É fácil julgar Judas como um vilão ou vítima, mas eu fico impressionado
com o fato de que, de várias formas, ele é exatamente como eu.
Judas era um seguidor de Jesus e um pregador do evangelho, mas existia
uma mente dividida nele. No final, ele abandonou a fé que antes professava.
Aqui estão quatro coisas que facilmente passam desapercebidas na
história de Judas.
1. O comprometimento dele
Judas teve comprometimento com Jesus, e não havia nenhuma razão para se
pensar nada além de que ele era sincero na sua fé. Assim como os outros
discípulos, ele deixou tudo para seguir nosso Senhor. Judas estava ativamente
envolvido com o ministério, e foram dados dons espirituais memoráveis a ele.
Lucas nos conta que Jesus chamou “os doze” juntos – isso incluía Judas – e
“deu-lhes poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar doenças, e
os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos.” (Lucas 9:1,2)
Judas Iscariotes era um pregador do evangelho! Ele tinha recebido o dom
de curar, e ele exerceu autoridade sobre demônios. Envolvimento ativo no
ministério é algo bom e maravilhoso; mas não é, em si mesma, garantia de saúde
ou vida espiritual.
2. A oportunidade que foi dada a ele
Judas andou com Jesus por três anos. Ele viu de perto e pessoalmente a
maior vida já vivida. Você não pode ter exemplo de fé melhor do que Jesus ou
melhor ambiente para formação de fé do que Judas teve andando com o Salvador.
Ele testemunhou os milagres diretamente. Quando Jesus alimentou os
5.000, Judas estava lá. Ele tomou do pão e distribuiu junto com os outros
discípulos. Quando Jesus acalmou a tempestade, Judas estava lá. E ele estava lá
quando Jesus ressuscitou Lázaro de dentro os mortos. Você não pode ter
evidência melhor para fé do que Judas teve.
Judas ouviu todos os ensinamentos de Jesus também. Ele ouviu o Sermão no
Monte, então ele sabia que existe um caminho estrito que leva à vida e um
caminho largo que leva à destruição. Ele ouviu os avisos que Jesus deu aos
fariseus, então ele sabia que existe um inferno para evitar e um céu para
ganhar. Ele ouviu a parábola do filho pródigo, então ele sabia que Deus está
pronto para dar as boas-vindas e perdoar aqueles que se desperdiçaram em muitos
pecados.
Com os próprios olhos, Judas viu a evidência mais clara. Com os próprios
ouvidos, ele ouviu o melhor ensinamento. Com os próprios pés, ele seguiu o
maior dos exemplos. E mesmo assim, este homem ainda traiu Jesus.
O coração humano está além do entendimento (Jr. 17:9), e há algo
incompreensível sobre uma pessoa que abandona a fé que ela antes professava
ter. É difícil entender como um jovem criado por pais piedosos no contexto de
uma igreja saudável, ensinado sobre as verdades da Escritura desde criança e
fundamentado em apologética possa desistir de Jesus.
A história de Judas contém uma lição importante para os pais, líderes, e
amigos que lamentam por alguém amado que abandonou a fé. Eles se preocupam:
Onde foi que eu errei? O que mais eu poderia fazer? Nós falhamos no
nosso ensino? Nós falhamos no nosso
exemplo? Nós deveríamos ter mergulhado nosso filho ou filha ou amigo em um
ambiente diferente?
Mas Judas nos ensina que nem mesmo o melhor exemplo, a evidência mais
convincente, e os melhores ensinamentos – o melhor ambiente para a incubação da
fé – não podem, em si e por si mesmos, mudar o coração humano.
3. A escolha que ele fez
Satanás fez um ataque implacável à alma de Judas, assim como ele faz um
ataque implacável a todos os que escolhem seguir a Cristo. Nós lemos sobre o
ataque de Satanás em Judas:
Então Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes. (Lucas 22:3)
O diabo já havia induzido Judas Iscariotes, filho de Simão, a trair
Jesus. (João 13:2). Satanás entrou nele. (João 13:27)
As claras declarações da Bíblia sobre a atividade de Satanás têm levado
alguns a dizer “Bem, pobre Judas, ele não teve nenhuma chance. Satanás entrou
nele. O que ele poderia fazer a respeito disso?” Mas essa afirmação
desconsidera o fato de que Judas abriu o coração para Satanás.
Judas estava roubando da bolsa de dinheiro coletado, e quando ele
manteve esse pecado em segredo, Satanás entrou nele. Ele fez um acordo com os
chefes dos sacerdotes e então sentou à mesa do nosso Senhor com pecados
conhecidos que ele não confessaria, e satanás entrou ainda mais fundo em sua
vida. Pecados não confessados abrem a porta para o poder de Satanás.
Satanás não ganha nenhuma base na vida das pessoas que estão andando na
luz com Jesus. Ele só ganha acesso quando a porta está aberta.
É a majestade única de Jesus que permite ele conquistar o homem sem que
o homem se aproxime dele primeiro. Mas a fragilidade de Satanás é provada por
isso, ele não pode se aproximar de uma alma, a não ser que essa alma se volte
para ele primeiro.
Às vezes nós pensamos da maneira errada, temendo que Satanás vai, de
alguma forma, ter acesso secreto aos filhos de Deus, enquanto duvidamos que
Jesus possa fazer algo por uma pessoa, a não ser que ela abra a porta. Mas a
Bíblia ensina exatamente o contrário.
4. O resultado que ele alcançou
Judas se afundou na escuridão que ele escolheu. Quando você se aproxima
de Jesus, uma das duas coisas vai acontecer: ou você se tornará completamente
dele, ou vai acabar mais afastado dele.
Entre aqueles que mais odeiam a Cristo, alguns já professaram acreditar
nele antes. Suas alegações são tão exclusivas, e suas exigências tão
persuasivas que, no final, você deve se entregar completamente a ele ou
desistir dele por completo. Não há meio termo.
Apenas aqueles que nunca o conheceram que podem permanecer indiferentes
a ele. Para aqueles que se aproximaram, os únicos resultados são devoção total
ou eventual antagonismo; e todo dia, cada um de nós está indo em uma direção ou
na outra.
Em um tempo em que muitos estão abandonando a fé que um dia professaram,
a história de Judas nos alerta a guardar nosso coração, para não nos
afastarmos. A história de Judas também nos equipa para alcançar aqueles que
podem estar perto de fugir da fé. Cristo nos chama para termos “compaixão
daqueles que duvidam e salvar outros, arrebatando-os do fogo” (Judas 1:22,23).
E por fim, a história de Judas nos lembra que nada de bom pode vir de desistir
de Jesus Cristo. Ele é de valor supremo, e segui-lo vale qualquer custo.
Colin Smith (London School of Theology) é pastor sênior da The Orchard
Evangelical Free Church em Arlington Heights, Illinois, e membro do conselho do
The Gospel Coalition.
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