Somente quem viveu momentos belos e felizes é que é invadido
pela nostalgia, diferentemente daquele que passou pela vida e não viveu. É o
sentimento que surge a partir da sensação de não poder reviver certos momentos
da vida - apesar de que alguns destes momentos, graças à tecnologia, podem ser
reproduzidos com certa fidelidade. A nostalgia é uma sensação que se debate entre a tristeza e
a plenitude. Tristeza pelo que já não está. Plenitude ao reviver a lembrança do
que foi. A palavra vem do grego e significa algo como “dor pela volta para
casa”.
O lar e a nostalgia
Ao que parece, a nostalgia sempre está associada a elementos
ou sentimentos daquilo que podemos chamar de lar. Na realidade, a palavra “lar”
pode ser muito mais complexa do que parece à primeira vista. Lar é a infância
com suas brincadeiras e a constante surpresa frente ao mundo. Lar são todas
aquelas pessoas e situações que nos acolhem profundamente, como se estivéssemos
em casa. Lar é também a pátria, esse lugar onde não nos sentimos estrangeiros. Mais
que um lugar específico, o lar é um estado da alma. Ele se caracteriza porque
possui uma atmosfera de confiança, de paz e de plenitude.
A nostalgia e a
memória
A memória é, principalmente, uma função afetiva. Raras vezes
lembramos das pessoas e das coisas como elas realmente foram, e sim como
sentimos que eram. Nossa memória não é como a dos computadores, que armazenam
dados sem modificá-los. Muito pelo contrário, a memória humana é bastante
moldável. Ela nem sempre se ajusta aos fatos como ocorreram, e lhes outorga
diferentes significados segundo as circunstâncias. Esse simples ato cobra novos
significados e, por isso mesmo, às vezes atribuímos gestos ou palavras que
talvez nunca aconteceram, mas que complementam essa memória afetiva que
construímos.
A nostalgia e a
saudade
A nostalgia tem uma palavra prima: a saudade. Também pode
ser entendida como o sofrimento que vem como resultado da ignorância. Não saber
onde está, ou como alguém está. É o que acontece no caso de morte: as pessoas
que amamos se vão e algo dentro de nós deseja saber mais delas. Quem acredita
vai querer saber se alcançaram o paraíso ou não. Quem não acredita vai tentar
decifrar o significado filosófico ou existencial da morte, dar a ela um lugar
no mundo simbólico dos que já não estão.
Por que será que, por mais que a gente tente, muitas vezes é
incapaz de abandonar determinadas memórias afetivas: imagens que construímos de
nós mesmos, velhos amores, antigos padrões de comportamento? E parece que não
adianta mesmo fugir - tais memórias são nossa bagagem, estarão sempre a nos
acompanhar. Claro que tudo isso depende do uso que fazemos do nosso passado.
Pois uma coisa é ter o tempo pretérito como referência - é por meio do exemplo
de pessoas e ações que vieram antes de nós que procuramos não perpetuar os
erros de outrora ou que nos espelhamos para construir um presente melhor.
Isso é essencial em todas as culturas, do velho pajé que
conta antigas proezas da tribo aos mais jovens até os livros de história que
nos ensinam sobre os capítulos sombrios da nossa civilização.
Outra coisa bem diferente (e daninha) é a fixação no
passado, quando remoemos aquilo que já está longe no tempo e no espaço, ou
idealizamos (alguém, uma situação, um estilo de vida) a ponto de não mais
conseguirmos olhar para a frente e aproveitarmos o presente - nosso tempo - em
todo seu potencial. Aí entra a danada da nostalgia. Sim, porque a nostalgia,
essa palavra grega que significa algo como "saudade de um lar que não mais
existe ou nunca existiu", pode ser um obstáculo para o nosso crescimento.
Repare em como num momento ou outro a gente pensa num tempo bom que não volta
nunca mais, numa "era de ouro" (completamente idealizada, uma ficção
que mistura memória e desejo) em que tudo tinha cores mais belas. Ah, antigamente...
Faz mal?
O conceito de nostalgia, diferentemente do que muitos
pensam, não vem da poesia ou da política, mas da medicina, e data do século
XVII. Embora a palavra nostalgia seja de uso comum, ela foi inventada pelo
médico Johannes Hofer em 1688. Em sua tese de doutorado, ele analisou os casos
de um estudante e um empregado com graves problemas de saúde. Os dois chegaram
a agonizar, mas, por diversas razões, cada um foi levado para sua casa para
morrer junto com sua família. Milagrosamente ambos melhoraram. Naqueles tempos,
a nostalgia foi considerada um sintoma grave. Se um soldado apresentava esse
sentimento, imediatamente era enviado para casa. O mesmo acontecia com os
marinheiros. Naquela época, alguém que padecesse de nostalgia podia apresentar
sintomas tão variados e nefastos como náusea, perda de apetite, febre alta
chegando até mesmo a complicações físicas extremas, como inflamações no cérebro
e ataques cardíacos. Em suma: nostalgia, naquele tempo, fazia parte de um
temível rol de doenças classificadas pela ciência médica do período.
Nos velhos tempos, nostalgia era uma doença curável.
Perigosa, mas não letal. O tratamento mais difundido era feito com emulsões
hipnóticas e ópio. No século XIX, o escritor e médico brasileiro Joaquim Manuel
de Macedo (que entraria para os compêndios como o popular autor do romance, A
Moreninha) arrolava em sua tese Considerações sobre a Nostalgia, apresentada à
Faculdade de Medicina, complicações como disenteria e febres. A doença
nostalgia era constantemente atribuída aos soldados em guerra e aos imigrantes
vindos do interior. A coisa parecia mesmo tão grave, num tempo que ainda não
vira o aparecimento da moderna psicologia e de todo o aparato farmacêutico, a
ponto de Joaquim Manuel de Macedo tratá-la como uma espécie de demência.
Hoje em dia, no entanto, não se toma a nostalgia como uma
condição patológica como se supunha no passado. Ao ser comparada à depressão e
à melancolia, por exemplo, a nostalgia pode ser considerada um estado de
espírito, quando a depressão e a melancolia são doenças em si. A nostalgia pode
ser vista como algo que desperta para a ideia de que também no presente coisas
boas serão possíveis.
Somente quem viveu momentos belos e felizes é que é invadido
pela nostalgia, diferentemente daquele que passou pela vida e não viveu. Por
isso, nostálgicos voltam ao passado no qual amaram e foram amados. Na
melancolia ou depressão: nunca foram amados ou amparados.
Faz sofrer
Você certamente conhece a figura: aquele eterno
insatisfeito, o tipo de pessoa de quem mais se ouve que antigamente... - ah! Antigamente,
como as mulheres eram mais bonitas (a beleza natural), as ruas mais limpas e o
ar mais puro. É bem possível mesmo que a vida fosse mais amena. O custo de vida
era mais baixo e o trânsito, muito menos estressante. E, lógico, havia menos
gente no mundo. Acontece que esse "antigamente" idealizado nunca mais
voltará. Fato é que fabricamos muitas das nossas memórias e não temos certeza
do passado, por isso mesmo é que o tempo pretérito nos parece ter cores tão
mais definidas e ostenta uma cenografia tão impecável. É como um quadro que
pintamos em nosso cérebro. A nostalgia é uma espécie de reaproveitamento da
tristeza. Ainda que difusa, ela sinaliza algo que foi bom. Eu era feliz e não
sabia. Isso denota o estado fantasioso da nostalgia em relação ao presente.
Claro que é impossível voltar ao passado, mas trazer seus
elementos agradáveis de volta ao presente é algo bastante concreto. Se você
gostava, por exemplo, de tocar violão, mas não pratica há anos, que tal treinar
de vez em quando? Se sente muita falta da casa da mãe, comer um arroz com
feijão no fim de semana pode dar um gostinho do lar para sempre desaparecido.
Não é que vá matar a saudade. Até porque nostalgia e saudade são coisas
diversas. A nostalgia é um estado mais amplo, mais difuso que um sentimento de
saudades. Enquanto este diminui quando reencontramos o objeto faltante, a
nostalgia pode permanecer mesmo quando reencontramos aquilo de cuja falta nos demos
conta, mas ajuda a acalmar o sofrimento.
Pois nostalgia e perda são sentimentos tão parecidos que
muitas vezes podem se confundir. A dor imensa que representa a perda de um
filho é um exemplo de situação-limite que instaura uma condição nostálgica - e
que pode desencadear uma baita depressão, já que as lembranças do passado se
convertem em um fardo insuportável. Nesses casos, a tristeza levará à
impotência, ao sentimento de fracasso e de culpa. Nada mais é recuperável. Aí o
recomendável é que se trate a depressão advinda desse processo.
Fontes:
SILVA, Deborah Couto e. A danada da nostalgia. 2017. Disponível
em: <http://vidasimples.uol.com.br/noticias/pensar/a-danada-da-nostalgia.phtml#.WThBC2jys_5>.
Acesso em: 07 jun. 2017.
SANTANA, Ana Lucia. Nostalgia. 2017. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/psicologia/nostalgia/>. Acesso em: 07 jun.
2017.
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