quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As Flores morrem

Todos sabem o que é uma flor. Sua beleza, seu aroma, sua fragilidade, sua frugalidade, sua efemeridade. Já dizia a frase poética de Gertrud Stein: Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa... Para entender sua beleza não é preciso nada mais. Ela é o que é, basta contemplá-la para poder entendê-la. Os cientistas da área, os botânicos, dissecam a flor para entender seus mecanismos na reprodução das plantas. Nós, crentes, ofertamos flores no Santuário de Deus, como sinal de nossa imensa gratidão ou amor. Como se as oferecêssemos a Deus, sem perguntar o que as rosas significam. As rosas não falam simplesmente as rosas exalam o perfume, disse corretamente o poeta Cartola.
Somos como as flores. Somos como as rosas. Não somente falamos quando abrimos a boca, ou quando pensamos sobre o significado das coisas. Somos como as rosas: somos frágeis, passageiros, transitórios. Vivemos pouco, muito pouco: até mesmo um bichinho microscópico pode entrar, sem que nos demos conta disso, em nosso corpo, nos derrubar, nos acamar, nos maltratar e até mesmo nos matar, sem que nada possamos fazer.
Não se pode esquecer a definição das Escrituras, repetida tanto no Antigo como no
Novo Testamento e que muito bem nos serve neste histórico momento: toda carne é erva, e toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor. Na verdade, o povo é erva; seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente (Is 40.6–8; Lc 3.5–6; Tg 10: 1,10; I Pd 1.24–25). O problema esconde-se em desejar que as flores tornem-se eternas. Desejar que flores perecíveis tornem-se eternas e, via de consequência, não morram, lembra-nos outro poema, de Arnaldo Antunes e Nando Reis, quando anunciavam: Flores, flores,/ As flores de plástico/ Não morrem! Elas não morrem porque não têm vida em si mesmas. A força de uma verdade, para ser eterna, não pode perder de vista esta singularidade expressa na Bíblia de que a gloriosa construção que fazemos da verdade são flores perecíveis, fenecem e morrem.
Pretensões megalomaníacas de que somos eternos e todo-poderosos assemelham-se a uma estranha flor de plástico, caricatura mal feita da feitura de Deus. As flores, morrem. Nós passamos rapidamente (Salmo 90). Somente associando a nossa vida àquele que permanece para sempre, teremos como beber no barro da carne limitada a água da vida eterna. O eterno no temporal, o permanente no efêmero, o poderoso no frágil, o perene no transitório: a Palavra de Deus em nós! Este é o segredo da longevidade.

Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes

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