quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Crente Bonsai


 “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo’ - Ef 4:15

 Na Bíblia, o desenvolvimento da vida do cristão em sua relação com Deus é bastante comparado ao que ocorre com as plantas. Há inúmeras citações a respeito do crescimento delas, de onde tiram o seu sustento, das raízes, ramos e frutos, da semeadura e da colheita, etc. O homem foi criado e colocado para viver num jardim. A árvore da vida é mencionada no primeiro e no último livros da Bíblia. As plantas, na verdade, servem de comparação para compreendermos muito do que acontece conosco.

A Palavra de Deus é comparada a uma semente e as pessoas ao lugar onde ela cai: à beira do caminho, e o Diabo tira a Palavra do seu coração; sobre as pedras e, por não ter raízes, desiste na hora da provação; entre espinhos, e é sufocada pelas preocupações, riquezas e prazeres desta vida; ou em boa terra e frutifica (Lc 8:11-15).

O cristão recém-convertido é também chamado de “planta nova’. Em relação à qualificação dos supervisores da igreja, Deus diz que o presbítero “não pode ser recém-convertido’ (I Tm 3:6). Na ARA, “recém-convertido’ aparece como “neófito’, que é uma transliteração da palavra empregada no original (“neos’: novo; “phyton’: planta). A planta nova é mais vulnerável e sensível às alterações ambientais. Necessita de maiores cuidados. Assim é chamado o cristão recém-convertido.

Paulo escreveu aos coríntios: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento’ (I Co 3:6,7). Todos somos instrumentos nas mãos de Deus. Ele usa alguns para semear e outros para cuidar das plantas novas. Paulo foi usado para semear a Palavra no coração dos coríntios, Apolo foi usado para edificá-los, mas Deus é quem os fez crescer. 

O apóstolo também orava pelos efésios, para que estivessem “arraigados e alicerçados em amor’ (Ef 3:17), isto é, para que, através das suas raízes, se nutrissem do amor e estivessem firmados nele. “Deus é amor...Nós amamos porque ele nos amou primeiro’ (I Jo 4:8,19). Jesus Cristo disse: “Eu sou a videira; vocês são os ramos... sem mim vocês não podem fazer coisa alguma’ (Jo 15:5). Como meros ramos, somos nutridos e permanecemos vivos e saudáveis apenas enquanto ligados a Jesus Cristo. Nada podemos fazer sem Ele. 

"Também, de nada adianta alguém se lamentar por não ver progresso na sua vida espiritual se não estiver semeando corretamente. Semear no Espírito é fazer aquilo que o Espírito quer. Semear na carne é fazer aquilo que a nossa natureza deseja."

Assim como “toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins’ (Mt 7:17), nós podemos conhecer as pessoas pelo seu comportamento, pois não podemos ver o seu interior. Nós somos comparados a árvores que produzem frutos. Pelos frutos que produzirmos, as pessoas verão o que está no nosso coração. “Toda árvore é reconhecida por seus frutos... O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração’ (Lc 6:44,45).

Aos gálatas Paulo falou como é o fruto produzido pelo Espírito (Gl 5:22,23) e reiterou um princípio imutável: “O que o homem semear, isso também colherá’ (Gl 6:7). Para ressaltar a imutabilidade desse princípio, ele diz que tentar fazer o contrário é como zombar de Deus. E isso tem conseqüências eternas. Se algo já está semeado, nós não temos nenhum controle sobre que tipo de fruto será colhido. Ninguém pode colher laranjas de uma videira. Nosso controle sobre a colheita está na semeadura. Quem quiser colher laranjas, tem que plantar uma laranjeira. 

Nossa vida é um tempo de semeadura. Temos que semear aquilo que queremos colher. “Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna’ (Gl 6:8). Quem semear como Deus quer estará para sempre com Ele, mas quem semear para satisfazer sua própria natureza, ficará longe dEle. Também, de nada adianta alguém se lamentar por não ver progresso na sua vida espiritual se não estiver semeando corretamente. Semear no Espírito é fazer aquilo que o Espírito quer. Semear na carne é fazer aquilo que a nossa natureza deseja. 

 Nossa vida é mesmo um período de semeadura. Jesus disse que “o Reino de Deus é como um homem que semeou boa semente em seu campo’, mas o inimigo ’semeou o joio no meio do trigo e se foi’ (Mt13:24,25). Ele disse também que “a colheita é o fim desta era, e os encarregados da colheita são anjos’ Mt 13:39). No fim desta era haverá uma colheita e o joio será separado do trigo. Todos nós estaremos presentes e faremos parte dessa colheita. Não há como escapar disso. Na hora da colheita só há dois tipos de plantas. Ou estamos com Deus ou contra Ele (Mt 12:30). Não há uma terceira opção.
 
Como vimos, nas muitas comparações com as plantas, a Bíblia diz que quando nos entregamos a Jesus Cristo somos como plantas novas. Nessa fase somos mais vulneráveis e necessitamos de cuidados maiores. Mas Deus não quer que ninguém permaneça assim. Ele quer que, com as raízes firmadas nEle, possamos nos nutrir dEle e crescer, ficar fortes e sólidos para a Sua glória.
Deus não quer que ninguém permaneça sem crescimento. O autor de Hebreus disse que teria muitas outras coisas para ensinar, mas não podia por causa da falta de crescimento daqueles a quem se dirigia. Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de explicar, porque vocês se tornaram lentos para aprender. Embora a essa altura já devessem ser mestres, vocês precisam que alguém lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite e não de alimento sólido! Quem se alimenta de leite ainda é criança...’ (Hb 5:11-13). Os lentos para aprender são como crianças quando já deveriam ser mestres. Deveriam estar ensinando, mas não estão nem em condições de aprender coisas mais profundas. Em lugar de estarem edificando outros, precisam ser edificados com coisas básicas, com leite.

"Os irmãos que, pelo tempo de conversão, já deveriam ser mestres e estar ajudando os outros, mas ainda são crianças e precisam ser ajudados, são como plantas que não cresceram. Deus não quer isso. A vida do cristão deve ser um crescimento contínuo."

Paulo fala a mesma coisa aos coríntios: “Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições...’ (I Co 3:1,2). Os textos acima mostram que o cristão pode permanecer longo tempo sem crescer ou crescendo muito pouco e lentamente (nesse caso, seriam “crianças’ quando deveriam ser “mestres’). Portanto, há os que são cristãos há muito tempo mas, em matéria de crescimento, ainda são como crianças. São os cristãos “bonsai’.

“Bonsai’ significa, literalmente, “plantado numa bandeja’. É uma técnica japonesa muito antiga em que, por meio de podas das raízes e galhos, replantios e cuidados especiais, mantém-se uma planta sempre pequena, embora o tronco assuma as características de uma planta adulta da mesma idade. Os mini bonsais têm cerca de 15 cm e os grandes em torno de 60 cm. Há árvores que atingem dezenas de anos, mas continuam pequenas. Infelizmente, há cristãos que se assemelham a bonsais. São convertidos há muito tempo, chegam a ter até algumas características de cristãos crescidos, têm inclusive o linguajar apropriado, mas continuam com pouco crescimento. Isso é muito triste. Os irmãos que, pelo tempo de conversão, já deveriam ser mestres e estar ajudando os outros, mas ainda são crianças e precisam ser ajudados, são como plantas que não cresceram. Deus não quer isso. A vida do cristão deve ser um crescimento contínuo.   

Toda vida necessita de alimento para que não cesse. Nossa vida espiritual necessita de alimento para que nos aproximemos do Pai cada vez mais. E essa aproximação é infinita, pois Ele é infinito. Nós precisamos crescer continuamente. Precisamos nos alimentar de Deus eternamente. Jesus disse: “Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa’ (Jo 6:57). Ao instruir Timóteo, Paulo disse: “Se você transmitir essas instruções aos irmãos, será um bom ministro de Cristo Jesus, nutrido com as verdades da fé e da boa doutrina que tem seguido’ (I Tm 4:6). Todos os cristãos precisam permanentemente se alimentar com as verdades da fé e da boa doutrina. Ninguém pode chegar ao ponto de se considerar suficientemente alimentado ou achar que já sabe o suficiente. Ninguém nunca saberá o suficiente. 

"Parece-me que Satanás tem conseguido, com bastante eficiência, manter o pensamento dos homens longe de Deus através de várias artimanhas. Para mim, três dos mais importantes fatores de que ele se utiliza são a pressa, o barulho e as pessoas ao redor."

Não poderemos obter alimento espiritual suficiente apenas por osmose, por simples proximidade. Ouvir um pouco da Palavra todas as semanas e estar junto com os irmãos pode nos edificar e ensinar, mas não o suficiente. Precisamos ser bem nutridos para podermos crescer e, então, sermos usados para ajudar a alimentar os irmãos. É feliz aquele que tem prazer em se alimentar diariamente da Palavra de Deus (Sl 1:1,2).

Parece-me que Satanás tem conseguido, com bastante eficiência, manter o pensamento dos homens longe de Deus através de várias artimanhas. Para mim, três dos mais importantes fatores de que ele se utiliza são a pressa, o barulho e as pessoas ao redor. Parece estar se tornando cada vez mais difícil conseguir tempo, silêncio e isolamento, juntos. Temos que lutar contra isso. 

Jesus também tinha uma agenda bastante cheia. “Os apóstolos reuniram-se a Jesus e lhe relataram tudo o que tinham feito e ensinado. Havia muita gente indo e vindo, ao ponto de eles não terem tempo para comer’ (Mt 6:30,31). Parece que a falta de tempo para comer não é um problema moderno! Todavia, Ele fazia questão de separar um tempo para estar sozinho em lugares silenciosos. “Tendo despedido a multidão, subiu sozinho a um monte para orar. Ao anoitecer, ele estava ali sozinho...’ (Mt 14:23). “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando’ (Mc 1:35). “Mas Jesus retirava-se para lugares solitários, e orava’ (Lc 5:16). Jesus separava tempo para estar sozinho e Se alimentar.

Creio que todo cristão precisa separar, diariamente, um certo tempo para investir na sua edificação. E esse tempo seria mais proveitoso se ele estivesse só e houvesse silêncio. Tempo, silêncio e isolamento favorecem muito nosso contato diário com Deus. Por isso Satanás quer que estejamos sempre com pressa, barulho e gente em volta. O investimento na própria edificação não é egoísmo. É investimento nas coisas do alto, na aproximação com Deus. E, secundariamente, essa aproximação de Deus é indispensável para o investimento proveitoso na vida dos irmãos.  

O contato com as pessoas, seja para levar o Evangelho, dar testemunho, edificar, ajudar, servir, ser ajudado, ser exortado, ser corrigido, etc., é muitíssimo importante. Todavia, precisamos também de períodos de isolamento, para ficar a sós com Deus. E é importante termos o nosso período com Deus todos os dias; isso precisa entrar na nossa rotina diária das coisas indispensáveis, como comer e dormir. Essa deve ser uma prioridade e não uma atividade a ser desenvolvida no tempo que sobrar, se sobrar.

"E é importante termos o nosso período com Deus todos os dias; isso precisa entrar na nossa rotina diária das coisas indispensáveis, como comer e dormir. Essa deve ser uma prioridade e não uma atividade a ser desenvolvida no tempo que sobrar, se sobrar."

Esse período com Deus deve ser gasto em oração e estudo da Palavra. Apenas um dos dois não basta. A oração é absolutamente indispensável para absolutamente tudo na vida cristã. A vida cristã precisa ser regada a oração (I Ts 5:17). A nossa motivação, o nosso desejo, o nosso entusiasmo e a nossa capacidade para viver para Jesus Cristo são dados por Ele (Fp 2:13; Jo 15:5). Ele é a fonte de tudo e o fim de tudo (Cl 1:16; Ef 1:10). Nosso contato com a fonte precisa ser constante. 

O estudo bíblico, e não apenas a leitura da Bíblia, é importante. Chamo de estudo a leitura e a meditação. A profundidade da leitura e da meditação podem variar muito, mas o que não pode haver é apenas uma leitura simples, sem meditação nas coisas que Deus nos ensina no trecho lido. Não podemos nos contentar em ser analfabetos funcionais teológicos, apenas lendo algo sem apreender o seu significado. 

Através da leitura seguida da meditação e da compreensão do que foi lido, verdades passam da mente de Deus para a nossa, e esse é o primeiro passo para a transformação da nossa vida (Rm 12:2). As coisas que povoam a nossa mente são a matéria-prima da nossa meditação durante as atividades diárias. “Mantenham o pensamento nas coisas do alto...’ (Cl 3:2). Essa é uma exortação à meditação constante. E nossa mente precisa de matéria-prima para isso. Vamos separar diariamente um tempo para estarmos crescendo na comunhão com Deus, para não nos tornarmos “cristãos bonsai’! 

“Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo’ - Ef 4:15

Newton Bernardi

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