terça-feira, 28 de novembro de 2017

Igreja: Sair ou Ficar?

Para alguns, as queixas sempre circundam em relação a falta de afetividade entre irmãos da comunidade que participam, outros notam que seus pastores tem adotado uma mensagem estranha ao evangelho focada mais na prosperidade material, outros ainda tem tido uma tremenda sensação de incapacidade em relação a pressão imposta para atingir a perfeição moral, alguns enfrentam o peso de ter que sempre agradar um ou outro para ser aceito, tem de esconder o cansaço em relação a líderes exigentes, apresentam uma preocupação com a inadequação comunitária, sentem-se isolados dos grupos de expressividade dentro da igreja, e o mais comum é que muitos possuem uma insatisfação com o mal comportamento de alguns  irmãos, ou seja, gente que é machucada por causa de outros.

Alguns até dizem que pensam em se desligar de suas comunidades, mas temem não encontrar um novo círculo de amigos, temem se sentir abandonados, outros não admitem, mas não querem perder seus prestígios titulares e seus cargos, outros não aturam mais tanto engano, mas simplesmente se veem com as mãos atadas diante desse sentimento. Tomar uma decisão envolve muita coisa, muita gente, e nem sempre sabemos por onde andar. Sair ou ficar?

Antes de tomar qualquer decisão, precisamos lembrar que uma igreja não pode ser julgada apenas por causa do comportamento de alguns ou de determinado pastor e líder. É comum querermos botar a culpa do nosso desapontamento pessoal no erro do outro. Lembremo-nos de que Jesus jamais disse que deveríamos procurar relações para sermos amados, mas nos mandou amar e perdoar ativamente, inclusive os que nos chateiam. Amar quem nos ama é fácil, mas amar na dificuldade é um milagre de Deus
Se procuramos uma comunidade somente para nos sentir bem o tempo todo, estamos na verdade atrás de “produto religioso” e acabamos nos relacionando com a igreja de forma comercial, ou seja, a única coisa que nos liga a nossa igreja é um interesse pessoal.  A igreja não é um ambiente neutro. Amar não implica em buscar a satisfação pessoal, mas sim em participar da promoção do bem comum.

Desistir de ir na igreja simplesmente porque “não concordamos com atitudes de alguns” é abandonar os demais irmãos nas mãos dos lobos da religião. Se identificamos que estamos sendo enganados por uma liderança inescrupulosa, precisamos sim nos posicionar em relação a isso. Sair da igreja sem se posicionar é ter a mesma indiferença em relação aos demais.

Outro ponto importante é saber que o espírito de indiferença, de egoísmo, de falta de sensibilidade é algo que é proveniente da natureza do ser humano, não é uma exclusividade dos ambientes religiosos, mas todos os lugares que pisamos, vamos encontrar algo do tipo. Examinar ou abandonar?

Agora, isso não quer dizer que devemos aturar certas deturpações do evangelho. Quanto ao conteúdo da mensagem, o que creio que não dá para tolerar é uma igreja que está mais preocupada com a doutrina do que com as pessoas, onde o líder é absoluto e autoritário. Uma igreja onde fala-se mais de demônios que de Deus, que fala mais de dinheiro e prosperidade que de novo nascimento e da nova vida com Cristo. Uma igreja que está mais preocupada com a punição e disciplina dos “rebeldes” do que com o ensino maduro da palavra. Comunidades onde não se ouve do púlpito as mensagens que falam sobre graça, amor, cruz, Jesus, vida nova, perdão, que fica exigindo coisas de Deus por meio da troca do tipo orar mais para obter mais, jejuar mais para arrancar bênção, fazer sacrifícios para trocar coisas com Deus.

Uma liderança que não dá a liberdade e fica ameaçando de perder a salvação se não for ao culto, não der o dizimo, não fazer isso ou aquilo. Uma igreja que o pastor tem dificuldade em reconhecer seus erros e falhas e tem medo de expor suas fraquezas perante a comunidade, mas que se empenha em ter títulos como apóstolo, bispo, reverendo e não aceita ser chamado pelo nome.

Desistir da igreja é desistir do outro. Não podemos confundir o caráter falho dos seres humanos com o caráter perfeito de Deus. Nosso convívio em comunidade depende de entendermos que também fazemos parte do corpo. Quanto aos problemas relacionados a nós, a única forma de resolver é ser parte da solução também, sentar, conversar e, em amor, examinar. Que o Senhor nos dê a graça de identificar a sua vontade, que seu amor nos alivie o peso, e que a consciência de Cristo nos ajude a discernir e decidir.
Murilo leal

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