quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Fale por si mesmo

HÁ OCASIÕES EM QUE OS HOMENS SALVOS SÃO OBRIGADOS A FALAR POR ELES MESMOS.
 Devem, por necessidade, dar seu testemunho pessoal.O que mais podem fazer quando seus amigos os abandonam? O pai e a mãe estavam dispostos a reconhecer esse jovem como filho deles, bem dispostos a dar testemunho de que ele nascera cego, mas não queriam ir além disso. Se quisessem, poderiam ter falado mais, mas tinham medo da sentença de excomunhão, a respeito da qual os judeus já tinham concordado entre si: se alguém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da sinagoga. Portanto, os pais sentiram pouco remorso ao se recusarem a assumir qualquer responsabilidade pessoal, pois tinham grande confiança (provavelmente bem fundamentada) na capacidade que seu filho tinha de cuidar de si mesmo, e assim, o abandonaram. Lançaram sobre ele todo o ônus e a tensão de dar uma resposta clara, que o teria incorrido em semelhante censura. Os pais tiraram o corpo fora, para não serem perseguidos porque seu filho cego recebeu a bênção da recuperação da vista. O jovem que fora cego devia, portanto, batalhar por conta própria em favor do bom Senhor que lhe outorgara semelhante benefício. "Perguntem a ele", disseram seus pais, "ele falará por si mesmo."Existem situações entre muitos jovens, nas quais, mesmo que os pais não desaprovem a religião deles, os tratam com frieza e não demonstram simpatia por sua fé nem por seus sentimentos. Alguns entre nós nos regozijamos quando nossos filhos se convertem. Não sentimos vergonha de tomar o partido deles, de defendê-los e protegê-los de quaisquer consequências que surgirem. Mas existem pais e mães que não gostam das coisas de Deus e, assim, caso seus filhos se convertam, enfrentam uma situação muito difícil. Já soube de alguns que professam ser discípulos de Cristo, que recuam de modo muito suspeito, e deixam por conta de outras pessoas a defesa da causa de Cristo, diante de uma investida vigorosa. Em determinada conversa, esperava-se ouvir aquele cavalheiro já de certa idade tomar a palavra para defender com coragem a verdade do evangelho, mas ele nada fez. Sabia-se que ele era membro de uma igreja cristã, no entanto, conteve-se cautelosamente por longo tempo, e depois, em voz baixa, disse algo a respeito de não lançar pérolas aos porcos. Provavelmente, ele nem tivesse pérolas ou fosse ele mesmo um porco. Que outra explicação se pode dar a tamanha covardia? Mas também sabemos, no ardor juvenil, como é assumir uma posição de desafio, a ponto de se correr o risco de ser acusado de presunçoso, porque todas as demais pessoas pareciam estar desertando a doutrina que era seu dever defender. É lamentável que tantas pessoas tenham medo de se comprometer. "Perguntem a ele; perguntem a ele; ele falará por si mesmo", é seu pretexto insignificante; enquanto isso, têm o cuidado de se retirar detrás dos arbustos, fora do alcance de fuzilaria, e nunca saem do esconderijo a não ser que você conquiste a vitória, quando, então, elas se apresentariam, na melhor das hipóteses, para receber a sua parte dos despojos. Sempre que um homem é colocado na condição de se ver desertado, na batalha por Cristo, por aqueles que deveriam estar ao seu lado, ele desdenha bater em retirada e diz com verdadeiro heroísmo: "Sou maior de idade: falarei por conta própria. Em nome de Deus, vou dar meu testemunho."
Os cristãos, por mais reservada e retraída que seja sua disposição, são obrigados a falar abertamente quando submetidos a uma pressão muito forte. Os fariseus visaram esse homem e o questionaram detalhadamente. Postularam-lhe perguntas na forma de interrogatório minucioso e rigoroso. "O que lhe fez ele? Como lhe abriu os olhos?" e assim por diante. Ele não parece ter ficado perturbado ou desconcertado pelas perguntas. Deu conta de si, grandiosamente. Autossuficiente, quieto, sagaz, inamovível, ele tomara a sua decisão, e, com domínio total da situação, estava pronto para enfrentar os fariseus. Não hesitou. Pois bem: espero que, alguma vez, vocês e eu sejamos chamados para uma prestação de contas e, ao sermos submetidos a perguntas capciosas, mesmo com o intuito de nos emaranhar, nunca fiquemos "envergonhados de reconhecer o nosso Senhor ou defender a sua causa." Deveríamos ser feridos pela mudez se alguma vez ficarmos envergonhados de falar de Cristo ao sermos conjurados a isso. Caso se chegue a um desafio, no tocante ao lado que apóio, eu hesitaria, alguma vez, em dizer: "Estou com Emanuel, o Salvador crucificado"? Se alguma vez eles nos encostarem contra a parede e disserem "Você também esteve com Jesus de Nazaré", que Deus nos dê graça para respondermos com prontidão e sem hesitação: "É claro que estive, e é claro que ainda estou. Ele é meu Amigo, meu Salvador, meu tudo; e nunca me envergonharei de reconhecer o seu nome." Os cristãos devem tomar posição, e cada um dar, por si mesmo, testemunho nítido e distinto.
Ao passo que outros vituperam e caluniam o nosso Senhor Jesus Cristo, a nós cumpre recomendá-lo e louvá-lo. Os fariseus disseram a esse homem: "Para a glória de Deus, diga a verdade. Sabemos que esse homem é pecador." Então o homem falou, todo agradecido, com seu coração borbulhando de gratidão. "Ele me abriu os olhos." "Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo." Mas quando estiveram a ponto de dizer: "Quanto a este, nem sabemos de onde ele vem", o homem tomou a palavra de modo mais heroico ainda. Voltou-se contra os que o atacavam e os repreendeu pela notável ignorância deles: "Vocês não sabem de onde ele vem", e ele lutou em favor do seu Mestre de modo tão mordaz que eles sentiam vontade de jogar fora o debate como arma e apanhar as pedras dos insultos para apedrejá-lo. Oh! se falarem mal de Cristo, manteremos silêncio? Quando a imprecação faz gelar o sangue, nunca dirigiremos uma palavra de repreensão ao blasfemo? Ouviremos a causa de Cristo condenada na sociedade e, por medo do homem fraco, refrearemos a nossa língua ou atenuaremos a questão? Pelo contrário, vamos lançar o desafio em favor de Cristo, e dizer, imediatamente: "Não posso, nem quero, me refrear. Agora as próprias pedras poderiam falar. Quando meu amigo querido - meu melhor amigo - é assim ofendido, preciso proclamar as honras do seu nome, e assim farei." Acho que os crentes neste país não se aproveitam de metade da liberdade que têm. Se falarmos uma palavra de religião, ou abrirmos a nossa Bíblia num vagão ferroviário ou em qualquer outro transporte público, dizem: "hipócritas!" Eles podem jogar baralho, suponho, num trans-porte público, com total impunidade: podem deixar a noite mais feia com seus uivos, e proferir profanidades de todos os tipos, com toda a liberdade, mas nós seríamos realmente considerados hipócritas se usássemos de igual liberdade. Em nome de tudo quanto é livre, teremos a nossa vez. E, de vez em quando, gosto de ouvir vocês cantarem, para maior perturbação deles, um dos cânticos de Sião, pois eles cantarão as canções da Babilônia num volume suficiente para nos perturbarem. Vamos dizer-lhes que enquanto vivermos num país de liberdade, e nos regozijamos porque Cristo nos libertou, não teremos mais vergonha de dar testemunhos de Cristo do que eles têm das suas iniquidades. Quando eles começarem a pecar e ficarem com vergonha de falar uma palavra licenciosa, então poderá ser a hora - não, e nem sequer então - para guardarmos a nossa religião para nós mesmos.Vocês percebem, então, que há ocasiões nas quais os homens - homens quietos e reservados - devem falar. Serão traidores se não falarem. Aquele cego não era muito falador. A brevidade das suas respostas parece indicar que ele era um pouco conciso para falar - mas eles o obrigaram a isso. Ficou sendo como um cervo acossado pela caça. Ele foi obrigado a discutir, por mais suave que fosse a sua disposição. E acho que dificilmente existe um cristão que tenha conseguido palmilhar o caminho inteiro para o céu e, ainda assim, esconder-se na quietude, correr de esconderijo em esconderijo, passando sorrateiramente para a glória. O cristianismo e a covardia! Que contradição entre esses termos! Acho que deve ter havido ocasiões em que vocês se sentiram dispostos a falar de si para si: "Pois bem, custe o que custar: a sociedade pode lançar tabu contra mim; posso ser ridicularizado pelas pessoas mais grossas, e posso perder o respeito das pessoas mais fina; mas preciso dar testemunho a favor de Jesus Cristo e da sua verdade." Então, as seguintes palavras passaram a se aplicar a vocês: "Idade ele tem; perguntem a ele; ele falará por si mesmo."

Charles H. Spurgeon

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