O Brasil é um dos países em que as igrejas protestantes mais crescem em todo o mundo. As primeiras manifestações desse grupo no país ocorreram no período colonial, com a presença dos huguenotes franceses na baía de Guanabara (século XVI) e dos reformados holandeses no Nordeste (século XVII). No entanto, a inserção definitiva da Reforma no Brasil somente se deu no século XIX, primeiro com os imigrantes ingleses (anglicanos) e alemães (luteranos) e em seguida com as igrejas missionárias (congregacional, presbiteriana, metodista, batista e episcopal). Finalmente, no século XX chegaram os pentecostais, dos quais procederam, mais tarde, os neopentecostais.
Após o descobrimento do Brasil, Portugal demorou a interessar-se pela ocupação e a colonização dos novos domínios. Com isso, a colônia atraiu a atenção de outras nações europeias, especialmente a França. Após a experiência malsucedida das capitanias hereditárias e as constantes incursões estrangeiras, Portugal resolveu tomar providências concretas.
Os primeiros seis jesuítas chegaram ao Brasil, e, somente em 1553 chegou o mais conhecido de todos, José de Anchieta. Todavia, o controle da imensa costa era ainda muito limitado.
No século XVI, o vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon ouvira falar das maravilhosas terras do Brasil, recém-descobertas. Ouvira também alusões à beleza dos trópicos, à fertilidade do solo e às riquezas naturais. Empolgado pelo que ouvira, e pela ambição de conquistar uma parte da nova e encantadora região meridional, Villegaignon conseguiu conquistar a amizade e o apoio do almirante Gaspar de Coligny, que era amigo de Henrique II, rei da França, com o qual conseguiu dois navios equipados com víveres e munidos de artilharia, e ainda dez mil francos.
Pouco mais de meio século depois da descoberta do Brasil, 38 anos depois da proclamação da Reforma Protestante e apenas 6 anos depois da chegada dos jesuítas à Bahia; e entre a primeira missa católica e a primeira celebração eucarística reformada houve um espaço de apenas 57 anos.
O grupo deixou Genebra em 16 de setembro de 1555. Após visitarem o almirante Coligny, seguiram para Paris, onde outros se uniram à comitiva. Alguns pensam que entre eles estava Jacques Le Balleur.
Chegou à Guanabara no dia 10 de novembro de 1555, sendo bem recebida pelos índios tupinambás, acostumados à presença de franceses na região. O grupo instalou-se na pequena ilha de Serigipe, mais tarde denominada Villegaignon, onde foi construído o Forte Coligny. Sabe-se que o nome primitivo da atual Ilha de Villegaignon era Serigi ou Serigipe.
Os três navios e os 600 tripulantes e passageiros haviam saído de Hâvre-de-Grâce no dia 22 de julho de 1555 e chegaram à Baía de Guanabara menos de quatro meses depois, em 10 de novembro, sob a liderança de Nicolas Durand de Villegaignon. Foi nesse contexto que o militar e aventureiro Nicolas Durand de Villegaignon teve a ideia de fundar uma colônia numa região bem conhecida dos franceses: o Forte Coligny na Baía da Guanabara-RJ, dando origem à "França Antártica".
Nicolas Durand de Villegaignon requereu protestantes para contribuírem no estabelecimento da França Antártica, no Brasil.
Outros nomes que
integravam essa comitiva foram Pierre Bourdon, Mathieu Verneuil, Jean du
Bordel, André LaFon, Nicolas Denis, Jean de Gardien, Martin David, Nicolas
Reviquet, Nicolas Carmau, Jacques Roseau e Jean de Lari, sendo que este último
era o historiador da expedição.
A frota de três navios, comandada por Bois Le Conte, sobrinho de Villegaignon, levava cerca de 290 pessoas, inclusive algumas mulheres.
Villegaignon escreveu à Igreja Reformada de Genebra solicitando o envio de pastores e colonos evangélicos que contribuíssem para a elevação do nível moral e espiritual da colônia.
João Calvino agora entra como participante fundamental na história do Brasil. Nicolas Durand de Villegaignon pediu ao famoso reformador o envio de pastores. João Calvino e seus colegas alegremente escolheram para acompanhar os colonos, dois pastores calvinistas: Pierre Richier (50 anos) e Guillaume Chartier (30 anos), representando um grupo de huguenotes, protestantes franceses e calvinistas, e refugiados vindos de Genebra. Os seus objetivos específicos eram implantar a fé reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas.
No dia 7 de março de 1557, os
viajantes finalmente entraram no “braço de mar” chamado Guanabara pelos
selvagens e Rio de Janeiro pelos portugueses, após quatro meses de viagem da
França ao Brasil.
Villegaignon recebeu festivamente os huguenotes, pois estes mereciam sua confiança e neles estava a esperança de êxito na conquista desta parte da América.
O desembarque no Forte Coligny deu-se no dia 10 de março, uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria porque vinham estabelecer uma igreja reformada.
Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido nas Américas, o Novo Mundo.
O primeiro culto evangélico no Brasil aconteceu nesse dia, 10 de março de 1557, na ilha de Villegaignon, na pequena colônia fundada pelos franceses na baía de Guanabara no Rio de Janeiro.
Quem dirigiu o culto foi o pastor Pierre Richier, o qual pregou com base em Salmos 27,4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”.
O ministro, Pierre Richier, orou, invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”.
Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena.
O namoro do vice-almirante com
os huguenotes durou muito pouco tempo. O desfecho da primeira presença
protestante mais articulada foi trágico. Villegaignon muda a sua atitude em
relação aos calvinistas. Em outubro de 1557, sete meses depois de ter tomado a
Ceia do Senhor em duas espécies (pão e vinho), Villegaignon os expulsou da ilha
para um local chamado La Briqueterie, hoje, Olaria, no continente.
Polemiza em torno de questões teológicas e, diante do clima desfavorável, os protestantes decidem voltar à França, o que desencadeou a primeira divergência teológica no Brasil, por conta da eucaristia, já que os pastores celebraram a ceia usando pão e vinho, enquanto Villegaignon acreditava que era necessário usar óleo e água salgada, como fazem os católicos.
Ao longo dos meses seguintes, o vice-almirante Villegaignon, voltou a se desentender com os pastores, e entrando em conflito com os huguenotes sobre questões doutrinárias, expulsou-os da colônia e decidiu enviá-los de volta à França, para que obtivessem um parecer definitivo sobre a eucaristia junto a João Calvino, e prendeu cinco huguenotes acusando-os de desordem pública.
Veio a trair a confiança dos protestantes e perseguiu os huguenotes, passando a ser considerado pelos historiadores, por esse ato de traição, como o "Caim das Américas". Formulou um questionário sobre pontos doutrinários e lhes deu doze horas para responderem por escrito.
Na prisão, esses protestantes produziram um documento que ficou conhecido como “Confissão de fé da Guanabara” e que os transformou nos primeiros mártires protestantes em terras brasileiras. O almirante declarou heréticos vários artigos e decidiu pela morte dos reformados.
Mais do que sua confissão de fé, os primeiros protestantes no Brasil estavam assinando a própria sentença de morte diante do ‘desconvertido’ Villegaignon.
Em 4 de janeiro de 1558, eles partiram para a França a bordo de um velho navio. O comandante avisou que a viagem iria ser difícil e não haveria alimento para todos. Diante disso, cinco huguenotes se ofereceram para voltar à terra. Inicialmente Villegaignon os recebeu de modo cordial, mas logo os acusou de serem traidores e espiões.
Três dos 14 nomes mencionados foram os três primeiros mártires da fé evangélica no Novo Mundo: Jean de Bourdel, Mathieu Verneuil e Pierre Bourdon.
Foram executados e lançados ao mar, a 9 de fevereiro de 1558, numa sexta-feira, por ordem de Nicolas Durand de Villegaignon, na Ilha que tem o nome do “Caim das Américas”.
O relator desta história foi o sapateiro Jean de Léry. Ele conseguiu voltar para a França, tornou-se pastor e escreveu o livro “História de uma Viagem à Terra do Brasil” (1578).
André Lafon foi poupado devido às suas vacilações religiosas e ao fato de ser o único alfaiate da colônia. Jacques Le Balleur fugiu e foi para São Vicente. Levado preso para a Bahia, ficou encarcerado por oito anos, sendo então conduzido ao Rio de Janeiro, onde foi enforcado. Ele e seus companheiros ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil.
Dez anos após a
realização do primeiro culto na Guanabara, outro huguenote também pagou com a
vida, pelo "crime" de pregar o Evangelho,
segundo a visão protestante, já que a essa altura, Portugal – fiel à Igreja Católica – já havia recuperado o controle sobre a região.
No dia 20 de
janeiro de 1567, quando os portugueses celebravam a vitória sobre os índios
tamoios e colonizadores franceses, além de reverenciarem o Dia de São
Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, e quando se lançavam os fundamentos da
cidade do Rio de Janeiro, Jacques le Balleur foi enforcado, por ordem de Mem de
Sá, com a assistência do padre José de Anchieta. Jacques le Balleur chegou à
Guanabara na primeira expedição dos franceses.
A muralha do lado norte, de onde foram jogados ao mar os três franceses, é a única que resta das obras primitivas na ilha. O atual forte da Ilha foi construído sobre as bases do forte primitivo.
Essa efêmera presença calvinista no início da história do Brasil não produziu efeitos permanentes. Não foi possível aos reformados alcançar seus dois intentos principais: criar uma igreja reformada e evangelizar os nativos.
Todavia, esse episódio é considerado um marco significativo na história das missões cristãs, pois foi a primeira vez que os protestantes buscaram anunciar a sua fé a um povo pagão. O fruto mais duradouro do singelo empreendimento foi a bela confissão de fé selada com sangue.
Cabe aos presbiterianos a honra de terem realizado o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas.
Em 1967, por ocasião da Conferência Mundial Pentecostal realizada no Brasil, foi promovido pelas Assembleias de Deus brasileiras um culto especial na Ilha de Villegaignon rememorando o primeiro culto protestante no país.
No dia 10 de março de 2020 completamos 463 anos do primeiro culto protestante oficialmente realizado em terras brasileiras. Cabe aos presbiterianos a honra de terem realizado o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas. Esse evento singular ocorreu em uma pequena colônia fundada pelos franceses na baía de Guanabara/RJ. Este culto foi realizado, por calvinistas franceses, então chamados de huguenotes.
Torna-se importante trazer à memória dos protestantes, evangélicos e católicos contemporâneos este evento histórico. A afirmação da fé ocorre em meio aos conflitos e às contrariedades da existência humana. (Historiador: Pr. Maurício de Souza Lino)
Fonte de Pesquisa:
Portal Luteranos:
http://www.luteranos.com.br/conteudo/450-anos-do-primeiro-culto-evangelico-no-brasil
Guia-me:
https://guiame.com.br/gospel/noticias/primeiro-culto-protestante-no-brasil-completa-461-anos.html
http://www.barrabaslivre.com/2015/03/o-primeiro-culto-protestante-no-brasil.html
https://noticias.gospelmais.com.br/primeiro-culto-evangelico-brasil-461-anos-96235.html
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