sábado, 13 de dezembro de 2014

Os perigos do fanatismo religioso

O rio Ganges é sagrado para os indianos: ali os hindus lançam as cinzas de corpos cremados; enquanto os pobres, por não possuírem dinheiro para a lenha, lançam corpos inteiros que se desfazem nas águas. Impressionante é ver que os hindus chegam a banhar-se no Ganges e ainda bebem a água por acreditarem que ela é santificada. Um casal de missionários ficou estarrecido ao ver um jovem casal indiano lançar o seu bebê (vivo!) no Ganges. Imediatamente os missionários aproximaram-se e perguntaram se fizeram aquilo por que a criança não era seu filho ou por que não tinham condições de sustentá-la. Como responderam que era seu filho e que poderiam sustentá-la, os missionários quiseram saber o verdadeiro motivo que os levou a lançarem seu bebê no rio. A resposta foi que um dos seus deuses havia exigido tal sacrifício. Em 1978 Jim Jones, líder do movimento Templo do Povo, levou 914 pessoas ao suicídio coletivo, ordenando que bebessem ponche misturado com cianeto em sua comunidade localizada em Jonestown, na Guiana. Em 29/03/2000, a revista IstoÉ publicou a seguinte nota: "eles acreditavam que a Virgem Maria iria levá-los ao céu - e entraram na arca do inferno. A arca era um templo com janelas fechadas e portas vedadas que explodiu, carbonizando mais de 500 pessoas. Todos pertenciam ao Movimento pela Restauração dos Dez Mandamentos, de Uganda, e este foi o segundo maior suicídio coletivo desde o ocorrido na Guiana, sob a liderança do "pastor" Jim Jones”; há cerca de vinte anos, o poeta Salman Rushdie foi condenado à morte pelo aiatolá Komeini, líder da ditadura islâmica do Irã por escrever o livro Versos Satânicos, considerado uma ofensa aos muçulmanos, enquanto que a luta armada entre protestantes e católicos também se estende por décadas na Irlanda, num caso típico de intolerância religiosa. Estas situações incríveis descritas acima, entre tantas outras que poderíamos citar, formam um painel dramático, tingido de sangue, que retrata as conseqüências de um dos aspectos mais tristes das religiões, que nem mesmo a modernidade conseguiu extinguir: a intolerância, reflexo de algo ainda mais terrível - o fanatismo!

Características.
O Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa define o fanático como alguém "que se considera inspirado por uma divindade, pelo espírito divino", ou ainda, mais alarmante, alguém "que adere cegamente a uma doutrina, a um partido". O fanático, religioso ou não, alimenta um zelo cego, faccioso, exaltado, beirando as raias da violência, devido a sua intolerância diante de outras expressões de fé e opinião! Voltaire, um dos maiores expoentes do Iluminismo francês do século dezoito, cujo verdadeiro nome era Francisco Maria Arouet, foi inimigo de todo fanatismo. Testemunha da perseguição aos protestantes durante os últimos anos do reinado de Luís XIV, e convencido de que tal perseguição era injustificável, declarou: "O homem que diz - Creia como eu, senão Deus o excomungará, dentro em breve estará dizendo - Creia como eu, senão eu o assassinarei. Não é exagero, portanto, afirmarmos que a fé cega e desorientada não agrada a Deus, antes entristece e denigre o seu Espírito Santo. O apologista Natanael Rinaldi, presidente do ICP – Instituto Cristão de Pesquisas, descreve o fanático como alguém agressivo, preconceituoso, mentalmente limitado, totalmente crédulo quanto ao seu próprio sistema de fé e igualmente incrédulo quanto aos sistemas contrários, de valores subjetivos e individualistas. Mas alerta que o fanatismo pode tornar-se ainda mais perigoso "quando se torna uma atitude de multidão, ou quando é empregado na defesa de alguma suposta causa santa" (Revista Defesa da Fé, nº 25 - 08/2000). Será que o Brasil é um país de fanáticos? Qual será a resposta a essa pergunta, se considerarmos as expressões populares, religiosas ou não, que recentemente acontecem por toda a nação e são amplamente divulgadas pelos meios de comunicação? Os cristãos gostam de criticar os fanáticos por esporte, e é verdade que alguns chegam à irracionalidade, matando por devoção aos seus times e clubes, mas... será que a pregação pura e simples da Teologia da Prosperidade e a ênfase exagerada dada ao dinheiro em algumas igrejas evangélicas também não é fanatismo? 

Conhecimento.
É entristecedor o fato de que muitos crentes se dirigem às igrejas não mais para estudar a Bíblia, mas vão ansiosos para ouvir algum tipo de "revelação" ou alguma profecia. Não podemos nos esquecer que os líderes das seitas fanáticas também dizem receber revelações diretas de Deus! Concluímos então que uma das razões que facilitam o sugestionamento dos cristãos é a falta de conhecimento da Palavra de Deus. Entendamos que o zelo é positivo e necessário, afinal, devemos, sim, defender nossa fé! Mas zelo sem entendimento torna-se fanatismo. Certa ocasião, mais de 40 judeus fizeram um juramento, sob pena de maldição, que não comeriam nem beberiam enquanto não matassem o apóstolo Paulo (At 23:18). Na verdade, a matança ou a manipulação de inocentes se dá por que estes são convencidos por ensinos que, na maioria das vezes, não têm ou extrapolam o respaldo bíblico. Muitas tragédias desnecessárias seriam evitadas se a Igreja de Cristo buscasse mais conhecimento das verdadeiras revelações de Deus, registradas há milhares de anos na sua Palavra. O Senhor Jesus repreendeu alguns saduceus tendenciosos que tentavam distorcer doutrinas, dizendo-lhes: "Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus" (Mt 22:29). O apóstolo Pedro admoesta convenientemente seus leitores: "Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2 Pe 3:17s). O preparo dos crentes é estimulado e orientado pelo mesmo apóstolo: "santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência" (1 Pe 3:15). Não nos esqueçamos do exemplo do reformador Martinho Lutero, que conseguiu derrubar mil anos de confissões da igreja romana porque eram baseadas na tradição humana e não nas Sagradas Escrituras. Diante dos tribunais que tentavam condená-lo, ele orou: "Não vou usar de mais argumentos e a menos que seja convencido pela Bíblia; não aceito a autoridade papal, nem os concílios de tradição católicos. Todos eles se contradizem. Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Tudo que posso fazer é não negar os meus livros, pois não posso ir de encontro a minha consciência. Ajuda-me, Senhor Deus! Amém". 

Oremos, para que Deus levante em nosso país uma igreja forte, um verdadeiro exército que lute contra todas as forças de opressão, sejam elas demoníacas ou humanas. Podemos contribuir para isso, preparando-nos melhor, equilibrando nosso conhecimento da graça, do poder e da palavra de Deus. Fora com a ignorância e o fanatismo! 

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