“Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de
geração em geração.” (Salmos 90:1)
Moisés foi o autor inspirado de três
composições devocionais. Nós primeiramente o encontramos como Moisés, o poeta,
cantando a canção que é apropriadamente unida àquela de Jesus, em Apocalipse,
onde está escrito: “o cântico de Moisés... e o cântico do Cordeiro” [Apocalipse
15:3]. Ele foi um poeta na ocasião em que Faraó e seus exércitos foram lançados
no Mar Vermelho, “Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos
príncipes afogaram-se no Mar Vermelho” [Êxodo 15:4].
Posteriormente em sua
vida, o encontramos no caráter de um pregador; e, então, sua doutrina foi
destilada como o orvalho, e seu discurso derramado como a chuva nesses
capítulos que estão cheios de imagens gloriosa e ricas em poesia, os quais você
encontrará no livro de Deuteronômio. E agora nos Salmos, o encontramos o autor
de uma oração! “Uma oração de Moisés, o homem de Deus”. Feliz combinação do
poeta, do pregador, e do homem de oração! Onde tais três coisas são encontradas
juntas, o homem torna-se um verdadeiro gigante, muito acima de seus
companheiros. Muitas vezes acontece que o homem que prega é pouco hábil para a
poesia, e o homem que é poeta não seria capaz de pregar e proferir seus poemas
diante de assembleias imensas, mas conseguiria apenas escrevê-los para si
mesmo. É uma rara combinação quando a verdadeira devoção e espírito de poesia e
eloquência encontram-se no mesmo homem. Você verá neste Salmo uma maravilhosa
profundidade de espiritualidade; você notará como o poeta subsidia o homem de
Deus, e quão perdido em si mesmo, ele canta sobre a sua própria fragilidade,
declarou a glória de Deus, e pede para que ele tenha a bênção de seu Pai
celestial sempre repousando sobre a sua cabeça. Este primeiro verso derivará
peculiar interesse, se você lembrar o lugar onde Moisés esteve quando ele orou
assim. Ele estava no deserto; não em alguma das salas de Faraó, nem ainda em
uma habitação na terra de Gósen; mas em um deserto. E, talvez, a partir do cume
do monte, olhando para as tribos de Israel enquanto elas levantavam as suas
tendas e marchavam, ele pensou: “Ah, pobres viajantes. Eles raramente descansam
em qualquer lugar; eles não têm qualquer habitação estabelecida onde possam
habitar. Aqui eles não têm nenhuma cidade permanente”. Mas ele levantou os
olhos acima, e ele disse: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio de geração em
geração”.
Olhando para trás, ao longo da história, ele
viu um grande templo onde o povo de Deus havia habitado, e com seu olhar
profético movendo-se com santo frenesi, ele podia ver através de todo o futuro,
que os especialmente escolhidos de Deus seriam capazes de cantar: “Senhor, tu
tens sido o nosso refúgio, de geração em geração”. Tomando este verso como o
tema de nossa pregação nesta manhã, vamos, em primeiro lugar, explicá-lo; e, em
seguida, nós tentaremos e faremos o que os antigos Puritanos chamavam de
“aperfeiçoá-lo”, pelo que eles não queriam dizer melhorar o texto, mas
aperfeiçoar um pouco as pessoas pela consideração do versículo.
I. Primeiramente, tentaremos explicá-lo um
pouco. Aqui está uma habitação: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio”; e, em
segundo lugar, se é que posso usar uma palavra tão comum, aqui está o
arrendamento da mesma: “Tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração”.
Primeiro, então, aqui está uma habitação: “Senhor, tu que tens sido a nossa
habitação”. O poderoso Jeová, que preenche toda a imensidão, o Eterno, o Grande
Eu Sou, não Se recusa a permitir figuras a respeito a Si mesmo embora Ele seja
tão elevado, de forma que o olho de anjo não O tem visto; embora Ele seja tão
sublime, que a asa do querubim não O alcançou, embora Ele seja tão grandioso,
que a extensão máxima das viagens dos espíritos imortais nunca descobriram o
limite dEle mesmo; ainda assim, Ele não se opõe a que Seu povo fale sobre Ele
assim, familiarmente, e diga: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio”. Nós
entenderemos melhor essa figura contrastando o pensamento, com a condição de
Israel no deserto; e, em segundo lugar, fazendo menção de algumas coisas em
forma de comparação, que são peculiares à nossa casa, e as quais nunca
poderíamos desfrutar, se não fôssemos os possuidores de nossa própria
habitação. Em primeiro lugar, contrastemos este pensamento: “Senhor, tu tens sido
o nosso refúgio”, com a posição peculiar dos Israelitas enquanto eles estavam
peregrinando pelo deserto. Nós observamos, em primeiro lugar, que eles deveriam
estar numa condição de grande inquietação. Ao cair da noite, ou quando a nuvem
parava, as tendas eram armadas, e eles se deitavam para descansar. Talvez no
outro dia, antes que sol da manhã levantasse, a trombeta soava, eles se
agitavam a partir de suas camas e encontravam que a arca estava em movimento, e
a coluna de fogo estava liderando o caminho através dos estreitos desfiladeiros
da montanha até à encosta, ou ao longo do solo árido do deserto.
Eles tinham pouco tempo para organizar sua
pequena propriedade em suas tendas e fazer todas as coisas confortáveis para
si, antes de ouvirem o som de “Levantem-se! Levantem-se! Levante-se! Aqui não é
lugar de descanso! Vocês ainda devem prosseguir caminhando para Canaã!”. Eles
não podiam plantar um pedacinho de chão ao redor de suas tendas, eles não
podiam colocar a casa em ordem e organizar seus móveis, eles não podiam se
apegar ao pedaço de terra. Apesar de que exatamente agora o seu pai fora
enterrado em um lugar onde uma tenda havia permanecido por um tempo, ainda
assim, eles deviam ser desapegados. Eles não deveriam ter qualquer apego ao
lugar, eles não devem ter tido nada do que chamamos de conforto, facilidade e
paz; mas estavam sempre peregrinando, sempre viajando. Além disso, tão expostos
eles eram, que nunca poderiam estar muito cômodos em suas tendas. Ao mesmo
tempo, a areia, com a quente tempestade de areia por trás deles, poderia
adentrar nas tendas e cobri-los aponto de enterrá-los. Em muitas ocasiões o sol
quente poderia queimá-los, e suas lonas malmente poderiam servir de proteção;
em outro momento o cortante vento norte poderia congelar ao redor deles, de
modo que dentro de suas tendas, eles sentavam-se trementes e encolhidos, em
torno das fogueiras. Eles tinham pouca facilidade; mas contemple o contraste
que Moisés, homem de Deus, discerne com gratidão: “Tu não és a nossa tenda, mas
Tu és o nosso refúgio. Embora estejamos desconfortáveis aqui, embora nós
sejamos atirados de um lado para outro, pelos problemas, embora viajemos por um
deserto, e achemos que é um caminho difícil, embora quando nos sentamos aqui,
não sabemos o que significa conforto, ó, Senhor, em Ti nós possuímos todo o
conforto que uma casa pode oferecer, temos tudo o que uma mansão ou palácio
pode dar ao príncipe, que pode descansar à vontade em seu leito, e repousar na
sua cama. Senhor, Tu és a nós o conforto, Tu és uma casa e habitação”. Alguma
vez você já soube o que é ter Deus por sua habitação, no sentido de conforto?
Soube o que é, quando você tem tempestades atrás de você, sentir-se como um
pássaro marítimo, levado para a terra pela própria tempestade? Você já soube o
que é, quando você foi enjaulado por vezes pela adversidade, ter a corda
rompida pela graça Divina, e como o pombo que voa imediatamente para seu
próprio pombal, você já acelerou seu caminho através do éter, e encontrou-se em
Deus?
Você sabe o que é, quando você é atirado
sobre as ondas, mergulhar nas profundezas da Divindade, regozijando-se de que
ali nenhuma onda de problemas agita o seu espírito, mas que você está
serenamente em casa com o seu próprio Deus Pai Todo-Poderoso? Você pode, em
meio a toda a inquietação desta viagem pelo deserto, encontrar um conforto ali?
O seio de Jesus é um doce travesseiro para sua cabeça? Você pode, assim,
repousar no seio da Divindade? Você pode lançar-se no fluxo da Providência e
flutuar sem luta, enquanto os anjos cantam ao seu redor, divinamente guiado,
divinamente conduzido: “Estamos carregando-te ao longo do córrego da
Providência para o oceano da bem-aventurança eterna”. Você sabe o que é
repousar sobre Deus, desistir de todos os cuidados, lançar a ansiedade para longe,
e para ali; não em uma imprudência de espírito, mas em um descuido santo, não
preocupar-se com nada, “não estejais inquietos por coisa alguma; antes as
vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica,
com ação de graças” [Filipenses 4:6]. Caso sim, você compreendeu a primeira
ideia; “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração”.
Novamente, os Israelitas estavam muito expostos a todos os tipos de criaturas
nocivas, devido ao seu residir em tendas, e aos seus hábitos da vida nômade.
Uma vez, a serpente de bronze foi o seu inimigo. À noite, as feras rondavam em
torno deles. A menos que a coluna de fogo fosse uma muralha de fogo em torno
deles e glória em meio a eles, poderiam todos ter caído como presas de bestas
selvagens que percorriam os desertos. Inimigos piores eles encontraram na
espécie humana. Os Amalequitas corriam das montanhas; selvagens hordas errantes
que constantemente os atacavam. Eles nunca se sentiam seguros, pois eram
peregrinos em meio a um país inimigo. Eles estavam atravessando uma terra onde
eles não eram queridos, para outra terra que resistiria a eles quando
chegassem. Assim é o Cristão. Ele está peregrinando pela terra de um inimigo;
todos os dias ele está exposto ao perigo. Sua tenda pode ser derrubada pela
morte; o caluniador está atrás dele, o adversário aberto está diante dele; a
fera selvagem que anda de noite, e a peste que assola de dia, buscam
continuamente a sua destruição; ele não encontra descanso onde ele está; ele se
sente exposto. Mas, diz Moisés: “Apesar de vivermos em uma tenda exposta às
feras e homens selvagens, contudo Tu és a nossa habitação. Em Ti encontramos
abrigo. Dentro de Ti estamos seguros, e em Tua gloriosa pessoa vivemos como em
uma inexpugnável torre de defesa, a salvo de todo medo e espanto, sabendo que
estamos seguros”.
Oh! Cristão, tu tens conhecido o que é ficar
em meio a batalhas, com numerosas flechas voando em torno de ti, mais do que o
teu escudo pode conter; e tu ainda tens estado tão seguro como se cruzasses os
teus braços e descansasses no interior das paredes de algum forte bastião, onde
a seta não poderia alcançar-te, e até onde o som da trombeta não poderia
perturbar os teus ouvidos? Tu tens conhecido o que é habitar com segurança em
Deus, achegar-se ao Altíssimo, e rir-se do escárnio, da raiva, das carrancas,
da zombaria, do desprezo, da difamação e da calúnia dos homens; subir ao lugar
sagrado do pavilhão do Altíssimo, e habitar sob a sombra do Onipotente, e
sentir-se seguro? E observe, tu podes fazer isso. Em tempos de pestilência, é
possível caminhar em meio à cólera e à morte, cantando: “Pragas e mortes voam
ao meu redor, até quando Ele Se agradar, eu não posso morrer.” É possível
permanecer exposto ao máximo grau de perigo, e ainda assim sentir uma serenidade
tão sagrada que podemos rir do medo; mui grande, mui forte, muito poderoso em
Deus, para que nos inclinemos por um momento à covardia tremente, porque nós
sabemos em Quem temos crido, e estamos certos de que é poderoso para guardar o
nosso depósito até àquele dia [2 Timóteo 1:12]. Quando homens sem casa
vagueiam, quando os pobres espíritos angustiados e castigados pela tempestade,
não encontram refúgio, nós entramos em Deus, e fechando atrás de nós a porta da
fé, nós dizemos, “Uivem, vós ventos; soprem, vós tempestades; rujam, vós
animais selvagens; venham, vós ladrões!” “Aquele que fez o seu refúgio em Deus,
Deve encontrar uma morada seguríssima, Andará o dia todo debaixo de Sua sombra,
E ali, à noite, deve repousar a cabeça.” Senhor, neste sentido, Tu tens sido a
nossa habitação. Mais uma vez, o pobre Israel, no deserto, estava continuamente
exposto à mudança. Eles nunca estavam em um lugar por muito tempo. Às vezes,
eles podiam permanecer um mês em um lugar, exatamente perto das setenta palmeiras.
Que lugar doce e agradável para sair todas as manhãs, sentar-se ao lado do
manancial e beber daquele ribeiro claro! “Avante!”, clama Moisés; e ele os leva
para um lugar onde as rochas expostas permaneciam entre nós e o lado da
montanha, e a areia vermelha e ardente estavam abaixo de seus pés; víboras
brotavam ao redor deles, e um matagal espinhoso crescia em vez de vegetação
agradável. Que mudança eles tinham! No entanto, em outro dia irão a um lugar
que pode ser ainda mais triste. Eles caminham através de um desfiladeiro tão
cerrado e estreito, que os atemorizados raios do sol mal ousam entrar em tal
prisão, de forma que eles jamais encontrariam seu caminho para fora de novo!
Eles devem prosseguir, de um lugar para
outro, em constante mudança, nunca tendo tempo para se estabelecerem e dizer:
“Agora estamos seguros, neste lugar nós habitaremos”. Aqui, mais uma vez, o
contraste lança luz sobre o texto: “Ah!”, diz Moisés, “apesar de estarmos
sempre mudando, Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração”. O
Cristão não conhece nenhuma mudança no que diz respeito a Deus. Ele pode ser
rico hoje, e pobre amanhã; ele pode estar doente hoje e saudável amanhã; ele
pode estar em felicidade hoje, e amanhã ele pode estar angustiado; mas não há
nenhuma mudança no que diz respeito à sua relação com Deus. Se Ele me amava
ontem, Ele me ama hoje. Não sou nem melhor nem pior em Deus do que eu já fui.
Que as perspectivas sejam arruinadas, que as esperanças sejam golpeadas, que a
alegria murche, que o bolor destrua todas as coisas, eu não perdi nada do que
eu tenho em Deus. Ele é a minha habitação forte para o qual eu posso recorrer
continuamente.
O Cristão nunca se torna mais pobre, e nem
mais rico, em relação a Deus. “Aqui”, ele pode dizer, “está uma coisa que nunca
pode morrer ou mudar. Na testa do Eterno nunca haverá uma ruga; Seu cabelo não
embranquece pela idade; Seu braço não é paralisado pela fraqueza; Seu coração
não muda em Suas afeições; Sua vontade não varia em Seu propósito; Ele é o
imutável Jeová, permanecendo firme e eterno. Tu és a nossa habitação! Como a
casa não muda, antes permanece no mesmo lugar, assim encontrei-Te desde a minha
mocidade. Quando pela primeira vez fui lançado sobre Ti, desde o seio de minha
mãe, eu encontrei-Te, como meu Deus da Providência. Quando pela primeira vez eu
Te conheci, por meio daquele conhecimento espiritual que só Tu podes dar,
encontrei-Te como uma habitação segura; e eu encontro-Te assim agora. Sim,
quando eu for velho e grisalho, eu sei que Tu não me abandonarás; Tu serás o
mesmo refúgio, em todas as gerações”. Mais um pensamento contrasta a posição
dos Israelitas conosco mesmo, ou seja, o cansaço. Quão cansado deveria estar
Israel no deserto! Quão cansados devem ter estado as solas dos seus pés, com as
suas peregrinações constantes! Eles não estavam em um lugar de repouso, luxo e
descanso, mas em uma terra de peregrinação, cansaço e problemas. Eu acho que eu
os vejo viajando, enxugando frequentemente de suas sobrancelhas do suor
escaldante, e dizendo: “Oh! que nós tivéssemos uma habitação onde pudéssemos
descansar!
Oh! que entrássemos em uma terra de vinhas e
romãs, uma cidade onde se pudesse desfrutar de ausência do alarme! Deus
prometeu isso para nós, mas não o temos encontrado, resta ainda um repouso para
o povo de Deus. Oh! que possamos encontrá-lo”. Cristão! Deus é a sua habitação,
nesse sentido, Ele é o seu repouso; e você nunca encontrará descanso, exceto
nEle. Eu desafio um homem que não tem a Deus, se ele tem uma alma em repouso.
Aquele que não tem Jesus por seu Salvador será sempre um espírito inquieto.
Leia alguns dos versos de Byron, e você o encontrará, se ele estava realmente
retratando-se, como sendo a própria personificação desse espírito que “andou
para lá e para cá, buscando repouso e não o encontrou”. Aqui está um de seus
versos: “Eu voo como um pássaro do ar, Em busca de um lar e um descanso; De um
bálsamo para a doença da preocupação, De felicidade para um desventurado seio.”
Leia sobre vidas de quaisquer dos homens que não tiveram justificação evangélica,
ou não tiveram conhecimento de Deus, e você achará que eles eram como o pobre
pássaro que teve seu ninho derrubado, e não sabiam onde descansar, voando,
vagando e buscando uma habitação. Alguns de vocês têm tentado encontrar
descanso fora de Deus. Vocês procuraram encontrá-lo em sua riqueza; mas vocês
aferroaram a sua cabeça quando a deitaram sobre o travesseiro. Vocês o
procuraram em um amigo, mas o braço desse amigo tem sido uma cana quebrada,
onde você esperava que fosse uma muralha de força. Vocês nunca encontrarão
descanso, exceto em Deus; não há refúgio, senão nEle. Oh! o descanso e calma
estão ali, nEle! É mais do que descanso, mais do que calma, mais do que
quietude; mais profundo do que o calmaria morta do silencioso mar, em suas
profundezas extremas, que não é perturbada pela mais leve ondulação, e ventos
nunca podem misturar-se. Existe uma santa calma e doce repouso que somente o
Cristão conhece, algo como as estrelas adormecidas lá em cima na cama do
firmamento; ou como o descanso seráfico, que nós podemos supor que os espíritos
beatificados possuem quando estão diante do trono, continuamente em reverência;
há um descanso tão profundo e calmo, tão quieto e silencioso, tão profundo, que
não encontramos palavras para descrevê-lo. Você já o experimentou, e pode se
alegrar com isso. Você sabe que o Senhor tem sido o seu refúgio, o seu doce,
calmo, constante lar, onde você pode desfrutar de paz em todas as gerações. Mas
eu permaneci por muito tempo sobre esta parte do assunto, falarei sobre isso de
uma maneira diferente. Primeiro de tudo, a habitação do homem é o lugar onde
ele pode descansar e sentir-se em casa, e falar familiarmente.
Neste púlpito devo verificar um pouco as
minhas palavras; eu lido com os homens do mundo que veem minha pregação, e
estão sempre em vigilância, homens que desejam ter isso ou aquilo para usar
contra mim, eu devo estar em guarda. Assim, vocês, homens de negócios, quando
estão no comércio, ou em suas lojas, têm que protegerem-se a si mesmos. O que o
homem faz em casa? Ele pode desnudar o peito, e fazer e dizer o que quiser; é a
sua própria casa, sua morada; e ele não domina ali? Ele não faz o que quiser
com o que é seu próprio? Seguramente; pois ele se sente em casa. Ah! meu amado,
você já se encontrou em Deus para estar em casa? Você esteve com Cristo, e
contou seus segredos em Seu ouvido, e descobriu que você poderia fazê-lo sem
reservas? Em geral, não contamos segredos para outras pessoas, pois se
contamos, e os fazemos prometer que nunca os contarão, elas nunca os contarão,
exceto para a primeira pessoa que encontrarem. A maioria das pessoas que têm
segredos contados a elas, são como a senhora de quem se diz que ela nunca
contou seus segredos a não ser para dois tipos de pessoas: aquelas que
perguntaram a ela e para aquelas que não perguntaram. Você não deve confiar nos
homens do mundo; mas você sabe o que é contar todos os seus segredos para Deus
em oração, sussurrar todos os seus pensamentos para Ele? Você não tem vergonha
de confessar seus pecados a Ele com todos os seus agravos; você não os defende
diante de Deus, mas você apresenta cada agravo, você descreve todas as
profundidades de sua baixeza. Assim, como em relação aos seus pequenos desejos,
você teria vergonha de dizer-lhes para outro; diante de Deus, você pode
contar-lhes todos. Você pode contar a Ele a sua dor que você não sussurraria
para o seu amigo mais querido. Com Deus você pode estar sempre em casa, você
não precisa estar sob nenhuma restrição. Ó Cristão, entregue a Deus, de uma
vez, a chave do seu coração, para que Ele te transforme em cada aspecto. Ele
diz: “Aqui está a chave de cada gaveta; eu desejo que Tu possas abri-las todas.
Se há joias, elas são Tuas, e se há coisas que não deveriam estar ali,
expurgue-as. Sonda-me e prove o meu coração”. Quanto mais Deus vive no Cristão,
mais o Cristão O ama; quanto mais frequentemente Deus vem vê-lo, mais ele ama o
seu Deus. E Deus ama muito quando o Seu povo está familiarizado com Ele. Você
pode dizer, nesse sentido, “Senhor, tu tens sido o meu refúgio”? Então, mais
uma vez, a casa do homem é o lugar onde suas afeições estão centradas. Deus nos
livre desses homens que não amam suas casas! Vive ali um homem tão vil, tão
morto, que ele não tenha afeição por sua própria casa?
Se assim for, certamente a centelha do
Cristianismo deve ter sido extinta inteiramente. É natural que os homens amem
as suas casas; é espiritual que eles as amem ainda mais. Em nossas casas, nós
encontramos aqueles com quem devemos estar e sempre estaremos mais ligados. Ali
os nossos melhores amigos e parentes habitam. Quando nos afastamos, somos como
pássaros, que deixaram seus ninhos e não conseguimos encontrar nenhuma casa
estável. Queremos voltar e ver novamente aquele sorriso, apertar mais uma vez
aquela mão amorável e descobrir que estamos com aqueles com quem os laços de
afeto nos uniram. Queremos sentir — e cada homem Cristão sentirá — no que diz
respeito à sua própria família, que eles são a urdidura e tessitura de sua
própria natureza, que ele se tornou uma parte e porção deles; e ali ele
centraliza a sua afeição. Ele não pode permitir-se derramar o seu amor em todos
os lugares. Ele o centraliza nesse lugar particular, aquele oásis no deserto
neste mundo sombrio. Homem Cristão, Deus é a sua habitação neste sentido? Você
entregou toda a sua alma a Deus? Você sente que pode trazer todo o seu coração
até Ele e dizer: “Ó Deus! Amo-Te com minh’alma; com a sinceridade mais
apaixonada, amo-Te”. “O ídolo mais querido que conheci, seja qual for este
ídolo, ajuda-me a arrancá-lo do Seu trono, E adorar somente a Ti!” Ó Deus!
embora eu às vezes vagueie, contudo eu Te amo em minhas peregrinações, e meu
coração está firme em Ti. Que embora a criatura iluda-me, eu detesto esta
criatura; ela é para mim como a maçã de Sodoma. Tu és o Dono da minha alma, o
Imperador do meu coração; não vice regente, mas o Rei dos reis. Meu espírito
está posto em Ti como o centro da minh´alma. “Tu és o mar de amor Para onde
todos os meus deleites fluem, O círculo onde minhas paixões se movem; O centro
de minha alma!”
Ó Deus! Tu tens sido o nosso “refúgio de
geração em geração”. Meu próximo comentário é sobre o arrendamento deste
refúgio. Deus é a habitação do crente. Às vezes, você sabe, as pessoas saem de
suas casas, ou as suas casas desabam sobre elas. Nunca é assim com a nossa:
Deus é o nosso refúgio de geração em geração. Olhemos para trás, para tempos
passados, e veremos que Deus tem sido a nossa habitação. Ah, o velho lar doce
lar! quem não o ama, o lugar da nossa infância, a velha casa na árvore, o
antigo chalé! Não há nenhuma vila em todo o mundo que seja a metade tão boa
quanto aquela vila especial onde nascemos! É verdade, os portões, escadas e
postes foram alterados; mas ainda há um apego àquelas casas antigas, à velha
árvore no parque, e à velha torre coberta por hera.
Não é muito pitoresco, talvez, mas nós
gostamos de ir vê-la. Nós gostamos de ver os lugares favoritos da nossa
infância. Há algo agradável naquelas velhas escadas, onde o relógio costumava
ficar; e no quarto onde a avó costumava dobrar o joelho, e onde tivemos oração
em família. Não há nenhum lugar como a nossa casa, afinal! Bem, amados, Deus
tem sido a morada do Cristão nos anos que se passaram. Cristão, sua casa é na
verdade uma casa venerável, e você tem por muito tempo morado ali. Você morava
ali na Pessoa de Cristo muito antes de você ter sido trazido a este mundo
pecaminoso; e esta deve ser sua morada por todas as gerações. Você nunca deve
pedir uma outra casa; você sempre se contentará com essa que você tem; você
nunca desejará mudar a sua habitação. E se você desejasse, você não poderia;
pois Ele é a sua morada por todas as gerações. Deus deu-lhe a conhecer o que é
ter esta casa em seu prolongado arrendamento, e para sempre ter Deus por seu
refúgio!
II. Agora eu venho para aperfeiçoar um pouco
este texto. Primeiro, vamos aperfeiçoá-lo para o AUTOEXAME. Como podemos saber
se nós somos cristãos ou não, se o Senhor é o nosso refúgio, e o será por todas
as gerações? Vou dar-lhes algumas dicas para autoexame, ao referir várias
passagens para vocês, as quais considerei a partir da primeira epístola de
João. É notável que quase o único escritor bíblico que fala de Deus como uma
habitação, é este mui amável apóstolo João, de quem temos lido as epístolas.
Ele nos oferece, no versículo 12 do capítulo 4, um meio para saber se estamos
vivendo em Deus: “se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é
perfeito o seu amor”. E novamente mais adiante, ele diz: “E nós conhecemos, e
cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus,
e Deus nele”. Você pode, então, dizer se você é um inquilino desta grande casa
espiritual pelo amor que você tem para com os outros. Você ama os santos? Bem,
então, você mesmo é um santo. Os bodes não amarão as ovelhas; e se você ama as
ovelhas, esta é uma evidência de que você mesmo é uma ovelha. Muitos da fraca
família do Senhor nunca podem obter qualquer outra evidência de sua conversão,
exceto esta: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os
irmãos” [1 João 3:14]. E, embora esta seja uma pequenina evidência, ainda assim
é uma tal que a fé mais forte, muitas vezes, não consegue obter algo muito
melhor. “Acho que não amo a Deus, eu amo o Seu povo, acho que eu não sou
Cristão, mas eu amo a Sua casa”. O quê!? O Diabo te disse que tu não és do
Senhor?
Pobre coração Constrangido, tu amas o povo do
Senhor? “Sim”, tu dizes, “eu amo ver os seus rostos, e ouvir as suas orações;
eu quase poderia beijar a orla de suas vestes”. É assim? e você os ajudaria se
eles fossem pobres? Você os visitaria se eles estivessem doentes e cuidaria
deles se eles precisassem de ajuda? “Ah! sim”. Então não tenha medo. Vocês que
amam o povo de Deus devem amar o Mestre. Sabemos que habitamos em Deus, se
amamos uns aos outros. No versículo 13 há mais um sinal: “Nisto conhecemos que
estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito”. Será que já
temos o Espírito de Deus em nós? Essa é uma das questões mais solenes que posso
perguntar. Muitos de vocês sabem o que é ser animado pelo sentimento religioso,
mas nunca tiveram o Espírito de Deus. Muitos de nós têm uma grande necessidade
de tremer que não tenha recebido este Espírito. Tenho provado a mim mesmo
dezenas de vezes, de maneiras diferentes, para ver se eu realmente sou um
possuidor do Espírito de Deus ou não. Sei que as pessoas do mundo zombam da
ideia, e dizem: “é impossível para qualquer pessoa ter o Espírito de Deus”.
Então, é impossível para qualquer pessoa ir para o céu; pois devemos ter o
Espírito de Deus, devemos nascer de novo do Espírito, para que possamos entrar
ali. Que pergunta mais séria é esta: “Eu já tenho o Espírito de Deus em mim? É
verdade, minha alma às vezes é levantada ao alto, e eu sinto que eu poderia
cantar como um serafim. É verdade, às vezes, eu sou derretido por profunda
devoção, e eu poderia orar em terrível solenidade. Mas, talvez, os hipócritas
façam isso. Eu tenho o Espírito de Deus? Há alguma evidência interior que você
tem o Espírito? Você tem certeza que não está se esforçando sob uma ilusão e um
sonho? Você já tem realmente o Espírito de Deus dentro de você? Se assim for,
você habita em Deus. Este é o segundo sinal. Mas o apóstolo concede outro sinal
no versículo 15: “Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está
nele, e ele em Deus”. A confissão da nossa fé no Salvador é mais um sinal de
que vivemos em Deus. Oh! pobre coração! Tu não podes vir sob este sinal? Tu
podes ter apenas uma pequena ousadia, mas podes dizer: “Eu creio em o nome do
Senhor Jesus Cristo”? Se assim for, tu habitas em Deus. Eu sei que muitos de
você dizem: “Quando eu ouço um sermão, eu me sinto afetado por ele. Quando
estou na casa de Deus, eu me sinto como um filho de Deus, mas os negócios, os
cuidados e problemas da vida me abatem, e então, eu temo que eu não seja”.
Mas você pode dizer: “Eu creio em Cristo, eu
sei que eu me lancei em Sua misericórdia, e espero ser salvo por Ele?”, então,
não diga que você não é um filho de Deus, se você tem fé. Todavia, há mais um
sinal pelo qual devemos examinar a nós mesmos, no capítulo 3, versículo 24: “E
aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele”. A obediência aos
mandamentos de Deus é um bendito sinal de que você tem Deus por habitação.
Alguns de vocês têm uma medida de conversa religiosa, mas não muito um caminhar
religioso; um grande estoque de piedade exterior, mas não muito de verdadeira
piedade interior, que é demonstrada em suas ações. Esta é uma advertência para
alguns de vocês que sabem com certeza que devem ser batizados, e não são. Você
sabe que é um dos mandamentos de Deus, que “aquele que crê deverá ser
batizado”, e você está negligenciando o que você sabe ser o seu dever. Você
está habitando em Deus, não tenho dúvida, mas lhe falta uma evidência disto, a
saber, a obediência aos mandamentos de Deus. Obedeça a Deus, e então você
saberá que você está habitando nEle. Mas eu tenho outra palavra como forma de
aperfeiçoamento, e que esta é uma de FELICITAÇÃO. Vocês que habitam em Deus,
permita-me felicitá-los. Homens três-vezes felizes sois vós, se habitais em
Deus! Vocês não precisam se envergonhar de compararem-se com os anjos, vocês
não precisam pensar que alguém na Terra possa compartilhar tal felicidade como
a sua! Sião, ó, quão bendita és tu, livre de todos os pecados! Agora tu és,
através de Cristo, levado a habitar em Deus e, portanto, estás eternamente
seguro! Quero parabenizá-los, Cristãos, em primeiro lugar, por vocês terem tal
magnífica casa para habitar. Vocês não têm um palácio tão lindo como o de
Salomão, nem um imponente e imenso palácio como as habitações dos reis da
Assíria, ou Babilônia; mas vocês têm um Deus que é mais do que as criaturas
mortais podem contemplar; vocês moram em um tecido imortal, vocês moram na
Divindade, algo que está além de toda a inteligência humana. Quero
parabenizá-los, além disso, pelo fato de vocês viverem em uma casa tão
perfeita. Nunca houve uma casa na terra que não poderia ser minimamente
melhorada, mas a casa em que vocês habitam têm tudo o que precisam; em Deus
vocês têm tudo que vocês requerem. Quero parabenizá-los, além disso, por vocês
viverem em uma casa que durará para sempre, uma habitação que não há de passar;
quando este mundo passar como um sonho; quando, como a bolha na onda, a criação
se esvairá; quando todo o universo extinguir-se como uma faísca de um tição prestes
a apagar, sua casa viverá e permanecerá mais imperecível do que o mármore.
Mais sólida do que o granito, autoexistente
como Deus, pois é Deus! Sejam felizes, então. Agora, por último, uma palavra DE
ADMOESTAÇÃO E ADVERTÊNCIA para alguns de vocês. Meus ouvintes, que pena é que
temos que dividir nossa congregação, que não podemos falar a ela como um todo,
como sendo todos Cristãos. Esta manhã, eu gostaria de poder tomar a palavra de
Deus e dirigi-la a todos vocês, de forma que todos pudessem compartilhar as
doces promessas que ela contém. Mas alguns de vocês não as teriam se eu lhes
oferecesse. Alguns de vocês desprezam a Cristo, meu bendito Mestre. Muitos de vocês
pensam que o pecado é uma ninharia, e que a graça é inútil, que o céu é uma
imaginação, e o inferno, uma ficção. Alguns de vocês são descuidados,
endurecidos e irracionais, sem Deus, sem Cristo. Oh! meus ouvintes, eu pergunto
a mim mesmo se eu tenho tão pouca benevolência por não pregar mais
fervorosamente para vocês. Parece-me que se eu obtivesse uma estimativa correta
do valor das vossas almas, eu falaria não como eu falo agora, com língua
gaguejante, mas com palavras de fogo. Tenho um grande motivo para corar sobre a
minha própria indolência, embora Deus saiba que eu me esforço para pregar a
verdade de Deus, tão veementemente quanto possível, e gostaria de gastar-me em
Seu serviço; mas maravilho-me que eu não vá para cada rua em Londres e pregue a
Sua verdade. Quando penso nos milhares de almas nesta grande cidade que nunca
ouviram falar de Jesus, que nunca ouviram sobre Ele; quando penso em quanta
ignorância há, e quão pouca é a pregação do Evangelho, quão poucas almas são
salvas, eu penso: “Ó Deus! Quão pequena graça eu devo ter, que não me esforço
mais pelas almas”. Uma palavra em forma de advertência. Você sabe, alma
miserável, que não tem uma casa para morar? Você tem uma casa para o seu corpo,
mas nenhuma casa para a sua alma. Você já viu uma pobre menina sentada à
meia-noite, em uma porta, chorando? Alguém passa, e diz: “Por que você senta
aqui?”, “Eu não tenho casa, senhor. Eu não tenho casa”. “Onde está o seu pai?”,
“Meu pai está morto, senhor”. “Onde está sua mãe?”, “Eu não tenho mãe, senhor”.
“Você não tem amigos?”, “Não, não tenho nenhum amigo”. “Você não tem casa?”,
“Não, eu não tenho nenhuma. Estou desabrigada”. E ela treme no ar frio, e
ajunta o seu pobre xale esfarrapado em volta dela, e chora mais uma vez: “Eu
não tenho casa, eu não tenho casa”. Será que você não se apieda dela? Você a
culpa por suas lágrimas? Ah! há alguns de vocês que têm almas desabitadas aqui
nesta manhã. É algo ter um corpo sem casa; quanto mais pensar em uma alma sem
casa! Parece que eu vejo você na eternidade sentado na porta do céu.
Um anjo diz: “O quê?! Você não tem nenhuma
casa para viver?”, “Nenhuma casa”, diz a alma miserável, “Você não tem pai?”,
“Não; Deus não é o meu pai; e não há ninguém ao lado dEle”. “Você não tem
mãe?”, “Não, a igreja não é minha mãe; nunca procurei seus caminhos, nem amei a
Jesus. Eu não tenho pai nem mãe”, “Você não tem casa, então?”, “Não; eu sou uma
alma desabrigada”. Mas há uma coisa pior sobre isso: almas desabrigadas devem
ser enviadas para o inferno; para uma masmorra, para um lago que arde com fogo.
Alma sem lar! em pouco tempo o teu corpo terá passado; e onde tu te abrigarás
quando a saraiva da Ira eterna vier do céu? Onde esconderás a tua cabeça
culpada, quando os ventos do Último Dia do Juízo te varrerem com fúria? Onde te
abrigarás quando a explosão do Ser terrível será como a tempestade contra uma
parede, quando a escuridão da eternidade descerá sobre ti, e o inferno obscuro
estiver ao teu redor? Será totalmente em vão que vocês clamem, “Rochedos, caí
sobre mim, e montes, escondei-me”, os rochedos não os obedecerão, os montes não
esconderão vocês. Cavernas seriam palácios se vocês pudessem habitar nelas, mas
não haverá cavernas para vocês esconderem sua cabeça, entretanto vocês serão
almas desabrigadas, espíritos desabrigados, vagando pelas sombras do inferno,
atormentados, necessitados e aflitos, e isso por toda a eternidade. Pobre alma
sem casa, tu queres uma casa? Eu tenho uma casa para entregar nesta manhã para
cada pecador que sente a sua miséria. Você quer uma casa para a sua alma? Então
eu condescenderei aos homens de baixa condição, e lhe direi em linguagem
familiar: eu tenho uma casa para lhe dar. Você me pergunta, qual é o preço? Vou
dizer-lhe; é algo menos do que a natureza humana orgulhosa gostaria de dar. É,
sem dinheiro e sem preço. Ah! você gostaria de pagar algum aluguel, não é? Você
gostaria de fazer alguma coisa para ganhar a Cristo. Você não pode ter a casa,
então; é “sem dinheiro e sem preço”. Eu já lhe disse o suficiente sobre a
própria casa, e, portanto, não descreverei as suas excelências. Mas lhe direi
uma coisa: que, se você sente que é uma alma sem casa, nesta manhã, você pode
ter a chave amanhã, e se você sente que é uma alma sem casa hoje, você pode
entrar nela agora. Se você tivesse uma casa própria eu não a ofereceria a você;
mas desde que você não tem outra, aqui está. Você receberá a casa de meu
Mestre, em um contrato de arrendamento por toda a eternidade, sem nada a pagar
por isso, nada mais que o baixo aluguel de ama-lo e servi-lo para sempre? Você
receberá a Jesus, habitará nEle por toda a eternidade? ou você se contentará em
ser uma alma desabrigada? O senhor entrará? Veja que ela é decorada de cima a
baixo com tudo que você precisa.
Ela tem celeiros cheios de ouro, mais do que
você gastará no tempo em que viver, ela tem uma sala de estar, onde você pode
entreter-se com Cristo, e regozijar-se em Seu amor, tem mesas bem providas de
alimento para que você viva para sempre; ela tem uma sala de visitas de amor
fraternal, onde você pode receber seus amigos. Você encontrará uma sala de
repouso lá em cima, onde pode descansar com Jesus; e no topo há uma vista, onde
você pode ver o próprio céu. Você obterá a casa, ou não? Ah! se você está sem
casa, você dirá: “Eu gostaria de ter a casa, mas posso ter a posse dela?” Sim;
aqui está a chave. A chave é: “Vinde a Jesus”. Mas, você diz: “Eu sou demasiado
maltrapilho para tal casa”. Não importa; existem peças de vestuário no
interior. Como Rowland Hill disse uma vez: “Venha despido, venha imundo, venha
maltrapilho, venha pobre, venha miserável, venha sujo, venha como você está.”
Se você se sente culpado e condenado, venha, e embora a casa seja boa demais
para você, Cristo, aos poucos, fará com que você seja bom o suficiente para
habitar em tal casa.
Ele lavará e purificará você, e você ainda
será capaz de cantar com Moisés, com a mesma voz inabalável: “SENHOR, tu tens
sido o nosso refúgio, de geração em geração”
Por C. H. Spurgeon, em New Park Street Chapel, Southwark). (Pregado na manhã de Sabath, 14 de
outubro de 1855).
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