quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Peniel: Verdadeira Devoção à Sagrada Face


As Escrituras Sagradas nos revelam que Deus é invisível, e que ninguém pode ver a Sua face, sob pena de morte. Nem mesmo Moisés conseguiu ver. Viu-o pelas costas, e tão somente a Sua glória.

Muito tempo depois, Jesus, o Filho de Deus, revela a todos nós o rosto de Deus: “Quem vê a Mim, vê o Pai” (Jo. 13,9).

Jesus, portanto, é a face do Pai; Ele é a cara do Pai; o rosto humano de Deus; a imagem do Deus invisível (Col. 1,15). Jesus é realmente a face do Pai.

Se alguém quer saber como é o Pai, basta olhar para o Filho, Jesus!

Se alguém deseja ver o Pai, Suas obras o revelam.

Se alguém deseja ver o Pai, a natureza o revela. Esta resposta é bem natural: a criação demonstra o poder, o caráter, a soberania e a prova existencial do Senhor do universo (Rm 1:19-20).

Se alguém deseja ver a Deus, os limpos de coração o verão.

Se alguém deseja ver o Pai, é só olhar para o seu semelhante, os menos afortunados, os pobres, os mansos, humildes e quebrantados de coração. Cristo, a imagem visível do Deus invisível, vive neles. A omissão a esta atitude fraterna, afasta a Sua face de nós. “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt. 25,45). 


Jacó em Peniel lutou com Deus, representado pelo anjo. Ali, Deus revelou sua face. Foi necessário mudar de atitude, deixar a vida pregressa, a injustiça, para ter a revelação de Deus. 

Revelar, significa “Tirar o véu”. É isso mesmo. Deus tira o véu diante de nós, quando vivemos a justiça. Deus se revela no amor ao próximo. 

Jacó foi à luta!

Tudo isso e mais ainda, é a prática da verdadeira devoção à sagrada face.

Vejamos agora, o que não é devoção à santa face.

Olhar repetidas vezes uma estampa da “face de jesus”, não irá gravar sua imagem e realidade em nós. Não é uma repetição infinda e continuada de visualizações e “rezas” à estampa da “face de Jesus” que irá gravar em nós Seu nome e Sua pessoa. Certamente não veremos o que jesus é na realidade.

Descobrimos a face de Jesus não numa linguagem visual, mas na linguagem do amor, que é muito mais forte e eficaz. Volto a dizer: olhar repetidas vezes a estampa da “face de Jesus”, não grava sua imagem e sua realidade em nós. Visualizar infinitas vezes a estampa da “face de jesus” não nos leva a ver a verdadeira Face de Deus!

Nossos olhos estão continuamente vendo a face de Deus quando olhamos para as necessidades de nosso próximo. Ali, realmente, é-nos revelada a verdadeira Face do Deus de Peniel. Isso é fazer justiça, é santificar-se.

Não é em virtude da decisiva importância que a divina face teve na vida de Tereza de Lisieux na França, ou dos surpreendentes estudos da figura de Jesus na mortuária de Turim na Itália, que a Face de Deus será revelada em nós!

Contemplar o divino rosto de jesus nos irmãos é o meio mais fácil e eficaz de conhecer nosso Deus. Esta é a devoção mais autêntica e abençoadora que encontrei.

Lembro-me quando estava no convento. Pelos idos de 1987, ao entrar numa das Igrejas de certa cidade histórica brasileira. Naquele dia o tempo estava fechado, nublado, com uma fina e teimosa chuva a molestar-nos. Eram dias de “pós-carnaval”. Plena quaresma. As imagens dos “santos” em tamanho natural, estavam todas vestidas e acobertadas, e com um brilho impecável! 

De repente, mais que de repente, eis que olho em direção à porta pela qual entrei, e avisto algumas crianças de calção surrado, molhado, sem camisa, descalças, à porta, se escondendo da chuva e tremendo de frio. Meu Deus! Que injustiça! Que falta de amor! Que vontade de quebrar a “tradição quaresmal” e tirar as roupas das imagens dos “santos” e dá-las às crianças para poderem se aquentar. 

Naquele dia, inesquecível (Hoje faz 27 anos), como Jacó, lutei com o anjo e vi a Face de Deus! Foi a minha luta em Peniel. 

Começou então, minha verdadeira devoção à sagrada face! Esta foi uma revelação particular da pessoa de Deus para minha vida. Nada de sudários, nada de estampas, nada de Verônica, Turim e coisas assim.

Vivendo em jesus, os traços misericordiosos de sua face se imprimem em nós e nos fazem perceber todo o seu amor. Tornamo-nos outro Jesus! Adquirimos o semblante de jesus, o olhar, o sorriso, sua expressão. Os gestos de Jesus, as atitudes, as maneiras dele, enfim, seu amor. É isso que faz acontecer em nós o que o apóstolo Paulo disse de si: “Já não sou eu que vivo. É cristo que vive em mim” (Gl. 2,20).

Volto a repetir: Poderia esta devoção ter encontrado uma interpretação mais autêntica e abençoada?

Presbítero Maurício

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