As Escrituras Sagradas nos revelam que Deus é invisível,
e que ninguém pode ver a Sua Face, sob pena de morte. Nem mesmo Moisés
conseguiu ver. Viu-o pelas costas, e tão somente a Sua glória.
Muito tempo depois, Jesus, o Filho de Deus, revela a
todos nós o rosto de Deus: “Quem vê a Mim, vê o Pai” (Jo. 13,9).
Jesus, portanto, é a face do Pai; Ele é a cara do
Pai; o rosto humano de Deus; a imagem do Deus invisível (Col. 1,15). Jesus
é realmente a face do Pai.
Se alguém quer saber como é o Pai, basta olhar para o
Filho, Jesus!
Se alguém deseja ver o Pai, Suas obras o revelam.
Se alguém deseja ver o Pai, a natureza o revela. Esta
resposta é bem natural: a criação demonstra o poder, o caráter, a soberania e a
prova existencial do Senhor do universo (Rm 1:19-20).
Se alguém deseja ver a Deus, os limpos de coração o
verão.
Se alguém deseja ver o Pai, é só olhar para o seu semelhante, os menos
afortunados, os pobres, os mansos, humildes e quebrantados de coração. Cristo,
a imagem visível do Deus invisível, vive neles. A omissão a esta atitude
fraterna, afasta a Sua face de nós. “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus
irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt. 25,45).
Jacó em Peniel lutou com Deus, representado pelo anjo.
Ali, Deus revelou sua face. Foi necessário mudar de atitude, deixar a vida
pregressa, a injustiça, para ter a revelação de Deus.
Revelar, significa “Tirar o véu”. É isso mesmo. Deus tira
o véu diante de nós, quando vivemos a justiça. Deus se revela no amor ao
próximo.
Jacó foi à luta!
Tudo isso e mais ainda, é a prática da verdadeira devoção
à sagrada face.
Vejamos agora, o que não é devoção à santa face.
Olhar repetidas vezes uma estampa da “face de jesus”, não
irá gravar sua imagem e realidade em nós. Não é uma repetição infinda e continuada
de visualizações e “rezas” à estampa da “face de Jesus” que irá gravar em nós
Seu nome e Sua pessoa. Certamente não veremos o que jesus é na realidade.
Descobrimos a face de Jesus não numa linguagem visual,
mas na linguagem do amor, que é muito mais forte e eficaz. Volto a dizer: olhar
repetidas vezes a estampa da “face de Jesus”, não grava sua imagem e sua
realidade em nós. Visualizar infinitas vezes a estampa da “face de jesus” não
nos leva a ver a verdadeira Face de Deus!
Nossos olhos estão continuamente vendo a face de Deus
quando olhamos para as necessidades de nosso próximo. Ali, realmente, é-nos
revelada a verdadeira Face do Deus de Peniel. Isso é fazer justiça, é
santificar-se.
Não é em virtude da decisiva importância que a divina
face teve na vida de Tereza de Lisieux na França, ou dos surpreendentes estudos
da figura de Jesus na mortuária de Turim na Itália, que a Face de Deus será
revelada em nós!
Contemplar o divino rosto de jesus nos irmãos é o meio
mais fácil e eficaz de conhecer nosso Deus. Esta é a devoção mais autêntica e
abençoadora que encontrei.
Lembro-me quando estava no convento. Pelos idos de 1987,
ao entrar numa das Igrejas de certa cidade histórica brasileira. Naquele dia o
tempo estava fechado, nublado, com uma fina e teimosa chuva a molestar-nos.
Eram dias de “pós-carnaval”. Plena quaresma. As imagens dos “santos” em tamanho
natural, estavam todas vestidas e acobertadas, e com um brilho impecável!
De repente, mais que de repente, eis que olho em direção
à porta pela qual entrei, e avisto algumas crianças de calção surrado, molhado,
sem camisa, descalças, à porta, se escondendo da chuva e tremendo de frio. Meu
Deus! Que injustiça! Que falta de amor! Que vontade de quebrar a “tradição
quaresmal” e tirar as roupas das imagens dos “santos” e dá-las às crianças para
poderem se aquentar.
Naquele dia, inesquecível (Hoje faz 27 anos), como Jacó,
lutei com o anjo e vi a Face de Deus! Foi a minha luta em Peniel.
Começou então, minha verdadeira devoção à sagrada face!
Esta foi uma revelação particular da pessoa de Deus para minha vida. Nada de
sudários, nada de estampas, nada de Verônica, Turim e coisas assim.
Vivendo em jesus, os traços misericordiosos de sua face
se imprimem em nós e nos fazem perceber todo o seu amor. Tornamo-nos outro
Jesus! Adquirimos o semblante de jesus, o olhar, o sorriso, sua expressão. Os
gestos de Jesus, as atitudes, as maneiras dele, enfim, seu amor. É isso que faz
acontecer em nós o que o apóstolo Paulo disse de si: “Já não sou eu que vivo. É cristo que vive em mim” (Gl. 2,20).
Volto a repetir: Poderia esta devoção ter encontrado uma
interpretação mais autêntica e abençoada?
Presbítero Maurício
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