Os profetas do passado, homens totalmente guiados por Deus, tinham plena consciência da grandeza de sua missão, e de como ela era impopular. E muitos deles, sentindo-lhe o peso, procuraram fugir a ela, alegando limitações pessoais. Moisés, por exemplo, tentou evitar aquele compromisso de que dependeria o futuro de toda a nação, argumentando que era gago. Mas Deus resolveu o problema providenciando-lhe um porta-voz, na pessoa de Arão. Jeremias, também tentou furtar-se à tarefa justificando que era ainda muito criança. Mas, como já acontecera a Moisés, a objeção humana não prevaleceu. É que Deus não chamava esses homens para irem às academias de sabedoria humana apurar a personalidade nem aumentar seus conhecimentos. Mas parece que ele como que agarra esses servos e os encerra num compartimento consigo. Se for verdade o que afirma o poeta Oliver Wndell Holmes, que sempre que alguém tem uma idéia nova sua mente se amplia e depois nunca mais volta às dimensões anteriores, então o que se dirá do coração que já escutou o sussurro da Voz eterna? “As palavras que eu (o Senhor) vos tenho dito, são espírito e são vida.” (Jo 6.63). Nossas pregações hoje acham-se bastante debilitadas pelas citações que tomamos emprestadas daqueles que já morreram, em vez de recorrermos ao Senhor. Um livro é bom quando nos serve de guia; mas torna-se pernicioso quando nos acorrenta.
Assim como os cientistas modernos chegaram a uma nova dimensão de poder quando dominaram a energia atômica, assim também a igreja precisa redescobrir o ilimitado poder do Espírito Santo. De fato, é preciso que aconteça alguma coisa que venha atacar a iniqüidade desta era pecaminosa e destruir a complacência dos crentes adormecidos. Precisamos de pregações vivas, de vidas vitoriosas, e só obteremos isso com persistência em oração. E alguém dirá: “Se quisermos uma vida santa, precisamos orar!” Mas a recíproca também é verdadeira. Temos que viver uma vida santa se quisermos orar. É o que diz Davi: “Quem subirá ou monte do Senhor?... O que é limpo de mãos e puro de coração.” (Sl 24:3,4).
O segredo da oração é a oração no lugar secreto. É bom ler livros sobre oração, mas isto só não basta. Assim como um livro de culinária é altamente útil, mas torna-se inútil se não tivermos os ingredientes para preparar os alimentos, assim também acontece com a oração. Alguém pode ler toda uma biblioteca sobre oração e não adquirir nem uma gota de poder. Temos que aprender a orar, mas para aprender é preciso orar. Se uma pessoa estiver sentada numa cadeira lendo o melhor livro que existe sobre saúde, mas permanecer ali sentada, pode morrer. Assim também é possível um crente ler tudo sobre oração, maravilhar-se com a perseverança de Moisés ou com o lamento de Jeremias, e mesmo assim não aprender nem o abecê da intercessão. Assim como a bala que fica na arma não chega ao seu alvo, assim também a oração que fica contida no coração sem ser elevada a Deus não obtém as bênçãos.
O filósofo francês Fenelon disse: “Em nome de Deus vos rogo, alimentai vossa alma com orações, assim como alimentais vosso corpo com as refeições.” E Henry Martin comenta: “Atribuo minha atual condição de debilidade espiritual ao fato de não ter tempo suficiente para meu momento devocional particular. Ah, quem me dera ser um homem de oração!” E um escritor do passado afirma o seguinte: “Muitas vezes, ao orar, somos como um garotinho que toca a campainha de uma porta, e depois sai correndo antes que alguém atenda.” De uma coisa não há dúvida: a área mais inexplorada das riquezas de Deus é a da oração.
Quem sabe calcular a dimensão do poder de Deus? O homem é capaz de calcular o peso do mundo; sabe dizer o tamanho da Cidade celestial; contar quantas estrelas há no céu, medir a velocidade da luz, sabe informar a hora exata do nascer e do pôr-do-sol – mas não sabe avaliar o poder da oração. A oração tem o tamanho de Deus, pois é ele quem nos dá a garantia dela. Ela tem as dimensões do poder de Deus, pois ele garante que a atenderá. Que Deus se compadeça de nós por termos tantos tropeços ao praticar essa atividade que é a mais nobre que nossa língua e espírito podem exercitar. Se Deus não nos iluminar quando nos encontrarmos no aposento da oração, caminharemos em trevas. O momento de maior constrangimento para o crente no dia do juízo será aquele em que tiver de encarar o fato de que orou pouco.
Eis algumas palavras do admirável São Crisóstomo: “O poder da oração extinguiu a violência do fogo, fechou bocas de leões, silenciou revoltosos, pôs fim a guerras, acalmou os elementos, expulsou demônios, rompeu as cadeias da morte, escancarou os portões do céu, minorou enfermidades, repeliu mentiras, salvou cidades da destruição, deteve o curso do sol e o avanço do relâmpago. A oração é uma poderosa armadura, um tesouro que nunca acaba, uma mina que nunca se esgota, um céu que nunca fica toldado de nuvens, e nunca é turbado por tempestades. Ela é a raiz, a fonte, a mãe de mil bênçãos.” Será que essas palavras de Crisóstomo são simples retórica visando a fazer com que algo comum pareça extraordinário? A Bíblia desconhece tais artifícios.
Elias era um grande conhecedor da arte da oração, tanto que conseguiu alterar o curso normal da natureza e estrangulou a economia de uma nação. Pela oração ele fez descer fogo do céu, levou homens a se prostrarem e fez descer chuva do céu. Precisamos de chuva, de muita chuva. As igrejas se encontram tão ressequidas que a semente não consegue germinar. Os altares estão secos; não há pecadores arrependidos chorando neles. Ah, quem nos dera um Elias! Numa ocasião em que o povo de Israel clamou pedindo água, um homem “feriu” a rocha e aquela fortaleza de granito se tornou um ventre do qual brotou uma nascente de água. “Existe alguma coisa que seja difícil demais para Deus?” Ele pode enviar-nos um homem para “ferir” a rocha.
Mas precisamos saber que a finalidade da oração em secreto não é meramente estender para Deus uma lista de pedidos. É verdade que “a oração muda as coisas”? É; mas antes de tudo ela muda as pessoas. No caso de Ana, por exemplo, a oração não apenas removeu seu opróbrio, mas modificou-a também: ela era estéril e se tornou fértil; estava chorando e passou a regozijar-se (I Sm 1:10, 2:1). A oração converteu seu “pranto em folguedos” (Sl 30:11). Pode ser que estejamos pedindo “folguedos”, quando ainda não pranteamos. Preferimos a “veste de louvor em vez de espírito angustiado”. Mas o que esse texto diz é: “Pôr sobre os que em Sião estão de luto... veste de louvor em vez de espírito angustiado” (Is 61:3). E se o que desejamos é uma colheita abundante, o princípio a ser aplicado é o mesmo, pois “quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes” (Sl 126:6).
Foi preciso que Moisés se quebrantasse e pranteasse para chegar a dizer: “Ora, o povo cometeu grande pecado... Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste” (Êx 32:31,32). E foi necessário que Paulo sentisse grande peso e sofrimento para que chegasse a dizer: “Tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne.” (Rm 9:2,3).
Se João Knox tivesse orado assim: “Senhor, dá-me sucesso na vida” ninguém nunca teria ouvido falar dele. Mas a oração que fez não tinha nada de egocêntrica. Dizia ele: “Senhor, dá-me a Escócia, senão morrerei.” E sua petição entrou para as páginas da História. Se David Livingstone tivesse pedido a Deus a possibilidade de desbravar toda a África para demonstrar seu espírito indômito e sua habilidade no uso do sextante, suas palavras teriam sido levadas pelo vento. Mas sua oração foi: “Senhor, quando irá cicatrizar-se a chaga do pecado deste mundo?” Ele viveu orando e morreu da mesma forma, de joelhos, em oração.
Para fazer frente a esta geração ávida pelo pecado, só uma igreja ávida pela oração. Precisamos voltar a nos apropriar das “suas preciosas e mui grandes promessas”. Naquele grande dia, o fogo do juízo vai provar é a qualidade, e não a extensão da obra que realizamos. A que for gerada em oração, resistirá ao teste. É pela oração que conseguimos de fato chegar a Deus. Ela desperta em nós fome de ganhar almas; e a fome de ganhar almas nos leva à oração. O crente que tem visão espiritual ora; e o crente que ora obtém visão espiritual. Aquele que ora consciente de sua própria fraqueza, recebe a força do Senhor. Possamos nós ser capazes de orar como Elias, que era sujeito aos mesmos sentimentos que nós! Senhor, leva-nos a orar! (Extraído do livro “Por que tarda o pleno avivamento?” de Leonard Ravenhill escrito em 1950).
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