sábado, 2 de março de 2019

O Cristão e a Cultura

Antes de falar da relação do cristão com a cultura, é necessário definir o que é cultura: 

Em sentido amplo, refere-se ao cultivo de hábitos, interesses, língua e vida artística de uma nação: histórias, símbolos, estruturas de poder, estruturas organizacionais, sistemas de controle, rituais e rotinas. 

Tudo o que caracteriza uma realidade social de um povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade: valores, atitudes, crenças e costumes. 

Não raro o cristão se torna uma subcultura dentro de uma nação. Ele tem seus valores, atitudes, crenças e costumes. Mas daí, surgem as perguntas: O cristão pode participar das festas nacionais? O cristão pode beber? Como o cristão lida com arte, cinema, etc.? O cristão pode ser um diretor, ator, etc.? O cristão pode ouvir música do mundo? Como o cristão lida com economia, política, filosofia? O cristão deve impor sua cultura quando sai em missões? O que pode ser tolerado? O que deve mudar? 


Modelos de como os cristãos lidaram com a cultura ao longo da história:

Para falar sobre o cristão e a cultura, precisamos lembrar que a igreja não nasceu em nossa geração. Temos que ser humildes e olharmos para a história da igreja para ver como os cristãos do passado lidaram com a cultura. 

H. Richard Niebuhr (1894-1962), apresentou em seu livro Cristo e cultura (download gratuito) cinco categorias de classificação do relacionamento entre o cristão e a cultura, fornecendo, assim, ferramentas para descrever a forma que os cristãos encaram questões sociais, éticas, políticas e econômicas. 


1. O cristão contra a cultura 

Os que seguem esta corrente enfatizam que, diante da natureza decaída da criação, é necessário que se criem estruturas alternativas, e que estas sigam mais de perto o chamado radical do evangelho. 

Esta posição foi afirmada no Didaquê, na Primeira Epístola de Clemente, e nos escritos de Tertuliano (c.160–c.225) e dos anabatistas do século xvi, como Michael Sattler (c.1490–1527). 

Resumidamente, a cultura é caída, má e demoníaca; rejeite tudo. Exemplos: 

“A filosofia é a matéria básica da sabedoria mundana, intérprete temerária da natureza e da ordem de Deus. De fato, é a filosofia que equipa as heresias… Ó miserável Aristóteles! Que lhes proporcionaste a dialética, esse artífice hábil para construir e destruir, esse versátil camaleão que se disfarça nas sentenças, se faz violento nas conjecturas, duro nos argumentos, que fomenta contendas, molesta a si mesmo, sempre recolocando problemas antes mesmo de nada resolver. Por ela, proliferam essas intermináveis fábulas e genealogias, essas questões estéreis, esses discursos que se alastram, qual caranguejos, e contra os quais o Apóstolo nos adverte na sua carta aos Colossenses: ‘Cuidado que ninguém vos venha a enredar com suas sutilezas vazias, acordadas às tradições humanas, mas contrárias à providência do Espírito Santo’. Este foi o mal de Atenas… Ora que há de comum entre Atenas e Jerusalém, entre a Academia e a Igreja, entre os hereges e os cristãos? Nossa formação nos vem do pórtico de Salomão, ali nos ensinou que o Senhor deve ser buscado na simplicidade do coração. Reflitam, pois, os que andam propalando seu cristianismo estóico ou platônico. Que novidade mais precisamos depois de Cristo? […] Que pesquisa necessitamos mais depois do Evangelho? Possuidores da fé, nada mais esperamos de credos ulteriores. Pois a primeira coisa que cremos é que para a fé, não existe objeto ulterior.” (Tertuliano, De praescr. haeret., VII) 

“Quarto, unimos nossas forças no que diz respeito à separação do mal. Devemos nos afastar do mal e da perversidade que o diabo semeou no mundo, para não termos comunhão com isso e não nos perdermos na confusão dessas abominações. Aliás, todos que não aceitaram a fé e não se uniram a Deus para fazer a sua vontade são uma grande abominação aos olhos de Deus. Deles não poderão acrescentar ou surgir nada mais do que coisas abomináveis. Não existe nada mais no mundo e em toda a criação do que o bem e o mal, crentes e incrédulos, trevas e luz, os que estão no mundo e fora do mundo, os templos de Deus e dos ídolos, Cristo e Belial, e nenhum deles poderá ter comunhão um com o outro" 

"Para nós, pois, é obvio o imperativo do Senhor, pelo qual nos ordena que nos afastemos e nos mantenhamos longe dos maus. Assim, ele será nosso Deus e nós seremos seus filhos e filhas. Além disso, ele nos exorta a abandonar a Babilônia e o paraíso terreno egípcio, para não passar pelos sofrimentos e dores que o Senhor enviará sobre eles. (…) Devemos nos afastar de tudo isso e não participar com eles. Porque tudo isso não passa de abominações, que nos tornam odiosos diante do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos libertou da escravidão da nossa natureza pecaminosa e nos tornou aptos para o serviço de Deus, por meio do Espírito que nos ortogou.” (Confissão de Schleitheim, IV) 


2. O cristão da cultura 

Os ensinos do evangelho têm íntima relação com as estruturas culturais, num processo de acomodação a esta. Ou seja, toda e qualquer cultura é incorporada no cristianismo. 

Apesar das objeções que são lançadas a esta posição, ela tem sido influente na história da igreja. Os ensinos de gnósticos do século III, Abelardo de Paris (1079–1142) e dos teólogos liberais do século XIX refletem esta posição.. A igreja evangélica na Alemanha, por influência deste entendimento, trocou seu nome para Igreja do Reich e seus pregadores juraram obediência a Hitler. 

O fundamentalismo americano acabou espelhando esta posição, afirmando os valores básicos da cultura dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, se por um lado rejeitamos toda cultura local (o cristão contra a cultura), por outro acabamos abraçando a cultura americana (o cristão da cultura), como se ela fosse uma cultura cristã e achamos que uma cultura é intrinsicamente superior a outra. 


3. O cristão acima da cultura 

Este é o conceito católico, influenciado por Clemente de Alexandria (c.150–c.215) e Tomás de Aquino (1225–1274), que busca uma unidade entre o cristão e a cultura, onde toda a sociedade aparece hierarquizada. Na Idade Média o ensino eclesiástico alcançou quase todos os aspectos da sociedade: 

Suas práticas religiosas formaram o calendário; seus rituais marcaram momentos importantes (batismo, confirmação, casamento, ordenação) e seus ensinamentos sustentavam crenças sobre moralidade, significado da vida e a vida após a morte. A igreja e sua mensagem são institucionalizadas e o que deveria ser condicionado culturalmente é absolutizado. Neste terceiro modelo, o que é levado não é o evangelho, mas uma cultura. 


4. O cristão e a cultura em paradoxo 

Posição comumente associada a Martinho Lutero (1483-1546) e Søren Kierkegaard (1813-1855). Esta posição mantém o entendimento bíblico da queda e da miséria do pecado, e o chamado para se lidar com a cultura. A relação do cristão com a cultura é marcada por uma tensão dinâmica entre a ira e a misericórdia. 

Lutero enfatizou este tema com sua doutrina dos “dois reinos”: a mão esquerda, mundana, segura a espada do poder no mundo, enquanto a mão direita, celeste, segura a espada do Espírito, a Palavra de Deus. Não se pode tentar coagir a fé, nem se pode tentar acomodar a fé aos modos seculares de pensamento. 

Um exemplo: espancamento feminino. A mulher deve processar o marido? Nesta visão paradoxal, como cristã, ela não deveria (pois o crente não leva outro ao tribunal secular), mas como cidadã, sim. Então, a mulher vive um conflito paradoxal. 


5. O cristão como agente transformador da cultura 

A cultura deve ser levada cativa ao senhorio de Cristo. Sem desconsiderar a queda e o pecado, mas enfatizando que, no princípio, a criação era boa, os que estão nesse grupo enfatizam que um dos objetivos da redenção é transformar a cultura. Sendo assim, por mais iníquas que sejam certas instituições, elas não estão fora do alcance da soberania de Deus. Ou seja, mesmo sabendo da queda, o cristão não abandona a cultura (o cristão contra a cultura), mas busca redimi-la, levá-la aos pés de Cristo. 

Agostinho (354-430), João Calvino (1509-1564), John Wesley (1703-1791) e Abraham Kuyper (1837-1920) são alguns dos que entenderam que os cristãos são agentes de transformação da cultura, posição que é exposta nesta obra de Niebuhr. Em Apocalipse, vemos que Deus redime tanto a pessoa, como a diversidade cultural. 

Nesta posição, não há divisão entre o sagrado e o profano – essa é uma dicotomia católica (a divisão sagrado/profano afirma que na igreja fazemos atividades sagradas e, no mundo, atividades profanas; ou seja, rezar, ser padre é algo sagrado, mas construir um prédio e ser um engenheiro são coisas profanas). A divisão bíblica é entre o que é santo e está em pecado; e que está em pecado deve ser santificado. 


Relatório de Willowbank 

A afirmação de que o cristão é um agente transformador da cultura pode ser resumida na compreensão de que “uma vez que o homem é criado por Deus, parte de sua cultura será rica em beleza e bondade. Por causa da queda e do pecado do homem, toda a sua cultura [usos e costumes] está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca” (Pacto de Lausanne §10) — o evangelho nunca é hóspede da cultura, mas sempre seu juiz e redentor. 

O Grupo de Teologia e Educação de Lausanne propôs um modelo hierárquico de ação sobre a entrada do evangelho na cultura (Relatório de Willowbank, 1978) que pode ser de auxílio em nosso trato com a cultura ao nosso redor. 


Categoria de costumes 

Como um missionário deve proceder em uma cultura diferente? O Relatório de Willowbank propõe uma relação quádrupla do cristão com a cultura: 

Alguns costumes não podem ser tolerados, como a idolatria, infanticídio, canibalismo, vingança, mutilação física, prostituição ritual, entre outros. 

Alguns costumes podem ser temporariamente tolerados [por uma geração], como a escravidão, o sistema de castas, o sistema tribal, a poligamia, entre outros. 

Há alguns costumes cujas objeções não são relevantes para o evangelho, como o costume de o homem e a mulher sentarem separados nos cultos, os costumes alimentares, vestimentas, hábitos de higiene pessoal, entre outros. 

Assuntos secundários (adiáforos) sobre os quais há controvérsias, mas que se pode ter liberdade de análise, como escatologia, governo da igreja, ceia e batismo. 

Exemplo do ponto 2: quando chefes tribais polígamos se convertiam, eles eram obrigados pelos missionários a abandonar todas suas esposas, que ou morriam de fome ou se prostituiam, podendo morrer apedrejadas. Vendo isso, os missionários acharam uma medida sábia não exigir desse chefe tribal o abandono da poligamia, mas exigir tal atitude da próxima geração de cristãos. 

Aplicação do ponto 3: Se você é um novo pastor, não tente mudar a cultura da igreja, se ela se encaixa neste nível. Pregue o evangelho! 

“Não se distinguem os cristãos dos demais, nem pela região, nem pela língua, nem pelos costumes. (…) Seguem os costumes locais relativamente ao vestuário, à alimentação e ao restante estilo de viver, apresentando um estado de vida admirável (…). Enquanto cidadãos, de tudo participam, porém tudo suportam como estrangeiros. (…) Se a vida deles decorre na terra, a cidadania, contudo está nos céus. Obedecem às leis estabelecidas, todavia superam-nas pela vida. Amam a todos, e por todos são perseguidos (…) Para simplificar, o que é a alma no corpo são no mundo os cristãos”. (5-6) (Epístola a Diogneto). 


Bibliografia:

Bruce J. Nicholls – Contextualização: uma teologia do evangelho e cultura 

H. Richard Niebuhr – Cristo e cultura (download gratuito) 

Comissão de Lausanne – O Evangelho e a Cultura 

Michael Horton – O Cristão e a Cultura (leia um trecho) 

D. A. Carson – Cristo & Cultura: Uma releitura 

Franklin Ferreira. Palestrado no dia 11/02/13, na 15ª Consciência Cristã (VINACC). 
Copyright © Franklin Ferreira.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Batalha Espiritual


“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas”. (II Cor. 10,4)

Embora vivendo em um corpo de carne, não se trata de batalhas cristãs, segundo os métodos humanos, mas sim segundo aqueles que encontram apoio no poder de Deus. Assim, armas carnais e humanas tais como o egocentrismo, a habilidade, a riqueza, a eloquência, o poder de persuasão, a influência, a esperteza etc..., são em si mesmas inadequadas para destruir as fortalezas, que correspondem aos conselhos e raciocínios arrogantes dos homens em suas argumentações contrárias à palavra de Deus. As armas poderosas em Deus para destruição de tais fortalezas, dos conselhos e altivez que se levantam contra o conhecimento de Deus, são aquelas que provêm de Deus, tais como oração, fidelidade incondicional à Deus e a sua Palavra, humildade, compromisso com a verdade etc... É através destas armas que levamos cativo todo entendimento à obediência de Cristo (2 Co 10.5).
           
A luta contra os poderes das trevas é algo ininterrupto. Todo cristão precisa saber como proceder diante das ofensivas de Satanás. Ele, normalmente, age de forma sagaz, com artimanhas secretas. Quando o cristão negligente percebe, já está enrolado até o pescoço.

E não é de se admirar, pois o próprio satanás se transforma em anjo de luz (2 Co 11.13-15).

Contra as astutas ciladas do diabo – Sem nenhum estardalhaço nem tocando sirene, o inimigo trabalha de forma disfarçada para ninguém perceber que é ele. Aliás, em muitos casos, só depois do estrago (alguns irreversíveis), é que se descobre que foi o diabo.

1 Cr 21.1: “Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel”.
Jó 1.6,7: “E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela”.
Zc 3.1: “E ele mostrou-me o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do Senhor, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor”.
Mt 16.22,23: “E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”.
Lc 22.31-34: “Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte. Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces”.

O diabo lança dardos inflamados – O adversário não se cansa, trabalha procurando a quem possa tragar (1 Pe 5.8). As forças espirituais do mal agem sem cessar. Não vence pela força, mas com astúcia e pela insistência.

Em Ef 6.16, quando Paulo lista as partes da armadura de Deus, ele fala do escudo da fé, com o qual o crente pode apagar todos os dardos inflamados do maligno. Paulo traz neste versículo uma analogia aos dardos inflamados usados em campos de batalha.

O que eram esses dardos inflamados? Eram estopas embebidas em alguma substância inflamável, que eram acesas e lançadas em flechas contra o adversário. Havia naquele tempo escudos muito frágeis feitos de madeira. Os inimigos lançavam esses "dardos inflamados" para queimar o escudo e tornar vulnerável o corpo do soldado para ser atin­gido. Assim é esta uma das formas de ação do maligno. Ele tenta atingir o cristão atacando-o com dúvidas em meio a situações que lhe são contrárias. É por meio da firme confiança no Senhor e na sua soberania que o cristão pode apagar todos os dados inflamados do maligno ainda que as circunstâncias lhe sejam adversas.

Sl 56.3,4: “Em qualquer tempo em que eu temer, confiarei em ti. Em Deus louvarei a sua palavra, em Deus pus a minha confiança; não temerei o que me possa fazer a carne”.
Sl 71.1-5: “Em ti, Senhor, confio; nunca seja eu confundido. Livra-me na tua justiça, e faze-me escapar; inclina os teus ouvidos para mim, e salva-me. Sê tu a minha habitação forte, à qual possa recorrer continuamente. Deste um mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza. Livra-me, meu Deus, das mãos do ímpio, das mãos do homem injusto e cruel. Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade”.
Fp 1.20: “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte”.
1 Jo 5.14: “E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve”.

São tentações em todas as áreas das nossas vidas  Por exemplo: Dinheiro, sexo, fama, “status”, vícios, relacionamentos, embaraços, frieza espiritual, falsa religião sem deixar a igreja. Os demônios aliciam e persuadem pessoas em áreas que lhes dão brechas onde faltam peças da armadura de Deus. Exemplos: Mentira no lugar da verdade; injustiça em vez de justiça; dúvidas e questionamentos substituindo a verdadeira fé.

O diabo e seus demônios só encontrarão espaço na vida do cristão se este der lugar à ação da carne. Esta foi a situação de Judas, já que ele não lutando contra a sua carne, o que é evidenciado por suas atitudes, acabou deixando espaço para satanás entrar em seu coração.

Jo 12.4-6: “Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava”.
Lc 22.1-6: “Estava, pois, perto a festa dos ázimos, chamada a páscoa. E os principais dos sacerdotes, e os escribas, andavam procurando como o matariam; porque temiam o povo. Entrou, porém, Satanás em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, o qual era do número dos doze. 
E foi, e falou com os principais dos sacerdotes, e com os capitães, de como lho entregaria; os quais se alegraram, e convieram em lhe dar dinheiro. E ele concordou; e buscava oportunidade para lho entregar sem alvoroço”.

A origem dos nossos pecados está no diabo  Ele é o pai do pecado, pois tudo começou com a rebelião dos anjos contra Deus. Depois o inimigo entrou no jardim do Éden e derrubou Adão e Eva. De lá para cá, ele sempre procura colocar os crentes contra Deus.

As passagens bíblicas de Is 14.12-14 e Ez 28.12-17 ilustram a origem do pecado no céu. Estes textos estão relacionados à queda do “querubim ungido” que tendo sido criado com “livre arbitro”, escolheu rebelar-se contra Deus, sendo por isso, lançado fora da presença de Deus. Isaías 14 deixa claro que a razão que levou o “querubim” a rebelar-se contra Deus foi o fato dele desejar usurpar a glória que pertence somente a Deus. Tem-se assim, o começo do pecado no universo. Pode-se dizer que o diabo é o pai do pecado, porque o pecado foi originado por ele. Com relação aos homens, apesar de ter sido o diabo que incitou a raça humana ao pecado, este somente passou a fazer parte da história do mundo, por causa da escolha do homem em desobedecer a Deus. A partir de então, todos os homens passam a nascer com a inclinação para o pecado, e diante disto, o diabo aproveita-se das oportunidades para conduzir cada vez mais o homem ao pecado e também, os cristãos à rebelião contra Deus.

Jo 8.44: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira”.
Gn 3.17: “E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida”.
Rm 5.12: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram”.
Sl 51.5: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe”.
Sl 58.3: “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras”.
Rm 8.20: “Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou”.

A luta não é contra a carne e o sangue  Muitos estão maltratando pessoas, ofendendo irmãos e destruindo o corpo, pensando que a nossa luta é contra seres humanos. As pessoas são boas, a influência de satanás e o pecado é que as fazem ruins.

Em Ef 6.12, o apóstolo Paulo fala da realidade da batalha espiritual, no qual todos os cristãos estão envolvidos, tendo estes que lutar contra um reino hierarquicamente muito bem estabelecido com o propósito de influenciar os homens em suas ações. Esta influência, no entanto, não é única ou suficiente para justificar as atitudes dos homens. Em Lm 3.39 o profeta Jeremias, por exemplo, diz: 
“De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados”
Assim, a Bíblia deixa claro a responsabilidade do homem quanto às suas próprias ações. É importante esclarecer que de fato, tendo o homem sido criado à imagem e semelhança de Deus, ele foi dotado de todos os atributos que o caracterizariam como sendo uma criatura boa. O pecado, porém, manchou o homem em sua imagem e semelhança de Deus, e desde então a inclinação do homem é para o mal, conforme mostra, por exemplo, Gn 6.5 ou 8.21. Tal fato é também claramente demonstrado na resposta de Jesus ao jovem rico, onde Jesus mostra a condição de todos os homens diante de Deus quando Ele diz: “Ninguém há bom, senão um, que é Deus”.

Gn 6.5: “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente”.
Gn 8.21: “E o Senhor cheirou o suave cheiro e disse o Senhor em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice; nem tornarei mais a ferir todo vivente, como fiz”.
Mc 10.17,18: “E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus”.
Sl 14.2,3: “O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um”.
Is 64.6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam”.

Contra os principados e as potestades do mal – São seres espirituais do mal de ordens superiores, especializados e revestidos de autoridade para o mal. Hierarquicamente eles estão organizados. Por vivermos numa batalha espiritual constante, não podemos vacilar.

Contra os poderes deste mundo tenebroso  São muitos os dominadores do mundo das trevas. Esses poderes são nossos adversários, porquanto têm fácil acesso a esta terra, motivo pelo qual são chamados de ‘dominadores deste mundo’, visto que seu poder se estende ao ‘kosmos’, à esfera da existência humana.

Contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes – São seres espirituais malignos, forças do mal, opositores ao bem e à verdade. As regiões celestes, às vezes, são invadidas para operações destas forças. Essas regiões podem ser espaços onde Deus opera, onde estão os anjos bons e os seres humanos remidos (Ef 1.3; 1.20; 2.6; 3.10). As infiltrações dizem que ainda não estamos a salvo completamente, mas só nas mansões celestiais estaremos seguros totalmente, livres de perigos.

Depois de sua queda, o “querubim ungido”, conforme descrito em Ez 28.16, foi lançado fora da presença de Deus “Na multiplicação do teu comércio se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas, passando o mesmo a ser chamado, na Bíblia, de satanás, diabo, dragão, serpente, adversário ou maligno. Juntamente com ele, um terço das criaturas celestes corrompidas por sua astúcia e que participaram do mesmo juízo foram também banidos da presença de Deus ( Ap 12.4). Uma parte destas criaturas celestes foi lançada no inferno, conforme descrito em 2 Pe 2.4 “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo” e em Jd 6 E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande Dia”, outra parte, porém destes anjos caídos vive nos lugares celestiais sob a liderança do líder do reino das trevas, satanás, o qual é chamado em Ef 2.2 de “o príncipe das potestades do ar”.

Pela descrição em Ef 2.2, satanás vive nos lugares celestiais, porém estes lugares, com certeza não é o mesmo onde vivem os anjos de Deus, “espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14), mas provavelmente uma outra dimensão, já que satanás e seus anjos, conforme já citado anteriormente, foram lançados fora da presença de Deus. Sob a liderança de Satanás se encontram anjos caídos de diferentes categorias e diferentes potências. Estes são listados por Paulo como sendo os principados, as potestades, os príncipes das trevas (ou poderes deste mundo tenebroso) e as hostes espirituais da maldade: 

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, simcontra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12). 

A suposição é de que o termo principados se refira a ordens superiores que possuem autoridade sobre grandes regiões e sobre muitíssimos seres, já as potestades seriam governantes subordinados, e assim sucessivamente. Tais seres fazem guerra contra o bem e a verdade, podendo estes muitas vezes, tentarem-se opor até mesmo aos anjos de Deus nas regiões celestiais ou terrenas conforme pode ser visto em Dn 10.12,13,20 

“Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia. E ele disse: Sabes por que eu vim a ti? Agora, pois, tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia”. Ou Jd. 9:

“Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda” (Jd 9).
O local de ação destes anjos caídos, além de ser os lugares celestiais, conforme já mencionado, é também nos filhos da desobediência ( Ef 2.2), o que provavelmente explica a questão relacionada à possessão demoníaca. Também é importante esclarecer que apesar de Satanás e seus anjos caídos possuírem algum tipo de autoridade sobre este mundo, esta é limitada, podendo os mesmos agirem somente até onde Deus permitir (ver Jó 1.12; 2.6, Mc 5.10-13).
Entende-se a partir de Ap 12.7,8,12 que será por ocasião da grande tribulação que satanás e seus anjos serão expulsos das regiões celestiais, vindo então a serem precipitados na terra: 

“E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo” (Ap 12.7,8,12).

 No período do Reino Milenar de Jesus Cristo, Satanás será aprisionado e lançado no abismo por mil anos: 

“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo” (Ap 20.1-3).
Após este período, ele será solto e sairá a enganar as nações, mas ao final, será lançado definitivamente no lago de fogo e enxofre
“E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10).

Em relação a propagação feita por alguns pregadores e escritores de que Jesus tomou as chaves da morte e do inferno das mãos de satanás, é importante deixar claro que Jesus tem as chaves da morte e do inferno ( Ap 1.18) e que estas nunca foram tomadas de satanás, pois Deus sempre teve o domínio sobre todas as coisas, sendo que somente Ele é quem pode fazer, desde sempre, perecer a alma e o corpo no inferno (ver Mt 10.18; Is 8.13). Além disto, a vitória de Cristo foi consumada na cruz e não no inferno (ver Jo 19.3), tendo esta se dado por sua obediência a Deus até a morte e morte de cruz  (Fp 2.8).
Foi desta forma que Cristo triunfou sobre os principados e potestades e os expôs publicamente conforme fica claro em Cl 2.14,15: 

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo”.  

Usando toda a armadura de Deus – Assim como as armas bélicas protegem o soldado comum, a armadura de Deus prepara o crente para enfrentar a batalha espiritual.

Todas as peças da armadura de Deus – Vestida a couraça da justiça, o cinto da verdade, calçados os pés com a preparação do evangelho da paz, o escudo da fé, capacete da salvação, a espada do Espírito que é a palavra de Deus, e a oração. Não confie em armadura própria, pois não terá eficácia contra o mundo espiritual da maldade.

Em Ef 6.10-18, Paulo fala da forma como cada cristão deve conduzir-se diante da batalha espiritual da qual tem então consciência de fazer parte. A orientação dada por Paulo aos crentes de Éfeso deixa claro que o cristão não está sozinho nesta batalha, caso contrário ele estaria em desvantagem, pois sua luta não é contra carne nem sangue (ou seja, pessoas visíveis e materialmente constituídas), mas sim contra o diabo, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade (ou seja, contra seres invisíveis e materialmente não constituídos) nos lugares celestiais (Ef 6.11,12). Diante disto, Paulo introduz este assunto apresentando em primeiro lugar Aquele a quem o cristão tem como aliado (ou seja, o Senhor) instruindo-o a se fortalecer nEle, na força do seu poder e no revestimento de toda a armadura de Deus que se encontra à sua disposição. Nos versículos de Ef 6.13-18, Paulo descreve a armadura de Deus com a qual o cristão pode se revestir para estar firme contra as astutas ciladas do diabo e resistir no dia mal e, havendo feito tudo permanecer firme (ver Ef 6.11,13). Considerando algumas partes da armadura vestida por um soldado romano e sua aplicação espiritual, os seguintes elementos são então identificados na descrição da armadura de Deus citada por Paulo.

     O cinto da verdade, a couraça da justiça e o calçado da paz - Indicam que o cristão vence a batalha quando, considerando-se incapaz de cumprir a justiça de Deus, ele toma para si a perfeição de Jesus em sua vida terrena ( Is 59.17). Revestido então da perfeição de Cristo, o cristão resiste ao inimigo propondo-se a seguir os passos de Cristo, mantendo uma vida íntegra, justa, verdadeira e preparada para seguir o caminho da paz, tanto em seu relacionamento com Deus quanto em seu relacionamento com os homens. Segundo Adams (2003, p. 1267), o soldado romano usava sandálias com cravos e travas para que, mesmo em terrenos escorregadios pudesse manter-se firmemente e apoiado nos combates corpo a corpo. Pode-se dizer que assim deve ser também a questão relacionada a manter a paz nos relacionamentos humanos.
     O escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito - Indicam que o crente resiste ao inimigo tendo a certeza da obra de Deus que foi realizada na cruz em seu favor, dando-lhe garantia de uma eterna salvação. O escudo da fé fornece proteção contra os dardos inflamados do inimigo. Estes dardos incluem tentações, acusações, perseguições, calúnias, dúvidas etc... O capacete da salvação refere-se à certeza e segurança da salvação, e a espada do Espírito, ou seja, a palavra de Deus, é o argumento contra as astutas ciladas do inimigo. Esta conduz o crente à confiança na soberania e no poder de Deus, dando-lhe a certeza de que o Senhor seu Deus tem o controle de todas as coisas em suas mãos, mesmo estando o crente em tempos de dificuldades (Mt 4.4,7,10).

Para que possais resistir no dia mau  O cristão só vence, estando preparado. O inimigo não cansa de investir diariamente contra os salvos. A luta do cristão é constante. Sabemos que o mundo inteiro está no maligno (1 Jo 5.19). Não permita que os períodos da sua vida em que você enfrenta conflitos, façam com que você se acomode a uma falsa sensação de segurança (1 Pe 5.8).

1 Pe 5.8,9: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo”.

Tg 4.7: “Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.

De acordo com os textos de 1 Pe 5.8,9 e Tg 4.7 uma das formas do cristão vencer o diabo é oferecendo-lhe resistência.  Paulo escreve em 2 Co 2.11 acerca dos ardis de Satanás que não devem ser desprezados, e ainda em 1 Co 10.12:

 “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”.

Infelizmente, muitos hoje têm utilizado os púlpitos ou outras situações para de forma insensata desafiar o inimigo. A Bíblia, no entanto, mostra que o único que tem poder de confrontar as forças das trevas é Jesus e somente no nome dEle é que o domínio das trevas pode realmente ser vencido. Existem ainda aqueles que sob uma pretensa autoridade se arrogam até mesmo no direito de “pisar na cabeça do inimigo”, a Bíblia, porém mostra que esta prerrogativa pertence unicamente a Deus, é o que Paulo diz em Rm 16.20:

 “E o Deus de paz esmagará em breve satanás debaixo de vossos pés”.

Estes textos são suficientes, portanto para mostrar aos cristãos que a guerra espiritual não é uma brincadeira, e também que não é através de afrontas ao diabo e seus demônios que os crentes obterão a vitória, mas sim, através da sujeição a Deus, da vigilância, da sobriedade e da resistência, conforme também considera Adams (2003, p. 1264) no seguinte comentário descrito abaixo:

“A guerra espiritual de que participamos tem uma característica única. Não perseguimos o inimigo, nem adotamos ações de ataque contra ele (dessa forma, as principais armas do soldado romano, as lanças duplas, estão ausentes da relação de Paulo). Ao contrário disso, permanecemos firmes contra o inimigo. (6.11), defendemos nosso terreno (6.13) e continuamos firmes (6.14). Devemos manter uma posição firme, no ápice da montanha... e o inimigo deve-se cansar de seu constante ataque dirigido ao alto. A posição firme que Paulo tem em mente é que estamos sentados ao lado de Cristo no reino celestial (1.20; 2.6), onde Cristo está colocado muito acima de principado, e poder, e potestade, e domínio (1.21), tendo sujeitado todas as coisas a seus pés (1.22)”.

Após vencer é preciso permanecer inabalável – O cristão precisa, após cada vitória, insistir, não retroceder, não escorregar, não cair por terra, ficar firme, sabendo que está em combate constante prosseguindo, perseverando, não desanimando e permanecendo vitorioso. Lutero, ao traduzir a Bíblia, foi obrigado a pensar profundamente sobre os desafios enfrentados pelos vários homens e mulheres da Bíblia, que se apoiaram em Deus em busca da força que os capacitou a permanecerem inabaláveis.

At 14.22: “Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus”.
1 Co 10.13: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”.
Tg 1.12: “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”.

Vigiando com toda perseverança e orando em todo o tempo – Sozinho não se vence a força das trevas, só buscando o poder de Deus e a ajuda do Espírito Santo. Não podemos confiar em nossas próprias forças nem usar nossas armaduras humanas.

Ef 6.10: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possai estar firmes contra as astutas ciladas do diabo”.

“Satanás treme quando vê o mais fraco santo de joelhos” – A oração transcende as fraquezas humanas e apela para o poder divino. Ela é poderosa para desfazer as obras de Satanás.
 O Espírito ajuda as nossas fraquezas. Não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós, com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26).

Quer receber poder? “Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”. Toda força do poder de Deus está à nossa disposição.

Rm 12.12: “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração”.
Cl 4.2: “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças”.

“A oração é sem sombra de dúvida a mais alta elevada atividade da alma humana. O homem encontra no seu melhor e mais elevado estado quando, de joelhos fica face a face com Deus” [1]

A essência da oração é falar com Deus como você varia com um amigo querido, sem nenhum fingimento ou arrogância. Como a comunhão com Deus é plenamente necessária e a oração é o meio eficaz de se ter essa comunhão, o inimigo tenta constantemente disseminar enganos sobre o entendimento da oração e desvalorizar o compromisso em orar. A cada geração a oração vem sendo deixada de lado e sendo substituída por ações pragmáticas.  Essa “estratégia” coloca de lado a comunhão com Deus; a inversão de valores é tão grande que alguns se consideram com o direito de em suas orações fazerem exigências e reivindicações a Deus, como se pudesse forçar Deus a fazer alguma coisa. E ainda tem aqueles que tem a oração como ritual de rotina, mas na verdade a oração é um momento de dedicação a Deus, onde o cristão fala com Ele e sai confortado com a sua presença e resposta a alma. Se você está orando e Deus não lhe respondeu, continue de joelhos e ore mais um pouco e fique mais a sós com Deus.

4.2 Vigiando com toda a perseverança – A falta de vigilância põe tudo a perder. A perseverança aqui significa constância, firmeza, insistência, persistência. Evidentemente, a batalha é contínua, uma série interminável de conflitos. Por isso, a vigilância deve vir primeiro, não pode faltar (Mt 25.13; 26.41).

O sentido da palavra "vigiando" refere-se a não estar dormindo no campo de batalha (Ef 5.14). O lutador tem que vigiar, isto é, estar de olhos abertos e atentos para os eventuais ataques de surpresa do inimigo.

Mt 26.41: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.

Orando em todo o tempo – O cristão precisa ser persistente na oração (1 Ts 5.17). Porém, não adianta orar muito e vigiar pouco, mas vigiar em qualquer ocasião, em todas as circunstâncias, nas diversas oportunidades. O cristão precisa estar sempre com a sua mente pronta para orar e, principalmente, no Espírito, sob a direção de Deus. O espírito do cristão fala com o Espírito de Deus e vice-versa (Rm 8.16). Orar sem jamais esmorecer é um pedido de Jesus (Lc 18.18). Não há tempo específico para oração individual, só para oração em conjunto se marca horário.

Lc 18.1: “E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer”.
Ef 6.18: “Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos”.
1 Ts 5.17: “Orai sem cessar”.


Referências Bibliográficas:

[1] Martin Lloyds-Jones, Studies in the Sermon on the mount, 2 vols, 1979Grand Rapids: Eerdmans.
J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia1995, Edições Vida Nova, São Paulo, SP.
Johnson, V.; Palma, A., Hernando, J.; Simmons, W.; Adams, J. W.; Demchuck, D.; Soderlund, S. K.; Glubish, B.; Gill, D. M.; Comentário Bíblico Pentecostal2003, 1a. Ed., CPAD, Rio de Janeiro, RJ.