quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Verdadeira Tribulação I

Virou mania dos crentes hoje dar status de atribulação a toda e qualquer dificuldade da vida. Quando ele é vítima de algum acidente, “até vai”; mas fica vergonhoso quando equipara as mazelas de suas atitudes inconsequentes à atribulação sofrida pelos crentes da igreja primitiva. Estes sofreram pelo amor ao nome de Cristo e não se colocavam como coitadinhos perseguidos por estarem desempregados devido a alguma falta grave de ordem puramente trabalhista e não por questões religiosas. Por diversas vezes, precisei questionar o emprego da palavra tribulação ou atribulação quando atuava como professor de EBD. O Juquinha diz: – Sabe, professor, estou passando por uma grande atribulação, porque estou doente... – Pera aí! Você está doente por que é crente? – Não! – Então, você não está passando por nenhuma atribulação; trata-se apenas de uma adversidade que acomete até ao ímpio. Atribulação é privilégio somente de quem defende o evangelho e a enfrenta por amor ao Caminho, sem colocar-se como coitado ou vítima. Lembra dos apóstolos que regozijaram por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Cristo? Leia Atos 5:33-42 e você vai entender o que estou dizendo. Eu sei que ao consultar o dicionário da língua portuguesa chegamos à conclusão de que as palavras tribulação ou atribulação poderiam ser empregadas em quaisquer casos de sofrimento ou angústia; mas o dicionário Aurélio, ou qualquer outro do mesmo gênero, não é um dicionário teológico e não visa considerar a definição da palavra à luz das Escrituras. Você precisa verificar como a palavra é aplicada na Bíblia para depois aplicá-la em sua vida, já que nosso compromisso é tratar as coisas espirituais com espirituais. Não acredito que Paulo se regozijava nos seus sofrimentos pelos crentes, preenchendo o que resta das aflições de Cristo em sua carne, a favor do corpo, que é a igreja, com outro sofrimento que não fosse oriundo do alto preço pago para anunciar a mensagem do evangelho1. “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo!”2 “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com o meu Pai no seu trono.”3 Você acha mesmo que Jesus estava se referindo à sua aflição de pagar as pesadas prestações do carro que não cabiam em seu orçamento? Não! Como está em 1João 5:4-5, “porque todo aquele o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?” Ainda não sabe do que estou falando? “Então sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome.”4 “...mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus.”5 “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti6, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente,nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Romanos 8:35-39 Se você não faz ideia do que significava passar por atribulação naqueles dias de Paulo, não empregue o texto ao seu contexto de conforto no Brasil, porque ainda não passamos pela mesma realidade. Há um vídeo na internet que mostra cenas muito fortes de cristãos sendo devorados por leões e recomendo que todos assistam ao vídeo7. Essa era uma prática comum de tratar os cristãos nos primeiros séculos da igreja. Se uma imagem vale por mais de mil palavras, quero fazer uso desse vídeo para impregnar em sua mente o que a igreja sofreu por amor a Cristo para que você, ao comparar, pense duas vezes antes de fazer o uso indiscriminado da palavra atribulação! Para quem não tem o recurso do vídeo sugerido, recomendo a leitura do livro História do Cristianismo8; e, lendo sobre o martírio de grandes homens de Deus, aprenda sobre o verdadeiro significado de sofrer atribulação no contexto das Escrituras. Não convém reproduzir o texto na íntegra, mas extraí do referido livro um pouco sobre a história de Policarpo. [...] um poder que não era humano susteve o servo de Deus, e quando o cônsul, comovido com o seu aspecto venerável, pediu-lhe que jurasse pela alma de César, e dissesse: "Fora com os ímpios!" O velho mártir, apontando para os bancos cheios de gente, repetiu com tristeza: "Fora com os ímpios!" "Jurai", disse o governador, compadecido, "e eu vos mandarei embora. Renegai a Cristo." Mas Policarpo respondeu com brandura: "Tenho-o servido durante oitenta e sete anos, e nunca Ele me fez mal. Como posso eu agora blasfemar contra o meu Rei e Salvador?" "Jurai pela alma de César", repetiu o governador ainda inclinado à compaixão, mas Policarpo respondeu: "Se julgais que hei de jurar pela alma de César como dizeis, e fingis não saber quem eu sou, ouvi a minha confissão livre: sou cristão; e se desejais conhecer a doutrina do cristianismo, concedei-me um dia para falar-vos e escutai-me". 0 governador, notando com inquietação o clamor da multidão, pediu ao ancião que abjurasse sua fé, mas Policarpo se negou a fazer isso. [...] "Tenho à mão animais ferozes", disse o governador, "lançar-vos-ei a eles, se não mudardes de opinião" - "Mandai-os vir", disse Policarpo tranquilamente. O velho peregrino alegrava-se com a perspectiva de se ver prontamente livre de um mundo ímpio e cheio de perseguições, e sua tranquila intrepidez exasperou o governador, que por esse motivo ameaçou queimá-lo, mas o intrépido Policarpo respondeu: "Ameaças-me com o fogo que arde por um momento, e depressa se apaga, mas nada sabeis da pena futura, e do fogo eterno reservado aos ímpios". [...] assim pois, se ouviu imediatamente o grito para que Policarpo fosse queimado. A lenha e a palha estavam ali à mão, e a vítima depois de ser despojada da sua capa, foi levada às pressas para o poste. Queriam pregá-lo a ele, mas Policarpo pediu-lhes para ser simplesmente atado, e concederam-lhe isso. Tendo em seguida recomendado a sua alma a Deus deu o sinal ao algoz, e este logo lançou fogo à palha. Mas, diz a tradição, os acontecimentos maravilhosos do dia ainda não tinham chegado ao seu fim. Por qualquer razão desconhecida, as chamas não tocaram no corpo de Policarpo, e os espectadores, vendo-se enganados, olhavam uns para os outros na maior admiração. [...] e pediram ao algoz que matasse a vítima a golpes de espada. Assim se fez, o golpe fatal foi imediatamente dado, e naquele momento de cruel martírio, o fiel servo do Senhor entregou a alma a Deus, e ficou para sempre longe do alcance dos seus perseguidores. Há muitos cristãos sofrendo perseguições semelhantes mundo a fora em nossos dias, basta visitar o site da Missão Portas Abertas9 para constatar essa realidade. Ainda não chegou a nossa vez, mas logo virá. Por enquanto, preserve o uso da palavra atribulação para quando o seu emprego puder glorificar o nome de Cristo à semelhança do destino de Pedro, anunciado de antemão por Jesus. “Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus.” João 21:18-19 “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.”10 Se somos discípulos de Cristo, precisamos, também, sofrer como ele sofreu por amor ao mundo; não por amor à nossa própria cobiça que nos coloca em tantas enrascadas e não merecem ganhar o status de atribulação. O mundo não nos verá como o sal da terra enquanto nosso sofrimento for igual ao deles. Quando sofremos perseguições por amor aos não convertidos anunciando o verdadeiro evangelho, fazemos jus ao emprego da palavra atribulação. Nessas circunstâncias, a luz de Cristo brilha intensamente e nosso consolo é certo! “Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação. […] Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.” Apocalipse 7:9-10,13-17

Autor: André R. Fonseca

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