“No ano
em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime
trono; e o seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dele; cada um
tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com
duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o
Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das
portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então,
disse eu: ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios
impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o
rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is. 6,1-5).
O texto nos leva para a intimidade do notável
profeta Isaías, contemporâneo dos profetas Jonas, Amós, Oséias e Miquéias e reconhecido
como o mais messiânico de todos os profetas. De sua experiência registrada
neste capítulo, encontramos elementos extraordinários deste que é segundo nosso
catecismo, a razão maior de nossa existência – a glória de Deus.
ADORAR É TER UMA VISÃO DO SENHOR NA HISTÓRIA
Isaias viu dois reis: 1º Uzias (v.1) – 52
anos de reinado, grande edificador de cidades, amigo da agricultura, possuidor
de notória sabedoria, porém estava morto; 2º Deus (v.1 "assentado num alto
e sublime trono") – Senhor altamente, sublimemente, inigualavelmente e
definitivamente entronizado!
Isaías viu dois guerreiros: 1º Uzias – criou
uma indústria bélica de ponta, formou um exército de 307.500 homens, foi
vencedor de grandes guerras, porém estava morto; 1ºDeus (v.1,5 "eu vi o
Senhor... meus olhos viram o Senhor dos Exércitos") – insuperável,
invencível, audacioso, corajoso, poderoso, imortal!
Isaías viu dois palácios: 1º Uzias – glória
fugaz, construiu fama de conquistador, mas morreu solitário, leproso e fora do
palácio! 1º Deus (v. 1 "as abas de suas vestes enchiam o templo" v.
3b "toda a terra está cheia da sua glória") – glória definitiva que
se manifestava no trono eterno e se expandia por toda os limites da terra.
Isaías viu dois carácteres: 1º Uzias – um
homem que não soube conviver com o seu sucesso e nem respeitar os limites de
sua função real, usurpando inadvertidamente responsabilidades restritas ao
sacerdote Azarias (II Crôn 26,16-23); 1º Deus – (v.2-3 "serafins estavam
por cima dele, cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas
cobria os seus pés e com duas voava e clamavam uns aos outros: Santo, santo,
santo é o Senhor dos Exércitos"). Diante de Deus os serafins: se dedicavam
prioritariamente à adoração (4 asas para cobrir e apenas duas para voar),
falavam espontaneamente sobre o Seu caráter – "santo...",
inteiramente outro, perfeito, singular, sem qualquer parâmetro humano.
O resultado imediato desta visão pessoal e
contextual do Senhor foi uma profunda consciência da Sua presença: v. 4
"as bases do limiar se moveram à voz do que clamava e a casa se encheu de
fumaça" (v. 4). Aprendemos assim que adoração não é alienação histórica,
não é um rito religioso, não é um êxtase emocional, mas uma percepção íntima,
profunda, crescente e constante de quem Deus é e de como Ele age na história.
ADORAR É TER UMA VISÃO DE NÓS MESMOS NA
HISTÓRIA
"Então" – a visão do Senhor trouxe
profundas transformações na visão que Isaías tinha de si mesmo: "ai de
mim" – a luz da santidade divina irrompeu sobre o seu coração e revelou a
grandeza de sua pecaminosidade; "estou perdido" – seu pecado o
colocava numa condição de condenado e da qual não podia sair por suas próprias
forças (Rom 3:23); "sou um homem de impuros lábios" – naquela que era
a sua maior eficiência, ser como profeta a boca de Deus para o mundo, residia a
sua maior ineficiência; "habito no meio de um povo de impuros lábios"
– a impureza era uma marca notória na vida do povo como ele já denunciara nos
capítulo 5 (v.8 – má distribuição de renda; v.11 – orgias; v.18, 23 –
injustiça; v.20 – falta de absolutos; v. 30b – escuridão total).
Aprendemos assim que adoração genuína é
aquela que resulta num diagnóstico exato de quem nós somos. Quem realmente vê o
Senhor sai de Sua presença com a sensação profunda de que não vale
absolutamente nada e de que, a não ser por Sua graça em Cristo, não pode em
momento algum desfrutar de Sua presença santa!
ADORAR É FAZER DIFERENÇA NA HISTÓRIA
"Então" (v. 6) – da percepção de
quem Deus era e de quem ele era, Isaías percebeu quem ele poderia ser: v. 6
"um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva que tirara
do altar com uma tenaz" – ele não poderia cumprir seu papel na história se
não viesse do altar do Senhor da história uma graça aperfeiçoadora pessoal,
particular, exclusiva, única; v. 7 ". com a brasa tocou a minha boca"
– não era um devaneio ou alucinação, ele experimentou um genuíno e poderoso
toque no foco da sua maior fragilidade – a boca; v. 7 "e disse: eis que
ela tocou os teus lábios, a tua iniquidade foi tirada, e perdoado foi o teu
pecado" – Deus selou com Sua palavra através do anjo aquilo que já fizera
diretamente com o toque, Isaías agora teve plena consciência de que estava
purificado, libertado, perdoado e renovado; v. 8"Depois disto, ouvi a voz
do Senhor, que dizia: a quem enviarei, quem há de ir por nós? Disse eu, eis-me
aqui, envia-me a mim" – Isaias ouviu a declaração de perdão e a declaração
de missão: Deus afirmou-lhe seu propósito eterno de enviar Seus representantes,
homens conectados com o Seu altar e conectados com o seu povo, conscientes de
que tinham uma responsabilidade pessoal inadiável na transformação da história,
homens forjados na intimidade da adoração prontos para cumprirem os grandes
desafios da missão – tornar Deus conhecido e amado.
Aprendemos assim que adoração é um processo
contínuo que nos leva do mundo para o altar, onde conhecemos quem de fato
dirige a história, e do altar para o mundo, onde fazemos diferença positiva na
história cumprindo nela os desígnios do Senhor.
Somos chamados a ver O SENHOR NA HISTÓRIA –
separando diariamente e disciplinadamente um tempo de qualidade para estar na
Sua presença em adoração sincera; ver A NÓS MESMOS NA HISTÓRIA – admitindo
nossas fragilidades e as fragilidades daqueles que estão à nossa volta; A
ASSUMIRMOS O PAPEL NA HISTÓRIA QUE DEUS TEM DETERMINADO PARA NÓS (v. 8 "a
quem enviarei e quem há de ir por nós? Disse eu – eis-me aqui, envia-me a
mim") – discernindo que o Senhor da história nos confere uma missão
pessoal, que envolve deslocamento e relacionamento.
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