quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Um cristão adoece porque não tem fé?

Há igrejas que afirmam: “Quem tem fé não fica doente!” Elas ensinam que Deus quer que tudo vá bem na nossa vida, que tenhamos sucesso nos negócios, um casamento feliz e filhos dos quais possamos nos orgulhar. Se essa é a sua situação, agradeça sempre a Deus, pois esse é um presente da graça dEle! Pastores e igrejas que defendem esse tipo de ensino baseiam-se no versículo de Malaquias 3.10: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida.” Quem pensa que os crentes são poupados sempre de todo e qualquer sofrimento quando cumprem o que diz essa passagem, parece desconhecer que a Bíblia também fala que todos nós, uns mais, outros menos, temos de entrar no reino de Deus através de muitas tribulações (At 14.22).
A esposa de um dos missionários da Chamada da Meia-Noite ficou paraplégica devido a um trágico acidente. Alguém lhe disse: “Deus não quer que você fique aleijada. Se você crer de todo o coração, Deus vai curá-la...”! Esse tipo de declaração testemunha que a pessoa tem uma concepção distorcida do que as Escrituras dizem, além de uma grande falta de tato e completa ausência de piedade com quem está sofrendo.
Hebreus 11 menciona homens e mulheres que passaram por experiências maravilhosas com Deus. Eles, “...por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros. Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos” (Hb 11.32-35a). Mas o texto continua dizendo que alguns heróis da fé “foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados, (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra” (vv. 35b-38). Estes verdadeiros heróis da fé vivenciaram grandes milagres, obtiveram maravilhosas respostas às suas orações e por meio da fé “subjugaram reinos”. Tal foi a experiência de John Knox, o reformador da Escócia. A rainha da Escócia temia mais as orações desse homem do que todos os exércitos da Inglaterra. Entretanto, o texto de Hebreus 11 continua citando, sem interrupção, também os heróis da fé que passaram pelas mais profundas angústias, e nem por isso deixaram de ser considerados heróis espirituais. Nos dias de hoje esses heróis e heroínas da fé são encontrados no Sudão, na Indonésia, na Coréia do Norte, na China. Cristãos que sofrem dores durante toda a sua vida, que passam por lutas e sofrimentos, que perdem o emprego e muitas vezes padecem de profunda depressão são hoje nossos heróis da fé quando, ao passar por tudo isso, continuam firmes no Senhor. Pode até acontecer que casas de cristãos sejam arrastadas pela correnteza de uma grande enchente. Cristãos podem passar por todos esses sofrimentos, mas mesmo assim são e continuarão sendo gigantes da fé! Deveríamos nos conscientizar de que o sofrimento, o perigo, os problemas, “os revezes do destino”, não dizem nada acerca do caráter genuíno e da seriedade da vida cristã de uma pessoa. Porém, sua maneira de lidar com essas situações, sua postura diante dos problemas e dificuldades é que vai indicar a qualidade de sua vida espiritual.
Nossa tarefa não é pregar felicidade, sucesso e prosperidade. Muito menos queremos vender consolo barato. O que desejamos é falar de uma vida em Cristo que é possível mesmo no meio de problemas, tentações e provações. Muitas vezes Deus permite coisas que superam nossa capacidade de entendimento e vão até o limite do que podemos suportar emocionalmente. Então se justifica a pergunta: “Por que tudo isso?”

Pensamentos de paz

As coisas negativas na vida de um crente podem ter diversas origens, que vou mencionar aqui, mesmo sabendo que não conseguirei listar todas elas. Não sabemos tudo e não podemos explicar todas as coisas.
Muitas vezes Deus permite que coisas ruins nos aconteçam para provar o quanto a nossa fé é autêntica. Enquanto tudo vai bem em nossa vida, quando temos saúde e nossos filhos são obedientes, então não achamos difícil ser cristãos. Mas quando a nossa vida é sacudida e começamos a passar por grandes problemas, físicos ou emocionais, quando sofremos derrotas, quando nossos filhos seguem seus próprios caminhos, então, penso eu, Deus está nos perguntando: “Você ainda me ama? Você me ama mesmo que tudo esteja ruim?”
Quando eu e minha esposa vimos pessoalmente a extensão dos danos causados pela enchente e como, em questão de horas, as águas destruíram o que as pessoas haviam levado uma vida inteira para construir, dissemos um ao outro: “Sem a Bíblia e sem a fé, numa hora dessas o desespero poderia tomar conta de qualquer um”. Como cristãos, deveríamos pensar sempre que Deus vê muito além das circunstâncias momentâneas e que Ele tem pensamentos de amor a nosso respeito: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jr 29.11). A tradução literal do final do versículo seria “para que eu vos conceda esperança e futuro”.
Coisas ruins podem acontecer, sim, também na vida de crentes, pois como todas as outras pessoas, eles passam por muitos sofrimentos e estão sujeitos às dificuldades financeiras. Mas um cristão sabe: Deus está acima de tudo! Ele, o Eterno, segura minha vida em Suas mãos. Este Deus, que chama todas as estrelas pelo nome (Sl 147.4), nos diz que “...até os cabelos todos da cabeça estão contados” (Mt 10.30-31). Além disso, temos um Ajudador, um Advogado e Consolador, que está conosco mesmo nas horas mais negras de nossa vida (Jo 14.16-17). Depois de um culto, uma irmã em Cristo veio falar comigo e disse: “Há três meses perdi meu marido. Todas as noites, quando chego em casa, não há ninguém para me receber, ninguém que me dê um abraço. Ninguém que fale comigo, que me diga uma palavra de carinho. Sinto-me tão sozinha. Mesmo assim tenho um consolo muito grande em meu coração, o consolo do Espírito Santo. E esse consolo ninguém consegue tirar de mim”. Essa irmã expressou o que Jesus prometeu: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14.27).

Não permitamos a ninguém que nos roube essa mensagem...

– mesmo que o mundo desabe.

– mesmo que exista muito sofrimento em nossa vida.

– mesmo que não possamos mais sair da cama ou de casa devido às dores ou enfermidades.

– mesmo que o mundo nos chame de malucos.

Temos uma mensagem de esperança e consolo. Mas temos ainda mais, pois outro aspecto importante de nossa mensagem é dizer que:

Jesus está voltando!

Não permitamos que nada, nem ninguém, nos demova desse elemento maravilhoso da mensagem do Evangelho! Pois quando proclamamos a volta do Filho de Deus estamos em ótima companhia. Há dois mil anos essa já era a mensagem da Igreja primitiva. Igualmente o apóstolo Paulo, Martim Lutero, John Nelson Darby, Charles H. Spurgeon e muitos outros proclamaram o que a Escritura ensina: Jesus está voltando! Sempre que o Evangelho era pregado em sua plenitude, incluindo a volta de Cristo, a Igreja era ardente e se preparava para encontrar-se com seu Senhor. Por esperar o Senhor Jesus a qualquer momento, ela vivia de acordo com essa expectativa. “Jesus está voltando!” foi, durante toda a vida da Igreja, um grito de alerta e, ao mesmo tempo, um brado de esperança. Mas quando se começava a negligenciar essa parte do Evangelho, a deixá-la de lado e a esquecê-la, cedo ou tarde a Igreja começava a adormecer. Ela perdia sua substância, sua força e sua autoridade espiritual.
A igreja de Tessalônica estava enfrentando problemas, e Paulo lhe escreveu, significativamente: “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4.16-18). A Bíblia, e o apóstolo Paulo, não oferecem consolo maior para a Igreja do que o brado: “Jesus vai voltar!” Essa mensagem exprime a esperança por uma pátria melhor. A Escritura diz que nós, como Abraão, buscamos um lar, “a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).
Os cristãos não têm uma mensagem de medo, nem de pessimismo, e muito menos espalham pânico e pavor do futuro. Nós cristãos temos uma mensagem autêntica e uma resposta real às perguntas e questionamentos, às angústias e tristezas de nosso mundo e de nossa época. Temos muito mais a oferecer do que dizer: “Pense positivo!” Concordamos com Lutero quando ele disse: “Se eu soubesse que Jesus viria amanhã, hoje mesmo ainda plantaria uma macieira”. Essas palavras expressavam sua esperança de que Jesus poderia voltar a qualquer momento. Sua vida e seu ministério estavam adequados a essa expectativa.
Mais uma vez declaro: temos a mesma mensagem que Paulo e Lutero tinham. Não deixemos que nos encurralem em um canto nem permitamos que calem nossa pregação. O que mais queremos é animar as pessoas, proclamar o perdão em nome de Jesus e despertar em muitos corações a esperança pelo futuro glorioso junto dEle. Essa é a nossa mensagem à humanidade que vive imersa em medo e insegurança. Essa é nossa resposta às perguntas e aos anseios do mundo em que vivemos.
Samuel Rindlisbacher 
http://www.chamada.com.br

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