Eis o texto tem por título: A Parábola
do Filho Pródigo, quando na verdade seu objetivo era uma crítica bem
formulada contra o pensamento farisaico que desprezava Jesus, porque ele
conversava e comia com os publicanos, a "gentalha" da sua época.
"E o seu filho mais velho estava no
campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as
danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele
lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o
recebeu são e salvo. Mas ele se indignou, e não queria entrar.
E saindo o pai, instava com ele. Mas,
respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem
nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para
alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que
desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro
cevado.
E o Pai lhe disse: Filho, tu sempre
estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; mas era justo
alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e
reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se." (Lucas 15: 25-32).
O texto da Parábola começa com a atitude
do filho cobrando sua parte na herança antes da morte do pai, para
torrá-la em bebedices com os falsos amigos e meretrizes. Este filho se
arrepende depois, volta, e é recebido com alegria pelo pai, que para
expressar seu contentamento mandou chamar todos da casa e deu uma grande
festa, se fosse no dia de hoje, um "churrasco" com música e dança.
O filho mais velho, naquela ocasião, era
o contraste em pessoa. Quando soube do regresso do irmão e da festa
preparada pelo pai se emburrou, ao ponto de recusar-se a entrar para
abraçar o irmão. Era um falso apologeta dos bons costumes. Cobrou
coerência do pai: um tratamento duro e exemplar para aquele irmão
devasso e dissipador dos bens da família.
Foi usando desta analogia que Jesus
criticou o comportamento dos fariseus, autoridades religiosas do seu
tempo, que passavam muito tempo na Casa de Deus, mas que não O tinham
dentro de seus corações. Eram frios, vazios, que não conheciam a
verdadeira face de Deus. Uma face de misericórdia, de perdão, que
oferecia uma nova oportunidade aos pecadores. O amor como forma de
produzir gratidão e garantir o perdão.
O filho mais velho reclamou que em toda
sua vida nunca tinha recebido um festa, nem celebrado com os amigos um
churrasco de cordeiro. Não recebeu, porque tinha uma imagem muito
diferente da pessoa de seu pai. Achava que o pai era austero e
mesquinho. Um pai que devia castigar o erro das pessoas.
Ele estava muito enganado.
Preocupado com o trabalho, não tinha
mesmo tempo de conversar com seu Pai. Por isso não via que seu "velho"
todo dia, que caminhava até os limites de suas terras para ver se o
filho caçula estava voltando. O filho mais velho nunca percebeu isso
porque não tinha saudades do irmão Não era generoso nem sabia que tinha
um pai generoso, disposto a perdoar, esperançoso da volta do filho.
E no dia que o pródigo voltou, o
primogênito também voltava à tarde do trabalho. Ouviu um barulho de
música e o cheiro de boi na brasa. Ao saber do que se tratava, fechou o
coração e não quis entrar e festejar.
O filho mais velho é o tipo de crente
que trabalha dedicadamente nas Igrejas hoje. Presta um serviço de
excelência há muitos anos, mas por costume e status. Pura formalidade.
Em seu coração é um crítico ácido. É perfeito em serviço, mas mesquinho
de coração. Quando volta para casa, costuma destilar um rol de críticas
sob o que aconteceu no culto.
Está todos os dias dentro da casa do
Pai, mas o Espírito Santo não está mais dentro de seu coração. Porque a
boca fala do que há em abundância no coração. Um coração
predominantemente crítico é espelho a ausência do Espírito. E sem o
Espírito não há misericórdia, nem perdão nem celebração. E perante os
olhos do Senhor a misericórdia prevalece sobre o formalismo farisaico.
O filho primogênito queria ver seu irmão
pelas costas. Aliás, se fosse por ele, o irmão somente botaria os pés
dentro de casa na condição de jornaleiro.
E com esta crítica sutil na forma de uma
parábola, Jesus Cristo mostrou aos fariseus, e mais tarde aos judeus,
que o amor de Deus transcende à justiça dos homens. Que para Deus o
arrependimento de um pecador é motivo de festa entre os anjos do céu,
porque Deus não enviou seu Filho ao mundo para chamar os justos ao
arrependimento, mas para anunciar aos pecadores uma nova oportunidade de
perdão e o Ano aceitável do Senhor.
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