A mulher de Lot é conhecida na bíblia por ter virado uma estátua de sal. Essa história é relatada em Gênesis, o primeiro livro da bíblia. Lot, sobrinho de Abraão, habitava em Sodoma após ambos concordarem que seria melhor as famílias separarem-se.
Os pastores de seu povo estavam se desentendendo sobre como administrar seus pertences. Foi uma separação amigável, onde Abraão, apesar de ser o mais velho (o costume da época era respeitar a autoridade do ancião) pediu que Lot escolhesse o lado que preferia seguir e foi para o oposto. Lot escolheu a direção de Sodoma, após avistar as campinas do Jordão.
Após adaptarem-se à região escolhida, onde as filhas de Lot chegaram a noivar-se, houve uma guerra entre reis que acarretou na captura e prisão de Lot. Assim que teve notícia disso, Abraão enviou trezentos e dezoito homens de maior competência para resgatar o sobrinho, com sucesso.
Pouco depois o Senhor anunciou a Abraão a destruição de Sodoma e Gomorra, por serem cidades dominadas pela soberba, egoísmo e onde a imoralidade sexual imperava. Os homens de Sodoma eram extremamente perversos e pecadores contra o Senhor; tinham orgulho, plenitude de alimentos, e abundância de ociosidade, não fortaleciam a mão do pobre e do necessitado, além do mais se ensoberbeceram e cometeram abominação diante de Deus (Ez. 16,49-50). Abraão intercedeu pelo povo diversas vezes junto ao Senhor, pedindo que livrasse toda a cidade da destruição em favor de ao menos dez justos residentes nela. O Senhor respondeu que não a destruiria por amor dos dez, caso houvesse. O fato de ter sido posteriormente destruída por fogo e enxofre que caíam do céu nos faz deduzir que não haviam sequer dez sodomitas que estavam corretos de acordo com os princípios do Senhor.
De acordo com as Escrituras Sagradas, Lot recebeu a visita de dois anjos e os hospedou. Pouco antes de se deitarem, os anjos orientaram a Lot que juntasse a família a partisse, porque a cidade estava prestes a ser destruída. O nível de promiscuidade relatado nessa passagem indica que neste momento um grupo de homens bateu a porta da casa, e disseram a Lot assim que os atendeu, que queriam “conhecer” (ter intimidade sexual) com os homens que viram entrar naquela casa. A fim de acalmar os homens, Lot ofereceu suas duas filhas virgens para que eles fizessem o que bem entendessem, e pediu que não fizessem nada com os homens pois eram anjos. O grupo não concordou e tentou arrombar a porta.
Foi neste momento, os dois anjos puxaram Lot de volta para dentro da casa, e cegaram os homens do lado de fora para que não vissem a porta. Em seguida orientaram a família a partir, e disseram para que, no momento da fuga não olhassem para atrás, a fim de não virarem estátua de sal.
Os noivos das filhas não quiseram ir, e partiam Lot, sua esposa e as duas filhas. Consta que sua esposa olhou para atrás e imediatamente virou uma estátua de sal. E Lot passou a viver em uma caverna, com as filhas.
O fato de ter enviado anjos a casa de Lot e indica que o Senhor poupou a família de Abraão que habitava naquela cidade. E no discurso de Jesus, a “Mulher de Lot” cujo nome próprio não é citado, é uma referência constante quando o tema é o agir na desobediência; ou quando olhar para atrás significa ao cristão lembrar o passado, num tempo de pecado, de quando não havia entendimento da Palavra ou respeito pelos princípios do Senhor.
Tendo o Senhor resolvido destruir pelo fogo a cidade de Sodoma, prevaricadora, mandou que o sobrinho de Abraão, nela residente, o justo Lot, com sua esposa e suas filhas, se retirasse da mesma, a fim de não ser punido com os pecadores. Eis, porém, que, durante a fuga, a mulher de Lot, desejosa de verificar se cumpria a promessa divina, lançou para trás um olhar curioso e inoportuno, olhar que contradizia diretamente as instruções dadas pelo Senhor. Em consequência, “tornou-se uma estátua de sal”.
A transformação de um corpo de mulher em estátua de sal não implica absurdo que a onipotência divina não possa efetuar. Contudo não parece ser isto o que o texto sagrado quer dizer. Com insistência advertem os exegetas que, para compreender o episódio, é preciso ter visitado as regiões do Mar Morto (Sul ou Sudoeste de Sodoma) e convivido um pouco com os beduínos habitantes da região. A “transformação de indivíduos humanos em estátuas de rocha por efeito de castigo divino” é tema não raro nas tradições árabes palestinenses. Eis algumas destas, tais como têm sido relatadas por recentes exploradores do Oriente:
Jaussen narra que certo dia, na zona de Maã, ao atravessar uma planície cercada por montanhas de estranha silhueta, lhe disse o guia:
“Vê esta planície? Outrora era coberta de arrozais. Essas rochas são jovens que, ao dançar, se mostraram inconvenientes; Alá as transformou em pedra e amaldiçoou a região”.
O mesmo refere que no território de Durah, ao Sul de Hebron, se encontra uma rocha de configuração mais ou menos fantástica, a propósito da qual o guia lhe contou a história seguinte: jovem senhora, montada sobre um camelo, atravessava a região com o marido; não longe de Durah, acometida pelas dores do parto, deu à luz. Não tendo, porém, pano a fim de enxugar o recém-nascido, usou para isto o pão que levava como provisão de viagem. Alá, porém, o percebeu, e irritou-se de tal modo que transformou em rochedo a mulher, a criança, o marido com a espingarda e os camelos.
No folclore árabe relata-se que Ahmud era oficial muito conceituado junto ao seu xeque, Kerak. Certo dia, porém, em viagem foi caluniado por dois homens, contra os quais o jumentinho de Ahmud tomou a palavra a fim de o defender. Depois do incidente, prosseguiu a estrada.
Ao voltar, o oficial encontrou os dois malvados imóveis como pedra; estavam fixos ao solo, tendo-se tornado semelhantes a rochedos: “Perdoa-nos, pecamos”, disseram-lhe eles com voz surda análoga ao tinir da pedra. Ahmud, de boa índole como era, perdoou-lhes. Os dois árabes, então, restituídos à natureza humana, narraram a todos os vizinhos o prodígio que com eles se dera. (Conto das “Duas Irmãs Ciumentas”, na série das Mil e Uma Noites, alude também a dois príncipes metamorfoseados em rocha negra). Entre os gregos, as histórias de Niobe, Cadmos e Harmonia incluem semelhante tópico.
Estas averiguações levam a concluir que, entre os antigos semitas, falar de petrificação de um indivíduo era o mesmo que afirmar haver sido castigado, e severamente castigado, pela Divindade. A expressão tinha sentido meramente metafórico e parece ter entrado como tal na Escritura Sagrada.
Na realidade, pois, dever-se-á dizer que a mulher de Lot foi fulminada pela morte em castigo da sua incredulidade e desobediência ao Senhor; é isto o que o texto sagrado quer incutir em primeira linha. Tendo sido assim punida, é possível que uma crosta de sal haja em breve recoberto o seu cadáver, como costuma recobrir árvores e demais objetos postos à margem do Mar Morto. Para quem visita Israel, no local que se considera ter sido Sodoma e Gomorra destruídas pelo fogo, (na região Sul do mar morto), aparecem muitas montanhas de sal, a concentração de sal do Mar Morto e muito grande. Estas montanhas de sal tem as mais variadas formas.
Entre elas tem uma que os guias turísticos indicam como sendo a da mulher de Lot que olhou para trás e virou estatua de sal. (aqui no Brasil temos muitas rochas que tem formas conhecidas e recebem por este motivo apelidos. Em Vila Velha, no Paraná, encontramos estas rochas, a mais conhecida tem a forma de um cálice). Penso que mais do que querer saber o lugar exato onde estava Sodoma e Gomorra ou onde está a estátua de sal, o que permanece para nós é o ensinamento bíblico que é surpreendente.
Independentemente, porém, deste outro fenômeno, a fulminação da esposa de Lot já era fato suficiente para que Jesus, recorrendo à imagem comum na literatura de seu tempo, falasse de “petrificação” da criatura renitente.
Na região de Djebel Sudum ou Usdum, hoje, correspondente à antiga cidade de Sodoma, ainda se vê em nossos tempos extensa colina de sal-gema semelhante a uma baleia; é mina inesgotável, da qual se abastecem as famílias de Jerusalém. Ora, aí as erosões e outros fenômenos geológicos produzem constantemente a formação de blocos rochosos, de configuração estranha, aos quais a fantasia popular facilmente atribui o aspecto de mulher; tais blocos podem conservar por tempo notável a sua aparência. Não é, pois, para admirar que, no decorrer dos tempos a imaginação do povo tenha associado entre si o episódio da mulher de Lot, “petrificada” conforme o modo de falar antigo, e uma ou outra dessas pedras às quais a erosão dava aspecto feminino. o historiador judeu Flávio José dizia ter visto um bloco salino que era comumente identificado com a mulher de Lot (Ant. 1, 11, 4).
Sabe-se, que em fins do séc. IV, quando a peregrina Sílvia Etéria, das Gálias, visitou a Terra Santa, não se apontava estátua da esposa de Lot. Em nossos tempos, indicam os beduínos um bloco de aproximadamente 15 m de altura, que eles dizer ser “a mulher” ou também “a filha de Lot” (bint Lourt).
Uma exegese atenta do episódio da mulher de Lot, leva a distinguir entre o “fato” e a “maneira literária ou popular” de exprimir o fato. “Petrificação” e identificação de rochas com os vestígios da criatura incrédula são expressões de mentalidade e linguagem dos povos do Oriente e da tradição israelita.
Estas expressões, nas Sagrada Escrituras, recobrem um fato certamente histórico, muito sóbrio, porém, em pormenores: a esposa de Lot foi fulminada pela morte sobre a estrada, quando fugia de Sodoma.
Não toca aos homens ponderar os motivos por que o Senhor procedeu tão severamente no caso. Não foi para isto que o Espírito de Deus nos quis transmitir o episódio, mas, sim, em vista de uma admoestação salutar dirigida a cada fiel. Jesus mesmo se fez para nós o intérprete da história, deduzindo o seu significado perene:
No dia solene do juízo sobre Jerusalém, “Quem estiver nos campos não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Lot. Quem procurar conservar a vida, perdê-la-á; e quem a perder, conservá-la-á”. (Lc 17,31-33).
Com estas palavras, Jesus incutia aos discípulos total desprendimento para poderem salvar a sua alma.
Na admoestação do Senhor, a mulher de Lot vem a ser o tipo de todos aqueles que, ao empreenderem uma tarefa importante ou a máxima tarefa de salvação eterna, olham para trás, isto é, procedem fútil ou levianamente, movidos por fé tíbia, nutrindo ainda a nostalgia do que abandonaram e permanecendo apegados a prazeres e bens que não lhes são de utilidade para a vida eterna. Para estes pode-se recear castigo análogo ao que fulminou a desgraçada mulher, ou seja, a morte, a morte ao plano espiritual.
Esta é uma advertência do Senhor Jesus que ecoa até os dias de hoje aos nossos ouvidos. Não devemos nos esquecer da mulher de Lot, do que ela fez, de sua desobediência, pois ela olhou para trás quando a ordem de Deus era para que não olhasse para trás. A mulher de Lot morreu instantaneamente e se transformou numa estátua de sal. Ela olhou, desejou ver, provavelmente com saudade de Sodoma, por curiosidade, mas o certo é que ela desobedeceu a ordem divina. Aquela mulher professava a verdadeira religião, ou seja, era uma crente, seu marido era um homem íntegro (2 Pedro 2. 8) e jamais deveria ter olhado para trás.
Jesus quando expressou esta palavra de advertência estava nos falando de sua segunda vinda. Ele alertava os seus discípulos, os seus seguidores, e hoje ele nos adverte: "Lembrai-vos da mulher de Lot!".
Sobre olhar para trás isto pode significar falta de firmeza na fé, descrença em Deus, saudade do mundo, saudade do Egito como aconteceu com o povo de Israel no deserto. Mas, sobretudo, olhar para trás é não valorizar aquilo que Deus nos deu, procurar algo melhor, com melhor aparência aos nossos olhos. E quantos de nós fazemos isto até rotineiramente? Parece que isto faz parte de nossa vida, de nossa índole. É algo "necessário" para preencher as nossas necessidades básicas. Dar uma "olhadinha" de vez em quando não é nada mal. Olhar para trás para ver a fumaça que destruía aquela cidade, talvez com pena ao ver a destruição, lamentando e até desejando voltar para trás. Isto lembra pessoas que saem de casa e ficam preocupadas com a casa, como deixou tudo, se desligou isto ou aquilo, se fechou bem a porta. Há pessoas que até voltam para conferir se está tudo certo, se está tudo bem. Mas há casos que não dá mais para voltar, e a pessoa tem que se contentar em apenas olhar para trás.
Na nossa vida espiritual, o caso é bem mais sério, pois é uma decisão que é tomada em desobediência. Deus ordenou que eles não olhassem para trás, mas a mulher de Lot desobedeceu. Nosso caminho com Deus deve ser trilhado com fidelidade e obediência. Nossa vida deve ser de dependência total a Deus. Quando Deus, realmente, faz parte de nossa vida nada nos falta: "O Senhor é o meu pastor, nada me faltará". (Salmo 23.1).
A mulher de Lot servia a Deus, a sua casa era uma igreja, um local de oração, de culto e de comunhão com Deus. Ela vivia no meio de um povo pagão, homens maus e ímpios. Lot era um homem justo, íntegro, era sobrinho de Abraão, o amigo de Deus. Vemos um paralelo nesta passagem bíblica: quantos estão hoje na mesma situação? O mundo está aí, mau e corrompido, cheio de maldade e vícios, mas nesse meio há pessoas que servem a Deus, há pessoas que olham para frente, porém há outras que são tentadas a olhar para trás.
"Lembra-vos da mulher de Lot". Esta advertência é válida até os dias de hoje. "Jesus disse: Todo aquele que põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus" (Lucas 9. 62). Precisamos, muitas vezes, fazer uma clara decisão e olhar para frente, deixar de ficar olhando para trás, sob pena de também nos transformarmos numa estátua de sal e depois sermos lambidos pelos animais. Que esse gesto infeliz da mulher de Lot sirva de lição para nós!
O que Deus quer que façamos hoje numa situação com semelhanças a de Lot? Assim é melhor entender: que uma vez abraçando a causa de Deus não podemos olhar para trás, voltar ao passado, lamentar-se constantemente do que era melhor anteriormente.
Na história do Povo de Israel este ensinamento se repete constantemente, o povo foge do Egito e no caminho do deserto na volta a terra da Promessa reclama com Moisés em relação às condições de vida no deserto. E afirmam que no Egito tudo era melhor, carne em abundância, água, boa alimentarão e até as cebolas do Egito são lembradas e que segundo eles, “eram melhores do que aquelas do deserto”. Mas não falam que eram escravos subjugados por um povo estrangeiro, e que cultuava outros deuses e não ao Senhor.
Entendemos que a destruição de Sodoma e Gomorra pelo fogo e o salvamento da família de Lot indicam com é realizada a justiça divina.
Deus está sempre pronto para salvar o justo e castigar o mau, aquele que o despreza. O episódio da mulher de Lot que se transforma em estatua de sal lembra a Abraão e sua descendência, que não tiramos nenhuma vantagem desobedecendo a Palavra de Deus.
Bibliografia:
Bíblia sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil 2 ed. Barueri SP, Sociedade Bíblica do Brasil, 1988, 1993.
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