quarta-feira, 13 de maio de 2020

Prisioneiros Espirituais


“No trigésimo-sétimo ano do cativeiro de Joaquim, rei de Judá, no dia vinte e sete do duodécimo mês, Evil-Merodaque, rei da Babilônia, no ano que começou a reinar, libertou do cárcere a Joaquim, rei de Judá. Falou com ele benignamente e lhe deu o lugar de mais honra do que a dos reis que estavam com ele em Babilônia. Mudou-lhe as vestes do cárcere, e Joaquim passou a comer o pão na sua presença, todos os dias da sua vida. E, da parte do rei, foi dada subsistência vitalícia, uma porção diária, durante os dias de sua vida.”  II Reis 25:27-30

A trajetória do reinado do rei Joaquim, rei de Judá, foi curta, reinou apenas três meses em Jerusalém e foi levado cativo para Babilônia de Nabucodonosor. Ele viveu em um tempo difícil, de grandes tragédias em sua nação e em família, não obstante, ser descendente de reis. Seu pai Jeoaquim foi morto e a nação de Judá, quase toda, foi levada cativa para Babilônia, por Nabucodonosor, que reinou de 605 a.C. a 562 a.C.
A Bíblia relata sobre o início do reinado de Joaquim: 

“Tinha Joaquim dezoito anos de idade quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. Sua mãe se chamava Neusta, e era filha de Elnatã, de Jerusalém. Fez ele o que era mal perante o Senhor, conforme tudo quanto fizera seu pai.” II Reis 24:8,9

Um jovem cheio de sonhos e projetos tem sua vida aprisionada por trinta e sete anos. Quantos jovens estão com suas vidas aprisionadas pelo diabo, pelo pecado, pela prostituição, fornicação, drogas, violências, homossexualismos, perversões generalizadas, que matam os sonhos e destroem os nobres projetos?

Quantos jovens como o rei Joaquim gostaria de desfrutar de sua juventude com alegria, livres, felizes… livres para conquistar, livres para constituir família, mas foram impedidos por um projeto maligno que os mantém aprisionados, ou então são mortos literalmente, em pleno apogeu de sua mocidade?

Quantos pais têm sofrido vendo seus filhos derrotados, presos em vício e práticas nocivas as suas vidas e de suas famílias; consumidos por espíritos de destruição e de morte?
O rei Joaquim foi levado cativo para Babilônia junto com o jovem Daniel, este recebeu um tratamento diferente por parte do rei, podendo trabalhar e servir no palácio. Isso nos traz profundas lições.

Daniel servia ao rei Nabucodonosor, mas não seguia e nem obedecia a suas obras malignas, e por isso Deus o fez prosperar nos melhores postos de governo, na Babilônia. Assim, Daniel pode interceder pelo rei Joaquim que estava aprisionado.

Como princípio espiritual, aprendemos que não obstante, vivermos em uma Babilônia espiritual (mundo) existem jovens aprisionados (Joaquim) e livres (Daniel). Os aprisionados precisam de alguém que tenha compaixão e clame (ao Rei: Deus) por suas libertações.

Deus ouviu as orações de Daniel. No ano 560 a.C. sucedendo a seu pai Nabucodonosor, assume Evil-Merodaque, e por dois anos reina em Babilônia. É assassinado por seu cunhado, Neriglissar, que se apoderou do reino. Não antes de fazer um feito maravilhoso: Libertando da prisão o rei de Judá, Joaquim, com 55 anos de idade, depois de passar 37 anos preso.

A história é bonita porque nos traz profundas revelações espirituais, que diz respeito a nossas vidas e o que Deus é capaz de fazer, mesmo quando estarmos encerrados nas cadeias do pecado.

O rei Joaquim representa simbolicamente todos nós que por causa do pecado fomos aprisionados na Babilônia que é o mundo. Nabucodonosor representa o diabo que mantém cativos milhões de pessoas, levando-as à tristeza, derrotando os sonhos e destruindo os projetos. 

Replicou-lhe Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Todo o que comete pecado é escravo do pecado” João 8:34

Daniel é aquele que não obstante viver em Babilônia, é um jovem livre para servir a Deus e realizar seus projetos. 

“…Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o maligno.” I João 2:14

O rei misericordioso Evil-Merodaque, é um tipo de Cristo que nos traz libertação das cadeias e prisões espirituais e sentimentais. O rei, movido por amor e compaixão, faz pelo rei Joaquim cousas extraordinárias que humanamente são inexplicáveis, por pura graça e misericórdia, que ele não merecia. O rei Evil-Merodaque é um tipo de Cristo, que por compaixão e misericórdia e amor nos faz todo bem que não merecemos. 

“Ele vos deu vida estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,… Mas Deus, sendo ricos em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos; nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvo” Efésios 2:1,4,5

O que o rei Evil-Merodaque fez por Joaquim e o que Deus também faz por nós. II Reis 25:27

Libertou do cárcere.
Todas as cadeias do mundo não resistem à força e o poder de Jesus. “Se pois, o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livre” João 8: 32 “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão de pecados.” Colossenses 1:13,14

Falou com ele benignamente. 
A mente de Joaquim estava congestionada de sofrimentos, de derrotas e fracassos, ele precisava ouvi o quanto era especial e como era amado. “Eu é que sei que pensamentos tenho de vosso respeito, diz o Senhor; pensamento de paz, e não de mal, para vos dar o fim que desejais.” Jeremias 29:11

Deu um lugar de honra maior que a dos reis que estavam com ele.
Deus tem um lugar muito especial para cada um de nós e tem o melhor para nos dar. “…E juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” Efésios 2:6

Mudou-lhe as vestes de prisão.
Vestes de prisioneiro simboliza escravidão, sofrimento, dor, lembranças tristes, pecado. 
“Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. Ele, então me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram as suas vestiduras e as alvejaram no sangue do cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo”. Apocalipse 7:14-16

Passou a comer na mesa do rei todos os dias da sua vida. 
Comer à mesa do rei era considerado uma honra elevada.
“ Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações. Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais, à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.” Lucas 22: 28-30

Recebeu uma pensão vitalícia diária por todos os dias de sua vida.  
“Declarou-lhe, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; o que crê em mim, jamais será sede.” João 6: 35

“ …Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” João 10:10
Que a misericórdia e o amor de Deus, alcance ainda hoje, milhões de prisioneiros espirituais, espalhados na grande Babilônia. Saiba que você tem alguém que clama por sua libertação: Jesus, nosso grande Salvador e intercessor.

“ Se pois, o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livre” João 8: 32

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Deus Irrompe na História...


Foi rompida a comunhão com Deus. O homem deixou de ter vida espiritual; morreu no espírito, não tinha mais comunhão com o Senhor e não podia mais se comunicar com o Deus santo. Também seu corpo sofreu as consequências do pecado: ficou sujeito à enfermidade e também à morte.

Deus não criou a morte. A morte não estava em Seus desígnios, ao criar o mundo. Foi o pecado do homem que causou a morte. A morte veio como resultado do pecado. Para o homem pecador, a morte física é também a morte espiritual e eterna.

O homem foi feito para a imortalidade e nada na criação pode obstruir a vontade divina; pelo contrário, a finalidade da criação, ou seja, as criaturas ajudam a salvação do homem. A árvore da vida presente no paraíso era destinada a conservar indeterminadamente a vida do homem, era o símbolo da imortalidade.

O homem, desanimado, declara-se esmagado pelo peso dos seus pecados e incapaz de escapar a essa situação. O homem se destrói por causa das consequências inevitáveis dos seus pecados.

Deus é santo e não pode estar de acordo com o pecado. Ele precisa julgar o pecado. Todos os homens pecaram e ficaram sob sentença de morte. A justiça de Deus requer que o pecado seja castigado pela morte. O salário do pecado é a morte. Alguém deveria morrer para pagar o preço do pecado. Jesus morreu pelos nossos pecados, pagando o preço em nosso lugar.

Os pecados do homem determinam uma dívida do homem para com a justiça divina, a pena de morte exigida pela Lei. O amor é muito mais exigente que a lei!

Poderia um Deus de amor olhar insensível para o homem em seu estado de morte, indiferente para com o ser que ele mesmo criou, sem tomar nenhuma providência?

Deus deseja que o homem viva, e o pecado é perdoável! Existe a possibilidade de uma conversão. Aos que se arrependem Deus concede o retorno, reconforta os que perderam a esperança.

Deus irrompe na história para salvar, mas por meio da vida renovada de seus filhos. Urge que se tome uma decisão; é o momento das escolhas intrépidas e difíceis. Deus convida cada um a assumir as próprias responsabilidades, a não ter medo de tomar certas iniciativas, de arriscar. A atitude presente da alma é a única coisa a determinar o juízo de Deus. Só as disposições atuais do coração entram em linha de conta diante de Deus.

Devemos pregar o Evangelho, para provocar uma opção decisiva: para a vida ou para a morte, para o verdadeiro sentido da vida ou para uma alienação completa.

Por que adiar o propósito? Levante-se! Comece desde já; agora é o tempo da ação, do combate e da emenda.

Deus guarda com Ele uma fiança em favor do homem; pois, quem, senão Ele, apertará a mão do homem? Ele dá ao homem um penhor, é o fiador para com Ele mesmo; quem mais haverá que se possa comprometer com o homem?

Deus concede a Sua graça a quem quer. Não depende, portanto, daquele que quer, nem daquele que corre, mas de Deus que faz misericórdia. A graça de Deus é concedida àqueles que lhe pedirem. A cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo, que é sem medida.

O Filho de Deus tomou sobre Si o castigo que os homens mereciam.

A cruz não é o instrumento que matou a Jesus; a cruz é o símbolo da vitória; Jesus morreu livremente na cruz, Ele matou a morte, morrendo morte de homem e ressuscitou, vencendo toda condenação da morte. 

O Deus invisível e inatingível se torna visível e acessível em Jesus, o Filho, que se encarnou no mundo e na história. Jesus é, portanto, o verdadeiro Adão! Existindo ante de qualquer criatura, Ele se tornou modelo, cabeça e único mediador do universo criado.

A vida cristã é a passagem contínua de um modo de viver para o outro. A tarefa do cristão é continuamente redescobrir Jesus e apresentá-lo como ideal concreto para a própria geração. Para o crescimento do homem novo, regenerado em Cristo, é necessário determinar o que favorece ou prejudica esse mesmo crescimento; não o de saber o que é permitido e o que é proibido.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Ressurreição, a Morte da Morte!


A morte se faz presente em todos os setores da vida humana: saúde, família, valores morais, bondade, amor ao próximo, honestidade, integridade. O mundo está "morto" em seus delitos e pecados, literalmente. E ainda temos que suportar a própria morte física, que revela o alto grau de destruição do pecado na vida humana. O pecado gera a morte.

Se Cristo não ressuscitou, não temos nada para anunciar, nada para crer ou vazia é a nossa pregação, como vazia também é a nossa fé. Se Cristo não ressuscitou, nós somos todos uns mentirosos porque dissemos que Deus levantou Jesus do túmulo e isto logicamente não é verdade, se os mortos não voltam novamente à vida.  Se Cristo não ressuscitou, somos muitos tolos, se continuamos a confiar que Deus nos salva, pois ainda estamos sob condenação devido aos nossos pecados.  Se Cristo não ressuscitou, coisa horrível, os que morreram crendo em Cristo, morreram e estão perdidos por completo. Se Cristo não ressuscitou, nossa esperança em Cristo só vale para esta vida. Neste caso, somos, sem dúvida, os mais miseráveis de todos os homens.

Mas, a nossa esperança em Cristo é eterna, porque Ele venceu a morte.   Ele foi o primeiro a ressuscitar dos mortos, nós também ressuscitaremos. Todos ressuscitarão, uns para a vida eterna, outros para a morte eterna.

A última bênção é a morte da morte! Isso mesmo! Deus anuncia que a morte está com seus dias contados. Certamente essa bênção nos alcançará no glorioso Dia do Senhor, ou quando o Senhor nos chamar. 

“Onde está, a morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?”.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Venha o Teu Reino!


Segundo as palavras de Nosso Senhor e Salvador, o Reino de Deus não vem ostensivamente, e ninguém dirá: ‘Ei-lo aqui ou acolá’, porque o reino de Deus está dentro de nós, e a sua palavra está junto de nós, na nossa boca e no nosso coração; por isso, sem dúvida alguma, quando alguém implora a vinda do reino de Deus, o que pede realmente é que o reino de Deus, que está dentro de si, se desenvolva, frutifique e chegue à sua plenitude. Efetivamente, Deus reina em todos os seus santos, em todos aqueles que observam as suas leis espirituais; e assim Deus habita neles como numa cidade bem governada. Na alma perfeita está presente o Pai e, juntamente com o Pai, reina Cristo, segundo aquela palavra: Viremos a ele e nele estabeleceremos a nossa morada. 

O Reino de Deus, que está em nós, chegará à sua plenitude, através do nosso aperfeiçoamento contínuo, quando se verificar o que afirma o Apóstolo, isto é, quando Cristo, depois de ter submetido todos os seus inimigos, entregar o reino a Deus seu Pai, para que Deus seja tudo em todos. Por isso, orando incessantemente com aquele afeto de alma que pelo Verbo se tornou divino, digamos ao nosso Pai que está nos Céus: Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. 

A respeito do Reino de Deus devemos ter isto presente: assim como não pode haver consórcio da justiça com a iniquidade, nem união da luz com as trevas, nem acordo de Cristo com Belial, também o reino de Deus não pode associar-se com o reino do pecado. 

Por isso, se queremos que Deus reine em nós, de nenhum modo reine o pecado em nosso corpo mortal; mortifiquemos os nossos membros terrenos e demos frutos pelo Espírito, para que Deus habite em nós como num paraíso espiritual e só Ele reine em nós com Cristo; tenha Cristo em nós o seu trono, onde Se sente à direita daquele poder espiritual que também nós esperamos receber, e conosco permaneça, até que todos os seus inimigos que há em nós se prostrem como escabelo de seus pés e desapareça de nós todo o principado, potestade e virtude (que não sejam os seus). 

Tudo isto pode realizar-se em cada um de nós, onde o último inimigo a ser destruído será a morte. Então Cristo poderá dizer também em nós: Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, inferno, a tua vitória? 

Que desde agora, portanto, este nosso corpo corruptível se revista de santidade e incorrupção, e este nosso corpo mortal expulse a morte e se revista da imortalidade do Pai, para que assim, reinando Deus em nós, comecemos já a gozar os bens da regeneração e da ressurreição. Do Opúsculo de Orígenes, presbítero, sobre a oração (Cap. 25: PG 11, 495-499) (Sec. III)

segunda-feira, 6 de abril de 2020

O Pavimento de Safiras no Céu


Eles viram o Deus de Israel. Sob os seus pés havia como um pavimento de safiras transparentes, tão límpido como o próprio céu. Êx. 24,10

Sim, tiveram uma bela visão do Deus de Israel. Deus estava pisando num pavimento de pedras de safira. Parecia o céu num dia claro!

Após a ministração das leis que deveriam reger Israel, o Senhor Deus disse a Moisés que chamasse Arão, Nadabe, Abiú e setenta autoridades de Israel para adorar à distância do monte. Setenta e cinco homens foram convidados a subir o Monte Sinai para adorarem ao Senhor.

Estavam ali Moisés, o profeta, e seu ministro Josué. Arão e seus filhos subiram como representantes do futuro sacerdócio Levítico. Os setenta anciãos sem dúvida representavam a nação de Israel que teve o seu início com setenta almas. Eram os representantes do povo para testemunhar à nação a natureza da aliança. Eram homens de mais idade, chefes de famílias, respeitados como líderes e que gozavam de prestígio entre os israelitas. Eram representantes de toda a congregação, foram escolhidos para testemunhar a manifestação de Deus, para que se satisfizessem com a verdade da revelação que Ele havia feito de Si e de Sua vontade; e nessa ocasião era necessário que o povo também fosse favorecido com uma visão da glória de Deus. Assim, a certeza da revelação foi estabelecida por muitas testemunhas. O número setenta é citado pela primeira vez e faz referência à quantidade de líderes capazes mencionados na conversa de Moisés e Jetro.

O comando dado a todos, exceto a Moisés, foi inclinai-vos de longe. Nesta passagem, inclinai-vos significa literalmente curvar-se para a terra, num gesto de adoração a Deus. Só podiam aproximar-se dele de acordo com Suas ordenanças. Por causa de Sua maravilhosa graça, o profeta foi chamado para se achegar a Ele.

O comando “sobe a mim”, demonstra que apenas Moisés pôde chegar perto de Deus naquela hora. Somente Moisés é admitido na presença imediata de Deus, como mediador da aliança. Arão e seus filhos, Nadabe e Abiú, com mais setenta anciãos, tiveram permissão para permanecerem apenas ao pé do monte. Hoje, todos nós somos chamados a ter uma viva comunhão com Ele por intermédio de Jesus.

 A posterior morte de Nadabe e Abiú foi trágica, considerando o seu grande privilégio diante do Altíssimo, registra que, pouco mais tarde, Arão se entregou ao pedido impulsivo do povo por um bezerro de ouro e que Nadabe e Abiú foram mortos por oferecer “fogo estranho”. Uma experiência religiosa tida num dia não é proteção para o dia seguinte.

Surge com detalhes uma cerimônia de sacrifício para a aliança, em que o essencial é o rito do sangue aspergido sobre o altar (símbolo de Deus) e sobre o povo. O sangue é sinal de vida. Portanto, entre Deus e Israel existem uma aliança, uma comunhão de vida, uma nova relação de intimidade e de amor.

As partes envolvidas em uma aliança normalmente faziam uma refeição fraternal. Comer e beber era importantes elementos rituais envolvidos na realização de alianças. Refeições semelhantes a essa para selar uma aliança são registradas em outras passagens da Bíblia. No entanto havia ali uma reunião e um momento de comunhão e entrosamento no qual Deus permitiu a todos participarem de sua presença e ainda se alimentarem e beberem. Quem preparou a comida? O que beberam e comeram?

É algo muito profundo isso. Moisés, Arão e seus dois filhos e mais setenta do povo que certamente representariam os setenta de Jacó que partiram para o Egito dando início a nação de Israel. Era Deus ali renovando a memória deles e mostrando que Ele era fiel à Sua aliança e queria com eles estabelecer relacionamentos.

A cerimônia tem início com Moisés lendo ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos. Toda e qualquer aliança envolvia a leitura e a aceitação pública de seus termos. Por isso o povo promete: “Tudo o que falou o Senhor faremos”. Era necessário que o povo não apenas soubesse o que o Senhor lhe impunha por meio da aliança que estava para ser estabelecida e o que Ele lhe prometia, mas também declarasse sua disposição para cumprir o que lhe era imposto. Preliminarmente, uma leitura pública da lei e a renovação da aceitação dos termos pelo povo.

Não é à toa que o nome do livro que Moisés menciona é o Livro da Aliança. O tema da aliança é sempre recorrente em toda a Bíblia, desde Gênesis à Apocalipse. Afinal de contas a semente que se está esperando é o Príncipe da Aliança.

Os Dez Mandamentos foram escritos em cada uma das tábuas de pedra e dispostas perante o único Deus vivo. O objetivo de Deus ao fornecê-las a Moisés era instruir o povo e confirmar a aliança que havia acabado de fazer.

Em seguida, Moisés ergue um altar com doze colunas, que representam as doze tribos de Israel, ou seja, a congregação. As colunas são testemunhas simbólicas e também um memorial da aliança ali celebrada.

São sinais para as doze tribos, que se empenharão em renovar e viver a aliança. O altar representa a presença do Senhor no meio de seu povo.

Ofertas de paz eram sacrifícios em que uma parte do animal era queimada, e o resto era comido pelo sacerdote e pelas pessoas que o estavam oferecendo. Serviam para fortalecer a comunhão. Como não havia ainda o sacerdócio Levítico, Moisés enviou alguns homens para oferecer sacrifícios ao Senhor. Não eram primogênitos nem sacerdotes araônicos, mas homens escolhidos por Moisés para esse ato em particular, talvez os membros mais fortes e mais ativos da comunidade. É significativo que não se fale em oferta pelos pecados. Era um povo redimido, que agora, por meio desses sacrifícios de dedicação e comunhão, estava se empenhando e penetrando em uma comunhão íntima e entrelaçada com seu Redentor.

Moisés tomou metade do sangue (rituais de sangue são comuns à maioria das alianças) e o pôs em bacias, e aspergiu sobre o povo nas doze colunas, representando o povo, e o ato foi acompanhado por uma proclamação pública de sua importância. Estava fixando o selo deles à aliança. Apesar da estrita proibição de erigir colunas para adoração, estas colunas não deveriam ser adoradas, mas servir como representantes das diferentes tribos, e a outra metade aspergiu sobre o altar. Era o sinal de ratificação solene, metade sobre cada parte na transação. Metade do sangue era atribuída ao povo e metade a Deus: o sangue aspergido sobre o altar simbolicamente ligava Deus aos termos da aliança, e o aspergido sobre o povo ligava este último da mesma forma. Essa dupla separação do sangue tinha conexão com as duas partes envolvidas na aliança (Deus-povo), levando-as a uma unidade. A aliança foi formalmente confirmada quando o sangue foi aspergido sobre a nação de Israel. (Este ato foi usado para provar a necessidade do sangue de Jesus na dedicação da Nova Aliança).

Moisés cuidadosamente repetiu todas as palavras da aliança para Israel. A leitura tornou solene o acordo verbal até então existente.

Mais uma vez, podemos ver que a Lei de Deus estava sendo escrita durante a peregrinação por Moisés. O povo concordou com as três formas de lei que compunham a aliança, que foi realmente confirmada.

Jesus proclamou o cumprimento desse simbolismo por ocasião da Última Ceia, quando ofereceu o cálice: “Isto é o Meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”.

Deve ter sido uma cena profundamente impressionante e instrutiva, pois ensinou aos israelitas que a aliança foi feita com eles apenas por meio da aspersão de sangue – que a aceitação divina de si mesmos e dos serviços era somente em virtude de um sacrifício expiatório. e que até mesmo as bênçãos da aliança nacional foram prometidas e asseguradas a elas somente pela graça. De forma passageira, a atitude de Moisés confirmou a aliança de Deus com Seu povo e selou o perdão de seus pecados. Mas Jesus fez isso de maneira superior e definitiva.

Ali estava sendo renovada com acréscimos de novos detalhes a aliança de Deus com o homem que começou com Adão e Eva com os mandatos cultural, social e espiritual. Este não é outro, senão o Deus da aliança, que não muda, nem jamais mudará e que se revela, sempre se revelou e ainda se revelará ainda mais. Em cada aliança, algo novo completando sua revelação e aspectos de seu relacionamento com um povo santo que Ele está levantando e cuidando e guardando para Seus eternos propósitos.

A refeição festiva da aliança provavelmente incluía a carne dos sacrifícios pacíficos, o pão e o vinho. Esta era uma grande celebração da presença do Deus vivo. Ao comerem o banquete de sacrifício, a presença do Senhor lhes foi manifestada com especial distinção. No ato de adoração solene, eles perceberam que Ele estava presente com eles, como seu Senhor e seu Libertador. Esta festa teve um suporte profético, insinuando a morada de Deus com os homens. Constituía também um relance profético da Ceia do Senhor Jesus com Seus discípulos, na qual Ele transformou os antigos símbolos de libertação do Egito (pão e vinho) em novas representações de Sua iminente morte e ressurreição. Todos viram a Deus e comeram e beberam.

A respeito da festa no Monte Sinai, viram o reflexo da Sua glória. Eles não viram a glória Dele ou mesmo um símbolo da Sua presença. É inútil especular sobre o modo dessa revelação.

Deus aparecendo e se fazendo visível, falando, “comendo, bebendo”, um livro sendo escrito e registrado, testemunhas como Moisés e os setenta e três, anjos, fumaças e nuvens e fogo, luz azul, a glória do Senhor e altares sendo levantados, sacrifícios sendo feitos para se obter o sangue que seria usado para aspergir, um mediador, o  povo, tudo isso para uma finalidade: o estabelecimento de uma aliança!

Debaixo de seus pés havia um pavimento que parecia como o céu na sua claridade. Era como uma obra de pedra de safira brilhante e como o próprio céu em clareza. A menção de seus pés e de sua mão indica que eles avistaram uma manifestação do Senhor em um tipo de forma humana. A descrição se concentra exclusivamente sobre os pés do Senhor, uma indicação do caráter parcial da manifestação divina. Talvez esta fosse a aparência de Jesus antes de Sua encarnação. A falta de detalhes nos lembra que qualquer tentativa de descrever a glória divina é, de certa forma, insuficiente. Eles viram uma manifestação visível do Senhor, mas não a plenitude de Sua glória e poder. Mais tarde, Moisés foi privilegiado por ver a “bondade” e as “costas” de Deus, embora o caráter limitado da manifestação tenha sido enfatizado. Fica claro que Deus não é uma força impessoal, mas uma pessoa real. Não havia nenhuma forma visível ou representação da natureza divina, mas um símbolo ou emblema de Sua glória foi claramente, e à distância, exibido diante das testemunhas escolhidas. Muitos pensam, no entanto, que nesta cena particular foi revelada, em meio ao brilho luminoso, a forma vagamente embotada da humanidade de Cristo. Viram uma obra pavimentada de uma pedra de safira, um trabalho de safira. Pisos mais incrivelmente incrustados com pedras de várias cores ou pequenos azulejos quadrados, dispostos em uma grande variedade de formas ornamentais. Os romanos gostavam particularmente deles, e deixaram monumentos de seu gosto e engenhosidade em calçadas desse tipo, na maioria dos países onde estabeleceram seu domínio. Algumas amostras muito finas são encontradas em diferentes partes da Grã-Bretanha. Muitos destes permanecem em diferentes países até os dias atuais.

Quão glorioso deve ser um pavimento, constituído por pedras polidas desse tipo, perfeitamente transparentes, com uma refulgência de esplendor celestial derramada sobre eles!

O vermelho, o azul, o verde e o amarelo, organizados pela sabedoria de Deus, nas mais belas representações emblemáticas, e todo o corpo do céu em sua claridade brilhando sobre elas deve ter feito uma aparição gloriosa.

Como a glória divina apareceu acima do monte, é razoável supor que os israelitas viram o pavimento de safira sobre suas cabeças, pois poderia ter ocupado um espaço na atmosfera igual em extensão à base da montanha; e sendo transparente, o brilho intenso que brilha sobre ele deve ter aumentado bastante o efeito.

É necessário ainda observar que tudo isso deve ter sido apenas uma aparência, desconectada de qualquer semelhança pessoal. Em nenhuma dessas aparências havia semelhança com qualquer coisa no céu, na terra ou no mar. E embora os pés sejam mencionados, isso só pode ser entendido da base de safira ou calçada, na qual apareceu essa glória celestial e indescritível do Senhor. Há uma descrição semelhante da glória do Senhor no livro de Apocalipse 4: 3: “E aquele que estava sentado [no trono] devia parecer um jaspe e uma pedra de sardônio; e havia um arco-íris em volta do trono, à vista como uma esmeralda.”  

Assim, Deus teve o cuidado de preservá-los de todos os incentivos à idolatria, enquanto Ele lhes deu todas as provas de Seu ser. Eles viram o Deus de Israel, tiveram um vislumbre de Sua glória, em luz e fogo, embora não tivessem nenhuma maneira de semelhança.

Eles viram o lugar onde estava o Deus de Israel, algo que se aproximava da semelhança, mas não era; o que quer que eles vissem era certamente algo do qual nenhuma imagem ou figura poderia ser feita, e ainda o suficiente para satisfazê-los de que Deus estava com eles em verdade.

Moisés fala de algo que parecia um piso sobre o qual Deus estava, de cor azulada, próxima à da safira. Nada mais é descrito, exceto o que estava sob Seus pés, pois nossas concepções de Deus estão todas abaixo Dele. Eles não viam tanto como os pés de Deus, mas no fundo do brilho que viam, uma calçada mais rica e esplêndida do que antes de safiras, azuis ou cor do céu.

Os próprios céus são a calçada do palácio de Deus, e Seu trono está acima do firmamento. Esta é uma das poucas ocasiões em que humanos viram a Deus. O céu na sua claridade, geraram nesses homens fé duradoura e obediência a Deus. O fato de Deus não ter estendido a sua mão sobre eles talvez signifique que não viram o seu poder ali.

A safira, uma das mais valiosas e lustrosas das pedras preciosas, de cor azul celeste ou azul claro é frequentemente escolhida para descrever o trono de Deus. O azul puro do céu acima deles emprestou sua influência para ajudar o sentido interior a realizar a visão que nenhum olho mortal podia contemplar. É uma pedra preciosa de uma fina cor azul, a seguir em dureza ao diamante. O rubi é considerado pela maioria dos mineralogistas do mesmo gênero; o mesmo acontece com o topázio.

Portanto, não podemos dizer que a safira é apenas de cor azul; é azul, vermelho ou amarelo, como pode ser chamado de safira, rubi ou topázio; e alguns deles são azuis ou verdes, de acordo com a luz em que são mantidos; e um pouco de branco.

Que capítulo gostoso de se ler e difícil, porque não estamos acostumados com tanta teofania envolvendo não somente Moisés com quem Deus falava face a face, mas outros como Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel. Obviamente que não viram Deus numa revelação total porque nem Moisés que falava face a face com Deus teve essa oportunidade, antes somente o viu pelas costas.

Não fique com inveja deles que viram a Deus e comeram e beberam. Hoje, graças ao Senhor da Aliança, o Mediador supremo, o Sumo Sacerdote da Lei, o Rei e o Profeta, Jesus, temos seu Espírito Santo que faz no cristão, sua habitação e morada! Eles deveriam olhar para o futuro e desejar este dia que vivemos, assim como nós olhamos para o passado e o invejamos em nossa ignorância.

sábado, 4 de abril de 2020

Nível de Intimidade com Deus


Em Êxodo, existe uma história interessante sobre níveis de intimidade com Deus. Através do líder, Moisés, Deus manda uma mensagem ao povo de Israel, para que se aproximem dEle, afim de serem instruídos.
A Bíblia diz que Deus manifestou-se ao povo através de um espetáculo de trovões e relâmpagos, toques de trombeta e fumaça que saía do monte!  Imaginemos nós naquele lugar! Sentiríamos o mesmo que aquele povo sentiu:
“Os israelitas disseram a Moisés: "É melhor você falar conosco. Nós o ouviremos. É melhor Deus não falar diretamente conosco, porque, se não, morreremos!” (Ex. 20:19). Que medo esse povo sentiu!
Um pouco mais à frente, nós vemos outro grupo de pessoas num encontro nível mais elevado de intimidade com Deus. Deus convida Moisés e alguns outros líderes do povo, para subirem o monte. Ah! Que visão linda de Deus essas pessoas tiveram!
Ao saírem da zona de medo e pavor no pé do monte:
“Tiveram uma bela visão do Deus de Israel. Deus estava pisando num pavimento de pedras de safira. Parecia o céu num dia claro” (Êx.24:10). 
Ah, que vontade de ter uma visão como essa! Você não sente isso? E eles ainda comeram e beberam diante dessa visão gloriosa de Deus!
Mas existe algo ainda mais especial! Existe algo além dos trovões, dos relâmpagos, da fumaça, do medo, e do pavor ... Existe algo mais além de uma bela visão e de uma refeição contemplativa! 
“Disse Deus a Moisés: Venha ao topo do monte, e fique aqui.” (Êx. 24:12). Percebe a diferença? Já está compreendendo a mensagem amorosa de Deus?
 Ao pé do monte, enxergamos um Deus poderoso, vibrante, glorioso, que nos assusta, devido à pouca intimidade, e exatamente por isso, Ele não permite que nos aproximemos ...
Um pouco mais acima, num outro nível de intimidade, já não temos medo, mas contemplamos uma visão maravilhosa, linda e extasiante de Deus, e até comemos na presença dEle!
Mas ainda há algo mais especial que esses dois níveis, pois é no topo do monte que há um contato mais íntimo.
A Bíblia diz que quando Moisés começou a subir o monte, uma nuvem cobriu tudo, e ninguém mais viu nada. Moisés ficou ali seis dias, até que no sétimo dia, recebeu o mais glorioso convite: o Senhor chamou Moisés para falar-lhe face a face! 
Como está sua intimidade com Deus?
“Para o povo de Israel, que olhava de longe, a aparência da glória do Senhor era tremenda. Era como um fogo consumidor, no alto do monte!” (Êx. 24:17).
Mas para Moisés a presença de Deus era tão maravilhosa e sublime, que ele ficou ali por 40 dias e noites! 
Busque mais intimidade! Deseje mais de Deus! Pare de amar o mundo, e contemplar Deus de longe; também não se contente em apenas ter uma visão gloriosa, e comer na presença do Glorioso!
Mas deseje falar e ouvir Deus face a face. Talvez isso não aconteça de hoje para amanhã. Talvez demande um tempo maior, mas valerá a pena! Não tenha pressa na presença de Deus! Moisés esperou por seis dias... Persevere! Foque no propósito!
Portanto, vamos ousadamente até o próprio trono de Deus, e permaneçamos lá, para recebermos a sua misericórdia e acharmos a sua graça para nos ajudar em nossos tempos de necessidade.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Fique em Casa!


“Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração.” (Salmos 90:1) 

Moisés foi o autor inspirado de três composições devocionais. Nós primeiramente o encontramos como Moisés, o poeta, cantando a canção que é apropriadamente unida àquela de Jesus, em Apocalipse, onde está escrito: “o cântico de Moisés... e o cântico do Cordeiro” [Apocalipse 15:3]. Ele foi um poeta na ocasião em que Faraó e seus exércitos foram lançados no Mar Vermelho, “Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho” [Êxodo 15:4]. 

Posteriormente em sua vida, o encontramos no caráter de um pregador; e, então, sua doutrina foi destilada como o orvalho, e seu discurso derramado como a chuva nesses capítulos que estão cheios de imagens gloriosa e ricas em poesia, os quais você encontrará no livro de Deuteronômio. E agora nos Salmos, o encontramos o autor de uma oração! “Uma oração de Moisés, o homem de Deus”. Feliz combinação do poeta, do pregador, e do homem de oração! Onde tais três coisas são encontradas juntas, o homem torna-se um verdadeiro gigante, muito acima de seus companheiros. Muitas vezes acontece que o homem que prega é pouco hábil para a poesia, e o homem que é poeta não seria capaz de pregar e proferir seus poemas diante de assembleias imensas, mas conseguiria apenas escrevê-los para si mesmo. É uma rara combinação quando a verdadeira devoção e espírito de poesia e eloquência encontram-se no mesmo homem. Você verá neste Salmo uma maravilhosa profundidade de espiritualidade; você notará como o poeta subsidia o homem de Deus, e quão perdido em si mesmo, ele canta sobre a sua própria fragilidade, declarou a glória de Deus, e pede para que ele tenha a bênção de seu Pai celestial sempre repousando sobre a sua cabeça. Este primeiro verso derivará peculiar interesse, se você lembrar o lugar onde Moisés esteve quando ele orou assim. Ele estava no deserto; não em alguma das salas de Faraó, nem ainda em uma habitação na terra de Gósen; mas em um deserto. E, talvez, a partir do cume do monte, olhando para as tribos de Israel enquanto elas levantavam as suas tendas e marchavam, ele pensou: “Ah, pobres viajantes. Eles raramente descansam em qualquer lugar; eles não têm qualquer habitação estabelecida onde possam habitar. Aqui eles não têm nenhuma cidade permanente”. Mas ele levantou os olhos acima, e ele disse: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração”.

Olhando para trás, ao longo da história, ele viu um grande templo onde o povo de Deus havia habitado, e com seu olhar profético movendo-se com santo frenesi, ele podia ver através de todo o futuro, que os especialmente escolhidos de Deus seriam capazes de cantar: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração”. Tomando este verso como o tema de nossa pregação nesta manhã, vamos, em primeiro lugar, explicá-lo; e, em seguida, nós tentaremos e faremos o que os antigos Puritanos chamavam de “aperfeiçoá-lo”, pelo que eles não queriam dizer melhorar o texto, mas aperfeiçoar um pouco as pessoas pela consideração do versículo.

I. Primeiramente, tentaremos explicá-lo um pouco. Aqui está uma habitação: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio”; e, em segundo lugar, se é que posso usar uma palavra tão comum, aqui está o arrendamento da mesma: “Tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração”. Primeiro, então, aqui está uma habitação: “Senhor, tu que tens sido a nossa habitação”. O poderoso Jeová, que preenche toda a imensidão, o Eterno, o Grande Eu Sou, não Se recusa a permitir figuras a respeito a Si mesmo embora Ele seja tão elevado, de forma que o olho de anjo não O tem visto; embora Ele seja tão sublime, que a asa do querubim não O alcançou, embora Ele seja tão grandioso, que a extensão máxima das viagens dos espíritos imortais nunca descobriram o limite dEle mesmo; ainda assim, Ele não se opõe a que Seu povo fale sobre Ele assim, familiarmente, e diga: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio”. Nós entenderemos melhor essa figura contrastando o pensamento, com a condição de Israel no deserto; e, em segundo lugar, fazendo menção de algumas coisas em forma de comparação, que são peculiares à nossa casa, e as quais nunca poderíamos desfrutar, se não fôssemos os possuidores de nossa própria habitação. Em primeiro lugar, contrastemos este pensamento: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio”, com a posição peculiar dos Israelitas enquanto eles estavam peregrinando pelo deserto. Nós observamos, em primeiro lugar, que eles deveriam estar numa condição de grande inquietação. Ao cair da noite, ou quando a nuvem parava, as tendas eram armadas, e eles se deitavam para descansar. Talvez no outro dia, antes que sol da manhã levantasse, a trombeta soava, eles se agitavam a partir de suas camas e encontravam que a arca estava em movimento, e a coluna de fogo estava liderando o caminho através dos estreitos desfiladeiros da montanha até à encosta, ou ao longo do solo árido do deserto.

Eles tinham pouco tempo para organizar sua pequena propriedade em suas tendas e fazer todas as coisas confortáveis para si, antes de ouvirem o som de “Levantem-se! Levantem-se! Levante-se! Aqui não é lugar de descanso! Vocês ainda devem prosseguir caminhando para Canaã!”. Eles não podiam plantar um pedacinho de chão ao redor de suas tendas, eles não podiam colocar a casa em ordem e organizar seus móveis, eles não podiam se apegar ao pedaço de terra. Apesar de que exatamente agora o seu pai fora enterrado em um lugar onde uma tenda havia permanecido por um tempo, ainda assim, eles deviam ser desapegados. Eles não deveriam ter qualquer apego ao lugar, eles não devem ter tido nada do que chamamos de conforto, facilidade e paz; mas estavam sempre peregrinando, sempre viajando. Além disso, tão expostos eles eram, que nunca poderiam estar muito cômodos em suas tendas. Ao mesmo tempo, a areia, com a quente tempestade de areia por trás deles, poderia adentrar nas tendas e cobri-los aponto de enterrá-los. Em muitas ocasiões o sol quente poderia queimá-los, e suas lonas malmente poderiam servir de proteção; em outro momento o cortante vento norte poderia congelar ao redor deles, de modo que dentro de suas tendas, eles sentavam-se trementes e encolhidos, em torno das fogueiras. Eles tinham pouca facilidade; mas contemple o contraste que Moisés, homem de Deus, discerne com gratidão: “Tu não és a nossa tenda, mas Tu és o nosso refúgio. Embora estejamos desconfortáveis aqui, embora nós sejamos atirados de um lado para outro, pelos problemas, embora viajemos por um deserto, e achemos que é um caminho difícil, embora quando nos sentamos aqui, não sabemos o que significa conforto, ó, Senhor, em Ti nós possuímos todo o conforto que uma casa pode oferecer, temos tudo o que uma mansão ou palácio pode dar ao príncipe, que pode descansar à vontade em seu leito, e repousar na sua cama. Senhor, Tu és a nós o conforto, Tu és uma casa e habitação”. Alguma vez você já soube o que é ter Deus por sua habitação, no sentido de conforto? Soube o que é, quando você tem tempestades atrás de você, sentir-se como um pássaro marítimo, levado para a terra pela própria tempestade? Você já soube o que é, quando você foi enjaulado por vezes pela adversidade, ter a corda rompida pela graça Divina, e como o pombo que voa imediatamente para seu próprio pombal, você já acelerou seu caminho através do éter, e encontrou-se em Deus?

Você sabe o que é, quando você é atirado sobre as ondas, mergulhar nas profundezas da Divindade, regozijando-se de que ali nenhuma onda de problemas agita o seu espírito, mas que você está serenamente em casa com o seu próprio Deus Pai Todo-Poderoso? Você pode, em meio a toda a inquietação desta viagem pelo deserto, encontrar um conforto ali? O seio de Jesus é um doce travesseiro para sua cabeça? Você pode, assim, repousar no seio da Divindade? Você pode lançar-se no fluxo da Providência e flutuar sem luta, enquanto os anjos cantam ao seu redor, divinamente guiado, divinamente conduzido: “Estamos carregando-te ao longo do córrego da Providência para o oceano da bem-aventurança eterna”. Você sabe o que é repousar sobre Deus, desistir de todos os cuidados, lançar a ansiedade para longe, e para ali; não em uma imprudência de espírito, mas em um descuido santo, não preocupar-se com nada, “não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” [Filipenses 4:6]. Caso sim, você compreendeu a primeira ideia; “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração”. Novamente, os Israelitas estavam muito expostos a todos os tipos de criaturas nocivas, devido ao seu residir em tendas, e aos seus hábitos da vida nômade. Uma vez, a serpente de bronze foi o seu inimigo. À noite, as feras rondavam em torno deles. A menos que a coluna de fogo fosse uma muralha de fogo em torno deles e glória em meio a eles, poderiam todos ter caído como presas de bestas selvagens que percorriam os desertos. Inimigos piores eles encontraram na espécie humana. Os Amalequitas corriam das montanhas; selvagens hordas errantes que constantemente os atacavam. Eles nunca se sentiam seguros, pois eram peregrinos em meio a um país inimigo. Eles estavam atravessando uma terra onde eles não eram queridos, para outra terra que resistiria a eles quando chegassem. Assim é o Cristão. Ele está peregrinando pela terra de um inimigo; todos os dias ele está exposto ao perigo. Sua tenda pode ser derrubada pela morte; o caluniador está atrás dele, o adversário aberto está diante dele; a fera selvagem que anda de noite, e a peste que assola de dia, buscam continuamente a sua destruição; ele não encontra descanso onde ele está; ele se sente exposto. Mas, diz Moisés: “Apesar de vivermos em uma tenda exposta às feras e homens selvagens, contudo Tu és a nossa habitação. Em Ti encontramos abrigo. Dentro de Ti estamos seguros, e em Tua gloriosa pessoa vivemos como em uma inexpugnável torre de defesa, a salvo de todo medo e espanto, sabendo que estamos seguros”.

Oh! Cristão, tu tens conhecido o que é ficar em meio a batalhas, com numerosas flechas voando em torno de ti, mais do que o teu escudo pode conter; e tu ainda tens estado tão seguro como se cruzasses os teus braços e descansasses no interior das paredes de algum forte bastião, onde a seta não poderia alcançar-te, e até onde o som da trombeta não poderia perturbar os teus ouvidos? Tu tens conhecido o que é habitar com segurança em Deus, achegar-se ao Altíssimo, e rir-se do escárnio, da raiva, das carrancas, da zombaria, do desprezo, da difamação e da calúnia dos homens; subir ao lugar sagrado do pavilhão do Altíssimo, e habitar sob a sombra do Onipotente, e sentir-se seguro? E observe, tu podes fazer isso. Em tempos de pestilência, é possível caminhar em meio à cólera e à morte, cantando: “Pragas e mortes voam ao meu redor, até quando Ele Se agradar, eu não posso morrer.” É possível permanecer exposto ao máximo grau de perigo, e ainda assim sentir uma serenidade tão sagrada que podemos rir do medo; mui grande, mui forte, muito poderoso em Deus, para que nos inclinemos por um momento à covardia tremente, porque nós sabemos em Quem temos crido, e estamos certos de que é poderoso para guardar o nosso depósito até àquele dia [2 Timóteo 1:12]. Quando homens sem casa vagueiam, quando os pobres espíritos angustiados e castigados pela tempestade, não encontram refúgio, nós entramos em Deus, e fechando atrás de nós a porta da fé, nós dizemos, “Uivem, vós ventos; soprem, vós tempestades; rujam, vós animais selvagens; venham, vós ladrões!” “Aquele que fez o seu refúgio em Deus, Deve encontrar uma morada seguríssima, Andará o dia todo debaixo de Sua sombra, E ali, à noite, deve repousar a cabeça.” Senhor, neste sentido, Tu tens sido a nossa habitação. Mais uma vez, o pobre Israel, no deserto, estava continuamente exposto à mudança. Eles nunca estavam em um lugar por muito tempo. Às vezes, eles podiam permanecer um mês em um lugar, exatamente perto das setenta palmeiras. Que lugar doce e agradável para sair todas as manhãs, sentar-se ao lado do manancial e beber daquele ribeiro claro! “Avante!”, clama Moisés; e ele os leva para um lugar onde as rochas expostas permaneciam entre nós e o lado da montanha, e a areia vermelha e ardente estavam abaixo de seus pés; víboras brotavam ao redor deles, e um matagal espinhoso crescia em vez de vegetação agradável. Que mudança eles tinham! No entanto, em outro dia irão a um lugar que pode ser ainda mais triste. Eles caminham através de um desfiladeiro tão cerrado e estreito, que os atemorizados raios do sol mal ousam entrar em tal prisão, de forma que eles jamais encontrariam seu caminho para fora de novo!

Eles devem prosseguir, de um lugar para outro, em constante mudança, nunca tendo tempo para se estabelecerem e dizer: “Agora estamos seguros, neste lugar nós habitaremos”. Aqui, mais uma vez, o contraste lança luz sobre o texto: “Ah!”, diz Moisés, “apesar de estarmos sempre mudando, Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração”. O Cristão não conhece nenhuma mudança no que diz respeito a Deus. Ele pode ser rico hoje, e pobre amanhã; ele pode estar doente hoje e saudável amanhã; ele pode estar em felicidade hoje, e amanhã ele pode estar angustiado; mas não há nenhuma mudança no que diz respeito à sua relação com Deus. Se Ele me amava ontem, Ele me ama hoje. Não sou nem melhor nem pior em Deus do que eu já fui. Que as perspectivas sejam arruinadas, que as esperanças sejam golpeadas, que a alegria murche, que o bolor destrua todas as coisas, eu não perdi nada do que eu tenho em Deus. Ele é a minha habitação forte para o qual eu posso recorrer continuamente.
O Cristão nunca se torna mais pobre, e nem mais rico, em relação a Deus. “Aqui”, ele pode dizer, “está uma coisa que nunca pode morrer ou mudar. Na testa do Eterno nunca haverá uma ruga; Seu cabelo não embranquece pela idade; Seu braço não é paralisado pela fraqueza; Seu coração não muda em Suas afeições; Sua vontade não varia em Seu propósito; Ele é o imutável Jeová, permanecendo firme e eterno. Tu és a nossa habitação! Como a casa não muda, antes permanece no mesmo lugar, assim encontrei-Te desde a minha mocidade. Quando pela primeira vez fui lançado sobre Ti, desde o seio de minha mãe, eu encontrei-Te, como meu Deus da Providência. Quando pela primeira vez eu Te conheci, por meio daquele conhecimento espiritual que só Tu podes dar, encontrei-Te como uma habitação segura; e eu encontro-Te assim agora. Sim, quando eu for velho e grisalho, eu sei que Tu não me abandonarás; Tu serás o mesmo refúgio, em todas as gerações”. Mais um pensamento contrasta a posição dos Israelitas conosco mesmo, ou seja, o cansaço. Quão cansado deveria estar Israel no deserto! Quão cansados devem ter estado as solas dos seus pés, com as suas peregrinações constantes! Eles não estavam em um lugar de repouso, luxo e descanso, mas em uma terra de peregrinação, cansaço e problemas. Eu acho que eu os vejo viajando, enxugando frequentemente de suas sobrancelhas do suor escaldante, e dizendo: “Oh! que nós tivéssemos uma habitação onde pudéssemos descansar!

Oh! que entrássemos em uma terra de vinhas e romãs, uma cidade onde se pudesse desfrutar de ausência do alarme! Deus prometeu isso para nós, mas não o temos encontrado, resta ainda um repouso para o povo de Deus. Oh! que possamos encontrá-lo”. Cristão! Deus é a sua habitação, nesse sentido, Ele é o seu repouso; e você nunca encontrará descanso, exceto nEle. Eu desafio um homem que não tem a Deus, se ele tem uma alma em repouso. Aquele que não tem Jesus por seu Salvador será sempre um espírito inquieto. Leia alguns dos versos de Byron, e você o encontrará, se ele estava realmente retratando-se, como sendo a própria personificação desse espírito que “andou para lá e para cá, buscando repouso e não o encontrou”. Aqui está um de seus versos: “Eu voo como um pássaro do ar, Em busca de um lar e um descanso; De um bálsamo para a doença da preocupação, De felicidade para um desventurado seio.” Leia sobre vidas de quaisquer dos homens que não tiveram justificação evangélica, ou não tiveram conhecimento de Deus, e você achará que eles eram como o pobre pássaro que teve seu ninho derrubado, e não sabiam onde descansar, voando, vagando e buscando uma habitação. Alguns de vocês têm tentado encontrar descanso fora de Deus. Vocês procuraram encontrá-lo em sua riqueza; mas vocês aferroaram a sua cabeça quando a deitaram sobre o travesseiro. Vocês o procuraram em um amigo, mas o braço desse amigo tem sido uma cana quebrada, onde você esperava que fosse uma muralha de força. Vocês nunca encontrarão descanso, exceto em Deus; não há refúgio, senão nEle. Oh! o descanso e calma estão ali, nEle! É mais do que descanso, mais do que calma, mais do que quietude; mais profundo do que o calmaria morta do silencioso mar, em suas profundezas extremas, que não é perturbada pela mais leve ondulação, e ventos nunca podem misturar-se. Existe uma santa calma e doce repouso que somente o Cristão conhece, algo como as estrelas adormecidas lá em cima na cama do firmamento; ou como o descanso seráfico, que nós podemos supor que os espíritos beatificados possuem quando estão diante do trono, continuamente em reverência; há um descanso tão profundo e calmo, tão quieto e silencioso, tão profundo, que não encontramos palavras para descrevê-lo. Você já o experimentou, e pode se alegrar com isso. Você sabe que o Senhor tem sido o seu refúgio, o seu doce, calmo, constante lar, onde você pode desfrutar de paz em todas as gerações. Mas eu permaneci por muito tempo sobre esta parte do assunto, falarei sobre isso de uma maneira diferente. Primeiro de tudo, a habitação do homem é o lugar onde ele pode descansar e sentir-se em casa, e falar familiarmente.

Neste púlpito devo verificar um pouco as minhas palavras; eu lido com os homens do mundo que veem minha pregação, e estão sempre em vigilância, homens que desejam ter isso ou aquilo para usar contra mim, eu devo estar em guarda. Assim, vocês, homens de negócios, quando estão no comércio, ou em suas lojas, têm que protegerem-se a si mesmos. O que o homem faz em casa? Ele pode desnudar o peito, e fazer e dizer o que quiser; é a sua própria casa, sua morada; e ele não domina ali? Ele não faz o que quiser com o que é seu próprio? Seguramente; pois ele se sente em casa. Ah! meu amado, você já se encontrou em Deus para estar em casa? Você esteve com Cristo, e contou seus segredos em Seu ouvido, e descobriu que você poderia fazê-lo sem reservas? Em geral, não contamos segredos para outras pessoas, pois se contamos, e os fazemos prometer que nunca os contarão, elas nunca os contarão, exceto para a primeira pessoa que encontrarem. A maioria das pessoas que têm segredos contados a elas, são como a senhora de quem se diz que ela nunca contou seus segredos a não ser para dois tipos de pessoas: aquelas que perguntaram a ela e para aquelas que não perguntaram. Você não deve confiar nos homens do mundo; mas você sabe o que é contar todos os seus segredos para Deus em oração, sussurrar todos os seus pensamentos para Ele? Você não tem vergonha de confessar seus pecados a Ele com todos os seus agravos; você não os defende diante de Deus, mas você apresenta cada agravo, você descreve todas as profundidades de sua baixeza. Assim, como em relação aos seus pequenos desejos, você teria vergonha de dizer-lhes para outro; diante de Deus, você pode contar-lhes todos. Você pode contar a Ele a sua dor que você não sussurraria para o seu amigo mais querido. Com Deus você pode estar sempre em casa, você não precisa estar sob nenhuma restrição. Ó Cristão, entregue a Deus, de uma vez, a chave do seu coração, para que Ele te transforme em cada aspecto. Ele diz: “Aqui está a chave de cada gaveta; eu desejo que Tu possas abri-las todas. Se há joias, elas são Tuas, e se há coisas que não deveriam estar ali, expurgue-as. Sonda-me e prove o meu coração”. Quanto mais Deus vive no Cristão, mais o Cristão O ama; quanto mais frequentemente Deus vem vê-lo, mais ele ama o seu Deus. E Deus ama muito quando o Seu povo está familiarizado com Ele. Você pode dizer, nesse sentido, “Senhor, tu tens sido o meu refúgio”? Então, mais uma vez, a casa do homem é o lugar onde suas afeições estão centradas. Deus nos livre desses homens que não amam suas casas! Vive ali um homem tão vil, tão morto, que ele não tenha afeição por sua própria casa?

Se assim for, certamente a centelha do Cristianismo deve ter sido extinta inteiramente. É natural que os homens amem as suas casas; é espiritual que eles as amem ainda mais. Em nossas casas, nós encontramos aqueles com quem devemos estar e sempre estaremos mais ligados. Ali os nossos melhores amigos e parentes habitam. Quando nos afastamos, somos como pássaros, que deixaram seus ninhos e não conseguimos encontrar nenhuma casa estável. Queremos voltar e ver novamente aquele sorriso, apertar mais uma vez aquela mão amorável e descobrir que estamos com aqueles com quem os laços de afeto nos uniram. Queremos sentir — e cada homem Cristão sentirá — no que diz respeito à sua própria família, que eles são a urdidura e tessitura de sua própria natureza, que ele se tornou uma parte e porção deles; e ali ele centraliza a sua afeição. Ele não pode permitir-se derramar o seu amor em todos os lugares. Ele o centraliza nesse lugar particular, aquele oásis no deserto neste mundo sombrio. Homem Cristão, Deus é a sua habitação neste sentido? Você entregou toda a sua alma a Deus? Você sente que pode trazer todo o seu coração até Ele e dizer: “Ó Deus! Amo-Te com minh’alma; com a sinceridade mais apaixonada, amo-Te”. “O ídolo mais querido que conheci, seja qual for este ídolo, ajuda-me a arrancá-lo do Seu trono, E adorar somente a Ti!” Ó Deus! embora eu às vezes vagueie, contudo eu Te amo em minhas peregrinações, e meu coração está firme em Ti. Que embora a criatura iluda-me, eu detesto esta criatura; ela é para mim como a maçã de Sodoma. Tu és o Dono da minha alma, o Imperador do meu coração; não vice regente, mas o Rei dos reis. Meu espírito está posto em Ti como o centro da minh´alma. “Tu és o mar de amor Para onde todos os meus deleites fluem, O círculo onde minhas paixões se movem; O centro de minha alma!”

Ó Deus! Tu tens sido o nosso “refúgio de geração em geração”. Meu próximo comentário é sobre o arrendamento deste refúgio. Deus é a habitação do crente. Às vezes, você sabe, as pessoas saem de suas casas, ou as suas casas desabam sobre elas. Nunca é assim com a nossa: Deus é o nosso refúgio de geração em geração. Olhemos para trás, para tempos passados, e veremos que Deus tem sido a nossa habitação. Ah, o velho lar doce lar! quem não o ama, o lugar da nossa infância, a velha casa na árvore, o antigo chalé! Não há nenhuma vila em todo o mundo que seja a metade tão boa quanto aquela vila especial onde nascemos! É verdade, os portões, escadas e postes foram alterados; mas ainda há um apego àquelas casas antigas, à velha árvore no parque, e à velha torre coberta por hera.

Não é muito pitoresco, talvez, mas nós gostamos de ir vê-la. Nós gostamos de ver os lugares favoritos da nossa infância. Há algo agradável naquelas velhas escadas, onde o relógio costumava ficar; e no quarto onde a avó costumava dobrar o joelho, e onde tivemos oração em família. Não há nenhum lugar como a nossa casa, afinal! Bem, amados, Deus tem sido a morada do Cristão nos anos que se passaram. Cristão, sua casa é na verdade uma casa venerável, e você tem por muito tempo morado ali. Você morava ali na Pessoa de Cristo muito antes de você ter sido trazido a este mundo pecaminoso; e esta deve ser sua morada por todas as gerações. Você nunca deve pedir uma outra casa; você sempre se contentará com essa que você tem; você nunca desejará mudar a sua habitação. E se você desejasse, você não poderia; pois Ele é a sua morada por todas as gerações. Deus deu-lhe a conhecer o que é ter esta casa em seu prolongado arrendamento, e para sempre ter Deus por seu refúgio!

II. Agora eu venho para aperfeiçoar um pouco este texto. Primeiro, vamos aperfeiçoá-lo para o AUTOEXAME. Como podemos saber se nós somos cristãos ou não, se o Senhor é o nosso refúgio, e o será por todas as gerações? Vou dar-lhes algumas dicas para autoexame, ao referir várias passagens para vocês, as quais considerei a partir da primeira epístola de João. É notável que quase o único escritor bíblico que fala de Deus como uma habitação, é este mui amável apóstolo João, de quem temos lido as epístolas. Ele nos oferece, no versículo 12 do capítulo 4, um meio para saber se estamos vivendo em Deus: “se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor”. E novamente mais adiante, ele diz: “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele”. Você pode, então, dizer se você é um inquilino desta grande casa espiritual pelo amor que você tem para com os outros. Você ama os santos? Bem, então, você mesmo é um santo. Os bodes não amarão as ovelhas; e se você ama as ovelhas, esta é uma evidência de que você mesmo é uma ovelha. Muitos da fraca família do Senhor nunca podem obter qualquer outra evidência de sua conversão, exceto esta: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” [1 João 3:14]. E, embora esta seja uma pequenina evidência, ainda assim é uma tal que a fé mais forte, muitas vezes, não consegue obter algo muito melhor. “Acho que não amo a Deus, eu amo o Seu povo, acho que eu não sou Cristão, mas eu amo a Sua casa”. O quê!? O Diabo te disse que tu não és do Senhor?

Pobre coração Constrangido, tu amas o povo do Senhor? “Sim”, tu dizes, “eu amo ver os seus rostos, e ouvir as suas orações; eu quase poderia beijar a orla de suas vestes”. É assim? e você os ajudaria se eles fossem pobres? Você os visitaria se eles estivessem doentes e cuidaria deles se eles precisassem de ajuda? “Ah! sim”. Então não tenha medo. Vocês que amam o povo de Deus devem amar o Mestre. Sabemos que habitamos em Deus, se amamos uns aos outros. No versículo 13 há mais um sinal: “Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito”. Será que já temos o Espírito de Deus em nós? Essa é uma das questões mais solenes que posso perguntar. Muitos de vocês sabem o que é ser animado pelo sentimento religioso, mas nunca tiveram o Espírito de Deus. Muitos de nós têm uma grande necessidade de tremer que não tenha recebido este Espírito. Tenho provado a mim mesmo dezenas de vezes, de maneiras diferentes, para ver se eu realmente sou um possuidor do Espírito de Deus ou não. Sei que as pessoas do mundo zombam da ideia, e dizem: “é impossível para qualquer pessoa ter o Espírito de Deus”. Então, é impossível para qualquer pessoa ir para o céu; pois devemos ter o Espírito de Deus, devemos nascer de novo do Espírito, para que possamos entrar ali. Que pergunta mais séria é esta: “Eu já tenho o Espírito de Deus em mim? É verdade, minha alma às vezes é levantada ao alto, e eu sinto que eu poderia cantar como um serafim. É verdade, às vezes, eu sou derretido por profunda devoção, e eu poderia orar em terrível solenidade. Mas, talvez, os hipócritas façam isso. Eu tenho o Espírito de Deus? Há alguma evidência interior que você tem o Espírito? Você tem certeza que não está se esforçando sob uma ilusão e um sonho? Você já tem realmente o Espírito de Deus dentro de você? Se assim for, você habita em Deus. Este é o segundo sinal. Mas o apóstolo concede outro sinal no versículo 15: “Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus”. A confissão da nossa fé no Salvador é mais um sinal de que vivemos em Deus. Oh! pobre coração! Tu não podes vir sob este sinal? Tu podes ter apenas uma pequena ousadia, mas podes dizer: “Eu creio em o nome do Senhor Jesus Cristo”? Se assim for, tu habitas em Deus. Eu sei que muitos de você dizem: “Quando eu ouço um sermão, eu me sinto afetado por ele. Quando estou na casa de Deus, eu me sinto como um filho de Deus, mas os negócios, os cuidados e problemas da vida me abatem, e então, eu temo que eu não seja”.

Mas você pode dizer: “Eu creio em Cristo, eu sei que eu me lancei em Sua misericórdia, e espero ser salvo por Ele?”, então, não diga que você não é um filho de Deus, se você tem fé. Todavia, há mais um sinal pelo qual devemos examinar a nós mesmos, no capítulo 3, versículo 24: “E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele”. A obediência aos mandamentos de Deus é um bendito sinal de que você tem Deus por habitação. Alguns de vocês têm uma medida de conversa religiosa, mas não muito um caminhar religioso; um grande estoque de piedade exterior, mas não muito de verdadeira piedade interior, que é demonstrada em suas ações. Esta é uma advertência para alguns de vocês que sabem com certeza que devem ser batizados, e não são. Você sabe que é um dos mandamentos de Deus, que “aquele que crê deverá ser batizado”, e você está negligenciando o que você sabe ser o seu dever. Você está habitando em Deus, não tenho dúvida, mas lhe falta uma evidência disto, a saber, a obediência aos mandamentos de Deus. Obedeça a Deus, e então você saberá que você está habitando nEle. Mas eu tenho outra palavra como forma de aperfeiçoamento, e que esta é uma de FELICITAÇÃO. Vocês que habitam em Deus, permita-me felicitá-los. Homens três-vezes felizes sois vós, se habitais em Deus! Vocês não precisam se envergonhar de compararem-se com os anjos, vocês não precisam pensar que alguém na Terra possa compartilhar tal felicidade como a sua! Sião, ó, quão bendita és tu, livre de todos os pecados! Agora tu és, através de Cristo, levado a habitar em Deus e, portanto, estás eternamente seguro! Quero parabenizá-los, Cristãos, em primeiro lugar, por vocês terem tal magnífica casa para habitar. Vocês não têm um palácio tão lindo como o de Salomão, nem um imponente e imenso palácio como as habitações dos reis da Assíria, ou Babilônia; mas vocês têm um Deus que é mais do que as criaturas mortais podem contemplar; vocês moram em um tecido imortal, vocês moram na Divindade, algo que está além de toda a inteligência humana. Quero parabenizá-los, além disso, pelo fato de vocês viverem em uma casa tão perfeita. Nunca houve uma casa na terra que não poderia ser minimamente melhorada, mas a casa em que vocês habitam têm tudo o que precisam; em Deus vocês têm tudo que vocês requerem. Quero parabenizá-los, além disso, por vocês viverem em uma casa que durará para sempre, uma habitação que não há de passar; quando este mundo passar como um sonho; quando, como a bolha na onda, a criação se esvairá; quando todo o universo extinguir-se como uma faísca de um tição prestes a apagar, sua casa viverá e permanecerá mais imperecível do que o mármore.

Mais sólida do que o granito, autoexistente como Deus, pois é Deus! Sejam felizes, então. Agora, por último, uma palavra DE ADMOESTAÇÃO E ADVERTÊNCIA para alguns de vocês. Meus ouvintes, que pena é que temos que dividir nossa congregação, que não podemos falar a ela como um todo, como sendo todos Cristãos. Esta manhã, eu gostaria de poder tomar a palavra de Deus e dirigi-la a todos vocês, de forma que todos pudessem compartilhar as doces promessas que ela contém. Mas alguns de vocês não as teriam se eu lhes oferecesse. Alguns de vocês desprezam a Cristo, meu bendito Mestre. Muitos de vocês pensam que o pecado é uma ninharia, e que a graça é inútil, que o céu é uma imaginação, e o inferno, uma ficção. Alguns de vocês são descuidados, endurecidos e irracionais, sem Deus, sem Cristo. Oh! meus ouvintes, eu pergunto a mim mesmo se eu tenho tão pouca benevolência por não pregar mais fervorosamente para vocês. Parece-me que se eu obtivesse uma estimativa correta do valor das vossas almas, eu falaria não como eu falo agora, com língua gaguejante, mas com palavras de fogo. Tenho um grande motivo para corar sobre a minha própria indolência, embora Deus saiba que eu me esforço para pregar a verdade de Deus, tão veementemente quanto possível, e gostaria de gastar-me em Seu serviço; mas maravilho-me que eu não vá para cada rua em Londres e pregue a Sua verdade. Quando penso nos milhares de almas nesta grande cidade que nunca ouviram falar de Jesus, que nunca ouviram sobre Ele; quando penso em quanta ignorância há, e quão pouca é a pregação do Evangelho, quão poucas almas são salvas, eu penso: “Ó Deus! Quão pequena graça eu devo ter, que não me esforço mais pelas almas”. Uma palavra em forma de advertência. Você sabe, alma miserável, que não tem uma casa para morar? Você tem uma casa para o seu corpo, mas nenhuma casa para a sua alma. Você já viu uma pobre menina sentada à meia-noite, em uma porta, chorando? Alguém passa, e diz: “Por que você senta aqui?”, “Eu não tenho casa, senhor. Eu não tenho casa”. “Onde está o seu pai?”, “Meu pai está morto, senhor”. “Onde está sua mãe?”, “Eu não tenho mãe, senhor”. “Você não tem amigos?”, “Não, não tenho nenhum amigo”. “Você não tem casa?”, “Não, eu não tenho nenhuma. Estou desabrigada”. E ela treme no ar frio, e ajunta o seu pobre xale esfarrapado em volta dela, e chora mais uma vez: “Eu não tenho casa, eu não tenho casa”. Será que você não se apieda dela? Você a culpa por suas lágrimas? Ah! há alguns de vocês que têm almas desabitadas aqui nesta manhã. É algo ter um corpo sem casa; quanto mais pensar em uma alma sem casa! Parece que eu vejo você na eternidade sentado na porta do céu.

Um anjo diz: “O quê?! Você não tem nenhuma casa para viver?”, “Nenhuma casa”, diz a alma miserável, “Você não tem pai?”, “Não; Deus não é o meu pai; e não há ninguém ao lado dEle”. “Você não tem mãe?”, “Não, a igreja não é minha mãe; nunca procurei seus caminhos, nem amei a Jesus. Eu não tenho pai nem mãe”, “Você não tem casa, então?”, “Não; eu sou uma alma desabrigada”. Mas há uma coisa pior sobre isso: almas desabrigadas devem ser enviadas para o inferno; para uma masmorra, para um lago que arde com fogo. Alma sem lar! em pouco tempo o teu corpo terá passado; e onde tu te abrigarás quando a saraiva da Ira eterna vier do céu? Onde esconderás a tua cabeça culpada, quando os ventos do Último Dia do Juízo te varrerem com fúria? Onde te abrigarás quando a explosão do Ser terrível será como a tempestade contra uma parede, quando a escuridão da eternidade descerá sobre ti, e o inferno obscuro estiver ao teu redor? Será totalmente em vão que vocês clamem, “Rochedos, caí sobre mim, e montes, escondei-me”, os rochedos não os obedecerão, os montes não esconderão vocês. Cavernas seriam palácios se vocês pudessem habitar nelas, mas não haverá cavernas para vocês esconderem sua cabeça, entretanto vocês serão almas desabrigadas, espíritos desabrigados, vagando pelas sombras do inferno, atormentados, necessitados e aflitos, e isso por toda a eternidade. Pobre alma sem casa, tu queres uma casa? Eu tenho uma casa para entregar nesta manhã para cada pecador que sente a sua miséria. Você quer uma casa para a sua alma? Então eu condescenderei aos homens de baixa condição, e lhe direi em linguagem familiar: eu tenho uma casa para lhe dar. Você me pergunta, qual é o preço? Vou dizer-lhe; é algo menos do que a natureza humana orgulhosa gostaria de dar. É, sem dinheiro e sem preço. Ah! você gostaria de pagar algum aluguel, não é? Você gostaria de fazer alguma coisa para ganhar a Cristo. Você não pode ter a casa, então; é “sem dinheiro e sem preço”. Eu já lhe disse o suficiente sobre a própria casa, e, portanto, não descreverei as suas excelências. Mas lhe direi uma coisa: que, se você sente que é uma alma sem casa, nesta manhã, você pode ter a chave amanhã, e se você sente que é uma alma sem casa hoje, você pode entrar nela agora. Se você tivesse uma casa própria eu não a ofereceria a você; mas desde que você não tem outra, aqui está. Você receberá a casa de meu Mestre, em um contrato de arrendamento por toda a eternidade, sem nada a pagar por isso, nada mais que o baixo aluguel de ama-lo e servi-lo para sempre? Você receberá a Jesus, habitará nEle por toda a eternidade? ou você se contentará em ser uma alma desabrigada? O senhor entrará? Veja que ela é decorada de cima a baixo com tudo que você precisa.

Ela tem celeiros cheios de ouro, mais do que você gastará no tempo em que viver, ela tem uma sala de estar, onde você pode entreter-se com Cristo, e regozijar-se em Seu amor, tem mesas bem providas de alimento para que você viva para sempre; ela tem uma sala de visitas de amor fraternal, onde você pode receber seus amigos. Você encontrará uma sala de repouso lá em cima, onde pode descansar com Jesus; e no topo há uma vista, onde você pode ver o próprio céu. Você obterá a casa, ou não? Ah! se você está sem casa, você dirá: “Eu gostaria de ter a casa, mas posso ter a posse dela?” Sim; aqui está a chave. A chave é: “Vinde a Jesus”. Mas, você diz: “Eu sou demasiado maltrapilho para tal casa”. Não importa; existem peças de vestuário no interior. Como Rowland Hill disse uma vez: “Venha despido, venha imundo, venha maltrapilho, venha pobre, venha miserável, venha sujo, venha como você está.” Se você se sente culpado e condenado, venha, e embora a casa seja boa demais para você, Cristo, aos poucos, fará com que você seja bom o suficiente para habitar em tal casa.

Ele lavará e purificará você, e você ainda será capaz de cantar com Moisés, com a mesma voz inabalável: “SENHOR, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração” 

Por C. H. Spurgeon, em New Park Street Chapel, Southwark). (Pregado na manhã de Sabath, 14 de outubro de 1855).