segunda-feira, 6 de abril de 2020

O Pavimento de Safiras no Céu


Eles viram o Deus de Israel. Sob os seus pés havia como um pavimento de safiras transparentes, tão límpido como o próprio céu. Êx. 24,10

Sim, tiveram uma bela visão do Deus de Israel. Deus estava pisando num pavimento de pedras de safira. Parecia o céu num dia claro!

Após a ministração das leis que deveriam reger Israel, o Senhor Deus disse a Moisés que chamasse Arão, Nadabe, Abiú e setenta autoridades de Israel para adorar à distância do monte. Setenta e cinco homens foram convidados a subir o Monte Sinai para adorarem ao Senhor.

Estavam ali Moisés, o profeta, e seu ministro Josué. Arão e seus filhos subiram como representantes do futuro sacerdócio Levítico. Os setenta anciãos sem dúvida representavam a nação de Israel que teve o seu início com setenta almas. Eram os representantes do povo para testemunhar à nação a natureza da aliança. Eram homens de mais idade, chefes de famílias, respeitados como líderes e que gozavam de prestígio entre os israelitas. Eram representantes de toda a congregação, foram escolhidos para testemunhar a manifestação de Deus, para que se satisfizessem com a verdade da revelação que Ele havia feito de Si e de Sua vontade; e nessa ocasião era necessário que o povo também fosse favorecido com uma visão da glória de Deus. Assim, a certeza da revelação foi estabelecida por muitas testemunhas. O número setenta é citado pela primeira vez e faz referência à quantidade de líderes capazes mencionados na conversa de Moisés e Jetro.

O comando dado a todos, exceto a Moisés, foi inclinai-vos de longe. Nesta passagem, inclinai-vos significa literalmente curvar-se para a terra, num gesto de adoração a Deus. Só podiam aproximar-se dele de acordo com Suas ordenanças. Por causa de Sua maravilhosa graça, o profeta foi chamado para se achegar a Ele.

O comando “sobe a mim”, demonstra que apenas Moisés pôde chegar perto de Deus naquela hora. Somente Moisés é admitido na presença imediata de Deus, como mediador da aliança. Arão e seus filhos, Nadabe e Abiú, com mais setenta anciãos, tiveram permissão para permanecerem apenas ao pé do monte. Hoje, todos nós somos chamados a ter uma viva comunhão com Ele por intermédio de Jesus.

 A posterior morte de Nadabe e Abiú foi trágica, considerando o seu grande privilégio diante do Altíssimo, registra que, pouco mais tarde, Arão se entregou ao pedido impulsivo do povo por um bezerro de ouro e que Nadabe e Abiú foram mortos por oferecer “fogo estranho”. Uma experiência religiosa tida num dia não é proteção para o dia seguinte.

Surge com detalhes uma cerimônia de sacrifício para a aliança, em que o essencial é o rito do sangue aspergido sobre o altar (símbolo de Deus) e sobre o povo. O sangue é sinal de vida. Portanto, entre Deus e Israel existem uma aliança, uma comunhão de vida, uma nova relação de intimidade e de amor.

As partes envolvidas em uma aliança normalmente faziam uma refeição fraternal. Comer e beber era importantes elementos rituais envolvidos na realização de alianças. Refeições semelhantes a essa para selar uma aliança são registradas em outras passagens da Bíblia. No entanto havia ali uma reunião e um momento de comunhão e entrosamento no qual Deus permitiu a todos participarem de sua presença e ainda se alimentarem e beberem. Quem preparou a comida? O que beberam e comeram?

É algo muito profundo isso. Moisés, Arão e seus dois filhos e mais setenta do povo que certamente representariam os setenta de Jacó que partiram para o Egito dando início a nação de Israel. Era Deus ali renovando a memória deles e mostrando que Ele era fiel à Sua aliança e queria com eles estabelecer relacionamentos.

A cerimônia tem início com Moisés lendo ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos. Toda e qualquer aliança envolvia a leitura e a aceitação pública de seus termos. Por isso o povo promete: “Tudo o que falou o Senhor faremos”. Era necessário que o povo não apenas soubesse o que o Senhor lhe impunha por meio da aliança que estava para ser estabelecida e o que Ele lhe prometia, mas também declarasse sua disposição para cumprir o que lhe era imposto. Preliminarmente, uma leitura pública da lei e a renovação da aceitação dos termos pelo povo.

Não é à toa que o nome do livro que Moisés menciona é o Livro da Aliança. O tema da aliança é sempre recorrente em toda a Bíblia, desde Gênesis à Apocalipse. Afinal de contas a semente que se está esperando é o Príncipe da Aliança.

Os Dez Mandamentos foram escritos em cada uma das tábuas de pedra e dispostas perante o único Deus vivo. O objetivo de Deus ao fornecê-las a Moisés era instruir o povo e confirmar a aliança que havia acabado de fazer.

Em seguida, Moisés ergue um altar com doze colunas, que representam as doze tribos de Israel, ou seja, a congregação. As colunas são testemunhas simbólicas e também um memorial da aliança ali celebrada.

São sinais para as doze tribos, que se empenharão em renovar e viver a aliança. O altar representa a presença do Senhor no meio de seu povo.

Ofertas de paz eram sacrifícios em que uma parte do animal era queimada, e o resto era comido pelo sacerdote e pelas pessoas que o estavam oferecendo. Serviam para fortalecer a comunhão. Como não havia ainda o sacerdócio Levítico, Moisés enviou alguns homens para oferecer sacrifícios ao Senhor. Não eram primogênitos nem sacerdotes araônicos, mas homens escolhidos por Moisés para esse ato em particular, talvez os membros mais fortes e mais ativos da comunidade. É significativo que não se fale em oferta pelos pecados. Era um povo redimido, que agora, por meio desses sacrifícios de dedicação e comunhão, estava se empenhando e penetrando em uma comunhão íntima e entrelaçada com seu Redentor.

Moisés tomou metade do sangue (rituais de sangue são comuns à maioria das alianças) e o pôs em bacias, e aspergiu sobre o povo nas doze colunas, representando o povo, e o ato foi acompanhado por uma proclamação pública de sua importância. Estava fixando o selo deles à aliança. Apesar da estrita proibição de erigir colunas para adoração, estas colunas não deveriam ser adoradas, mas servir como representantes das diferentes tribos, e a outra metade aspergiu sobre o altar. Era o sinal de ratificação solene, metade sobre cada parte na transação. Metade do sangue era atribuída ao povo e metade a Deus: o sangue aspergido sobre o altar simbolicamente ligava Deus aos termos da aliança, e o aspergido sobre o povo ligava este último da mesma forma. Essa dupla separação do sangue tinha conexão com as duas partes envolvidas na aliança (Deus-povo), levando-as a uma unidade. A aliança foi formalmente confirmada quando o sangue foi aspergido sobre a nação de Israel. (Este ato foi usado para provar a necessidade do sangue de Jesus na dedicação da Nova Aliança).

Moisés cuidadosamente repetiu todas as palavras da aliança para Israel. A leitura tornou solene o acordo verbal até então existente.

Mais uma vez, podemos ver que a Lei de Deus estava sendo escrita durante a peregrinação por Moisés. O povo concordou com as três formas de lei que compunham a aliança, que foi realmente confirmada.

Jesus proclamou o cumprimento desse simbolismo por ocasião da Última Ceia, quando ofereceu o cálice: “Isto é o Meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”.

Deve ter sido uma cena profundamente impressionante e instrutiva, pois ensinou aos israelitas que a aliança foi feita com eles apenas por meio da aspersão de sangue – que a aceitação divina de si mesmos e dos serviços era somente em virtude de um sacrifício expiatório. e que até mesmo as bênçãos da aliança nacional foram prometidas e asseguradas a elas somente pela graça. De forma passageira, a atitude de Moisés confirmou a aliança de Deus com Seu povo e selou o perdão de seus pecados. Mas Jesus fez isso de maneira superior e definitiva.

Ali estava sendo renovada com acréscimos de novos detalhes a aliança de Deus com o homem que começou com Adão e Eva com os mandatos cultural, social e espiritual. Este não é outro, senão o Deus da aliança, que não muda, nem jamais mudará e que se revela, sempre se revelou e ainda se revelará ainda mais. Em cada aliança, algo novo completando sua revelação e aspectos de seu relacionamento com um povo santo que Ele está levantando e cuidando e guardando para Seus eternos propósitos.

A refeição festiva da aliança provavelmente incluía a carne dos sacrifícios pacíficos, o pão e o vinho. Esta era uma grande celebração da presença do Deus vivo. Ao comerem o banquete de sacrifício, a presença do Senhor lhes foi manifestada com especial distinção. No ato de adoração solene, eles perceberam que Ele estava presente com eles, como seu Senhor e seu Libertador. Esta festa teve um suporte profético, insinuando a morada de Deus com os homens. Constituía também um relance profético da Ceia do Senhor Jesus com Seus discípulos, na qual Ele transformou os antigos símbolos de libertação do Egito (pão e vinho) em novas representações de Sua iminente morte e ressurreição. Todos viram a Deus e comeram e beberam.

A respeito da festa no Monte Sinai, viram o reflexo da Sua glória. Eles não viram a glória Dele ou mesmo um símbolo da Sua presença. É inútil especular sobre o modo dessa revelação.

Deus aparecendo e se fazendo visível, falando, “comendo, bebendo”, um livro sendo escrito e registrado, testemunhas como Moisés e os setenta e três, anjos, fumaças e nuvens e fogo, luz azul, a glória do Senhor e altares sendo levantados, sacrifícios sendo feitos para se obter o sangue que seria usado para aspergir, um mediador, o  povo, tudo isso para uma finalidade: o estabelecimento de uma aliança!

Debaixo de seus pés havia um pavimento que parecia como o céu na sua claridade. Era como uma obra de pedra de safira brilhante e como o próprio céu em clareza. A menção de seus pés e de sua mão indica que eles avistaram uma manifestação do Senhor em um tipo de forma humana. A descrição se concentra exclusivamente sobre os pés do Senhor, uma indicação do caráter parcial da manifestação divina. Talvez esta fosse a aparência de Jesus antes de Sua encarnação. A falta de detalhes nos lembra que qualquer tentativa de descrever a glória divina é, de certa forma, insuficiente. Eles viram uma manifestação visível do Senhor, mas não a plenitude de Sua glória e poder. Mais tarde, Moisés foi privilegiado por ver a “bondade” e as “costas” de Deus, embora o caráter limitado da manifestação tenha sido enfatizado. Fica claro que Deus não é uma força impessoal, mas uma pessoa real. Não havia nenhuma forma visível ou representação da natureza divina, mas um símbolo ou emblema de Sua glória foi claramente, e à distância, exibido diante das testemunhas escolhidas. Muitos pensam, no entanto, que nesta cena particular foi revelada, em meio ao brilho luminoso, a forma vagamente embotada da humanidade de Cristo. Viram uma obra pavimentada de uma pedra de safira, um trabalho de safira. Pisos mais incrivelmente incrustados com pedras de várias cores ou pequenos azulejos quadrados, dispostos em uma grande variedade de formas ornamentais. Os romanos gostavam particularmente deles, e deixaram monumentos de seu gosto e engenhosidade em calçadas desse tipo, na maioria dos países onde estabeleceram seu domínio. Algumas amostras muito finas são encontradas em diferentes partes da Grã-Bretanha. Muitos destes permanecem em diferentes países até os dias atuais.

Quão glorioso deve ser um pavimento, constituído por pedras polidas desse tipo, perfeitamente transparentes, com uma refulgência de esplendor celestial derramada sobre eles!

O vermelho, o azul, o verde e o amarelo, organizados pela sabedoria de Deus, nas mais belas representações emblemáticas, e todo o corpo do céu em sua claridade brilhando sobre elas deve ter feito uma aparição gloriosa.

Como a glória divina apareceu acima do monte, é razoável supor que os israelitas viram o pavimento de safira sobre suas cabeças, pois poderia ter ocupado um espaço na atmosfera igual em extensão à base da montanha; e sendo transparente, o brilho intenso que brilha sobre ele deve ter aumentado bastante o efeito.

É necessário ainda observar que tudo isso deve ter sido apenas uma aparência, desconectada de qualquer semelhança pessoal. Em nenhuma dessas aparências havia semelhança com qualquer coisa no céu, na terra ou no mar. E embora os pés sejam mencionados, isso só pode ser entendido da base de safira ou calçada, na qual apareceu essa glória celestial e indescritível do Senhor. Há uma descrição semelhante da glória do Senhor no livro de Apocalipse 4: 3: “E aquele que estava sentado [no trono] devia parecer um jaspe e uma pedra de sardônio; e havia um arco-íris em volta do trono, à vista como uma esmeralda.”  

Assim, Deus teve o cuidado de preservá-los de todos os incentivos à idolatria, enquanto Ele lhes deu todas as provas de Seu ser. Eles viram o Deus de Israel, tiveram um vislumbre de Sua glória, em luz e fogo, embora não tivessem nenhuma maneira de semelhança.

Eles viram o lugar onde estava o Deus de Israel, algo que se aproximava da semelhança, mas não era; o que quer que eles vissem era certamente algo do qual nenhuma imagem ou figura poderia ser feita, e ainda o suficiente para satisfazê-los de que Deus estava com eles em verdade.

Moisés fala de algo que parecia um piso sobre o qual Deus estava, de cor azulada, próxima à da safira. Nada mais é descrito, exceto o que estava sob Seus pés, pois nossas concepções de Deus estão todas abaixo Dele. Eles não viam tanto como os pés de Deus, mas no fundo do brilho que viam, uma calçada mais rica e esplêndida do que antes de safiras, azuis ou cor do céu.

Os próprios céus são a calçada do palácio de Deus, e Seu trono está acima do firmamento. Esta é uma das poucas ocasiões em que humanos viram a Deus. O céu na sua claridade, geraram nesses homens fé duradoura e obediência a Deus. O fato de Deus não ter estendido a sua mão sobre eles talvez signifique que não viram o seu poder ali.

A safira, uma das mais valiosas e lustrosas das pedras preciosas, de cor azul celeste ou azul claro é frequentemente escolhida para descrever o trono de Deus. O azul puro do céu acima deles emprestou sua influência para ajudar o sentido interior a realizar a visão que nenhum olho mortal podia contemplar. É uma pedra preciosa de uma fina cor azul, a seguir em dureza ao diamante. O rubi é considerado pela maioria dos mineralogistas do mesmo gênero; o mesmo acontece com o topázio.

Portanto, não podemos dizer que a safira é apenas de cor azul; é azul, vermelho ou amarelo, como pode ser chamado de safira, rubi ou topázio; e alguns deles são azuis ou verdes, de acordo com a luz em que são mantidos; e um pouco de branco.

Que capítulo gostoso de se ler e difícil, porque não estamos acostumados com tanta teofania envolvendo não somente Moisés com quem Deus falava face a face, mas outros como Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel. Obviamente que não viram Deus numa revelação total porque nem Moisés que falava face a face com Deus teve essa oportunidade, antes somente o viu pelas costas.

Não fique com inveja deles que viram a Deus e comeram e beberam. Hoje, graças ao Senhor da Aliança, o Mediador supremo, o Sumo Sacerdote da Lei, o Rei e o Profeta, Jesus, temos seu Espírito Santo que faz no cristão, sua habitação e morada! Eles deveriam olhar para o futuro e desejar este dia que vivemos, assim como nós olhamos para o passado e o invejamos em nossa ignorância.

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