“Ele é a Cabeça do corpo, da igreja” Colossenses 1:18
Para nos mostrar que o título de
“Cabeça da Igreja” é para ser considerado na mais alta estima, ele é
apresentado aqui vinculado às mais elevadas honras do nosso Senhor
Jesus. Simultaneamente, o Filho de Deus é designado “a imagem do Deus
invisível”, “o primogênito de toda criatura”, o Criador de toda a
existência, e então, “a Cabeça do corpo, da igreja.” Não ousemos,
portanto, menosprezar este título, nem hesitemos em afirmar que qualquer
atitude leviana em relação a ele seria tão vergonhosa quanto o uso
profano de qualquer outro nome do nosso Divino Senhor. Pois se qualquer
mortal pressupuser para si esta designação, conceberíamos ser a mesma
blasfêmia que aceitar arbitrariamente o ofício mediador – e não
deveríamos ficar mais perplexos ao ouvir um homem afirmar ser “o Criador
de todas as coisas” do que estamos agora quando um mortal é nomeado
‘Cabeça da Igreja”.
O que é a Igreja? A palavra significa
uma assembleia. A igreja de Jesus Cristo é uma assembleia de homens
fiéis, o grupo dos escolhidos de Deus, Seus convocados, toda a
comunidade dos Seus verdadeiros seguidores. Onde estiverem os
verdadeiros Crentes, aí está uma parte da Igreja. Onde não estiverem
estes homens, qualquer que seja a organização em existência, ali não
está a Igreja de Jesus Cristo. Esta não é uma corporação de padres, nem
uma associação de não-convertidos – é a reunião daqueles cujos nomes
estão escritos nos Céus. Qualquer reunião de homens fiéis é a Igreja.
O conjunto de todas estas assembleias
de homens fiéis constitui a única Igreja que Jesus Cristo redimiu com
seu mais precioso sangue, e da qual somente Ele é a Cabeça. Uma parte
desta Igreja está no Céu, triunfante! Outra parte na terra, militante –
mas essas diferenças de lugar não causam nenhuma divisão na unidade
verdadeira. Existe somente uma Igreja no céu e na terra. O tempo não
causa separação, a Igreja é sempre uma – a dos Apóstolos, a dos
Reformadores, a do primeiro século, a dos últimos tempos, e desta
Igreja, que se constitui uma só, Jesus Cristo é a única Cabeça.
I. O QUE SIGNIFICA A LIDERANÇA
DO SENHOR JESUS SOBRE A IGREJA? Este é o tópico sobre o qual, de maneira
rápida, meditaremos primeiro. Entendemos que esta liderança é a
representação da Igreja como um corpo. Falamos de soma de cabeças,
significando deste modo pessoas – a Cabeça representa todo o corpo.
Aprouve a Deus relacionar-se com a humanidade como uma comunidade e seu
grande Pacto foi feito com homens num corpo, não com indivíduos
separados. Ou seja, na primeira Criação, Deus não lidou tanto com cada
pessoa em particular da mesma maneira que o fez com a raça humana como
um todo representada em um só homem, o primeiro Adão.
Foi veementemente ordenado que a raça
estivesse fortemente ligada ele, que ficasse de pé se ele ficasse e que
caísse se ele caísse. Por isso, meus Irmãos, a Queda, e então o pecado
original, e então as amarguras desta vida. Para que houvesse salvação, a
qual talvez só foi possível porque não caímos individualmente (pois os
demônios, por terem caído individualmente e separadamente, estão
reservados sem esperança de misericórdia para o fogo eterno), Deus
instituiu uma segunda federação, da qual Jesus Cristo é a Cabeça. O
Apóstolo O chama de o segundo Adão. Ele é a Cabeça daquela parte da
humanidade que são os Seus escolhidos—Seus redimidos, os quais são
conhecidos neste mundo por serem levados a crer Nele e, no final de
todas as coisas, serem reunidos no Seu descanso.
Ora, Jesus Cristo coloca-se, em
relação à Sua Igreja, na mesma posição que Adão colocou-se em relação à
sua posteridade. São eleitos Nele, aceitos Nele e protegidos Nele –
“Salvos pelo Senhor com salvação eterna.” Como Suas próprias palavras
declaram: “Porque eu vivo, e vós vivereis.” Nos próximos capítulos desta
Epístola, o Apóstolo nos mostra que os santos são enterrados,
ressuscitados e vivificados com Jesus. É ainda mais explícito em Romanos
5, onde a liderança de Adão e a de Jesus são comparadas e contrastadas.
Nosso Senhor é Cabeça no sentido
espiritual, explicado em Colossensses 2:19: “A cabeça, da qual todo o
corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em
aumento de Deus.” A Cabeça é indispensável para a vida do corpo: é a
base da vida mental, o templo da alma. E assim Jesus Cristo é a Cabeça
que a todos vivifica. “Ele é a nossa vida.” “ Nele estava a vida, e a
vida era a luz dos homens.” A vida de cada membro do corpo espiritual
depende da vida da Cabeça espiritual. Todo filho vivente obtém sua vida
espiritual através de Jesus Cristo. Nenhum membro verdadeiro da Igreja
tem a vida em si mesmo. “Porque morrestes, e a vossa vida está oculta
juntamente com Cristo, em Deus.” Separação de Cristo significa morte do
espírito: “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à
semelhança do ramo, e secará.”
A Cabeça, espiritualmente, não é
simplesmente a fonte da vida e a base dos sentimentos, mas é o trono do
governo supremo. É o cérebro que envia o decreto de levantar a mão ou a
ordem para que esta se coloque de lado. O homem caminha, fala, dorme ou
levanta-se do sofá de acordo com o ditame daquele algo real e misterioso
que se encontra dentro da cabeça. Deste modo, na verdadeira Igreja de
Deus, Jesus Cristo é a grande Cabeça direcionadora. As únicas ordens
obrigatórias originam-se Dele. A Ele os verdadeiros religiosos rendem
alegres homenagens. Seus membros deleitam-se em fazer a vontade da sua
Cabeça.
Todo o corpo da Igreja, motivado por
Sua vida e cheio do Seu Espírito, o mais prontamente reconhece Sua
primazia sobre todas as coisas. Os Cristãos são perfeitamente governados
por Jesus na medida em que estão, em verdade, unidos a Ele, e é somente
por causa da velha natureza que habita na separação de Cristo que os
Crentes praticam ofensas e transgressões. Jesus os governa como a Cabeça
governa todos os membros do corpo, até o limite da sua espiritualidade.
A Cabeça é também a glória do corpo. Ali habita a principal maravilha
da humanidade. A imagem Divina é mais bem vista no semblante – a face é
que caracteriza a glória do homem.
O homem mantém sua cabeça erguida –
seu semblante não está voltado para a terra como o da besta – irradia
inteligência intensamente. É a evidência de uma mente imortal. A beleza
escolhe o semblante como seu lugar favorito. Majestade e tenura,
sabedoria e amor, coragem e compaixão aí exibem seus emblemas – todas as
Graças escolhem a cabeça como seu lugar favorito de habitação. Neste
sentido, nosso Senhor é sabiamente saudado como a “Cabeça”. Ele é mais
justo que os filhos do homem – a Graça Divina está derramada nos Seus
lábios. Toda a beleza da Igreja está centralizada em Jesus Cristo. O que
seria Sua Igreja sem Ele? Uma carcaça, um cadáver medonho desprovido de
toda sua glória por estar separado da sua Cabeça.
O que foram todos os homens bons,
grandes e excelentes que já viveram sem Cristo? Muitas cifras sobre uma
mesa – eles não valem nada até que o seu Senhor, como a grande Unidade, é
colocado diante deles para dar-lhes poder e valor! Assim, efetivamente,
formam uma grande soma—mas sem Ele, são menos do que nada e pura
vaidade! A Igreja de Deus seria indecorosa se não agisse com graça
diante de toda a beleza que Jesus partilha com ela! Sua cabeça é como o
ouro mais puro! Seu Semblante é como o Líbano, excelente como os
cedros! É o principal entre 10,000 e o totalmente aprazível – glorioso é
aquele corpo do qual Ele é a coroa e a excelência! A Igreja pode ser
corretamente chamada de a mais formosa entre as mulheres quando sua
Cabeça deste modo sobrepuja todas as belezas da terra e dos Céus!
Outra imagem usada para descrever a
Liderança de Cristo sobre a Igreja é a conjugal. Assim como o Senhor
formou Eva da costela de Adão, também formou a Igreja do lado de Cristo
Jesus, e ela pertence e Ele assim como Eva pertencia a Adão – a Igreja é
formada de Sua carne e de Seus ossos. Uma união misteriosa foi
estabelecida entre Cristo e ela, união esta constantemente comparada à
instituição do casamento: “Porque o marido é a Cabeça da mulher, como
também Cristo é a Cabeça da igreja: sendo ele próprio o salvador do
corpo.” Jesus é o Noivo e Sua Igreja é a Sua Noiva. São desposados, um
com o outro. Estão comprometidos para sempre nos vínculos do amor e
possuem a mesma expectativa sagrada, esperando o dia do casamento,
quando será alcançado o propósito eterno de Deus e o desejo do Redentor.
Jesus reina em Sua Igreja como o
marido exerce a liderança em seu lar, de nenhuma maneira (quando o
relacionamento é conduzido de modo correto) despótica ou pedante, mas um
governo edificado na lei da natureza e endossado pelo consentimento do
amor. Não como um tirano, obrigando e constrangendo Sua noiva submissa
contra a vontade dela, mas como um marido amado, recebendo obediência
voluntária do coração da sua amada, sendo em todas as coisas tão
admirado e apreciado como para obter uma indisputável primazia! Esta
liderança conjugal é ilustrada pela Palavra de Deus na antiga profecia:
“Ela me chamará: Meu marido e já não me chamará: Meu Baal.” Baal e
Marido significam senhor, porém diferem no significado. Um é um simples
governante, e o outro um marido amado.
No reino de Cristo não existe
despotismo! Seu cetro não é feito de ferro. Ele não governa com golpes,
ofensas e ameaças, mas seu cetro é de prata e Sua regra é o amor. As
únicas correntes usadas por Ele são as da Sua Graça constrangedora. Seu
domínio é espiritual e extende-se sobre corações dispostos que se
deleitam em curvar-se diante Dele e prestar a honra que é devida ao Seu
nome. Acredito que estes são os sentidos em que a palavra “liderança” é
usada. No entanto resta outro, e todos os anteriores qualificam este
último, no qual pretendo concentrar-me por mais um tempo esta manhã.
Cristo é a Cabeça da Sua Igreja como é Rei em Sião. No centro da Igreja
de Deus o governo supremo é investido na pessoa de Cristo. “Porque um só
é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos.”
A Igreja é o Reino de Deus entre os
homens. É puramente espiritual – abrangendo somente homens espirituais –
e existindo somente para objetivos espirituais. E quem é o seu Rei?
Ninguém exceto Jesus! Em verdade podemos dizer como eles disseram dos
antigos que proclamaram o Reinado do Crucificado: “Há outro rei, Jesus.”
A Ele as assembleias dos santos prestam toda a majestosa honra e diante
do Seu Trono toda a Igreja se curva, saudando-o como Mestre e Senhor.
Não prestamos reverência espiritual a nenhum outro. Somente Cristo é Rei
sobre o monte Sião, ali posto por decreto eterno, mantido nesta posição
por poder infinito e designado para ficar no Trono até que os seus
inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.
Quem dera esta manhã houvesse em mim
eloquência para que pudesse dar um testemunho digno dos direitos à coroa
do rei Jesus Cristo em Sua Igreja! Não conheço nenhum assunto sobre o
qual seja mais necessário insistir nestes tempos agitados. Deixe Jesus
ser reconhecido como a única Cabeça da Igreja e a saída para o atual
debate político que incita nossa nação será clara o suficiente. A falta
de conhecimento da Verdade de Deus cega muitos! Faz com que laborem de
todo o coração por uma causa má, pensando que o estão fazendo para Deus.
Conhecer esta Verdade significa ter a posse de uma responsabilidade
muito importante com a qual não devemos brincar.
Mártires derramaram seu sangue por
Ela! Urzes da Escócia foram manchadas em 10.000 lugares, e suas águas
foram tingidas de rubro em defesa desta importante doutrina. Que não nos
refreemos da coragem inabalável para declarar, uma vez mais, que reis e
governantes e parlamentos não possuem jurisdição legal sobre a Igreja
de Jesus Cristo, que não convém ao melhor dos monarcas reivindicar estas
prerrogativas reais as quais Deus deu ao Seu Filho unigênito. Somente
Jesus é a Cabeça do Seu reino espiritual, a Igreja!
E todos os outros que entram nos seus
limites para exercer poder são usurpadores e Anticristos, não devendo,
em nenhum momento, ser respeitados pela Igreja do Deus vivo quanto à sua
autoridade usurpadora! Algumas Igrejas não aprenderam esta lição, e
estão dominadas como cachorros por seus senhores. Ajoelham-se aos pés do
Estado para comer as migalhas que caem da mesa de Mamon! E se forem
algemadas e espancadas pelas autoridades, será por merecimento – e eu
quase oraria para que o chicote as atingisse ainda com mais peso até que
aprendessem a apreciar a liberdade e estivessem dispostas a remover a
coleira do Estado e serem libertadas da dominação humana!
Se perderem um pouco de riqueza
ganharão o ouro genuíno do favor de Deus e o poder permanente do Seu
Espírito, que não podem esperar receber enquanto forem traidores do Rei
Jesus e não reconhecerem a única e exclusiva Liderança do Emanuel sobre a
Igreja.
II. Portanto, iremos agora, em
segundo lugar, olhar um pouco para esta Liderança de Jesus Cristo num
sentido régio, no que se refere às SUAS IMPLICAÇÕES. Desde que Cristo é a
Cabeça do Seu corpo, a Igreja, somente Ele pode determinar doutrinas
para ela. Nada deve ser aceito como Divinamente garantido, exceto se
vier com Seu selo. Meus irmãos, não significa nada para o servo fiel de
Jesus Cristo que certo dogma surja com a marca dos tempos antigos para
torná-lo venerável. O cristão, como uma pessoa sensata, respeita a
antiguidade, mas como servo leal ao seu Rei não se curva perante estes
de maneira a permitir que governem em Sião ao invés do Cristo vivo!
Uma multidão de bons homens pode
ajuntar-se, e, em seu julgamento, propor um dogma e declará-lo essencial
e indubitável. E podem ainda ameaçar com grandes perigos àqueles que
não acatam seu veredito! Mas se o dogma não foi autorizado muito antes
de decidirem – se não estiver escrito na Bíblia – a determinação do
versado conselho se reduz a nada! Todos os padres e doutores e teólogos
protestantes e confessores juntos não podem adicionar uma palavra à fé
uma vez transmitida aos santos! Sim, aventuro-me afirmar que nem o
consentimento unânime de todos os santos no Céu e na terra seria
suficiente para vincular uma única doutrina à consciência, a menos que
Jesus assim tenha determinado!
Em vão dizem os homens: “A Igreja
primitiva agiu assim” – a Igreja primitiva não tem supremacia sobre nós!
Não existe propósito em citar Orígenes ou Agostinho! Cite os Apóstolos
Inspirados e a doutrina está estabelecida, mas não ao contrário! Na
Igreja de Cristo nunca é suficiente dizer: “Assim pensa Martinho
Lutero.” Quem foi Martinho Lutero? Um servo de Jesus Cristo e nada mais!
Não é suficiente afirmar: “Assim ensina João Calvino”, porque quem é
João Calvino? Derramou ele seu sangue por você, ou é ele o seu mestre?
Sua opinião deve ser respeitada como a de um conservo, mas em nenhum
aspecto como a de um doutor ou mestre impositivo na Igreja – porque
somente Jesus é Mestre, e nenhum homem na face da terra deve ser chamado
assim!
Suponha que eu tenha recebido uma
Verdade de Deus pelo próprio homem que foi o instrumento de minha
conversão? Estou limitado, em sinceridade e afeto, a ter-lhe todo o
respeito devido à relação existente entre nós. Devo, no entanto, tomar
cuidado para que isto não caia em idolatria, e eu mesmo me torne nada
mais do que um recebedor da Verdade de Deus como palavra do homem, ao
invés de aceitá-la como a Palavra de Deus.
Devo, portanto, da forma mais honesta e
não menos atenciosa, testar toda a Verdade de Deus que tenho recebido –
seja do meu pai ou mãe ou ministro ou de alguns grandes homens do
passado cujos nomes aprendi a respeitar – buscando toda a iluminação de
cima para conduzir-me corretamente.
Na Igreja de Deus só é considerada
doutrina o que está ensinado nas Escrituras. Para os Cristãos não
significa nada afirmar que certas doutrinas são ensinadas em livros de
oração comum, de conferências sobre disciplina ou de teologia
sistemática. Não é importante que tanto o Presbitério, ou o Episcopado
ou a Independência tenham deixado suas marcas sobre certa forma de
ensino. A autoridade não é nada mais que um estalo de dedos, a menos que
a Verdade, deste modo sugerida, produza segurança com base no
testemunho do próprio Jesus Cristo, que é a Cabeça do Seu corpo, a
Igreja!
Então, visto que Ele é a Cabeça, só
Ele pode legislar no tocante à Igreja. Em um Estado, se um grupo de
pessoas declarasse fazer leis para a região, seriam ridicularizados. E
se, por um momento, tentassem impingir seus próprios costumes e
regulamentações a despeito das leis do país, ficariam passíveis de
punições. Ora, a Igreja de Deus não tem nenhum poder para fazer leis
para si mesma, posto que não é sua própria Cabeça – e ninguém tem nenhum
direito de fazê-lo para ela, pois somente Cristo é o seu Cabeça. Cristo
sozinho é o Legislador da Igreja e nenhum costume ou regulamentação na
Igreja Cristã possui significado, a menos que em seu espírito haja, no
mínimo, a mente de Jesus para sustentar e dar respaldo.
Uma e outra coisa têm sido
consideradas certas na Igreja, e, portanto, foram estabelecidas e
normatizadas – a tradição dos pais estipulou certos costumes. E então?
Ora – se podemos ver claramente que o costume e a norma não estão de
acordo com a essência da Sagrada Escritura e do Espírito Santo, uma e
outra coisa não tem valor para nós! Mas e se o costume é apoiado por
todos os homens bons de todas as épocas? Declaro que nada importa se o
Senhor não ensinou! Nossa consciência não deve ser prisioneira! Se uma
lei fosse respaldada por 50,000 vezes o número de todos os santos, não
teria nenhuma autoridade sobre a consciência mesmo do mais fraco dos
Cristãos se não fosse estabelecida pelo nosso próprio Rei! E a violação
de tal mandamento humano não seria pecado, mas poderia, de fato,
tornar-se uma carga para permitir que os homens enxergassem que não são
servos dos homens, mas de Jesus Cristo o Senhor!
Nos assuntos espirituais é de extrema
importância deixar claro este fato – que a não conformidade só é
pecaminosa quando se recusa a obedecer à vontade de Cristo – e a
conformidade é, em si mesma, um grande pecado quando obedece uma norma
que não provém da ordenação do Senhor! Quando nos reunimos nas
Assembleias da Igreja, não podemos elaborar leis para o reino do Senhor!
Nem ousemos tentar! Aquelas regras necessárias, na medida em que são
feitas para cumprir as ordens do nosso Senhor – como reunir-se para
adorar e proclamar o Evangelho – são recomendáveis por serem práticas
indispensáveis à obediência das Suas mais elevadas leis. Mas mesmo estes
pormenores são intoleráveis se violam, de maneira clara, o espírito e a
mente de Jesus Cristo.
Ele nos deu orientações espirituais ao
invés de instruções legais e liturgias restritivas! E nos deixou livres
para seguir as direções do Seu próprio Espírito libertador. Porém, se
criamos uma regra considerando-a muito sábia – mas é contrária ao
Espírito do nosso Senhor – ela será perversa em si mesma e não deverá
ser tolerada! Neste caso, a Igreja colocou limites nos direito da sua
Cabeça, e agiu incorretamente. Em efeito, arrancou o cetro da Sua mão e
gerou uma divisão. A criação de leis na Igreja terminou naquele dia em
que a maldição foi pronunciada sobre o único que deve tirar ou adicionar
à Palavra de Deus! Cristo e somente Cristo é o legislador da Sua
Igreja—ninguém mais além Dele!
Mas vou um pouco mais longe e
arrisco-me a dizer que Jesus não é só o Legislador da Igreja,
deixando-nos Seus Estatutos, suficientes para guiar-nos em todos os
dilemas, mas também é o Administrador vivo da Igreja. É verdade, Ele não
está aqui, mas como monarcas que administram através de tenentes, assim
o Senhor Jesus administra através do seu eterno Espírito, o qual habita
no coração do seu povo. Não devemos pensar em Cristo como alguém que
está morto e enterrado. Se estivesse aqui na terra, creio que somente
Ele reivindicaria ser a Cabeça da Igreja, ninguém mais. Sua presença
intimidaria todos os impostores de imediato – e embora não esteja aqui
em Pessoa, mesmo assim não está morto!
Ele vive! Está sentado no Trono
preparado para Ele do lado direito do Pai! Está aqui em Espírito!.
“Veja! E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos.” E o que deve pensar a verdadeira Cabeça da Igreja quando vê
outro colocado em Seu Trono e, de maneira herética, designado por Seu
título? O que a Cabeça vivente que se move no meio da Igreja deve sentir
com respeito a uma invasão tão blasfematória como esta? Ele, o Espírito
Santo, é o Vice-Gerente de Cristo, o Representante do Filho do Homem
ausente!
E como este Espírito administra as
Leis de Deus? Minha resposta é: através do Seu povo, pois o Espírito
Santo habita nos verdadeiros Crentes! E quando reunirem-se como servos
do Senhor e humildemente clamarem por Sua orientação, podem esperar
recebê-la. E se abrirem o Livro de Estatutos e observarem suas normas
claras no tocante a que rumo tomar, podem ficar bem seguros de que suas
ações terão a aprovação do seu Senhor! Se, primeiramente, procurarem
pela instrução no Livro da Lei do seu Senhor e depois buscarem
entendê-la através do Espírito Santo – embora sejam várias mentes –
serão conduzidos como um só homem a escolher seu caminho, o qual será
segundo a mente de Cristo.
Agindo com humildade e obediência –
baseados não em sua autoridade, mas na de Cristo, que ainda reina na
Igreja através do Seu Espírito – os Crentes de fato testemunharão que
Cristo é até hoje a Única Cabeça da Sua Igreja no que se refere à
verdadeira administração e também à legislação. A autoridade exclusiva
de Jesus Cristo deve ser mantida rigorosamente em todos os aspectos; no
entanto, as Igrejas tendem a ser guiadas por coisas diversas. Alguns nos
guiam pelos resultados. Temos escutado uma discussão sobre a questão se
devemos ou não continuar com a obra missionária, posto que há tão
poucos convertidos. Como esta pergunta pode jamais ser levantada
enquanto as ordens do Mestre funcionam assim: “Ide por todo o mundo,
pregai o evangelho a toda criatura”?
Articulado pela boca de Jesus, nosso
Governador, aquele comando permanece válido, e os resultados das missões
não podem ter efeito sobre as mentes leais de maneira alguma no que se
refere ao seu prosseguimento! Se daqui a 10.000 anos nenhuma alma fosse
convertida a Deus através de missões estrangeiras – se neste tempo ainda
restasse a Igreja de Cristo, seria sua obrigação, com vigor crescente,
impulsionar seus filhos ao campo de missões porque sua obrigação não é
medida pelo resultado, mas pela majestosa autoridade de Cristo!
Assim que, igualmente, a Igreja não
deve ser regulada pelos tempos. Alguns nos dizem que esta era exige um
tipo de pregação diferente daquela de cem anos atrás, e que doutrinas
consideradas adequadas há 200 anos, nos tempos dos Puritanos, não o são
mais. Dizem-nos que o ministro deve manter-se atualizado – este é um
período de reflexão e filosofia e o pregador deve, portanto, filosofar e
produzir seu próprio pensamento ao invés de “mera declamação”- a qual é
o nome culto para o claro anúncio do Evangelho de Jesus Cristo! Mas,
Senhores, não é assim! Nosso Rei é o mesmo e as doutrinas que Ele nos
deu não foram mudadas por Sua autoridade, nem as regras que Ele
estabeleceu foram revogadas por Sua proclamação!
Ele é o mesmo ontem, hoje e para
sempre! Deixe que os tempos sejam polidos ou rudes. Que se tornem
filosóficos ou se afundem no barbarismo – nossa obrigação ainda é a
mesma, em solene lealdade a Jesus Cristo, “porque nada me propus saber
entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” Mas as descobertas
da ciência, nos dizem, tem afetado materialmente a fé, e por isso
devemos mudar nossos estilos de acordo com as mudanças da filosofia.
Não, não deve ser assim! Esta é uma pedra de tropeço e uma rocha de
escândalo que deve ser quebrada contra aquele que tropeça. Ainda temos o
mesmo Rei, as mesmas leis e o mesmo ensinamento da Palavra – e devemos
passar este ensinamento da mesma maneira e no mesmo espírito!
Semper idem deve ser nosso
lema—sempre o mesmo, sempre perto de Jesus e glorificando-O – porque
Ele, e não os tempos, nem a filosofia e nem a sagacidade do homem deve
governar e administrar a Igreja de Deus! Se fizermos isto, se alguma
Igreja fizer isto – em outras palavras, tirar sua Verdade dos lábios de
Jesus, viver de acordo com Sua Palavra e avançar em Seu nome – esta
Igreja não pode, em nenhuma possibilidade, falhar, porque o fracasso de
tal Igreja seria o fracasso da própria autoridade do Mestre! Irmãos e
Irmãs, Ele nos afirmou que se guardássemos os Seus mandamentos,
permaneceríamos no Seu amor!
Ele estará sempre conosco, até a
consumação dos tempos! E deu à Sua Igreja Seu Santo Espírito de acordo
com a plenitude daquelas palavras que pronunciou quando soprou em Seus
Apóstolos: “Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e
aqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.” Então, uma Igreja
atuando por Cristo, proclamando os julgamentos de Deus sobre o pecado
com Sua autoridade, encontrará estes julgamentos cumpridos. E ao abrir
as câmaras da casa do tesouro da misericórdia de Deus àqueles que buscam
Jesus Cristo pela fé, estes tesouros serão dados livremente de acordo
com o anúncio da Igreja, o qual foi feito em nome do seu Mestre.
Vá em nome dela própria, e ela
fracassa! Vá em nome do Senhor, e ela vence! Leve com ela o Seu livro de
instruções, ande em obediência aos Seus Estatutos, fique livre do
senhorio dos homens – e a história da Igreja será escrita em algumas
linhas como estas: “Formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível
como um exército com bandeiras.” Receio que, através destas palavras,
tenha exposto de maneira não tão clara minha crença sobre o que as
Escrituras ensinam a respeito da liderança de Cristo, ou seja, que Ele é
o único mestre da doutrina, o único fazedor de leis espirituais. Que
Ele é o Administrador vivo das leis do Seu próprio reino espiritual, e,
por isso, a Igreja não dever possuir nenhuma autoridade diferente da de
Cristo – e quando possuímos esta autoridade, a obedecemos – sem
acalentar nenhum medo concernente ao resultado.
III. Terceiro, ONDE ESTA LIDERANÇA
SE FUNDAMENTA? De maneira muito resumida, se fundamenta na natural
supremacia da Natureza de Cristo. Quem deve ser a Cabeça, senão Jesus?
Ele é um homem perfeito, coisa que não somos. Ele é o primogênito entre
muitos Irmãos, e nós somos os mais jovens e mais fracos. Ele é Deus
sobre todas as coisas, abençoado para todo o sempre. Por certo, ninguém,
exceto Ele, deve ser Rei sobre Sião, pois não existe nenhuma parte da
Igreja que seja Divina senão sua Cabeça!
A liderança Dele é o resultado inevitável e essencial da Sua obra. Ouça como Seus membros cantam –
“O Senhor nos remiu com Seu sangue,
Libertou os prisioneiros.
Nos fez reis e sacerdotes para Deus,
E reinaremos com o Senhor.”
Quem poderia ser a Cabeça a não ser
Aquele a quem tal louvor pode ser outorgado? Ele nos lavou em Seu sangue
– Ele deve ser a Cabeça! Ele nos amou desde antes da fundação do mundo –
Ele deve ser o Comandante. Sua mão direita e Seu braço santo deram-Lhe a
vitória – que seja coroado Rei dos reis e Senhor dos senhores! Aquele
lagar de uvas onde pisoteou Seus inimigos, até que Suas vestes fossem
tingidas com sangue, foi a garantia de que se sentaria no trono do Seu
Pai e reinaria para todo o sempre!
Além disso, o decreto de Deus decidiu
isto de maneira indisputável. Leia o Salmo 2 e aprenda que quando os
reis da terra se levantaram e os príncipes conspiraram contra o Senhor e
contra o seu Ungido, Aquele que habita nos céus ria-se de sua
conspiração e zombava dos Seus inimigos! “Mesmo assim,” diz Ele, “ungi o
meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.” “ Proclamarei o decreto: “O
SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei.” Quão gloriosamente
diz a promessa: “Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os
fins da terra por tua possessão. Tu os esmigalharás com uma vara de
ferro. Tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.” É parte do eterno
propósito de Deus a respeito da Igreja que Cristo fosse constituído sua
Cabeça. E se existe uma Igreja do Deus vivo, é também inevitável que
desta Igreja Cristo fosse a única Cabeça .
Além disso, Irmãos, e, no entanto, uma
vez mais – não é nosso Senhor a Cabeça da Igreja através da aclamação
universal e consentimento de todos os membros desta Igreja? Nunca
criamos um candidato a rival! Nenhum coração renovado por Sua graça
consegue desejar um rei diferente! –
“Glória e majestade puseste sobre ele
Que inclinou Sua Cabeça para a morte!
E sejam reverenciados os Seus atributos
Por todo o ser que respira.”
Rivais dentro do território comprado
com Seu sangue? Rivais contra o Filho de Davi?! Que desapareçam como a
fumaça! Que sejam como pragana arrebatada pelo vento ao seu arco!
Rei Jesus! Aclamem todos! Vida longa
ao Rei! Tragam o diadema real! Não veem como os anjos O coroam? Não
ouvem as canções do querubim e do serafim: “Digno és, digno és de tomar o
livro, e de abrir os seus selos”? Não ouvem o cântico eterno dos que
venceram através do Seu sangue: “Digno és, digno és, porque foste morto,
e com o teu sangue nos compraste para Deus”? Enquanto a igreja na terra
se une em um hino solene “E coroá-Lo, coroá-Lo, coroá-Lo Senhor de
tudo, pois digno é o Cordeiro, que foi morto.”
Pela supremacia da Sua Natureza. Pela
necessidade da Sua obra consumada. Pelo decreto do Pai. Pelo
consentimento universal de todos os que foram lavados pelo Seu sangue,
Ele é a única Cabeça da Sua própria Igreja!
IV. O que então, irmãos, O QUE
ENTÃO ISTO CONDENA? O que isto condena? Condena a abominável pretensão
de uma liderança Papal! De fato, um papa em Roma é a Cabeça da Igreja de
Jesus Cristo! Bem, se o Papa é cabeça da Igreja – se assim o é – então
veja o que, de acordo com as Escrituras, ele é. Este Pio IX é isto: o
princípio, a cabeça do corpo, a Igreja. Então antes do supramencionado
Pio IX não havia nada?
“O primogênito dentre os mortos”?
Afirma ele haver ressuscitado dentre os mortos? “Que em todas as coisas
deve ter a primazia” – é este também o antigo direito italiano? “Porque
aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude”— a blasfêmia não
ousa aplicar-se a este governante vacilante cujos cofres precisam ser
reabastecidos com o Óbolo de São Pedro. Mesmo assim esta é a descrição
da Pessoa que é a Cabeça da Igreja, e se Pio IX não é nada disso, não é
cabeça da Igreja! Mas talvez seja a segunda Cabeça? Então a Igreja de
Cristo é um ser monstruoso com duas cabeças!
Talvez algum dia possam fingir que são
três, e então chamarão a coisa de Cérbero, e Mastim do Inferno, e não
estaremos longe da verdadeira ideia do Papismo. Não, mas ele é a
autoridade delegada. Para quê? Por que Cristo delegaria autoridade que
Ele mesmo pode exercer? “Mas precisamos de uma representação, porque
Cristo está ausente”. Mas o Espírito Santo é esta representação, e está
aqui. De todos os sonhos que jamais iludiram os homens, e provavelmente
de todas as blasfêmias jamais pronunciadas, nunca houve nenhuma que seja
mais absurda e mais frutífera em todos os sentidos do prejuízo do que a
ideia que o Bispo de Roma possa ser a Cabeça da Igreja de Jesus Cristo!
Não, estes papas morrem, e não o são! E
como viveria a Igreja se sua cabeça estivesse morta? A verdadeira
Cabeça vive sempre e a Igreja vive sempre através dela! Mas é afirmado
que deve necessariamente existir uma liderança visível, e agora mesmo
nos dizem todos os dias que devemos escolher, no que se refere à igreja,
entre a liderança do monarca da Inglaterra e a liderança do papa em
Roma. Perdão senhores – não temos tal escolha, porque quando somos
perguntados qual delas escolheremos para nos guiar nos assuntos
espirituais, dizemos: “Nenhuma, nenhuma nem por um momento!” Falamos
abertamente sobre o assunto, reis e rainhas não são Cabeças da Igreja
para nós.
Não toleraremos dominação espiritual
proveniente de um primeiro-ministro inglês mais do que de um papa
Católico! Somos igualmente contrários aos dois – toda liderança humana
deve fracassar! Para a nossa bem-amada rainha toda a honra e reverência
como uma das melhores governantes em assuntos civis. Mas nos assuntos
espirituais na Igreja de Cristo ela não tem poder de decisão – o que ela
pode ter na Igreja da Inglaterra é uma outra questão. Não faz diferença
se é mulher ou homem – se é príncipe ou padre – não aceitaremos czar,
imperador, rainha, papa, serafim ou anjo para reinar na Igreja de Jesus
Cristo!
A Igreja não possui governador legal
ou Senhor supremo, exceto o próprio Jesus Cristo. Nosso Senhor, ao que
me parece, aborda esta questão de maneira tão direta na palavra de Deus a
ponto de me surpreender que homens que acreditam na Bíblia pensem que o
Estado possa estar na liderança da Igreja! O partido da Igreja Estatal
colocou a Bíblia com uma coroa e um cetro em seus anúncios! É sugestivo
que a Bíblia esteja fechada – pois se Ingleses fossem lê-la alguma vez,
seria fatal para a causa de agora – visto que uma das Verdades de Deus
que leriam seria esta: “Meu reino não é deste mundo.” E escutariam
Cristo dizer: “Dai pois a César o que é de César” – ou seja, prestem
toda a obediência civil à autoridade civil, “mas a Deus o que é de
Deus.”
Deixe o Senhor governar no reino da
mente e do espírito, e César no reino do governo civil! Permita que o
Estado faça seu trabalho e nunca interfira com a Igreja! E permita que a
Igreja faça o seu e nunca interfira no Estado, e nem sofra
interferência dele! Os dois reinos são separados e distintos. Longas
linhas de demarcação sempre são traçadas entre os poderes espirituais e
temporais ao longo de todo o Novo Testamento – e o dano ocorre quando os
homens não as enxergam.
Cristo é a Cabeça da Igreja, e não
ninguém que represente o Estado. Irmãos, pensem só por um minuto sobre
os danos que esta doutrina da liderança do Estado tem causado. Existiu
um tempo em que os homens dificilmente poderiam ser diáconos sem tomar o
Sacramento na Igreja Estabelecida. Oh, as múltiplas hipocrisias que
foram perpetradas todos os dias por homens destituídos da graça, os
quais vieram qualificar-se para o ministério adotando símbolos da nossa
fé sagrada quando não conheciam Cristo! Estes fatos são mais ou menos
inevitáveis ao sistema. Pense de novo em quais perseguições surgiram
como resultado deste erro. Não se pode colocar um grupo religioso em
posição de ascendência, senão cai em perseguição – todos eles têm
perseguido, em contrapartida, quando assim tentados.
Não há o que escolher entre um e
outro, exceto, como às vezes digo, os Batistas nunca perseguiram porque
nunca tiveram a oportunidade. Mas não insistirei nem mesmo nisto. É
parte da natureza humana fazer o mal quando a artilharia civil está
pronta para esmagar a consciência, e portanto Cristo removeu a tentação
do caminho e a colocou fora do alcance do Seu povo, se estes
mantiverem-se atentos às suas regras no que se refere as armas carnais.
Ele lhes afirma que suas armas de batalha não são carnais, mas
espirituais, e, por isso, poderosas em Deus para destruir fortalezas.
Que humilhação para a Igreja de Cristo o pensamento de possuir qualquer
outra Cabeça diferente Dele!
Ah, Irmãos e Irmãs, se o monarca fosse
a pessoa mais santa e devota que já viveu, ficaria extremamente
preocupado por ele se recebesse, em algum sentido, a designação de
Cabeça da Igreja! Como tal pessoa oraria? Como poderia um pobre pecador –
e tal como o melhor homem ainda o é – achegar-se diante de Cristo, orar
a Ele e dizer: “Senhor, sabe que sou a Cabeça da Sua Igreja?” Parece-me
ser um clamor detestável, uma blasfêmia horrível! Não tocaria neste
título por prêmio nenhum, nem com a ponta do meu dedo se tivesse
esperança de ser salvo! Não ousaria expor meu amigo, nem mesmo meu
inimigo, ao terrível risco que correria adotando um título como este!
Não julgo ninguém, Deus me proíbe de
fazê-lo! Mas se visse neste mundo um homem absolutamente perfeito, cheio
de luz e do Conhecimento Divino, e este me perguntasse: “Devo adotar
este título?” Eu me ajoelharia e diria: “Por amor a Deus, por amor à sua
alma, não toque nisto, porque como poderia, com sua iluminação, e
conhecimento e amor por Cristo, tirar Dele um dos Seus mais sublimes
nomes”? Mas o que devo dizer quando o monarca é o oposto? E tais casos
tem ocorrido. Não preciso levá-lo muito atrás na história. O nome Jorge
IV não possui nenhum cheiro de santidade notável – e o mesmo pode ser
dito de Carlos II – nunca ouvi historiadores se referirem a ele como
eminente em piedade.
Mesmo assim estes homens foram cabeças
da Igreja! Estremeço ao ser obrigado a relembrar um fato tão
deplorável. Homens, cujo caráter não deve ser lembrado sem corar as
bochechas foram cabeças da Igreja de Jesus Cristo! Deus tenha
misericórdia desta terra por ter decaído a este ponto, porque não tenho
conhecimento de países pagãos que tenham blasfemado contra Deus mais do
que nós ao permitirmos corruptores cruéis levarem sobre si o título de
“Cabeça da Igreja de Cristo”! Não, meus Irmãos, isto não pode ser
tolerado em nenhuma Igreja com a qual tenhamos comunhão! Repudiamos esta
situação! Sacudimos a abominação da mesma maneira que Paulo sacudiu a
víbora que acometeu sua mão no fogo!
A mesma repreensão é apropriada para
algo que tem sido tolerado em muitas Igrejas, ou seja, a liderança de
grandes mestres religiosos. Estes, às vezes, enquanto ainda vivos, tem
sido praticamente considerados seus supremos árbitros. A vontade deles
era lei, sem considerar o Livro. Seu decreto permaneceu, sem considerar a
Escritura. Tudo isto era perverso! Algumas Igrejas nos dias de hoje
reverenciam de modo extremo nomes de homens mortos. Os Pais – não
deveriam ser, de alguma maneira, tão notáveis quanto os Apóstolos? Temo
que os nomes de John Wesley, João Calvino e outros não raro ocupam o
lugar que pertence a Jesus Cristo. Que cada Igreja Cristã declare agora
que não segue homens, mas obedece somente ao seu Senhor.
Percebam vocês, irmãos e Irmãs, a
verdade que revelei de certa forma, e com veemência, refere-se
igualmente à própria Igreja, pois esta não é a sua própria Cabeça—Ela
não tem direito de agir baseada no próprio julgamento, à parte dos
estatutos do seu Rei! Ela deve recorrer à Bíblia—todo o necessário está
contido neste livro. Não tem o direito de fazer uso do seu próprio
julgamento, desconsiderando seu Mestre. Deve ir a Ele. É uma serva cujo
Senhor é supremo. O poder da Igreja é duplo. É um poder para testemunhar
ao mundo a revelação de Cristo. É posta como testemunha e deve agir
como tal. Também, possui um poder ministerial através do qual cumpre a
vontade e as ordens de Cristo como sua serva e ministra.
Certo número de servos se reúnem no
auditório — possuem uma ordem para fazer tal trabalho — e também ordens
de como realizá-lo. Então fazem considerações entre si quanto aos
pormenores – como podem melhor observar as regras do Mestre e cumprir
Sua ordem. Estão agindo perfeitamente. Mas suponha que comecem a
considerar se os alvos propostos pelo Senhor eram bons, ou se as regras
dadas por Ele não deveriam ser alteradas! Tornariam-se imediatamente
revoltosos e correndo o risco de exoneração. Então, uma Igreja reunida
para considerar como aplicar a vontade do Mestre e como fazer valer Suas
leis age de modo correto.
Mas uma Igreja reunida para criar
novas leis ou governar de acordo com o próprio julgamento e opinião –
pensando que esta decisão terá peso – cometeu um erro e se colocou em
uma posição ilusória. A única doutrina a qual busquei apresentar é esta:
que Ele, e somente Ele, é o comprador e salvador da Igreja é que deve
governá-la.
V. Porém, se assim é, QUAL É A
LIÇÃO ENSINADA A CADA UM AQUI? Não os leva a perguntar, “Se toda a
Igreja deve assim render obediência a Cristo, e a ninguém mais, eu estou
agindo de modo conforme? Clamo ser Cristão, mas sou eu daquele tipo
parcial que segue aquilo que foi ensinado no início, e então reconhece
as regras dos pais e mães em lugar das de Cristo? Tenho trazido o que
confesso ser a Verdade De Deus à luz das Escrituras? Já gastei 15
minutos avaliando minhas preciosas opiniões?” Temo a enorme massa de
Cristãos que nunca agiu assim; mas tem sugado sua religião com o leite
da sua mãe e nada mais.
De novo, se sou um Cristão, eu tenho o
hábito de julgar meus atos baseado nos meus próprios caprichos e
desejos, ou os julgo baseado nos Estatutos do Rei? Muitos dizem que isto
ou aquilo os desagrada – como se fosse importante! Quais são suas
preferências e antipatias? Você é um servo limitado a entregar sua
vontade ao Senhor! Se Cristo lhe dá uma ordem que você pensa ser difícil
porque não combina com seu amor à comodidade – meus Irmãos e Irmãs, não
irão vocês, como servos do Senhor, colocar de lado seus caprichos e
esforçar-se para segui-Lo? Oh, esta é uma vida abençoada para se viver –
não ser mais servo do homem nem de si mesmo – mas ir ao Senhor todos os
dias em oração e dizer: “Senhor, o que eu não sei, ensina-me.”
Então poderá rir da ira de Satanás e
enfrentar o desdém do mundo, porque o Senhor nunca irá abandonar os que
se apegam a Ele! Se um homem ama os testemunhos e mandamentos do
Todo-Poderoso, Deus será sua armadura, seu escudo e sua torre forte. Mas
se ele se esquiva para suas próprias suposições, sua queda será certa!
Que o Senhor guarde a Igreja neste assunto, e seu dia de vitória logo
chegará. Que Cristo seja sua única Cabeça e que seu triunfo se aproxime!
Posso enxergar o romper da manhã – naquela direção estão os primeiros
raios de luz no céu – o Senhor está vindo porque a Igreja começa a
reconhecê-Lo – e então seus dias de alegria começarão e seus dias de
lamentação nunca mais existirão.
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