quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Dia da Reforma Protestante

No dia 31 de outubro é comemorado por evangélicos de todo o mundo o Dia da Reforma Protestante. Em 1517, um dia antes da festa católica de “Todos os Santos”, o monge agostiniano Martinho Lutero pregou publicamente suas 95 teses (veja abaixo), na porta da Catedral de Wittenberg, na Alemanha. Seu apelo era por uma mudança nas práticas da Igreja Católica, por isso o nome “Reforma”.
A iniciativa teve consequências por toda a Europa, dividiu reinos, gerou protestos e mortes. E mudou para sempre a Igreja. Para alguns, Lutero destruiu a unidade do que era considerada a igreja, era um monge renegado que desejava apenas destruir os fundamentos da vida monástica. Para outros, é um grande herói, que restaurou a pregação do evangelho puro de Jesus e da Bíblia, o reformador de uma igreja corrupta.
O fato é que ele mudou o curso da história ao desafiar o poder do papado e do império, e possibilitou que o povo tivesse acesso à Bíblia em sua própria língua. A principal doutrina de Lutero era contra o pagamento de penitências e indulgências aos líderes religiosos. Ele enfatizava que a salvação é pela graça, não por obras.
Conta-se que muita coisa mudou dentro daquele monge até então submisso ao papa quando, em 1515, Lutero começou a dar palestras sobre a Epístola aos Romanos. Ao estudar as Escrituras se deparou com o primeiro capítulo de Romanos, que decretava “o justo viverá pela fé”. Desvendava-se diante dele o que é conhecida como “justificação pela fé”, ou seja, a justificação do pecador diante de Deus não é por um esforço pessoal, mas sim um presente dado àqueles que acreditam na obra de Cristo na cruz.
Porta da Catedral de Wittenberg, na Alemanha, onde Martinho Lutero pregou publicamente suas 95 teses
O movimento encabeçado por Lutero ocorreu durante um dos períodos mais revolucionários da história (passagem da Idade Média para o Renascimento) e mostra como as crenças de um homem pode mudar o mundo.
A controvérsia acabou sendo, segundo historiadores, maior do que Lutero pretendia ou imaginara. Porém, ao atacar a venda de indulgências por parte da igreja, acabou opondo-se ao lucro obtido por pessoas muito mais poderosas do que ele. Segundo Lutero, se era verdade que o Papa tinha poder de tirar as almas do purgatório, devia usar esse poder, não por razões egoístas, como a necessidade arrecadar fundos para construir uma igreja, mas simplesmente por amor, e devia fazê-lo gratuitamente. A idolatria aos santos também foi um dos grandes pontos de discórdia com os lideres católicos.
A maioria dos historiadores concorda que Lutero teria tentado apresentar seus argumentos ao Papa e alguns amigos de outras universidades. No entanto, as teses colocadas na porta da Catedral de Wittemberg e os muitos argumentos teológicos impressos e distribuídos por ele nos meses seguintes, acabaram se espalhando por toda a Europa, fazendo com que ele fosse chamado ao Vaticano para se retratar perante o Papa. A partir de então, entrou abertamente em conflito com a Igreja Católica.
Acabou excomungado em 1520, pelo papa Leão X. Alegava-se que ele incorria em “heresia notória”. Devido a esses acontecimentos, Lutero temendo a morte, ficou exilado no Castelo de Wartburg, por cerca de um ano. Durante esse período trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, resultando na impressão do Novo Testamento em setembro de 1522.
Legado de Lutero
O famoso pastor Charles Spurgeon escreveu:
“Lutero aprendeu a ser independente de todos os homens, pois ele lançou-se sobre o seu Deus! Ele tinha todo o mundo contra ele e ainda viveu alegremente.
Se o Papa excomungou, ele queimou a bula de excomunhão! Se o Imperador o ameaçou, ele alegrou-se porque se lembrou das palavras do Senhor: “Os reis da terra se levantam, e os príncipes dos países juntos. Aquele que está sentado nos céus se rirá” (Salmo 2).
Quando disseram-lhe: “Onde você vai encontrar abrigo se o Príncipe Eleitor não protegê-lo?”. Ele respondeu: “Sob o escudo amplo de Deus”. Lutero não podia ficar parado. Ele tinha que escrever e falar! E oh, com que confiança ele falou! Abominava as dúvidas sobre Deus e as Escrituras!” 
Para algumas vertentes do catolicismo, os protestantes são hereges. Para outras, “irmãos separados”. O movimento originado por Lutero ficou conhecido como Protestantismo e seus seguidores como “protestantes”. O termo é pouco comum no Brasil, onde se prefere usar “evangélicos”.
As 95 teses:
1. Ao dizer: “Fazei penitência”, etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).
3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.
4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.
11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.
14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.
15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.
16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.
17. Parece necessário, para as almas no purgatório, que o horror devesse diminuir à medida que o amor crescesse.
18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.
19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.
20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.
26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.
27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?
30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.
31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.
34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.
36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.
37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.
38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina.
39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.
40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.
42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.
43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.
45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.
46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.
47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.
48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.
49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.
50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.
52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.
53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.
54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.
55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.
56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.
57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.
58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.
59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.
60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.
61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.
64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.
65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.
66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.
67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.
68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.
70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.
71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.
72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.
73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,
74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.
75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.
76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.
77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.
78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I Coríntios XII.
79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, eqüivale à cruz de Cristo.
80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.
81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.
82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?
83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?
84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?
85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?
86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?
88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?
89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?
90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.
91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.
92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo “Paz, paz!” sem que haja paz!
93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo “Cruz! Cruz!” sem que haja cruz!
94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno.
95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.

http://www.verdadegospel.com/hoje-e-o-dia-da-reforma-protestante-conheca-as-95-teses-de-lutero/

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Halloween Não é Brincadeira

Em declaração feita no ano de 2009, o Vaticano condenou o Halloween como uma festa perigosa carregada por vários elementos anticristãos. No Brasil, observamos que algumas pessoas torcem o nariz para a comemoração do evento por entendê-lo como uma manifestação distante da nossa cultura. No fim das contas, muito se diz a respeito, mas poucos são aqueles que examinam minuciosamente os significados e origens de tal festividade.

Desde a Antiguidade, observamos que várias festividades populares eram cercadas pela valorização dos opostos que regem o mundo. Um dos mais claros exemplos disso ocorre com relação ao carnaval, que antecede toda a resignação da quaresma. No caso do Halloween, desde muito tempo, a festividade acontece um dia antes da “festa de todos os santos” e, por isso, tem seu nome inspirado na expressão "All hallow's eve", que significa a “véspera de todos os santos”.

Pelo fato do 1° de novembro estar cercado de um valor sagrado e extremamente positivo, os celtas, antigo povo que habitava as Ilhas Britânicas, acreditavam que o mundo seria ameaçado na véspera do evento pela ação de terríveis demônios e fantasmas. Dessa forma, o “halloween” nasce como uma preocupação simbólica onde a festa cercada por figuras estranhas e bizarras teria o objetivo de afastar a influência dos maus espíritos que ameaçariam suas colheitas.

No processo de ocupação das terras europeias, os povos pagãos trouxeram esta influencia cultural em pleno processo de disseminação do cristianismo. Inicialmente, os cristãos celebravam a todos os santos no mês de maio. Contudo, por volta do século IX, a Igreja promoveu uma adaptação em que a festa sagrada fora deslocada para o 1° de novembro. Dessa forma, os bárbaros convertidos se lembrariam da festa cristã que sucederia a antiga e já costumeira celebração do halloween.

Por ter essa relação intrínseca ao mundo dos espíritos, o halloween foi logo associado à figura das bruxas e feiticeiras. Na Idade Média, elas se tornaram ainda mais recorrentes na medida em que a Inquisição perseguiu e acusou várias pessoas de exercerem a bruxaria. Da mesma forma, os mortos também se tornaram comuns nesta celebração, por não mais pertencerem a essa mesma realidade etérea.

Entre todos os desalmados, destaca-se a antiga lenda de Stingy Jack. Segundo o mito irlandês, ele teria convidado o Diabo para beber com ele no dia do Halloween. Após se fartarem em bebida, o astuto Jack convenceu o Diabo a se transformar em uma moeda para que a conta do bar fosse paga. Contudo, ao invés de saldar a dívida, Jack pregou a moeda em um crucifixo.

Para se livrar da prisão, o Diabo aceitou um acordo em que prometia nunca importunar Jack. Dessa forma, ele foi libertado e nunca mais importunou o homem. Entretanto, Jack morreu e não foi aceito nas portas do céu por ter realizado um trato com o demônio. Ao descer para os infernos, também foi rejeitado pelo Diabo por conta do trato que possuíam. Vendo que Jack estava solitário e perdido, o demônio lhe entregou um nabo com carvão que lhe serviu de lanterna.

Ao chegarem à América do Norte, os irlandeses trouxeram a festa do Halloween para as Américas e transformaram a lanterna de Jack em uma abóbora iluminada com feições humanas. Os disfarces e máscaras, tão usadas pelos participantes da festa, seriam uma forma de evitar que fossem reconhecidos pelos espíritos que vagam neste dia. Atualmente, as fantasias são utilizadas por crianças que batem às portas exigindo guloseimas no lugar de alguma travessura contra o proprietário da casa.

De fato, a celebração do Halloween remete a uma série de antigos valores da cultura bárbaro-cristã que se forma na Europa Medieval. Nessa época, várias outras festas celebravam o processo de movimentação do mundo ao destacar os opostos que configuravam o seu mundo. No jogo de oposições simbólicas, mais do que o valor de um simples embate, o homem acaba por visualizar a alternância e a transformação enquanto elementos centrais da vida.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Uma Nação Partida ao Meio pelo Muro da Discórdia

Adoraria poder comemorar o resultado das urnas. Independente dele, venceu a democracia brasileira que vem se consolidando desde o fim da ditadura militar. Em vez disso, sinto um profundo pesar. Não pelo resultado em si, mas pela reação de muitos. Jamais poderia imaginar que o povo brasileiro fosse capaz de tão grande demonstração de xenofobia. Entre as propostas ventiladas durante os ânimos alterados, o Coronel Paulo Telhada, vereador do PSDB por São Paulo, propôs que o Sul e o Sudeste se separassem do resto do Brasil, inclusive do Rio e de Minas Gerais, pois teriam contribuído decisivamente pela reeleição de Dilma Rousseff. 

O delegado Romeu Tuma Júnior, desafeto do PT, propôs que se construísse um muro que separasse o Brasil do Norte e do Nordeste, do país do Sul e do Sudeste. Vindo deles, eu até relevaria. Mas o que mais me causou estranheza foi ver manifestações semelhantes por parte da população, incluindo, muitos cristãos. Alguns chegaram a referir-se aos nordestinos como porcos e burros. E eu que sempre acreditei que o Brasil fosse um país livre deste tipo de preconceito. Até admitia algumas ocorrências pontuais, mas nunca poderia supor que a coisa alcançasse este patamar. Li gente que disse que 48% dos que trabalham terão que carregar nas costas os 51% dos vagabundos e preguiçosos do nordeste. Que lástima! Outra comentou que os nordestinos vêm para o Sudeste só para sujar nossas cidades. Argumentei com ela que sujeira é o que fazemos em suas praias paradisíacas quando passamos nossas férias lá. Ela em respondeu que era educada e prezava pelo meio-ambiente e que, portanto, jamais faria algo assim. Respondi-lhe que se ela é exceção, temos que considerar que haja inúmeras outras exceções, tanto lá, quanto cá. Não se pode generalizar. Resolvi, então, postar uma série de fotos das capitais nordestinas, para mostrar aos meus amigos nas redes sociais o quão próspera e desenvolvida é aquele região. Infelizmente, o povo brasileiro prefere viajar para Miami ou para o Caribe, e, por isso, desconhece seu próprio país. Lembrei-me de um texto que escrevi tempos atrás e que retrata esta nossa mania de construir muros e de como o Filho de Deus transitou por entre eles sem jamais respeitá-los. Ei-lo abaixo. Leia-o e se achá-lo edificante, envie-o para seus contatos. 

Gosto de observar a ordem em que os acontecimentos são relatados nos Evangelhos. Creio que desperdiçamos muitas mensagens quando nos atemos apenas aos acontecimentos em si, e não enxergamos suas entrelinhas. Deus Se revela nos flagrantes contrastes dessas passagens!

Lucas nos descortina um episódio em que Jesus Se dirige à Jericó (Lc.18:35-43). Antes de entrar na cidade, Ele Se depara com um cego “assentado à beira do caminho, mendigando”, cujo nome é Bartimeu [1]. Depois de clamar insistentemente pela misericórdia do Filho de Davi, Jesus manda chamá-lo e restitui sua visão. Bartimeu, um homem marginalizado, um excluído da sociedade de Jericó, é a primeira pessoa a quem Jesus direciona Sua atenção.

Mas ao atravessar os muros da cidade, Jesus Se depara com outro homem, pertencente à elite de Jericó. Enquanto Bartimeu vivia do lado de fora da cidade, Zaqueu, o chefe dos coletores de impostos, vivia luxuosamente na parte mais requintada de Jericó. Ambos eram cegos. Bartimeu sofria de cegueira física, enquanto Zaqueu de cegueira espiritual. Ambos deviam sua condição social à ganância. Um era vítima, o outro o algoz. Talvez jamais houvessem prestado atenção um ao outro, e sequer sabiam de sua existência. Porém ambos queriam muito ver Jesus. Lucas diz que Zaqueu “procurava ver quem era Jesus, mas não podia” (Lc.19:3). Não por causa de alguma deficiência visual, mas porque era nanico. A fim de avistá-lO no meio da multidão, Zaqueu tratou de escalar uma árvore, meter-se entre sua folhagem, e ali, discretamente, sem almejar qualquer atenção, esperou até que Jesus passasse. Veja a diferença gritante entre Bartimeu e Zaqueu. Não apenas diferença social, ou cultural, mas também comportamental. Bartimeu queria a atenção de Cristo, e por isso não poupou sua voz. Esguelou-se ao ponto dos discípulos rogarem que se calasse. Já Zaqueu preferia a discrição, a camuflagem de uma árvore, a preservação de sua imagem pública. De lá, ele podia ver sem ser notado, espiar sem se expor, numa espécie de voyeurismo desprovido de culpa. Afinal, um homem importante como ele não podia correr este risco. Mas para a sua suspresa, Jesus não hesita em mirar por entre as folhas da árvore e dizer: Desce depressa, Zaqueu! Hoje vou me hospedar em sua casa.

O que desejo ressaltar aqui é que Jesus não se importou com qualquer convenção social. Ele simplesmente ignorou o muro que separava aquelas duas classes sociais. Ele deu atenção tanto ao que vivia de esmolas, quanto ao que vivia de explorar seus semelhantes. Entretanto, devemos realçar que primeiro Ele voltou Sua atenção para o explorado, e só depois para o explorador. Sua prioridade sempre foi os oprimidos, os marginalizados, os excluídos, aqueles que ficam "à beira do caminho". Porém jamais deixou de atender também ao opressor, acolhendo-o e convidando-o ao arrependimento. Bartimeu e Zaqueu são subprodutos de uma sociedade injusta, engrenagens da mesma máquina social. Uns com tanto, outros com tão pouco. Uns clamando por misericórdia, outros por privacidade. Uns sem ver, outros sem querer ser vistos. Uns se valendo a compaixão alheia, outros se valendo da ignorância das massas.

Mas há algo mais que não podemos deixar passar despercebido. Que cidade era aquela? Jericó. Isso te lembra alguma coisa? Trata-se da mesma Jericó, cujos muros foram derrubados por Deus na ocasião em que o povo de Israel, liderado por Josué, marchou por sete dias ao seu redor.

Ora, se Deus derrubou aquele muro, o que é que ele fazia de pé, dois mil anos depois?

Foi durante o reinado do perverso Acabe, que Jericó foi reconstruída. Os créditos por esta “façanha” entraram na conta de um tal Hiel, o betelita, que pagou um alto preço pela sua ousadia.
“Em seus dias Hiel, o betelita, reconstruiu a Jericó. Pelo preço de Abirão, seu primogênito, lançou-lhe os fundamentos e pelo preço de seu último filho, Segube, assentou-lhe as suas portas, conforme a palavra do Senhor, falada por intermédio de Josué, filho de Num” (1 Reis 16:34).
Aquela muralha representava a divisão dos povos. Pra isso servem os muros. Sejam muros de concreto, como os que estão sendo erguidos ao redor de algumas favelas cariocas, ou sejam muros ideológicos, religiosos, sociais, nacionalistas, etc.

Tão logo os muros de Jericó vieram a baixo, Josué, pelo Espírito de Deus, pronunciou uma maldição:
“Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó: Com a perda do seu primogênito a fundará, e com a perda do seu filho mais novo lhe colocará as portas” (Js.6:26).
Séculos depois, com a chancela de Acabe, Hiel pôs a mão na massa, e reconstruiu Jericó. Conforme a palavra de Josué, Hiel perdeu seu primogênito assim que lançou os fundamentos da cidade, e perdeu seu caçula quando assentou suas portas.

Agora, Jesus, o Unigênito de Deus, resolve dirigir-Se àquela cidade cujos muros não deveriam jamais ser reconstruídos. Ao atender Bartimeu do lado de fora dos muros, e Zaqueu do lado de dentro, Jesus parece indicar que simplesmente ignora a nefasta obra creditada a Hiel. Para Jesus, aqueles muros não existem.

O Unigênito de Deus não reconhece qualquer separação entre os homens. Ele transita livremente entre todas as camadas. As fronteiras não passam de constructos humanos e políticos.

Talvez alguém diga que Deus pegou pesado com Hiel, ceifando a vida de seu primogênito e de seu caçula, só porque se atreveu a reconstruir as muralhas. Quem pensa assim não parou pra considerar o custo envolvido na demolição dos muros que separavam os homens de Deus e uns dos outros. Reconstruir aqueles muros custou a vida do primogênito e do caçula de Hiel. Mas derrubar os muros que nos separavam de Deus e de nossos semelhantes custou a vida do Unigênito de Deus.


Veja o que Paulo diz sobre isso:

“Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um, e destruiu a parede de separação, a barreira de inimizade que estava no meio, desfazendo na sua carne a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um só corpo, matando com ela a inimizade” (Ef. 2: 13-16).
Resumindo: pela cruz de Cristo, todos os muros ruíram. Jericó representa uma sociedade construída sobre o preconceito racial, social, religioso, sexual, cultural. Compete aos cristãos como expressão do Corpo de Cristo transitar livremente entre os povos, ignorando qualquer que seja o muro que os separe. Em Cristo a humanidade foi reunificada. “Desta forma”, conclui Paulo, “não há judeu nem grego (acabou a distinção nacionalista e cultural), nem servo nem livre (distinção social), não há macho nem fêmea (distinção sexista), pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28). A Igreja é, por assim dizer, a nova sociedade humana em estado embrionário.

O problema é que em vez de investir pesado neste revolucionário e subversivo conceito, a igreja preferiu alienar-se da sociedade e investir seu tempo e recursos na construção de novos muros, e na reconstrução dos que já foram derrubados.

Serve-nos como advertência as sábias palavras do apóstolo dos gentios: “Se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor” (Gl. 2:18).

Cristo continua a fazer pouco caso dos muros que reconstruímos. Porém, não deixará impune aquele que se atrever a reconstruir o que Lhe custou tão caro destruir.

Não temos o direito de costurar o véu do templo! Mas é isso que fazemos quando objetivamos levantar igrejas que se ocupem exclusivamente com certas camadas sociais. Reconstruímos muros quando erguemos bandeiras e nos entrincheiramos contra qualquer seguimento da sociedade. Quando dividimos uma igreja por não aceitar nos submeter à autoridade que nos constituiu. Quando categorizamos os crentes em “primeira classe” (os que falam em línguas, ou os que vão ao “encontro”, ou participam das células, etc.) e os da “classe econômica” (que chamamos de “nominais”, por não participarem ativamente em nossos programas). Quando nos vemos no direito de dizer quem vai ou não para o céu. Quando privilegiamos uma nacionalidade (por exemplo, Israel), enquanto menosprezamos outra (exemplo: os palestinos). Quando contamos piadinhas envolvendo a diferença racial. Enfim, não falta material disponível para reconstruirmos o que Deus destruiu com Seu Cetro de Justiça.

Trabalhemos, não na reconstrução de velhos muros, mas na edificação de uma nova sociedade, cujo fundamento seja o amor revelado em Cristo Jesus. Amor que acolheu prostitutas no passado, e que pode acolher homossexuais hoje (ainda que não endossemos qualquer tipo de promiscuidade, inclusive a praticada por heterossexuais). Amor que acolheu os excluídos de então, e continua a fazê-lo hoje. Que une oprimidos e opressores de um mesmo lado, jogando por terra aquilo que os separava, reconciliando as classes sociais sob a égide da justiça, da verdade e do amor. Afinal, quem ama Bartimeu, também ama Zaqueu. E o desejo de Cristo é que se reencontrem numa Jericó sem muros, sem capas que sirvam para esmolar, ou árvores que sirvam para camuflar.

E não digam que pareço estar em cima do muro em se tratando de alguns temas polêmicos. Não! Absolutamente. Pelo simples fato de não haver mais muro. Sou pela verdade, seguida em amor.

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domingo, 26 de outubro de 2014

Casamento: Sem Graça, é uma Desgraça!

CASAMENTO CRISTÃO

Existe muito idealismo em relação ao casamento, até mesmo entre os cristãos, na maioria das vezes isso se concretiza em um romantismo exacerbado, que, ao invés de ajudar, atrapalha a relação conjugal. O casamento cristão é a união de duas pessoas, um homem e uma mulher, que não são perfeitas, por isso, precisam administrar cada situação, principalmente as mais adversas. Não podemos esquecer que existe uma propensão à carnalidade no ser humano, tanto no homem quanto na mulher (Gl. 5.17), por isso, ambos carecem de arrependimento, e sobretudo, das orientações do Senhor Jesus (Lc. 5.31,32). O casamento cristão, que está pautado em Cristo, busca, na Bíblia, e não nos padrões midiáticos, seu alicerce de sustentação (Jo. 14.6). Em Ef. 5, Paulo destaca que Cristo é a referência, não a sociedade, para as atitudes no casamento. As esposas devem submeter-se ao marido, “como ao Senhor” (v. 22). Os maridos, por sua vez, devem amar a esposa “como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (v. 25). Os maridos devem cuidar de sua esposa “como também Cristo o faz com a igreja” (v. 29). Em todas as circunstâncias, devemos considerar que se trata de um mistério, que está diretamente relacionado a Cristo e à igreja (v. 32). É um equívoco da nossa sociedade tentar fundamentar o casamento no sexo e no romantismo. Mesmo na igreja muitos cristãos foram contagiados por essa tendência. Evidentemente o sexo é necessário, e importante dentro do matrimonio (Hb. 13.4), mas não é uma base para o casamento. As pessoas envelhecem, a beleza física se esvai, o fervor sexual arrefece. O romantismo não deve ser desconsiderado, as palavras afáveis contribuem para o crescimento conjugal, mas nem só de romantismo vive o casamento. As pessoas podem perder o bom humor de vez em quando, principalmente nos momentos difíceis, quando filhos adoecem, e as contas chegam à caixa do correio. O casamento cristão é composto por um casal de pessoas pecadoras, uns mais ou menos espirituais, que são desafiados a permanecerem juntas, até que a morte as separe (I Tm. 1.15, 16).

2. SEM GRAÇA, É UMA DESGRAÇA

Diante das adversidades, o casamento precisa de graça, caso contrário, permitam-me o trocadilho, se transformará em uma desgraça. Quanto mais espirituais forem os cônjuges, maior será a propensão de andarem no Espírito, de não satisfazerem as concupiscências da carne (Gl. 5.17). Um casamento centrado apenas no eu, nos interesses individuais de apenas um dos cônjuges, resulta em sofrimento para o outro. Há uma tendência, alimentada pela mídia, de fazer com que as pessoas passem a vida inteira procurando uma alma gêmea. Por causa disso, muitos casamentos se desfazem, pessoas passam a vida inteira na busca pelo príncipe encantado. Essas pessoas que querem encontrar uma alma gêmea põem o foco demasiado em seus desejos, entram nas relações querendo sempre autossatisfação, que resulta em frustração (Tg. 4.1-3). Essa é uma tendência da natureza caída, que fará de tudo para minar o casamento, já que tem o egocentrismo como base. Se essa lei do pecado não for controlado pelo Espírito, a vida conjugal poderá ser arruinada (Rm. 7.21-23). Ao invés de sempre querer julgar o outro, o cristão deve antes olhar para si mesmo (Mt. 7.4,5). Muitos maridos e esposas encontram facilmente defeitos nos seus cônjuges, mas têm dificuldade de fazer o mesmo quando olham para eles mesmos. É bom lembrar que não conhecemos os outros, nem mesmo a nós mesmos em completude, apenas em parte (I Co. 13.12). Por isso, ao invés de julgar o outro, precisamos aprender antes a nos avaliar, isso porque se julgássemos a nós mesmos não seríamos julgados, mas quando somos julgados pelo Senhor, é para não sermos condenados com o mundo (I Co. 11.32). Quando abordado pelo Senhor, Adão quis, imediatamente, colocar a culpa sobre a sua esposa, fugiu da sua responsabilidade pela desobediência (Gn. 3.12). Davi precisou de um Natã para reconhecer o seu pecado e se voltar para o Senhor (II Sm. 12.13). Portanto, o casamento cristão deve basear-se na graça – charis em grego – que é um favor imerecido. Fomos alcançados pela graça e misericórdia de Deus, por isso devemos agir de igual modo em relação ao nosso cônjuge (Lc. 6.36; Tt. 2.11-14). Jesus compadeceu-se das nossas fraquezas, por isso devemos fazer o mesmo (Hb. 4.15), e lembrar que a misericórdia poderá triunfar sobre o julgamento (Tg. 2.13). Para o bem do casamento, todo cristão deve fortificar-se na graça que está em Cristo Jesus (II Tm. 2.1).

3. NÃO SÓ COM PALAVRAS, MAS COM AMOR SACRIFICIAL

A supervalorização do sexo na sociedade contemporânea tem causado muitos males ao casamento. O sexo foi criado por Deus, não apenas para reprodução, mas também para o prazer. O problema é que ele tem sido usado indiscriminadamente, e às vezes, confundido com amor. A expressão “fazer amor” tornou-se sinônima de fazer sexo, ainda que fora dos padrões bíblicos. Deus criou o sexo para a realização dos casais, e este é por ele estimulado (I Co. 7.1-5), mas ninguém deve basear o casamento exclusivamente no sexo. Apalavra-chave do casamento, e o seu principal fundamento, é o amor. Isso não diz respeito a qualquer tipo de amor, mas ao agape – o amor sacrificial. Um casamento somente alcançará maturidade quando os cônjuges dependerem menos do eros – o sexo, e mais do agape – o amor desinteressado. É o amor agape que supera as incompatibilidades, pois, definitivamente, o casamento é uma composição de pessoas incompatíveis, ainda que essas possam ser atenuadas se os jovens forem sábios antes da decisão de dizer “sim” (Gn. 24). As imperfeições ficam evidentes antes mesmo da celebração do casamento. Aqueles que dizem “sim” devem estar cientes que precisam fazer concessões. E para ser mais realista, dificilmente as mudanças acontecerão de forma significativa depois do casamento. Por isso, como se costuma dizer aos jovens, “abram bem os olhos antes do casamento, mas feche-os um pouco depois de casados”. Isso porque o casamento é um pacto de sujeição, de disposição para viver não para si mesmo, mas para o outro (Ef. 5.22-25). Jesus é o maior exemplo, tendo em vista que não agradou a Si mesmo (Rm. 15.2,3). O casamento é plano de Deus, e um glorioso ministério, mas o alvo central não é a busca da felicidade. A meta do casamento não é a felicidade, ainda que essa, de uma maneira misteriosa, possa ser encontrada, mesmo na adversidade. O casamento é um ambiente de amor, no qual atitudes de paciência, benignidade, sacrifício, entrega e perdão são manifestas, elementos do fruto do Espírito (Gl. 5.21,22; I Co. 13.4,5). Dizer que se ama não é difícil, e mostrar interesses pelos outros para “fazer amor” também, mas a base cristã para o casamento é o amor-agape, que não se revela apenas em palavras, mas, sobretudo, em obras e em verdade (I Jo. 3.18).

CONCLUSÃO

O casamento cristão é um mistério, tão sublime como a relação entre Cristo e a Igreja, cujo fundamento é a graça e o amor. Como cristãos, não podemos nos deixar influenciar pelos valores que tentam sustentar o casamento, tais como o individualismo romântico e a sexualidade descompromissada. Um casamento genuinamente cristão aceita o cônjuge com as suas diferenças, e está disposto a sacrificar-se pelo outro, assim como Cristo amou e se entregou a Sua Igreja.


BIBLIOGRAFIA

HARVEY, D. Quando pecadores dizem “sim”. São Paulo: Fiel, 2011.
KELLER, T., KELLER, K. O significado do casamento. São Paulo: Vida Nova, 2012.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A jornada para construir um elevador até o espaço

A ideia de um elevador espacial parece ter saído de um livro sci-fi de Arthur C. Clarke – e saiu, mesmo. Mas há pessoas seriamente tentando construir um elevador para nos levar até o espaço: é um plano arriscado para criar um sistema de transporte viável entre o solo e um ponto de referência fora da atmosfera da Terra.

O elevador espacial não é apenas um devaneio steampunk. Se alguns incansáveis defensores desta ideia ​​conseguirem o que querem, ele sairá da ficção científica para ser construído no mundo real.
Um plano futurista (que surgiu há mais de 100 anos)

A ideia é futurista, mas também é bastante antiga: em 1895, o cientista russo Konstantin Tsiolkovsky elaborou uma proposta inicial para um elevador até o espaço, e este conceito básico ainda é usado em projetos atuais.

Ao longo dos anos, o entusiasmo com este projeto na comunidade de exploração espacial vem flutuando – às vezes aumenta, às vezes cai. Mas agora, alguns projetos de destaque estão trazendo o elevador espacial de volta ao foco. Eles vêm chamando a atenção de documentaristas e de sonhadores, tornando-se o tema de filmes como Shoot the Moon e Skyline.

O conceito básico, em 1895 e ainda hoje, requer um cabo ancorado se esticando até o espaço, capaz de transportar pessoas e coisas para fora do mundo. Tsiolkovsky imaginou este cabo ancorado à Terra. Os detalhes de seu projeto são totalmente inviáveis: ele queria que o peso fosse suportado na parte de baixo, enquanto planejadores modernos acreditam que ele teria de ser suportado por cima. No entanto, esta ideia de “um cabo saindo da Terra e chegando ao espaço” ainda é o conceito padrão para elevadores espaciais.

O plano mais aceito hoje envolve um ponto de ancoragem na linha do equador, com um cabo que se estende em cerca de 100.000 km acima da superfície da Terra, onde ele se ligaria a uma estação de contrapeso e orbitaria com o planeta.


Conceito de um elevador espacial via Bruce Irving/Flickr

A ideia de um elevador espacial persistiu por mais de um século, porque seus defensores veem a engenhoca como um passo vital na expansão para além do nosso planeta. Ele poderia ser, no futuro, uma alternativa de baixo custo a foguetes. Alguns teorizam que, como este transporte alternativo iria reduzir drasticamente os custos de levar pessoas e objetos até o espaço, ele poderia democratizar as viagens espaciais.

Hoje, isso está começando a parecer mais crucial do que nunca. Em um cenário pessimista, o elevador para sair da Terra poderia ser uma rota de fuga em potencial: “use em caso de apocalipse global“, uma maneira de começar a colonizar outros planetas e se preparar para desastres. Em um cenário mais favorável, elevadores espaciais poderiam ser um meio para viabilizar a expansão da vida fora da Terra, e para transportar a civilização para lá e para cá.
Quem está tentando

Mas primeiro, teríamos que de fato construir esse elevador. E não são apenas pesquisadores malucos se dedicando ao ambicioso projeto: o laboratório Google X desenvolveu recentemente planos de construir um elevador espacial; embora eles tenham descartado o projeto, fica claro que o conceito é uma ideia que até o Google considera digno de exploração.

A NASA ajudou a realizar um concurso para incentivar projetos de elevador espacial. Markus Landgraf, analista de missão na Agência Espacial Europeia, fez uma apaixonada TED Talk sobre elevadores espaciais, dizendo que eles fariam o equivalente a transformar uma estrada de terra em uma rodovia. Há uma conferência anual sobre elevadores espaciais dedicada à ideia; e neste ano, uma equipe de especialistas reunidos pela Academia Internacional de Astronautas concluiu que os elevadores espaciais poderiam realmente existir.

De fato, alguns projetos ambiciosos para transportar pessoas ao espaço estão em andamento.


Arte por Richard Bizley
A Obayashi, uma gigante construtora japonesa, diz que vai erguer um elevador espacial até 2050, capaz de transportar passageiros a 36.000 km acima da Terra, com um “porto terrestre” de ancoragem no oceano. Ele deve custar cerca de US$ 8 bilhões.

O empreendimento é grandioso, mas a Obayashi é uma corporação enorme com dinheiro e poder. Há também a Associação Japonesa de Elevadores Espaciais trabalhando para avançar projetos como este. Não é algo que possa ser ignorado.

A LiftPort, fundada pelo ex-empreiteiro da NASA Michael Laine, é uma operação muito menor de elevador espacial, mas igualmente ousada e potencialmente valiosa. Ao contrário da Obayashi, a LiftPort não tem um cronograma para construir um elevador espacial. Depois de tentar e não conseguir desenvolver um elevador espacial no início dos anos 2000, eles começaram do zero com uma nova filosofia.

A LiftPort quer colocar um elevador espacial na Lua. Laine espera que este elevador lunar sirva como um protótipo de menor gravidade para um elevador espacial na Terra, e também como um instrumento para a Lua, para obter hélio e fazer turismo no nosso satélite. A baixa gravidade e atmosfera zero vão torná-lo mais fácil de construir, mesmo que ainda seja terrivelmente caro.

Mas antes, a equipe está se preparando para um experimento que enviará um robô a cerca de 7,5 km de altitude. Se eles conseguirem, esta seria a estrutura mais alta do mundo – e eles começariam os planos para construir um elevador na Lua.

Não vai ser fácil: a equipe da LiftPort recentemente teve que reprojetar seu robô, o que atrasou o projeto. Eles não encontraram um local para testes. Eles estão cientes de que projetos como os deles serão “infernalmente caros”. Laine permanece otimista, no entanto:

Este robô que estamos construindo é uma analogia. Estamos tentando compreender o processo mecânico de subir a distâncias maiores e em condições desafiadoras. Nós não podemos simular um elevador lunar muito bem aqui na Terra. Estamos tentando compreender os problemas. Assim que terminarmos este experimento, este provavelmente será o nosso último na Terra. Nós teremos praticamente aprendido tudo o que podemos aprender no planeta.

Ou seja, o LiftPort está se preparando para construir um elevador espacial se preparando para um experimento, que vai informá-los como construir um elevador lunar, o que poderia informá-los como construir um elevador espacial. Este não é exatamente o método mais direto do mundo, mas Laine acredita que essa meticulosidade vai valer a pena, e a entusiasmada equipe dele concorda.
Qual material?

Os céticos apontam vários problemas na ideia de criar uma vertiginosa torre de Babel high-tech. Embora o conceito possa ser lógico, o maior obstáculo é que não existe nenhum material atualmente disponível que seja comprovadamente forte o suficiente para usar em uma estrutura assim.

Mesmo que esse material seja inventado em breve – e estamos nos aproximando disso – ele também poderia ser vulnerável a vibrações. Revoadas de pássaros (na parte inferior) e detritos espaciais (nas partes mais altas) poderiam colidir com ele. Máquinas para transporte de pessoas e carga poderiam criar muita oscilação. Ah, e obviamente, ele seria terrivelmente caro de se construir, impedindo que ele se realizasse.

O maior problema continua a ser esse material ideal. Muitos defensores do elevador espacial – como o físico Bradley Edwards, que escreveu o livro The Space Elevator na década de 90 – acreditam que nanofibras de carbono são um forte concorrente, por serem extremamente leves e 100 vezes mais forte que o aço.

O problema é que ninguém nunca fez uma versão perfeita de um tubo de fibra com mais de um metro de comprimento. Isso é dolorosamente curto: a NASA estima que um elevador espacial teria 230.000 km. Na verdade, a falta de nanofibras disponíveis é uma das razões pelas quais o Google X interrompeu seus planos de criar um elevador espacial.



Pode haver uma outra opção: John Badding, professor de química na Penn State University, acredita que pequenos nanofilamentos de diamante são promissores nessa tarefa. Mas mesmo que estes nanofios sejam ideais, não significa que exista uma empresa para fabricá-lo nas quantidades necessárias para um cabo gigantesco até o espaço.

A menos que esses materiais se tornem comuns o suficiente para serem fabricados em larga escala, ou alguém crie elevadores espaciais com dinheiro próprio, até mesmo os materiais adequados podem ser muito escassos e raros para tirar do papel a ideia de um elevador espacial.
O real motivo para se construir um elevador espacial

Além de todas as dificuldades técnicas de realmente construir um elevador espacial, há a preocupação legítima de que não há pessoas o suficiente para se criar uma máquina dessas – poucos iriam usá-lo, e ele não faria sentido financeiro. Ben Shelaf, engenheiro mecânico e ex-CEO da Spaceward Foundations – que pesquisa elevadores espaciais – desenvolver um elevador lunar está “à procura de uma solução para um problema que não existe”.

Um motivo convincente para justificar este projeto, e para aumentar o interesse das empresas, poderia acelerar a produção industrial dos materiais necessários para se construir um elevador desses. Mas Laine diz que esses projetos malucos valem a pena mesmo que não vinguem.

“A razão mais importante para fazer isso não tem nada a ver com o espaço, e tem tudo a ver com a tecnologia que deriva do processo de construção”, ele me disse. “Desenvolveu-se muita tecnologia incrível ao ir para a Lua. Então aqui estamos nós, uma empresa privada que, para todos os efeitos, é uma fábrica de ideias. Criamos novas ideias, e todas se concentram no conceito de ir à Lua, mas podemos pegar essas ideias e comercializá-las… Dá para ganhar rios de dinheiro e tornar o mundo um lugar melhor”.


“Shoot the Moon”, um documentário sobre a LiftPort, está arrecadando fundos no Kickstarter.

Benjamin Harrison Ahr, diretor do filme Shoot the Moon, não esconde sua admiração pela comunidade de elevadores espaciais. “Este é um grande tipo de ideia descomunal, próxima à ficção científica, e é incrível vê-la inspirar as pessoas. Elas estão dispostas a dedicar uma quantidade enorme de tempo para ajudar no projeto, porque querem que exista um elevador espacial”, ele me disse.

Ele só não me disse se acredita que o projeto possa sair bem-sucedido; seu documentário é mais sobre o processo e a equipe do que sobre a meta em si. Mas há uma razão para isso: há uma chance extremamente grande de a meta não ser alcançada tão cedo.

É fácil se opor à ideia de elevadores espaciais, mas o desejo de construir um deles persiste. Mesmo se o elevador lunar for um fracasso total e a Obayashi atrase seu projeto em 100 anos, elevadores espaciais são uma ideia lógica, e vale prestar atenção nela. Afinal, algumas grandes ideias soam completamente absurdas à primeira vista (como uma lâmpada elétrica, ou como voar). O elevador espacial é uma dessas ideias malucas, mas brilhantes.

“O Elevador Espacial será construído cerca de 50 anos depois que todo mundo parar de rir”, escreveu Arthur C. Clarke. E admiramos quem não está disposto a esperar tanto tempo assim.

http://gizmodo.uol.com.br/elevador-ate-espaco/

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

João Ferreira de Almeida - Biografia

João Ferreira de Almeida (1628-1691), um português que recebeu a sua educação teológica na Holanda, empreendeu a primeira tradução do Novo Testamento para a língua portuguesa, a partir do original grego. Em 1670 a tradução estava concluída e onze anos depois foi publicada. João Ferreira de Almeida faleceu antes de completar a tradução de todo o Antigo Testamento do original hebraico.
No entanto traduziu-o, de Gênesis a Ezequiel, enquanto estava em Java (Indonésia). Em 1819 foi publicada a primeira edição da Bíblia em Português, de Gênesis a Apocalipse, traduzida por João Ferreira de Almeida, sendo as versões revistas e atualizadas, posteriormente, as quais continuam a ser utilizadas pelos cristãos evangélicos de língua portuguesa.
A sua infância e juventude
João Ferreira de Almeida nasceu em 1628, em Torre de Tavares, concelho de Mangualde (Portugal). Filho de pais católicos, mudou-se para a Holanda, passando a residir com um tio e onde aprendeu o latim e se iniciou no estudo das normas da Igreja Católica.
Aos 14 anos, em 1642, aceitou a fé evangélica, na Igreja Reformada Holandesa, impressionado pela leitura de um folheto em espanhol, “Diferencias de la Cristandad”, que tratava das diferenças entre as diversas correntes da crença cristã.
Em 1644, aos 16 anos, João Ferreira de Almeida iniciou uma tradução do espanhol para o português, dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, os quais, copiados a mão, foram rapidamente espalhados pelas diversas comunidades dominadas pelos portugueses. Para este grandioso trabalho, João Ferreira de Almeida também usava como fontes as versões latina, de Beza, francesa e italiana, todas elas traduzidas diretamente do grego e do hebraico. No ano de 1645, a tradução de todo Novo Testamento foi concluída; mas apenas seria editada em 1681, em Amsterdã.
Em 1648, relata J. L. Swellengrebel, um holandês que teve acesso às Atas do Presbitério da Igreja Reformada da Batávia e às Atas da Companhia Holandesa das Índias Orientais, João Ferreira de Almeida já desempenhava as funções de capelão visitante de doentes, em Malaca, Malásia, “percorrendo diariamente os hospitais e casas de doentes, animando e consolando a todos com as suas orações e exortações”.
Em Janeiro de 1649, foi escolhido como diácono e membro do presbitério. Nessa função tinha a responsabilidade de administrar o fundo social, que prestava assistência aos pobres. Durante os dois anos em que desenvolveu essa função, continuou a sua obra de tradução e, após a tradução do Novo Testamento, dedicou-se e traduziu o Catecismo de Heidelberg e o Livro da Liturgia da Igreja Reformada. As primeiras edições dessas obras foram publicadas em 1656 e posteriormente em 1673.
Em março de 1651, foi para a Batávia, para a cidade de Djacarta, ainda como capelão visitante de doentes, mas simultaneamente, desenvolvia os seus estudos de Teologia e revisava o Novo Testamento.
Em 17 de março de 1651, foi examinado publicamente, sendo considerado candidato a ministro. Depois de ser examinado, pregou com eloquência sobre Romanos 10:4. Desenvolveu também um ministério importantíssimo entre os pastores holandeses ensinando-lhes o português, uma vez que ministravam nas igrejas portuguesas das Índias Orientais Neerlandesas. Em setembro de 1655, João Ferreira de Almeida o exame final, quando prega sobre Tito 2.11-12, mas só recebeu a sua confirmação em 22 de agosto de 1656. Neste mesmo ano, quase um mês depois, em 18 de setembro, é enviado como ministro para o Ceilão, hoje Sri Lanka.
Perseguição, Inquisição e Obstáculos à Publicação da Tradução
Em 1657, João Ferreira de Almeida encontrava-se em Galle, no sul do Ceilão. Durante o seu ministério em Galle, assumiu uma posição tão firme contra o que ele chamava de “superstições papistas”, que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo da Batávia.
Durante a sua estadia em Galle é que, provavelmente, conheceu e se casou com Lucretia Valcoa e Lemmes, ou Lucrécia de Lamos, jovem também vinda do catolicismo romano. O casal completou-se como família tendo dois filhos, um menino e uma menina, dos quais os historiadores não comentam mais nada. No decorrer da viagem de Galle para Colombo, Almeida e a sua esposa foram milagrosamente salvos da investida de um elefante.
A partir de 1658, e durante três anos, Almeida desenvolveu o seu ministério na cidade de Colombo e ali de novo enfrenta problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida, estava provavelmente relacionado com as firmes e fortes ideias anti-católicas de João Ferreira de Almeida.
Em 1661, Almeida seguiu, no sul da Índia, onde ministrou o evangelho durante um ano, mas onde também foi perseguido. As Tribos da região negaram-se a ser baptizadas ou ter os seus casamentos abençoados por ele, pelo facto da Inquisição ter ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa.
Em 1676, após ter dedicado vários anos a aprender grego e hebraico e a aperfeiçoar-se na língua holandesa, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do Novo Testamento para a língua portuguesa, passando a batalhar pela publicação do texto, já que para ter o aval do presbitério e o consentimento do Governo da Batávia e da Companhia Holandesa das Índias Orientais, o seu texto deveria passar pelo crivo dos revisores indicados pelo presbitério.
Em 1680, quatro anos depois do início da revisão, desiludido com a morosidade da publicação, envia o seu manuscrito, para ser publicado na Holanda por conta própria. O seu desejo é que a Palavra de Deus seja conhecida pelo povo de língua portuguesa. Mas, o presbitério percebeu a situação e conseguiu sustar o processo, interrompendo a impressão.
Depois de alguns meses, quando João Ferreira de Almeida já estava prestes a desistir da publicação, recebeu cartas vindas da Holanda, informando que o texto tinha sido revisto e que estava a ser impresso. Em 1681, foi publicada a primeira edição do Novo Testamento de Almeida e, no ano seguinte, em 1682, chegou à Batávia. Quando começou a ser manuseada foram percebidos vários erros de tradução e revisão. Tal facto foi comunicado à Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído foram destruídos, por ordem da Companhia Holandesa das Índias Orientais. As autoridades holandesas determinaram também que se fizesse o mesmo com os exemplares que já estavam na Batávia.
Mas, ao mesmo tempo, providenciaram para que se começasse, o mais rapidamente possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto. Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares foram destruídos, e correções foram feitas a mão com o objectivo de que cada comunidade pudesse fazer uso desse material. Um desses exemplares foi preservado e encontra-se no Museu Britânico em Londres. O trabalho de revisão e correção do Novo Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de João Ferreira de Almeida, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída.
A Dedicação no Final da Vida
Apesar da sua saúde estar abalada, entregou-se ainda mais à tradução do Antigo Testamento. Um ano depois, em 1683, já havia traduzido o Pentateuco. João Ferreira de Almeida faleceu em Outubro de 1691, deixando a esposa e um casal de filhos.
Nessa altura, tinha traduzido o Antigo Testamento, para a língua portuguesa, até Ezequiel 48.21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus Op Den Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, ela foi impressa na Batávia, em dois volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753.
Datas importantes da tradução de João Ferreira de Almeida da Bíblia
  • 1676 – Conclusão da tradução do Novo Testamento para português;
  • 1681 – Data da publicação, na Holanda do Novo Testamento, em português;
  • 1691 – Morte de João Ferreira de Almeida. Tinha traduzido até Ezequiel 48:21;
  • 1753 – Publicação da Bíblia, na tradução de João Ferreira de Almeida, em três volumes;
  • 1819 – Primeira impressão da Bíblia completa em português, em um único volume. Tradução de João Ferreira de Almeida. Publicada em Londres;
  • 1898 – 1ª Revisão da tradução de João Ferreira de Almeida, que recebeu o nome de «Revista e Corrigida»;
  • 1932 – Versão de Matos Soares, elaborada em Portugal;
  • 1956 – Publicação da versão “Revista e Atualizada”, pela Sociedade Bíblica do Brasil;
  • 1968 – Publicação da versão dos padres Capuchinhos;
  • 1993 – 2ª Edição da versão Revista e Atualizada;
  • 1995 – 2ª Edição da versão Revista e Corrigida.

Fonte: verdadeviva.net

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

História do Dia do Professor


O Dia do Professor é comemorado no Brasil em 15 de outubro, dia consagrado pela igreja católica à educadora Tereza D’Ávila.

Nascida Teresa de Cepeda y Ahumada em 1515 em Gotarrendura, uma cidade na província de Ávila, no Reino de Castela foi canonizada em 1622 como Santa Tereza de Jesus ou Santa Tereza D’Ávila, que reconhecida pela notável inteligência, comparada, em seu tempo, a dos doutores da Igreja foi eleita “Padroeira dos Professores”.
Em função dessa data litúrgica D. Pedro I escolheu esse mesmo dia para baixar em 1827 o Decreto Imperial que criava o Ensino Elementar no Brasil.
Tem-se que no início da década de 30, as primeiras comemorações já aconteciam, mas sem grande repercussão.
Existem relatos, no entanto, que em 1947 ocorreu o primeiro evento dedicado ao Professor, digno de nota.
Em São Paulo no Ginásio Caetano de Campos, conhecido como “Caetaninho”, o professor Salomão Becker e seus colegas Alfredo Gomes, Antônio Pereira e Claudino Busko tiveram a ideia de escolher esse dia para um congraçamento e análise de rumos para o restante do ano.
Nesse mesmo ano formou-se, então, a “Comissão Pró-Oficialização do Dia do Professor”, com intensa atividade de mobilização no Ministério da Educação, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e na Secretaria de Educação.
Em 13 de outubro de 1948, o Projeto foi transformado na Lei estadual nº 174.

A conquista paulista correu o País e quase todos os estados aprovaram leis instituindo o feriado escolar do Dia do Professor em 15 de outubro. A partir daí, iniciou-se o trabalho pelo reconhecimento nacional da homenagem, por meio de decreto federal.

Em um trecho do Memorial enviado ao Ministro da Educação, solicitando a declaração de feriado escolar nacional, o professor Alfredo Gomes argumentou: “Se o professor é o generoso semeador de ideias que permitem o conhecimento da vida e acendem, no espírito, o sagrado fogo da esperança; se ele é quem faz e estimula vontades e caracteres; se é ele fator primacial na formação moral e intelectual das novas gerações, torna-se elementar ato de justiça e reconhecimento, homenagear sua missão pelo muito que representa para a Cultura e para a própria Nacionalidade”.

Assim, a data foi oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963 que assim o definiu: “Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias”.

Dia do Professor em outros países:


Malásia, dia 16 de maio;
Turquia, dia 24 de novembro;
Albânia, 7 de março;
China, dia 10 de setembro;
Ira, dia 2 de maio;
Polônia, dia 14 de outubro;
Rússia, dia 5 de outubro;
Cingapura, dia 1° de setembro;
Coréia do Sul, dia 15 de maio e
Tailândia, dia 16 de janeiro.

Paraguai - 30 de abril;
Estados Unidos - em maio, na primeira terça-feira;
México - 15 de maio;
Índia - 5 de setembro;
Argentina - 11 de setembro;
Uruguai - 22 de setembro;
Taiwan - 28 de setembro;
Chile – 16 de outubro.
Unesco e outros países – 5 de outubro.

Seja qual for a data escolhida, não deixaremos passar em branco esse dia de homenagem, por isso como de praxe eu convido nossos leitores a completarem esse artigo, postando suas impressões sobre o professor ou professores que mais marcaram sua vida escolar.