulo (Editora Vida).
Ensinador Cristão, ano 16, nº 62, página 37, abril-junho de 2015 (CPAD)
Lições Bíblicas - Professor, José Gonçalves,  2º trimestre 2015, páginas 11-18, Rio de Janeiro (CPAD).

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Cristãos e Halloween

Halloween. É aquela época do ano em que o ar fica mais geladinho, os dias mais curtos, e para muitos jovens americanos aumenta empolgação e expectativa para o feriado mais sombrio e aterrorizante do ano.

O comércio também se anima com a perspectiva de aquecer suas caixas registradoras com uma média de US$ 79,82 por domicílio, gastos em decorações, fantasias, doces e cartões. O Halloween irá gerar aproximadamente 8 bilhões de dólares esse ano.

Podemos apostar que os comerciantes não terão grandes expectativas de faturar os US$ 79,82 dos domicílios cristãos.

Muitos deles se recusam a participar do Halloween. Alguns desconfiam de suas origens pagãs; outros de suas figuras obscuras e macabras; e ainda existem aqueles preocupados com a segurança de suas crianças. Entretanto, outros cristãos escolhem participar das comemorações, seja em atividades escolares, no “doçura ou travessura” de sua vizinhança ou algum tipo de atividade alternativa em suas igrejas.

A questão é: como os cristãos devem reagir ao Halloween? É irresponsabilidade dos pais deixar seus filhos saírem pedindo “doçura ou travessura”? E quanto aos cristãos que refutam qualquer tipo de comemoração durante esse período? Estariam eles exagerando?

A origem pagã do Halloween

O nome Halloween vem da celebração do dia de todos os santos dos primórdios da igreja, um dia separado para solenemente lembrar os mártires. All Hallows Eve, na véspera do Dia de todos os Santos, se iniciava o tempo de lembrança. All Hallows Eve foi eventualmente resumido para Hallow-e’em, que então se tornou “Halloween”.

Na medida em que os cristãos se espalharam pela Europa houve um choque com culturas nativas pagãs, confrontando costumes já estabelecidos. Feriados e festivais pagãos estavam tão impregnados em sua realidade que novos convertidos os consideraram pedras de tropeço para sua fé. Para lidar com esse problema, a igreja comumente alterava a data de um feriado cristão para outro ponto do calendário que confrontaria diretamente o feriado pagão. O objetivo era combater a influência pagã e prover uma alternativa cristã, mas o que aconteceu com maior frequência foi a igreja “cristianizar” um ritual pagão – o ritual permanecia pagão, mas misturado com simbolismos cristãos. Foi isso que aconteceu com o Dia de todos os Santos – ele originalmente era a alternativa cristã!

Os povos celtas da Europa e Grã Bretanha eram druidas pagãos e suas maiores celebrações eram marcadas pelas estações do ano. Ao final do ano no Norte Europeu, as pessoas faziam seus preparativos para sobreviver ao inverno, colhendo suas plantações e abatendo os animais mais fracos de seus rebanhos. A vida diminuía de ritmo à medida que o inverno trazia a escuridão (dias mais curtos e noites mais longas), solo infértil e morte. As imagens de morte, simbolizada por esqueletos, crânios e a cor preta, são predominantes nas atuais celebrações do Halloween.

O festival pagão Samhain (pronunciado em inglês “sow” “en”) celebrava o final da colheita, morte e o começo do inverno durante três dias – de 31 de Outubro até 02 de Novembro. Os celtas acreditavam que a cortina que separava os vivos dos mortos se abria durante o Samhain permitindo que os espíritos dos mortos caminhassem entre os vivos – fantasmas assombrando a terra.

Alguns adotavam a temporada de assombrações aderindo a práticas de ocultismo como adivinhação e comunicação com os mortos. Eles consultavam espíritos “divinos” (demônios) e espíritos de seus ancestrais pedindo previsões para as estações do próximo ano, o sucesso de suas plantações e até sobre o sucesso de suas vidas amorosas.

Tentar pegar com a boca, maças boiando dentro de uma tina de água, era uma pratica pagã para predizer as “bênçãos” do mundo espiritual sobre a relação romântica de um casal.

Para outros o foco na morte, ocultismo, adivinhações e a ideia de espíritos retornando para assombrar os vivos, eram combustíveis para superstições e medos. Eles acreditavam que os espíritos estavam presos à terra até que fossem despachados com os devidos deleites – posses, dinheiro, comida e bebida. Espíritos que não haviam sido devidamente saciados iriam enganar (“trick”[1]) aqueles que os haviam negligenciado. O medo de assombrações só aumentava se aquele espírito tivesse sido ofendido durante sua vida “encarnada”.

Acreditava-se que os espíritos “trick-bent” assumissem formas grotescas. Iniciou-se a tradição de acreditar que usar uma fantasia para se parecer com um espírito enganaria a “alma penada”. Outros acreditavam que os espíritos poderiam ser espantados se você esculpisse uma face grotesca em uma abóbora ou outro tipo de raiz (os escoceses usavam nabos, por exemplo) e colocasse uma vela dentro – criando a abóbora de Halloween (em inglês jack-o-lantern).

Nesse mundo sombrio, supersticioso e pagão, Deus fez por sua misericórdia brilhar a luz do evangelho. Novos convertidos ao cristianismo se armaram com a verdade e deixaram de temer assombrações de espíritos que retornariam à terra. Na verdade, eles condenaram suas antigas práticas de espiritismo pagão de acordo com Deuteronômio 18:

Não permitam que se ache alguém entre vocês que… pratique adivinhação, ou dedique-se à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium ou espírita ou que consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas.” (vv. 10-12).

Não obstante, esses novos convertidos tiveram dificuldade para resistir a influência cultural e familiar; eles eram tentados a retomar os festivais pagãos, especialmente o “Samhain”. O Papa Gregório IV reagiu ao desafio do paganismo e alterou a data do Dia de todos os Santos no século nono – A data foi movida para 1º de novembro, bem no meio do Samhain.

Ao passar dos séculos, o Samhain e o Dias de todos os Santos se misturaram. Por um lado, as superstições pagãs deram espaço para superstições “cristianizadas” que promoveram ainda mais medo. As pessoas passaram a acreditar que os espíritos ancestrais dos povos pagãos eram demônios e que os adivinhos eram praticantes de bruxaria e necromancia. Por outro lado, os festivais promoviam uma grande oportunidade para folia. O “doçura ou travessura” se tornou uma oportunidade para grupos de jovens arruaceiros perambularem de casa em casa arrecadando comida e bebida para suas festas. Proprietários avarentos corriam o risco de jovens embriagados praticarem “travessuras” ou “trotes” em suas casas.

O Halloween não se tornou uma celebração americana até a imigração das classes operarias britânicas no final do século XIX. Enquanto os primeiros imigrantes podem ter acreditado em tradições supersticiosas, foi aspecto malicioso desse feriado que atraiu os jovens americanos. Gerações mais novas emprestaram ou adaptaram muitos costumes sem a referência de suas origens pagãs.

Os filmes de Hollywood também incrementaram a “diversão” com muitos personagens fictícios – demônios, monstros, vampiros, lobisomens, múmias e psicopatas. Com certeza isso não tem contribuído com a mentalidade americana, mas com certeza alguém está fazendo muito dinheiro.

A resposta Cristã ao Halloween

Atualmente o Halloween é quase que exclusivamente um feriado americano secular, mas muitos que o celebram não têm ideia de suas origens religiosas ou herança no paganismo.

Isso sem dizer que o Halloween tem se tornado mais salutar. As crianças se vestem com fantasias engraçadas, vagam pela vizinhança em busca de doces e contos de histórias de terror. Por outro lado, os adultos frequentemente se envolvem em atos vergonhosos de bebedeira e devassidão.

Então como devem agir os cristãos?

Primeiramente, os cristãos não devem reagir ao Halloweeen como os pagãos supersticiosos. Pagãos são supersticiosos, cristãos são iluminados pela verdade da Palavra de Deus. Os espíritos e potestades não estão mais ativos no Halloween do que estariam em qualquer outro dia do ano; na verdade, qualquer dia é um bom dia para Satanás perambular à procura de quem devorar (1Pedro 5.8), mas aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo (1João 4.4). Deus tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz(Colossenses 2:15).

Em segundo lugar, os cristãos devem reagir ao Halloween com cautela e sabedoria. Algumas pessoas temem as atividades de satanistas ou bruxos, mas os atos criminosos relacionados a essas práticas são muito poucas. A real ameaça está mais relacionada aos problemas sociais de comportamentos pecaminosos – dirigir alcoolizado, praticar vandalismo e deixar crianças sem supervisão.

Assim como qualquer outro dia do ano, nós cristãos devemos agir como bons mordomos daquilo que temos e protetores de nossas famílias. Os jovens cristãos devem ficar longe de festas de Halloween seculares, já que elas são como terreno fértil para problemas. Pais cristãos podem proteger suas crianças mantendo-as bem supervisionadas e restringir o consumo de guloseimas para aquelas em que se possa averiguar a procedência.

Em terceiro lugar, devemos reagir com a compaixão do evangelho. O mundo incrédulo, que rejeita a Cristo, vive em constante medo da morte. Não é somente a experiência da morte, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus (Hebreus 10.27). Bruxas, fantasmas, e espíritos malignos não são assustadores; A ira de Deus sobre o pecador que não conhece seu perdão; isso sim é realmente assustador.

Os cristãos devem usar o Halloween e tudo que ele traz à imaginação – imagens de morte, superstições, folia exagerada – como uma oportunidade para confrontar o mundo com o evangelho de Jesus Cristo. Deus deu a todos uma consciência que responde as suas verdades (Romanos 2.14-16), e essa consciência é nossa aliada na evangelização. Os cristãos devem investir tempo alimentando a consciência de amigos e familiares com as verdades bíblicas sobre Deus, a palavra, o pecado, Cristo, o julgamento futuro e a esperança na vida eterna em Jesus através do arrependimento dos pecados.

Existem muitas maneiras de se evangelizar durante o Halloween. Alguns irão adotar uma postura de “não participar”. Eles não querem seus filhos participando de situações espiritualmente comprometedoras – ouvindo histórias de fantasmas e colorindo desenhos de bruxas. Eles não querem que seus filhos vistam fantasias e saiam pedindo “doçura ou travessura”, nem mesmo que participem de eventos relacionados ao Halloween.

Essa reação normalmente provoca curiosidade e é uma boa oportunidade para apresentar o evangelho aos curiosos de plantão. Também é fundamental que esses pais expliquem sua postura a seus filhos e os preparem para enfrentar as provocações e piadas de seus colegas que desaprovam essa escolha ou mesmo o desprezo de seus professores.

Outros cristãos vão optar por eventos alternativos como “Festival da Colheita” ou “Comemorações da Reforma Protestante” – com as crianças se vestindo de fazendeiros, personagens bíblicos ou até heróis da reforma protestante. É irônico quando pensamos no Halloween como uma alternativa, mas ele pode ser uma maneira eficiente de alcançar vizinhos e familiares com o evangelho. Algumas igrejas deixam seus templos e realizam ações de impacto em suas comunidades, “adoçando” a vida de pessoas necessitadas com comida, presentes e a mensagem do evangelho.

Essas são boas alternativas; existem outras que não são tão boas. Algumas igrejas estão usando apresentações chamadas “Hell House”, uma estratégia de evangelismo de impacto direcionada a assustar os mais jovens e convencê-los a aceitarem a Cristo. Os jovens passam por diversas salas decoradas que demonstram situações pecaminosas – Mulheres passando por abortos, pessoas sacrificadas em rituais satânicos, consequências negativas do sexo antes do casamento, o perigo de festas “rave”, possessões demoníacas e outras tragédias.

Eis aqui o problema com esse tal de evangelismo “Hell House”: Para chocar uma cultura tão imunda como a atual é necessário ser realmente muito impactante. Demonstrações gráficas ou cênicas do pecado e de suas consequências são desnecessárias – as mentes dos que não creem em Jesus muitas vezes já são dominadas por tais imagens. O que eles precisam ver é a transformação verdadeira de vidas através do poder de Deus, e o que eles precisam ouvir são as verdades de Deus através de uma apresentação fiel do evangelho. Artifícios simplistas não são adequados para o povo de Deus.

Existe ainda mais uma opção aos Cristãos: participação limitada e não comprometedora no Halloween. Não existe nada inerentemente ruim nos doces, fantasias, ou em pedir “doçuras ou travessuras” em suas vizinhança. Na verdade, tudo isso pode promover uma oportunidade única para o evangelismo com seus vizinhos. Até mesmo entregar doces para as crianças que passarem por sua casa – desde que você não seja mesquinho – pode melhorar sua reputação com as crianças. Desde que as fantasias sejam inocentes e as atitudes não desonrem Jesus, o “doçura ou travessura” pode ser usado para a evangelização.

Finalmente, a participação de cristãos no Halloween é uma questão da sua consciência perante Deus. Não importa qual seu nível de participação, você deve honrar a Deus se mantendo separado do mundo e demonstrando misericórdia aos que estão padecendo. O Halloween nos dá a oportunidade de fazer essas duas coisas através do evangelho de Jesus e de sua mensagem que é santa e distinta desse mundo.

Existe outra data do ano em que a mensagem de VIDA contida no evangelho faça tanto sentido?

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Notas:

[1] De “trick or treat,” como é falado em inglês o que é dito “doçuras ou travessuras” em português.

Nota do Tradutor: Talvez o Halloween não faça parte de sua realidade, mas com certeza o Carnaval, as festas Juninas e outros feriados e datas legitimamente brasileiros fazem. Que tal aplicar essas mesmas ideias e conceitos, aproveitando cada oportunidade para transmitir o amor de Cristo e fazer a diferença no mundo?
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Autor: Travis Allen
Fonte: Grace to You 
Tradução: Guilherme Andor

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Evento inicia comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante


No dia 23 de outubro acontecerá em Curitiba o evento que marca o início das comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante no Brasil. A iniciativa é da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) que está organizando a “Celebração dos 499 anos da reforma protestante” na Ópera de Arame, no bairro Abrantes, e a expectativa é de atrair 1,6 mil pessoas.
Em 31 de outubro de 2017 a Reforma Protestante completará 500 anos, data que relembra o dia em que Martinho Lutero fixou as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. O evento em Curitiba comemora os 499 anos e inicia, então, as comemorações para o ano que vem.
Essa celebração contará com a participação de líderes de diversas denominações protestantes, entre eles o pastor Juarez Marcondes Filho, secretário executivo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).
Os preletores confirmados são: o pastor Adelar Munieweg, conselheiro nacional da Liga de Leigos Luteranos do Brasil, o pastor Flávio Sauer, Presidente do Núcleo de Comunhão Pastoral de Curitiba e o Bispo Cirino Ferro, Presidente do Conselho de Ministros Evangélicos do Paraná.A “Celebração dos 499 anos da reforma protestante” conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba e Igreja Presbiteriana do Brasil.
Segundo informações da Rádio Vaticana, divulgadas ontem (25), o Papa Francisco tem a intenção de participar da cerimônia conjunta entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial. O evento recordará os 500 anos da Reforma Protestante e acontecerá em Lund, na Suécia, no dia 31 de outubro deste ano.
 
O 500º aniversário da Reforma de Lutero acontece em 2017. A celebração, que contará com a presença do líder católico e dos representantes da Federação Luterana, o bispo Munib A. Younan e o reverendo Martin Junge, será ocasião, de acordo com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que “ressaltará os sólidos progressos ecumênicos entre católicos e luteranos e os dons recíprocos surgidos do diálogo”. 
 
O evento fará parte de uma celebração comum, baseada no guia litúrgico católico-luterano “Common Prayer” (Oração Comum), recentemente publicado.
 
“A Federação Luterana Mundial está se preparando para comemorar o aniversário da Reforma com um espírito de responsabilidade ecumênica”, disse o secretário geral da entidade, reverendo Martin Junge. Para ele, o trabalho pela reconciliação entre luteranos e católicos é uma ação pela justiça, pela paz e pela reconciliação em um mundo desgarrado por conflitos e pela violência.
 
 “Com foco na centralidade da questão de Deus e uma perspectiva cristã, luteranos e católicos podem celebrar uma comemoração ecumênica da reforma, e não meramente pragmática, mas com um profundo sentimento de fé em Cristo crucificado e ressuscitado”, acrescentou o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch.
 
Em 2017 também será lembrando o aniversário de 50 anos do diálogo internacional luterano-católico. Para a Santa Sé, tal movimento tem dado “importantes resultados ecumênicos”. O mais significativo para a Igreja é a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação (DCDJ), firmada pela Federação Luterana Mundial e pela Igreja Católica, em 1999. O ato foi acolhido pelo Conselho Metodista Mundial, em 2006. A Declaração anulou as disputas centenárias entre católicos e luteranos sobre as verdades fundamentais da Doutrina da Justificação, que estava o centro da Reforma no século XVI.
http://www.pointrhema.com.br/

domingo, 16 de outubro de 2016

Horário de Verão e o Reino dos Céus


O Horário de Verão foi instituído pela primeira vez no Brasil no verão de 1931/1932. Desde 1985 esse horário especial ocorre todos os anos. O principal objetivo da implantação do Horário de Verão é o melhor aproveitamento da luz natural ao entardecer, o que proporciona substancial redução na geração da energia elétrica que se destina à iluminação artificial. 

Durante quase o ano inteiro a diferença de horário entre os Estados Unidos e o Brasil é de apenas uma hora. Mas quando chega o horário de verão... a diferença passa a ser de três horas. E isso porque, enquanto os relógios no Brasil avançam uma hora, os daqui recuam uma hora. Por conta disso, temos que acordar muito mais cedo para participar do culto de Santa Ceia. Lá são 8h. da manhã, e aqui são 5h. Lá está claro, e aqui ainda escuro.

Não haveria também uma espécie de fuso horário distinto entre o Reino de Deus e o resto do mundo?

Ora, sabemos pelas Escrituras, que quando abraçamos a fé em Jesus, fomos “arrebatados do império das trevas, e transportados para o Reino” (Cl.1:13). Portanto, fomos introduzidos em uma nova realidade, em um novo território (ainda que espiritual!). Nada mais coerente do que supor que essa nova realidade tenha seu próprio fuso horário.

Dada a rotação da Terra, o Sol aparece primeiro no Oriente. Por isso, a Austrália comemora a chegada do Ano Novo algumas horas antes de nós.

Como Igreja de Cristo, somos a Nação Santa, a Nova Jerusalém, lugar onde se vê primeiro o raiar do Novo Dia. É para nós, que tememos o nome do Senhor, que nasce “o sol da justiça, trazendo salvação debaixo das suas asas” (Ml.4:2).

Ainda que o Mundo esteja mergulhado nas densas trevas de uma noite que pareça eterna, para nós o dia já raiou:

“Levanta-te, resplandece, pois já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti. As trevas cobrem a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor vem surgindo, e a sua glória se vê sobre ti. As nações caminharão à tua luz, e os reis ao resplendor que te nasceu” (Is.60:1-3).

E mais: somos informados que este Sol que acaba de nascer, jamais se porá. Portanto, o novo dia que raiou vai durar para sempre.

“Nunca mais se porá o teu sol (...) O Senhor será a tua luz perpétua” (Is.60:20).

Porém a Terra não pára de girar. O novo dia que surgiu para nós, há de raiar para todas as nações do Globo.

Para nós, que vivemos no fuso horário do Reino de Deus, Paulo escreve:
“A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz” (Rm.13:12).

É hora de aposentarmos nossos pijamas, e despertarmos para vivermos o novo dia, o hoje eterno.

E esse novo dia começou quando Cristo rendeu Seu espírito na Cruz, dizendo: Está consumado. O velho aión (era) teve seu fatídico fim.

As trevas encontraram o seu apogeu. No relógio profético, a Cruz se deu à meia-noite. Por isso Jesus afirmou ao ser preso: “Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc.22:53).

A partir da Cruz, começa o novo dia, o Dia do Senhor.
Portanto, a tendência é que as coisas clareiem, em vez de escurecerem. Em outras palavras, o mundo caminha para a restauração, e não para a destruição, como insistem alguns.

Quando começa um novo dia? Não é no primeiro segundo após a meia -noite? Entretanto, a noite continua tão escura quanto antes. Porém, a partir daí, gradativamente, as trevas vão cedendo à luz. Ainda que os olhos não percebam, dado o caráter paulatino com que o dia vai clareando. As horas que se seguem testemunham o embate entre as trevas e a luz. Invariavelmente, as trevas são vencidas.

“A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela” (Jo.1:5).

Horas depois, surge no horizonte a estrela da manhã, anunciando que a qualquer momento, os primeiros raios solares serão vistos.

Não é debalde que Jesus Se apresenta nas páginas de Apocalipse como a Estrela da Manhã (Ap.22:16).

Sempre que o Evangelho chega a novos rincões, Jesus Se apresenta ali como a estrela matutina.

A Igreja dos dias de João presenciou a alvorada do novo dia. Por isso João, o mesmo autor de Apocalipse, escreveu em sua epístola:

“...as trevas vão passando, e já brilha a verdadeira luz” (1 Jo.2:8b).

Em breve, a luz do Evangelho terá alcançado todos os povos, e o novo dia alcançará o seu apogeu. Todas as nações se renderão à Cristo, Luz do Novo Dia. “Todos os confins da terra se lembrarão, e se converterão ao Senhor; todas as famílias das nações adorarão perante ele” (Sl.22:27).

Ser reinista é crer piamente que a História terá um desfecho glorioso, e que a Igreja de Cristo cumprirá a sua missão de discipular as nações.

Cumprir-se-á o que diz o sábio Salomão:
"A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Pv.4:18).

Em outras palavras, o bem triunfará. As trevas serão totalmente dissipadas. A verdade e o amor prevalecerão. E aí... será dia perfeito!

Apesar de já vivermos a alvorada deste novo dia, há muitos que ainda dormem, sob o efeito de um Jet lag espiritual.

Para estes, vale a advertência apostólica, que diz: "Todos vós sois filhos da luz, e filhos do dia. Nós não somos da noite, nem das trevas. Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios. Pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios..." (1 Ts.5:5-8a).

Lembre-se: Fomos arrebatados das trevas para luz. Pertencemos a uma outra ordem. Não podemos cede a este Jet lag, vivendo como se ainda estivéssemos no mundo. Estamos assentados nas regiões celestiais em Cristo Jesus, e portanto, reinando com Ele. E para aqueles que insistem em dormir, Paulo vocifera:

"Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Ef.5:14). 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A Primeira Pedra

     
   No Evangelho escrito pelo Apóstolo João, em seu capítulo 8º, há a narração de um fato ocorrido envolvendo a pessoa de Jesus Cristo, que é do conhecimento da maioria absoluta das pessoas que frequentam a Igreja. Uma mulher foi flagrada no ato do adultério. E levaram esta mulher até Jesus, ansiosos para ter o consentimento do Mestre para poderem apedrejá-la até a morte.
        Era de manhã cedo, e uma pequena multidão estava na praia ouvindo os ensinamentos de Jesus Cristo. De repente chegou uma outra multidão, trazendo uma mulher assustada. Aterrorizada seria o termo mais correto. Acredito que a multidão, sedenta de sangue, já havia torturado, espancado, seviciado, rasgado as suas vestes daquela mulher. Ela foi jogada aos pés de Jesus. As pessoas que já estavam com Jesus se uniram aos que trouxeram a mulher, ansiosos para também descarregar a sua ira, a sua frustração, a sua animalidade, a sua irracionalidade, a sua impiedade, a sua bestialidade sobre aquela mulher.
         Os seres humanos são maus, são péssimos, são horríveis. Amar é assumir o risco de sofrer uma decepção, porque somos, todos nós, perversos, e temos prazer na aflição alheia.
         Há dois elementos que podem ser observados nesta situação: de um lado a multidão que queria se divertir às custas da vida daquela mulher; e de outro, os escribas e fariseus, que queriam colocar Jesus num beco sem saída. Se Jesus tivesse concordado com a execução da mulher, então, o seu ministério de amor seria uma farsa. Por outro lado, se Jesus determinasse o perdão da mulher, estaria indo contra a Lei de Moisés. O que não poderia ocorrer, uma vez que Ele próprio já afirmara que não viera a revogar a Lei de Moisés, mas sim a cumpri-la.
         Uma turba exaltada se formou, contando, inclusive, com as pessoas que estavam a ouvir os ensinamentos de Jesus antes da chegada dos escribas e dos fariseus. Todos já estavam excitados com a possibilidade de poderem atirar "uma pedrinha" na mulher.
Nós seres humanos somos naturalmente propensos a extravasar a nossa frustração, e nossa infelicidade sobre pessoas que nada tem a ver com o nosso sofrimento. Freqüentemente a nossa decepção se torna frustração, e posteriormente em raiva. Então passamos a ansiar por matar, esquartejar, queimar em praça pública mesmo aqueles que são inocentes de nosso sofrimento (os filhos que o digam...).
         Jesus esperou mais alguns minutos, até que a multidão armada com as pedras, exigiu de Jesus uma posição, um pronunciamento, uma decisão, uma sentença. Imagino que quando Jesus se colocou em pé, a multidão, apreensiva, fez um silêncio de morte (morte da mulher). Jesus se levantou e disse uma coisa que ninguém esperava. Ele não disse "sim", não disse "não". Mas a sua resposta não poderia ter sido mais dura, mais eficaz, mais cortante e penetrante: "aquele que não tem pecados, seja o primeiro a atirar a pedra". Em outras palavras, somente quem fosse santo, quem não tivesse pecados, quem fosse puro de mãos e limpo de coração, que não entregasse a sua alma à vaidade e nem jurasse enganosamente (Salmos 24), poderia ser o primeiro a atirar a pedra.
         E a Bíblia diz que aos poucos a multidão se dispersou. Todos foram para as suas casas, acusados pela própria consciência, deixando a mulher e Jesus sozinhos. Quando a mulher ficou a sós com Jesus, ela poderia ter fugido. Mas não o fez. Por que aquela mulher não fugiu?
         Nós seres humanos, temos uma reação instintiva de fugir sempre. Nós fugimos daquilo que pode nos causar dor e sofrimento. É uma reação natural. Você já pensou em fugir de alguém alguma vez em sua vida? Ir para bem longe onde ninguém te ache, ninguém te conheça, ninguém te acuse, ninguém saiba do teu passado?
         Por que fugir? Para ter um alívio momentâneo e imediato. Mas não é possível fugir sempre. Aliás, existem duas pessoas de quem você não poderá fugir para sempre, e nem há local do mundo onde possa se esconder delas: Deus e você mesmo. É por isso que aquela mulher não fugiu. Mais cedo ou mais tarde você vai ter que enfrentar o seu Deus. Não vai poder fugir dele para sempre. E quanto mais tempo demorar, mais dor e sofrimento vai colher...
         Eu gostaria de chamar a tua atenção para dois fatos nesta passagem. A primeira é que Jesus não disse: "quem não é adúltero atire a primeira pedra", dando a entender que os que não eram adúlteros poderiam condenar aquela mulher. A exigência, o requisito, a habilitação exigida por Jesus para que alguém pudesse condenar aquela mulher era uma condição intransponível: não ter pecados, não ter nenhum pecado. E diante desta condição, somos forçados a concluir que o único que poderia atirar as tais pedras era o próprio Jesus Cristo...
         Não obstante, nós, da igreja moderna, pensamos que podemos atirar pedras sobre aqueles que cometem os pecados que nós não cometemos. Isto é, pensamos que podemos condenar os adúlteros porque não cometemos adultério; os ladrões porque não roubamos; os estupradores porque não cometemos estupro; os assassinos porque não matamos ninguém; os seqüestradores porque não seqüestramos ninguém; e assim sucessivamente. Em outras palavras, acreditamos que podemos condenar as pessoas que cometem os pecados que nós não cometemos. Olhamos para os pecados dos outros e nos julgamos melhores do que os outros. Em alguns casos chegamos a nos julgar santos e imaculados.
         Quando nós nos arrogamos ao direito de condenar uma pessoa, quem quer que seja, e qualquer que seja o motivo, estamos simplesmente nos declarando santos, puros e imaculados. E merecedores de uma posição de destaque no Reino de Deus: juízes. São os juízes que tem o poder e a capacidade de julgar e condenar. Quando nós condenamos alguém, nós nos declaramos melhores do que as pessoas que condenamos. Talvez até com uma certa dose de razão, mas sem nenhum fundamento bíblico...
         A justiça de Deus não é a mesma justiça que os seres humanos utilizam.
         Essa colocação que fez Jesus Cristo nos coloca (a todos nós), num mesmo pé de igualdade. Mas nós, arrogantes, prepotentes, orgulhosos, ufanistas, hipócritas, acreditamos que nos é possível estarmos em situações diferentes porque não cometemos os mesmos pecados que cometem aqueles a quem condenamos.
         O segundo fato para o qual gostaria de chamar a tua atenção é que a própria mulher adúltera não tinha o direito de se condenar. De atirar pedras sobre a própria cabeça. Não poderia ser a sua própria acusadora, juíza e carrasca.
        Nós, membros de alguma das igrejas de Jesus Cristo, não temos o direito de nos condenarmos ao inferno, ao fogo eterno. Não importa o tamanho ou a gravidade de nosso pecado. Se deliberadamente nos afastamos da Igreja, estamos a nos condenar à separação eterna de nosso Deus. Muito embora todos os dias milhares de pessoas cometam este tipo de "suicídio espiritual", dizendo-se indignos da graça, do perdão e da misericórdia de nosso Deus.
         Se nosso Deus nos tratasse do modo como merecemos ser tratados, onde estaríamos nós? Algum de nós, com toda sinceridade, pode olhar para os céus, e reivindicar, requerer, exigir alguma coisa de Deus fundado em sua própria santidade e pureza? De se lembrar que pecado não é somente matar, roubar e estuprar, como muitos pensam. Mas pecado é tudo aquilo que fere, ofende, magoa e entristece o coração de Deus e o Espírito de Deus. O fato de sermos pecadores nos retira, e nos atira para longe da presença de Deus. Então nos vemos em uma situação de desespero: o pecado nos retira da presença de Deus, de modo que não podemos exigir nada de Deus. Por outro lado não podemos (nós mesmos) atirarmo-nos ao inferno por termos pecado (não importa qual tenha sido o pecado).
         Olhe para a tua vida, para a tua conduta, para os teus sentimentos, para os teus desejos mais secretos, para os sonhos sórdidos e imorais, para a raiva e o rancor que possivelmente você tenha guardado. Você pode dizer que não tem pecados para poder condenar quem tem pecados? Lembre-se de que o fato de não ter cometido o mesmo pecado de quem você quer condenar, não te autoriza a fazê-lo... Ainda mais ainda se o pecador for... você mesmo!
         Ninguém de nós merece alguma coisa de Deus, senão a sua ira e sua condenação. A salvação não é por merecimento. Não importa o que façamos ou deixamos de fazer. O que importa é se nós cremos ou não na misericórdia, no perdão, na regeneração e no amor de nosso Deus.
         Crês isto? Então vai-te, e te seja feito assim como creste Jo.11:26, Mat.8:13  Takayoshi Katagiri